47 - "Acabou"

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15 de Abril

Na manhã seguinte, Petra fez o possível para manter a aparência tranquila enquanto tomava café com Marco e Antonella. O pequeno Pierre brincava ao lado deles, trazendo momentos de leveza com suas risadas inocentes. A presença da família de Lorenzo ajudava a criar uma fachada de normalidade, algo que Petra precisava desesperadamente naquela manhã.

Ela sorriu e conversou, mas sua mente estava distante, focada no treino que aconteceria em breve. Sabia que precisaria provar para Zé Roberto que estava fisicamente e mentalmente preparada para o jogo do dia seguinte, mesmo que sua mente estivesse um caos. Enquanto terminavam o café, Marco sugeriu que fossem direto para o ginásio, e Petra prontamente concordou.

No caminho, Petra apertou o casaco da seleção em volta de si, mais uma vez usando-o como uma armadura para esconder as marcas em seus braços. Tentava manter a postura firme, embora sentisse o olhar atento de Antonella sobre ela vez ou outra. Não queria levantar suspeitas, muito menos permitir que vissem as marcas de noite passada. Não agora, quando seu foco precisava estar completamente no treino.

Quando Petra chegou na quadra para se aquecer, os manguitos já cobriam seus braços, escondendo as marcas que ela não queria que ninguém visse. Ela estava focada em manter a postura firme, tentando afastar qualquer pensamento que pudesse tirá-la do treino. O pequeno Pierre estava ao seu lado, segurando sua mão com empolgação, os olhos brilhando ao ver as jogadoras se aquecendo. Julia apesar da preocupação se permitiu admirar Petra de longe vendo ela interagir com Pierre.

— Tia Petra, são as moças bonitas! Posso brincar com elas também? – Pierre perguntou com curiosidade, apontando para as outras jogadoras.

— Elas vão adorar, Pi. – Petra respondeu, tentando sorrir apesar do peso que sentia por dentro. — Mas vamos aquecer antes, tá bem?

O menino riu animado, soltando a mão de Petra e correndo pela quadra, imitando os movimentos de alongamento que via as jogadoras fazendo. Petra observava o pequeno, rindo internamente pela energia contagiante, logo percebeu Antonella e Marco observando da arquibancada. Eles pareciam tranquilos, sorrindo enquanto conversavam entre si.

Enquanto Pierre corria pela quadra, Rosa se aproximou de Petra com um sorriso.

— Ei, e o mascote novo? – Rosa perguntou, apontando para Pierre que corria de um lado para o outro.

— Ele tá empolgado com moças bonitas da TV. – Petra respondeu com um sorriso enquanto via Pierre ao lado de Luzia e Kudiess imitando o que elas faziam.

— Ele é tão fofo! – Rosa comentou. — Mas e você, como tá? Conseguiu descansar?

Petra forçou um sorriso, sem querer entrar em detalhes.

— Consegui sim. Tô pronta pro treino. – respondeu, ajustando os manguitos com um gesto quase automático.

Rosa percebeu o movimento, mas não comentou nada. Apenas assentiu, confiando que Petra falaria se precisasse.

— Bom, então vamos lá mostrar serviço pro Zé! – disse Rosa, batendo de leve no ombro de Petra. — E pega leve, Pê! Sabe, ainda tem a lesão, não faz tanto tempo.

Enquanto as jogadoras se reuniam no centro da quadra para iniciar o aquecimento, Petra fez um último esforço para afastar as distrações. Ela sabia que o treino seria observado por todos, especialmente por Zé, e não podia se permitir falhar. Julia ao seu lado segurou sua mão discretamente para tentar passar um apoio silencioso.

No meio do treino, Petra saltou para bloquear uma bola forte que Rosa tinha mandado do outro lado da rede. O impacto não saiu como ela esperava; a bola atingiu seu pulso de mal jeito, e ela caiu no chão com uma expressão de dor intensa. O ginásio ficou em silêncio imediatamente. Todos, inicialmente, pensaram que fosse o tornozelo que Petra havia lesionado antes, mas ao verem que ela segurava o pulso, a preocupação se intensificou.

Julia foi a primeira a correr até Petra, o rosto cheio de preocupação. — Petra... 

