50 - Chiara Romano
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15 de Abril
Enquanto o sol se punha, iluminando o jardim com tons alaranjados e dourados, Petra e Julia decidiram sentar um pouco afastadas. Elas estavam lado a lado em um banco de madeira próximo ao jardim, onde podiam ver Pierre brincando de bola com Antonella e Marco. A tranquilidade da tarde contrastava com as emoções turbulentas do início do dia, e Julia aproveitava o momento de paz para finalmente relaxar. Petra, por sua vez, ainda processava os eventos com Lorenzo e as conversas que teve com Marco e Antonella.
Julia olhou de relance para Petra, que parecia pensativa, e decidiu quebrar o silêncio.
— Então... – disse Julia, inclinando-se para mais perto, com aquele sorriso provocador que Petra conhecia bem. — Por que você não me deixou bater no Lorenzo? Eu queria tanto!
Petra não conseguiu conter a risada, um som suave e aliviado que contrastava com a tensão dos últimos dias. Era exatamente disso que ela precisava naquele momento: a leveza de Julia, o jeito descomplicado com que ela enfrentava até as situações mais difíceis.
— Porque temos um jogo importante amanhã. – respondeu Petra, ainda rindo. — Você podia se machucar. E, vamos ser sinceras... eu não deixaria você machucar essas mãos que me fazem tão feliz.
Julia riu também, mas seus olhos brilharam ao ouvir as palavras de Petra. Ela sabia que a oposta estava tentando aliviar a tensão com humor, mas, ao mesmo tempo, havia uma doçura ali que Julia reconhecia e valorizava. Petra não era sempre a pessoa mais aberta com suas emoções, mas quando ela se permitia ser vulnerável, Julia sentia um calor genuíno em cada palavra.
Petra inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, e olhou para o chão, parecendo um pouco mais séria agora.
— Ju, aquilo que o Lorenzo falou, sabe? Sobre eu ter me envolvido com você por carência...
Julia interrompeu antes que Petra pudesse continuar, colocando a mão suavemente no ombro dela, um gesto que imediatamente trouxe um pouco mais de leveza para o momento.
— Tudo bem, Petra. – disse Julia com um sorriso convencido. — Eu sei que não foi uma transa por carência. Eu tava lá, lembra?
As duas riram, o clima entre elas se descontraindo novamente. Julia estava certa. Desde o início, elas sabiam que o que tinham ia além de qualquer simples impulso ou necessidade momentânea. Não era apenas físico, embora a química entre elas fosse inegável. Havia algo mais profundo, algo que nem sempre era fácil de entender ou colocar em palavras, mas que as duas sentiam cada vez mais forte a cada dia.
— Ele... ele só disse aquelas coisas porque está com ego ferido. – continuou Petra, voltando a olhar para Julia. — Sei que errei. Mas, Ju... isso não tem nada a ver com carência.
Julia, que estava ouvindo atentamente, inclinou-se para mais perto, seus olhos fixos nos de Petra.
— Eu sei disso, Petra. Eu sei que você não está comigo só porque precisa de alguém. E, honestamente, não quero que se culpe pela forma que as coisas aconteceram entre nós.
Petra respirou fundo, como se estivesse tentando processar tudo aquilo. Ela ainda sentia uma carga de culpa por ter traído Lorenzo, mas, ao mesmo tempo, sabia que o que sentia por Julia era real, algo que ela não podia mais ignorar ou esconder. Não era apenas uma distração de seus problemas. Era algo que a fazia sentir-se viva, apesar da confusão em sua vida pessoal.
— Obrigada por dizer isso. – sussurrou Petra, sua voz carregada de sinceridade.
— Eu tô aqui com você, Petra. – continuou Julia, sua expressão ficando mais suave. — Não importa o que aconteça. Eu só quero estar com você.
O coração de Petra deu um salto com aquelas palavras. Era algo que ela nunca iria cansar de ouvir: que Julia estava ao lado dela, que ela não estava sozinha nessa jornada turbulenta. Sentiu uma onda de alívio e, ao mesmo tempo, de carinho profundo por Julia.
— Sabe, às vezes me pergunto como chegamos até aqui. – disse Petra, com um sorriso nostálgico. — Nós começamos como rivais, e agora estamos assim... – Ela gesticulou entre elas, como se o simples ato de estarem juntas fosse algo que ainda não acreditava completamente.
Julia inclinou-se um pouco mais, com aquele sorriso travesso que sempre fazia Petra derreter.
— Ah, foi simples. Eu te provoquei tanto que você não teve escolha além de se apaixonar por mim. – Ela piscou, rindo logo em seguida.
Petra balançou a cabeça, rindo também.
— Você não muda, né?
— Nem um pouco. – Julia piscou para ela, e depois acrescentou. — Mas sério, Petra. Eu acho que a gente sempre teve algo. Mesmo antes de nos darmos conta. Aquela tensão... não era só rivalidade.
Petra assentiu lentamente. Ela sabia que Julia tinha razão. Havia uma conexão entre elas, algo que sempre esteve ali, mesmo quando não queriam admitir. No início, tinha sido difícil aceitar, mas agora, com tudo que haviam passado juntas, parecia impossível ignorar.
