48 - Família

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15 de Abril

O clima no ginásio estava pesado, quase palpável. Marco, com o rosto endurecido pela raiva contida, parecia pronto para tomar uma atitude que não poderia ser desfeita. As meninas estavam em silêncio, formando um círculo ao redor de Petra e Julia, que a mantinha firme em seus braços, como se quisesse protegê-la de todo o mal. Rosa, que raramente se deixava abalar por qualquer coisa, dessa vez estava visivelmente abalada. Ela, mais do que ninguém, sabia o quanto Petra vinha sofrendo, e agora que a verdade havia finalmente emergido, seu desejo de proteger a amiga era insaciável.

— Obrigada, Marco. – Rosa murmurou, ainda em choque com a situação, mas grata por ele estar ali e tomar as rédeas. — Se você não tivesse vindo, não sei o que mais poderia ter acontecido.

Marco assentiu, mas não disse nada. Ele estava concentrado, já traçando mentalmente o que precisava ser feito. A sua prioridade naquele momento era Petra, e ele sabia que não podia vacilar. Lorenzo não poderia escapar dessa vez.

Sheilla, sempre atenta aos detalhes, observava o que se passava ao redor. — Precisamos tirar as crianças daqui. – ela disse baixinho para um dos membros da comissão técnica, que estava próximo, referindo-se à Ninna e Liz que estavam brincando com Pierre em uma área próxima da quadra. — Pode levar eles para o outro lado? Não quero que eles vejam isso.

No centro de tudo, Petra estava sentada no chão, as mãos trêmulas enquanto as palavras finalmente escapavam de seus lábios. A princípio, foi um sussurro quase inaudível, mas conforme os detalhes surgiam, a dor e o desespero em sua voz eram inconfundíveis. Ela contou sobre como Lorenzo a controlava, como ele fazia com que se sentisse pequena, como se sua carreira e sua própria vida fossem apenas acessórios em função dos desejos e ambições dele. Os olhos de Julia estavam fixos nos de Petra, tentando transmitir força e apoio, mesmo que seu próprio coração estivesse em pedaços por ver Petra tão machucada.

— Eu nunca quis contar... – Petra começou, a voz embargada, as lágrimas escorrendo silenciosamente. — Eu achei que podia aguentar, que tudo ficaria bem depois do casamento... Mas então, o olho roxo... não foi um acidente. – Sua voz quebrou naquele momento, enquanto segurava os braços de Julia para se apoiar.

Houve um suspiro coletivo de indignação e choque entre as jogadoras. Nyeme, sempre tão falante, estava em silêncio absoluto, sua mandíbula travada de raiva. Ana Cristina tinha os punhos cerrados, enquanto Kisy encarava o chão, furiosa com a situação. Todas ali sentiam o mesmo. Lorenzo havia cruzado um limite que ninguém poderia ignorar.

— Ele... ele me bateu naquela manhã que cheguei no treino com o olho machucado. – continuou Petra, tentando manter o controle. — Ele queimou a mão cozinhando, eu tentei ajudar mas ele tava irritado e... Eu disse que tinha sido um acidente, mas foi mentira. E as marcas nos meus braços... – Ela mostrou os braços, revelando uma mancha roxa em cada lado. — Tivemos uma discussão ontem depois que eu falei sobre o fim do noivado, mas quando eu falei sobre ter me envolvido com outra pessoa ele...

— Isso acaba aqui e agora. – disse Gabi com a voz firme enquanto encarava Marco. — Lorenzo não vai sair impune dessa vez.

Marco já estava com o celular em mãos, discando o número de Marcela. — Marcela. – ele disse ao telefone, sua voz baixa, mas com um tom de urgência. — É o Marco. Preciso da sua ajuda, quero os contatos dos melhores advogados que você conhece, e precisamos agir rápido. Eu quero que Lorenzo seja mantido longe de Petra.

Do outro lado da linha, Marcela, sempre profissional e ágil, já começava a tomar notas, ciente do que precisava fazer até porque Petra já havia planejado o que faria e passado as instruções para sua assessora. — Vou pedir uma medida protetiva imediatamente. Lorenzo não vai se aproximar dela. Vou reunir os melhores advogados para garantir que ele seja responsabilizado. Diga a Petra que estou a caminho e que vamos resolver isso.