Fernandinho entrou em quadra rapidamente, se agachando ao lado de Petra. — Onde tá doendo, Petra? – ele perguntou, analisando o pulso dela com cuidado.

— Aqui... o pulso. – Petra respondeu entre dentes, segurando o braço com força.

Fernandinho pediu que ela retirasse o manguito para que ele pudesse avaliar melhor a área. Em meio à dor, Petra nem pensou nas marcas que tentava esconder. Quando o manguito foi finalmente removido, um silêncio pesado caiu sobre as meninas ao redor. Ali, no braço de Petra, estava uma marca roxa evidente. O hematoma era impossível de ignorar, e todas ficaram paralisadas, trocando olhares confusos e preocupados.

Julia, que estava ao lado de Petra, ficou visivelmente tensa, olhando diretamente para a marca sem saber como reagir. A expressão no rosto das outras jogadoras era de choque e inquietação.

Zé Roberto, percebendo o impacto da situação, falou com autoridade. — Fernandinho, leve a Petra para a enfermaria agora. Cuidem disso com calma. – Ele olhou para o restante do time. — O treino continua. Vamos, foco! Não podemos perder tempo.

Mesmo relutantes, as outras jogadoras começaram a voltar aos seus lugares, embora suas mentes estivessem longe da quadra. Julia hesitou, mas obedeceu às ordens de Zé, lançando um último olhar preocupado para Petra enquanto Fernandinho a ajudava a sair da quadra.

O treino seguiu, mas o silêncio desconfortável continuava, cada jogadora agora processando o que tinha acabado de acontecer.

Fernandinho foi cuidadoso o tempo todo. Ele não mencionou os hematomas no braço de Petra, mesmo que tivessem ficado evidentes para todos. Ela agradeceu mentalmente por isso, aliviada por não ter que dar explicações naquele momento. Quando ele saiu para avisar ao Zé que, felizmente, era apenas um susto e que Petra só precisava descansar para estar pronta no dia seguinte, ela aproveitou o raro momento de tranquilidade.

Sentada sozinha na enfermaria, Petra estava de costas para a porta quando ouviu o som dela se abrindo. Um pequeno sorriso se formou em seu rosto, esperando ver Julia, mas sua expressão mudou instantaneamente ao ouvir a voz de Lorenzo.

— Achei que teria alguém com você. – ele começou, já com um tom acusador.

Petra virou lentamente para encará-lo, sua postura rígida e o olhar cheio de frustração. — Que merda você tá fazendo aqui? Como entrou?

— Eu ainda sou seu noivo! É claro que iam me deixar entrar.

— Lorenzo, eu avisei pra não me procurar. Porra, você precisa entender que já foi. Acabou! – Petra não sentia mais qualquer resquício de culpa ou medo, ela sentia raiva porque finalmente havia aceitado que seu amor por Lorenzo não existia mais e ele era o culpado por isso.

Eles mal começaram a conversar e, em poucos minutos, as faíscas de um confronto verbal acenderam novamente. Depois de todas as tensões e traições não resolvidas, Petra finalmente explodiu.

— Minha mãe morreu, Lorenzo! E você sequer ligou pra saber como eu estava! – a voz dela saiu carregada de dor e raiva acumuladas. — Você só estava preocupado com sua carreira, sempre foi assim.

Lorenzo a olhou com desprezo, sua resposta fria e afiada. — Achei que você odiava a mulher que te abandonou, Petra.

O silêncio que se seguiu foi sufocante, apenas quebrado pela respiração pesada dos dois. A tensão no ar era sensível, e a discussão rapidamente escalou. As vozes altas ecoavam pelos corredores, carregadas de ressentimento e mágoas que haviam sido guardadas por tempo demais.

Do lado de fora, as meninas do time, que estavam indo até a enfermaria para ver como Petra estava, ouviram a discussão. Ao se aproximarem da porta, elas viram Lorenzo de pé, perto demais de Petra, o rosto contorcido de raiva enquanto gritava com ela. A proximidade e o tom agressivo fizeram o sangue de todas ferver instantaneamente. Rosa, Kudiess, e Carolana foram as primeiras a chegar, seguidas por Pri, Luzia e Julia, que sentiu seu corpo ficar rígido de tensão ao ver a cena.