— E agora? – Petra perguntou suavemente. — O que a gente faz?
Julia levantou uma sobrancelha, pensativa por um momento.
— Bom, a gente tem um jogo amanhã, como você mesma lembrou. E, depois disso... – Ela fez uma pausa, pegando a mão de Petra e entrelaçando seus dedos. — Depois disso, a gente descobre juntas. Um passo de cada vez.
Petra olhou para as mãos delas juntas, sentindo o calor de Julia, e sorriu. Era simples, mas era o que ela precisava. Não havia pressa. Não havia necessidade de resolver tudo de uma vez. Elas podiam seguir adiante, com calma, um passo de cada vez, sem medo.
— Isso parece bom pra mim. – respondeu Petra, apertando levemente a mão de Julia.
Elas ficaram em silêncio por alguns minutos, apenas apreciando a presença uma da outra. O sol já estava quase desaparecendo no horizonte, tingindo o céu de tons roxos e azuis. Petra sentia um certo alívio por ter conversado com Julia sobre suas preocupações, e agora, com a mão de Julia na sua, sentia que podia enfrentar o que viesse pela frente.
◇◇◇
16 de Abril
No dia seguinte, o ar estava fresco e vibrante, e Julia e Petra se preparavam em um ritmo quase sincronizado. A noite anterior havia sido um respiro necessário para ambas, mas o dia de jogo contra a Sérvia trazia uma nova tensão. Elas se vestiam em silêncio, concentradas, com aquele tipo de conexão silenciosa que só amantes compartilham. Petra, como sempre, parecia um pouco mais tensa, mas Julia a observava com um misto de carinho e determinação. Sabia que Petra era forte, mas os últimos dias haviam testado essa força de forma intensa.
— Está pronta? – perguntou Julia, rompendo o silêncio enquanto terminava de amarrar os cadarços dos tênis.
— Acho que sim. – respondeu Petra com um meio sorriso, jogando a bolsa de treino no ombro. — Marco e Antonella vão depois da gente. Devem estar chegando no ginásio na hora do aquecimento.
— Eles têm uma pontualidade assustadora. – comentou Julia, rindo levemente. — Vamos encontrar as meninas no hotel, então?
— Sim. Vamos logo, não quero chegar atrasada. – disse Petra, ajeitando os cabelos.
Enquanto saíam, Julia deu um último olhar para Petra, percebendo o cansaço disfarçado por trás dos olhos dela. Ela queria abraçá-la, dizer que tudo ficaria bem, mas sabia que Petra não estava no humor para palavras de conforto. Então, apenas sorriu e seguiu ao lado dela.
Quando chegaram ao hotel onde as outras jogadoras estavam hospedadas, o restaurante já estava movimentado com o som de conversas e risadas. A atmosfera era leve, o que ajudou Petra a relaxar um pouco. As meninas estavam todas reunidas ao redor de uma mesa, rindo e compartilhando histórias, e ao ver Julia e Petra se aproximando, fizeram sinais para que se juntassem a elas.
— Bom dia, suas dorminhocas! – gritou Ana Cristina, com um sorriso provocador.
— Dorminhocas? – respondeu Petra, se jogando na cadeira ao lado dela. — Já estamos acordadas há um bom tempo.
— Sei, sei. – disse Natinha, com um olhar malicioso. — Com certeza vocês estavam "se preparando" para o jogo, né?
As meninas riram, enquanto Julia balançava a cabeça, tentando não corar.
— Vocês são terríveis. – disse Julia, pegando uma xícara de café.
O clima era leve, como sempre era antes dos jogos, quando todas tentavam relaxar ao máximo. Roberta e Macris estavam discutindo sobre táticas de última hora, enquanto Thaisa e Gattaz falavam sobre estratégias de bloqueio. Mas, em meio à conversa, algo inesperado chamou a atenção de algumas das jogadoras.
— Ei, ei, olha ali. – murmurou Kisy, cutucando Carolana. — Aquela moça está encarando a Petra.
Julia, que estava distraída com seu café, imediatamente olhou na direção indicada, e, de fato, uma mulher sentada a algumas mesas de distância parecia estar fixando o olhar em Petra. Ela tinha um semblante sério, mas ao mesmo tempo havia algo de curioso em sua expressão. As outras meninas perceberam o desconforto de Julia e começaram com as provocações.
— Acho que alguém tem uma fã por aqui. – disse Nyeme, tentando segurar o riso.
— Parece que sim. – completou Rosa, lançando um olhar significativo para Petra, que parecia alheia ao que estava acontecendo.
Julia, por outro lado, estava ficando emburrada, com os lábios apertados e um leve rubor subindo em suas bochechas. Ela não gostava de ver ninguém olhando para Petra daquela forma, especialmente quando não sabia de quem se tratava. As piadinhas continuaram, mas logo a mulher misteriosa se levantou e começou a caminhar em direção à mesa delas.
— Ops, ela vem aí. – murmurou Gabi, com um sorriso travesso.