Enquanto Marco falava, as meninas se aproximaram de Petra, formando uma barreira de apoio ao redor dela. Natinha se ajoelhou ao lado de Petra, segurando sua mão com firmeza. — Ei, Pepê, Você não está sozinha. – ela disse suavemente. — Nós estamos aqui com você, e ele nunca mais vai te machucar.

Petra, ainda abalada, levantou o olhar para suas companheiras de time. Havia uma mistura de vergonha e alívio em seus olhos. Ela nunca quis que soubessem daquilo, nunca quis parecer frágil, mas agora, com todas elas ao seu redor, sentiu uma força que há muito não sentia. Elas estavam lá para ela – não apenas como colegas de time, mas como amigas, como irmãs. Petra percebeu que com Marco, Antonella e Pierre ali, ela sentiu que fazia parte de uma grande e confusa família, mas ainda era a sua família.

Julia, ainda com os braços ao redor de Petra, a puxou mais para perto, beijando delicadamente o topo de sua cabeça. — Você é forte, principessa. – ela sussurrou. — Você vai superar isso. E eu vou estar com você em cada passo do caminho.

Sheilla, que já havia passado por tantos momentos difíceis em sua carreira, sabia que esse era um daqueles que deixariam marcas profundas, mas também sabia que Petra sairia disso ainda mais forte. — Vamos lidar com isso não só como um time. – ela disse, dirigindo-se a todas. — Em quadra somos um time, mas fora somos uma família. Sempre vai ser assim, não importa o que aconteça. Petra, precisa da gente e estaremos com ela, venha o que vier, certo?

As outras meninas assentiram em silêncio. A raiva que sentiam por Lorenzo era quase insuportável, mas canalizariam isso de forma construtiva, unidas em sua determinação de apoiar Petra e garantir que Lorenzo pagasse pelas coisas que fez.

Marco desligou o telefone, respirando fundo antes de se voltar para Petra. — Marcela está a caminho. – ele informou. — Vamos cuidar de tudo. E Lorenzo... ele não vai chegar nem perto de você outra vez.

Petra respirou fundo, tentando processar tudo. Sabia que o caminho à frente seria difícil, mas, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que não estava sozinha. E isso, acima de tudo, lhe dava forças para continuar.

O silêncio no ginásio era pesado, mas não opressor. Era um silêncio de compreensão, de apoio incondicional. As meninas estavam ao lado de Petra, e, juntas, enfrentariam o que viesse pela frente.

◇◇◇

Enquanto Marco e Antonella se preparavam para ir embora, eles convidaram Julia para se juntar a eles. Era evidente para todos que Julia fazia bem a Petra, e após tudo o que havia acontecido, sua presença se tornava ainda mais essencial. A conexão entre elas estava mais forte do que nunca, e isso não passou despercebido.

O clima continuava carregado, até que Pri resolveu quebrar o silêncio com sua costumeira irreverência.

— Vocês duas se comportem, viu! Marco se você ouvir um barulho no meio da noite, já sabe, né? – Pri brincou, levantando uma sobrancelha e provocando risadas. Carol logo a repreendeu de leve.

— Priscila! – disse Carol, segurando o riso, mas claramente aliviada pela leveza da situação.

— Ah, essas duas cínicas pensam que enganam alguém com essas carinhas... A paredes do CDV são finas, mas vocês duas sabiam disso, né? – Rosa respondeu, piscando para as meninas. — E o quarto de vocês é perto do meu, pra variar, eu tenho que ouvir cada coisa, hein!

Luzia e Kudiess se juntaram, sempre prontas para continuar com as brincadeiras, trazendo mais risos para o grupo.

— Imaginem se conseguissem fazer bebê, tenha dó. – disse Luzia, rindo, referindo-se a Julia e Petra.

— Vocês duas vão acabar fazendo um time completo de vôlei, hein? – acrescentou Kudiess, arrancando mais gargalhadas.

Thaisa estava ao lado de Gattaz e Natinha, balançando a cabeça enquanto sorria. Natinha, por sua vez, começou a fazer piadas sobre o "casal", o que só aumentou as risadas.