— O que ele está fazendo aqui? – murmurou Kudiess, o olhar cheio de fúria.

Julia deu um passo à frente, os punhos cerrados, a raiva pulsando em cada fibra de seu corpo. — Se afasta dela, agora.

Para as outras jogadoras, já era o bastante ver Petra sendo acuada daquela maneira. A paciência de todas elas tinha se esgotado.

Quando Lorenzo viu Julia se aproximar, seu sorriso se tornou cínico e cruel. — Então, essa é a vadiazinha pra quem você deu quando estava carente, Petra? – ele provocou, o desdém evidente em sua voz.

Julia avançou, a raiva claramente estampada no rosto, mas antes que pudesse reagir, Marco e Antonella, que foram verificar como Petra estava, entraram movidos pelos gritos de Lorenzo que eram ouvidos no corredor. Marco, com o rosto endurecido pela indignação, foi direto ao ponto.

— Chega, Lorenzo! – ele exclamou, olhando furioso para o irmão. — Já estou farto das suas idiotices.

Antonella se aproximou, tentando entender a situação e apoiar Petra. — Tá fazendo o que aqui, Lorenzo? – ela perguntou, a preocupação e a irritação na voz.

Lorenzo não perdeu a chance de continuar com suas provocações.

— Ah, vejam só. Petra aqui com essa... – ele disse, sua voz cheia de desprezo. — Não é surpreendente que a queridinha de vocês estava transando com outra pessoa? Pois é! Acha que é melhor que eu, Petra, mas o que isso tudo faz de você, além de uma vadia também?

Julia estava prestes a perder a paciência. Ela tentou partir para cima de Lorenzo, mas Petra rapidamente a segurou pela cintura, murmurando em seu ouvido. — Calma, Julia. Por favor. Não vale a pena.

Julia lutava para se manter calma, mas era visível a luta interna. No entanto, Marco não conseguiu mais se segurar. Com um movimento rápido, ele avançou e acertou Lorenzo no rosto, um soco limpo que fez Lorenzo cambalear para trás, surpreso e atordoado.

— Você não tem o direito de falar assim com ela ou com qualquer outra pessoa! – Marco gritou, a voz carregada de indignação, enquanto segurava o irmão pela camisa. — Escuta, se você sonhar em chegar perto de qualquer uma dessas mulheres de novo, eu não sei o que sou capaz de fazer com você, Lorenzo!

Lorenzo, atordoado e com a mão na mandíbula, olhou para Marco com uma mistura de raiva e surpresa. As jogadoras ao redor, testemunhas do confronto, estavam divididas entre o choque e a satisfação pela defesa de Petra.

— Acho melhor você ir embora, Lorenzo. – disse Antonella, sua voz fria e autoritária. — Você vai por contra própria ou vamos precisar chamar a segurança? Eu particularmente acho que você sendo arrastado pra fora renderia boas fotos.

Lorenzo, visivelmente abalado, não respondeu de imediato. Antes de afastar o irmão e sair pela porta, o olhar dele passou de Marco para Petra, que ainda segurava Julia pela cintura, claramente exausta emocionalmente, mas firme em sua decisão de não deixar Lorenzo a destruir mais.

— Vai embora, Lorenzo, por favor... – A voz de Petra saiu falha, mas não ela não queria se sentir fraca, não ali na frente dele. Ela suspirou aliviada quando viu Lorenzo passar pela porta, sentiu um peso sendo tirado de seus ombros.

Julia olhou para Petra, ainda segurando a cintura dela, e sussurrou passando o braço por seus ombros. — Eu sinto muito. Não deveria ter deixado ele falar assim com você.

— Vamos esquecer isso, tá bem? Ele não vale nosso tempo, Ju. – Murmurou Petra apertado Julia em um abraço carinhoso. Ela deu um breve sorriso ao pensar que os braços da ruiva envolvidos em si e seu cheiro eram suficientes para acalmá-la.

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eu sinceramente acho que podia ter feito um capítulo melhorzinho mas minha preguiça não deixou
vão ter que se contentar com esse 😘

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