Julia apertou os lábios, preparando-se mentalmente para o que viesse. Petra, que estava alheia conversando com Thaisa, Pri e Gattaz, finalmente percebeu o que estava acontecendo, levantou o olhar quando a mulher parou ao lado da mesa.
— Petra? – disse a moça, com um sorriso educado.
— Sim? – respondeu Petra, franzindo as sobrancelhas, sem reconhecer a mulher de imediato.
— Olá, eu sou Chiara Romano. – disse ela, estendendo a mão para Petra.
— Chiara... – Petra hesitou. — Seu nome me parece familiar...
— Talvez porque você já tenha ouvido falar de mim. – explicou Chiara, com um sorriso tranquilo.
Petra ergueu as sobrancelhas. Ela rapidamente reconheceu quem estava na sua frente: Chiara, ex-namorada de Lorenzo. Isso causou uma pequena onda de desconforto, mas Petra tentou manter a compostura.
— Ah, claro. – disse Petra, hesitante. — Chiara...
— Exatamente, querida. – respondeu Chiara, ainda sorrindo. — Eu falei com o Marco sobre sua situação e, como advogada, estou disposta a te ajudar com qualquer coisa que precisar em relação ao Lorenzo.
A menção do nome de Lorenzo fez o grupo todo se mexer desconfortavelmente, mas Chiara parecia imune à tensão.
— Eu já passei por algumas coisas com ele, e sei como ele pode ser difícil. – continuou Chiara, com um olhar de simpatia. — Então, se precisar de apoio legal ou qualquer coisa do tipo, pode contar comigo.
Petra agradeceu, sentindo-se um pouco melhor ao saber que tinha alguém que entendia a situação. Mas antes de ir embora, Chiara lançou uma última frase que deixou todo o grupo em alerta.
— E, ah, Petra... ouvi dizer que você está “recém-solteira” agora, certo? – disse Chiara com um tom brincalhão, piscando discretamente. — Quem sabe você queira companhia para comemorar sua vitória hoje, depois do jogo?
O sorriso de Chiara foi cheio de malícia, e Julia imediatamente se tensionou ao lado de Petra. A morena estava claramente flertando, e isso não passou despercebido por ninguém. Petra, por sua vez, soltou uma risada leve, tentando manter a situação descontraída.
— Obrigada pela oferta, Chiara, mas acho que já estou bem acompanhada. – respondeu Petra, olhando brevemente para Julia. — Com... meu time.
Julia, entretanto, não deixou barato. Com um sorriso sarcástico, ela comentou. — Bom saber da sua... empolgação, Chiara. Mas acho que a Petra já tem planos para hoje à noite, e eu... nós todas somos bastante boas em comemorações.
Chiara riu, como se não se importasse com a resposta de Julia, e acenou levemente antes de sair.
— Bem, se mudar de ideia, estarei no jogo de hoje à noite. Boa sorte, meninas. – E com isso, Chiara foi embora, deixando um rastro de risadas e olhares curiosos entre as jogadoras.
Assim que ela saiu de vista, Ana Cristina foi a primeira a explodir em gargalhadas.
— Caraca, Petra! Até as ex do Lorenzo estão interessadas em você agora? Você chama atenção aqui pela Itália, hein.
— É o molho brasileiro. Além disso, Petra puxou pra mamãe Pri, amores. – Pri disse jogando o cabelo por cima dos ombros, enquanto Carolana ria do seu lado.
— Ei! Não é bem assim! – Petra defendeu-se, ainda rindo.
— Não vou mentir, isso foi divertido de ver. – comentou Kisy, sorrindo de orelha a orelha. — Julinha adorou sua nova amiga, Pepê.
Julia, por outro lado, ainda estava claramente incomodada. Petra percebeu seu desconforto e colocou a mão sobre a perna dela por baixo da mesa, tentando acalmá-la.
— Ju, não liga pra ela. – sussurrou Petra, com um sorriso carinhoso. — Ela só queria ajudar, como advogada, certo?
Julia respirou fundo e assentiu. — Eu sei. Mas essa mulher... sério, Petra. Eu quase levantei pra bater nela.
— Relaxa, Ju. – respondeu Petra, sorrindo. — A gente tem coisa mais importante pra se preocupar. Como, por exemplo, ganhar o jogo de hoje.
— Tá bom, tá bom... – Julia finalmente cedeu, soltando um suspiro pesado.
Nyeme, percebendo que a situação estava ficando mais leve, decidiu fazer uma última piada para aliviar a tensão.
— Ei, Julia, se você quiser bater na Chiara, pelo menos espera até depois do jogo, né? Vamos precisar de você inteira hoje.
As jogadoras explodiram em risadas novamente, e o clima se aliviou ainda mais. A manhã, que começou leve, teve sua pequena dose de drama, mas no fim, tudo parecia estar sob controle. O foco agora era o jogo contra a Sérvia, e todas sabiam que precisariam dar o seu melhor em quadra.
Enquanto o grupo se preparava para ir encontrar o ônibus que as levaria ao ginásio, Petra deu uma última olhada para Julia, sentindo uma onda de gratidão por tê-la ao seu lado, especialmente em momentos como aquele.
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Chiara Romano vai ser babado essa mana
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