— Já pensaram nos nomes? Porque eu aposto que vai ter pelo menos uns dois com nome alemão! – brincou Natinha, piscando para Petra, que ficou mais vermelha a cada piada.

— A primeira menina vai ter meu nome, não é, Julinha? – Pergunta Macris rindo fazendo Julia revirar os olhos mas com um sorriso no rosto.

— Ih, pode sair fora. A primeira vai ter meu nome. Diz pra ela, Juju. – Gabi fazia uma pose convencida causando ainda mais risadas.

Nyeme e Roberta também não resistiram e se aproximaram, rindo das brincadeiras. Nyeme, sempre mais calma, olhou para Petra e Julia com carinho.

— O importante é que você está com a gente, Petra. E, mais do que nunca, vamos estar com você em tudo isso. – disse Nyeme abraçando Petra, com uma suavidade que contrabalanceava as piadas.

Roberta assentiu, dando um leve tapinha nas costas de Petra. — Se precisar de qualquer coisa, estamos aqui, viu? – Roberta afirmou, sua voz cheia de sinceridade.

Ana Cristina, Kisy e Diana se juntaram ao grupo, observando as brincadeiras de longe, mas também rindo da situação. Ana, que sempre gostava de uma boa provocação, não perdeu a oportunidade de dar sua contribuição.

— Vocês sabem que se Petra e Julia tiverem um bebê, vai ser um dos mais talentosos, né? Um bebê prodígio! – disse Ana, recebendo risadas e aplausos em resposta.

Enquanto a descontração tomava conta, Pierre se aproximou sem que ninguém percebesse. Ele, com a curiosidade natural de uma criança, ouviu parte da conversa e, de repente, perguntou em voz alta. — Tia Petra, você vai ter um bebê da moça ruiva?

A pergunta de Pierre foi como um gatilho para o grupo inteiro desabar em gargalhadas. Petra ficou completamente vermelha, sem saber onde enfiar o rosto, enquanto Julia olhava para o garoto com um sorriso sem saber como responder.

— Não, Pierre, não é bem assim... – Petra começou a explicar, enquanto o resto do grupo ria sem parar. — Marco, por favor, me ajuda aqui! – Petra pediu, tentando se recompor, mas sem conseguir conter o riso.

Antonella, ainda rindo, pegou Pierre no colo e explicou gentilmente que tudo aquilo era apenas uma brincadeira entre as meninas, e que não era algo para ele se preocupar.

Com o ambiente mais leve, as meninas continuaram a fazer piadas e comentários bem-humorados, tentando dissipar o restante da tensão. Thaisa, que até então estava mais quieta, finalmente falou, com seu jeito direto. — O que importa é que você está bem, Petra. E isso aqui é o que vale. A gente vai dar um jeito nesse Lorenzo e você não vai passar por isso sozinha.

— Exato. – concordou Gattaz, sempre a mais experiente. — A gente está aqui para qualquer coisa. E vamos lidar com isso juntas, Pepê.

Petra olhou para todas as meninas ao seu redor, sentindo uma onda de gratidão tão grande que quase a sufocava. Mesmo após as brincadeiras e o alívio cômico, ela sabia que, no fundo, todas estavam ali por ela. Julia, sempre ao seu lado, apertou sua mão com carinho, como uma forma de reafirmar que estava ali para o que ela precisasse.

Antes de saírem, Kisy deu mais um abraço em Petra. — Força, tá? Estamos com você nessa, nossa garota sensação.

Diana, mais quieta, assentiu ao lado de Kisy. Não era muito de falar, mas estava claramente solidária.

Quando finalmente Marco, Antonella e Pierre começaram a se dirigir para a saída, as meninas se despediram com abraços e sorrisos, apesar de tudo. O clima havia melhorado consideravelmente, e, embora o caminho à frente ainda fosse desafiador, Petra sentia que, com o apoio de suas amigas, estava pronta para enfrentar o que viesse.

Com o coração um pouco mais leve e a confiança renovada, Petra sabia que não estava sozinha. As pessoas que a cercavam fariam toda a diferença nas batalhas que ainda estavam por vir.

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desculpe o sumiço, esses dias me aconteceu uma desgraça chamada "trabalho em grupo"

e eu meio que já desisti de revisar capítulo, vcs que aceitem o que vier

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