46 - Rumores ²
14 de Abril
A discussão entre Petra e Lorenzo escalava cada vez mais. O ar no quarto parecia pesado, carregado de palavras não ditas e ressentimentos antigos. Petra sabia que o momento havia chegado, ela não podia mais esconder a verdade.
E
la respirou fundo, encarando Lorenzo com os olhos cheios de determinação, embora sua voz ainda carregasse um peso tremendo.
— Lorenzo... tem mais uma coisa que eu preciso te dizer.
Lorenzo levantou uma sobrancelha, confuso e já irritado. Ele cruzou os braços, esperando.
— Eu... – Petra hesitou, sentindo o estômago revirar com o que estava prestes a revelar. — Eu me envolvi com outra pessoa no Brasil.
O silêncio que seguiu foi ensurdecedor. Lorenzo a encarou, incrédulo, mas rapidamente a incredulidade deu lugar à raiva.
— O que você disse? – Ele perguntou, a voz baixa, mas carregada de fúria. — Você está me dizendo que me traiu?
Petra fechou os olhos por um momento, tentando manter a compostura.
— Sim, eu... me envolvi com outra pessoa.
Lorenzo deu um passo para trás, passando a mão pelo cabelo de forma frenética. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, antes de soltar uma risada amarga.
— Eu sabia! – Ele exclamou, balançando a cabeça. — Eu sabia que tinha algo errado! Aquele cara, não é?
A suposição fez o coração de Petra pular, mas ela logo balançou a cabeça, percebendo o rumo dos pensamentos de Lorenzo.
— Não, Lorenzo... não foi com o Lukas.
— Então com quem, Petra? – Ele exigiu saber, a voz carregada de impaciência. — Com quem você me traiu?
Petra hesitou, mas sabia que não podia mais fugir da verdade. Ela precisaria contar, mesmo que isso destruísse qualquer resquício de entendimento entre eles.
— Foi com a Julia.
Lorenzo congelou. O nome de Julia ecoou pelo quarto como uma bomba. Sua expressão mudou de surpresa para uma raiva fria e calculada. Ele tentou processar as palavras, mas a verdade era que a ideia de Petra ter se envolvido com outra mulher parecia ser um golpe ainda maior para ele.
— Julia? – Ele repetiu, incrédulo. — Você está me dizendo que transou com ela? A garota com quem você vive brigando?
Petra assentiu lentamente, os olhos evitando os de Lorenzo por um momento.
— Sim, Lorenzo. Aconteceu... depois de uma noite no meu apartamento. Estávamos bebendo, e... as coisas simplesmente aconteceram.
Lorenzo deu um passo para trás, esfregando as mãos no rosto como se tentasse acalmar o crescente turbilhão de emoções dentro dele.
— Isso... – Ele começou, mas então parou, a raiva se acumulando novamente. — Isso é um erro! Um erro estúpido, Petra. Você e eu podemos superar isso, não podemos?
Petra sentiu uma onda de frustração e descrença percorrer seu corpo. Como Lorenzo podia estar mais focado no fato de que era "uma mulher" do que na traição em si? Ele estava mais ofendido pela identidade de Julia do que pela própria traição.
— Não é só um erro, Lorenzo. – Petra afirmou, a voz mais firme agora. — Eu estou envolvida com ela de verdade. Isso não foi um "deslize". Não foi algo que simplesmente aconteceu e acabou. Eu... eu realmente estou envolvida.
As palavras de Petra atingiram Lorenzo como um soco. Ele a encarou, seus olhos estreitados em fúria, mas, de repente, algo se quebrou dentro dele. A raiva que ele demonstrava começou a se transformar em algo mais sombrio, uma mistura de orgulho ferido e aceitação amarga.
— Você acha que está apaixonada por ela, Petra? – Lorenzo perguntou, a voz agora mais calma, mas carregada de sarcasmo. — Isso é só uma fase. Uma bobagem que você vai superar. Nós... nós podemos resolver isso. Essas coisas acontecem.
Petra o encarou, chocada pela forma como ele estava lidando com a situação. Ele não parecia verdadeiramente devastado com a traição, mas sim incomodado pelo fato de que ela havia se envolvido com outra mulher. A ficha caiu para Petra de uma vez. Lorenzo não estava tão magoado com a traição em si, mas pelo fato de que não era algo que ele pudesse "competir".
— Você não está nem bravo por eu ter te traído, está? – Petra perguntou, uma amarga compreensão se formando. — Está mais chateado porque foi com uma mulher, não é?
Lorenzo desviou o olhar, o silêncio dele foi suficiente para confirmar o que Petra já suspeitava.
— Essas coisas acontecem... você também já fez isso, não é? – Petra perguntou, agora sem medo de confrontá-lo. — Talvez você também tenha me traído, mas acha que, por eu ter me envolvido com outra mulher, isso diminui o que aconteceu?
Lorenzo ficou em silêncio, mas a expressão em seu rosto dizia tudo. Petra sentiu uma onda de tristeza e alívio ao mesmo tempo. Ela sabia que essa conversa era o fim. Não havia mais volta para eles.
— Eu não posso continuar com isso. – Petra disse, sua voz firme, mas triste. — Não podemos continuar fingindo que isso vai dar certo.
Em um movimento rápido Lorenzo a segurou, suas mãos firmes no pulso de Petra. — Escuta, Petra. Você não vai fazer isso, você não pode jogar fora todos esses anos por um deslize bobo.
— Porra! Você está se ouvido? Eu estou dormindo com outra pessoa, Lorenzo! Eu- Petra sentiu Lorenzo a segurar com mais força, deixando um suspiro de dor escapar. — Lorenzo, você tá me machucando. Para, por favor!
Como um choque, Lorenzo pareceu despertar de sua raiva olhando assustado para suas próprias mãos segurando o braço de Petra com força. — Amor, me desculpa, eu não-
— Chega, Lorenzo! – Petra finalmente reuniu forças para se afastar, aquele momento pareceu lhe trazer para a realidade, sua triste e dolorosa realidade. — Aquele dia na cozinha, não foi um acidente.
— Você sabe que eu não te machucaria. Foi um acidente, Petra, eu estava com dor e você se aproximou no momento errado.
— Não, não foi isso que aconteceu. Você não estava só com dor, estava irritado. Lorenzo você não me afastou inconscientemente, você me bateu! – O voz de Petra estava alterada mostrando sua raiva e mágoa ao lembrar do que realmente aconteceu.
Em uma fração de segundo. Lorenzo, ao tentar retirar algo do forno, queimou a mão. O reflexo imediato foi puxar a mão rapidamente para fora, a dor misturada com a raiva por ter feito algo tão bobo.
Petra, que havia se aproximado para ajudá-lo. — Ei, amor, me deixa ajud- Mas foi atingida no rosto por um movimento brusco.
— Droga, Petra, se afasta!
Ela sentiu a dor aguda ao redor do olho esquerdo, e antes que pudesse processar o que havia ocorrido, empurrou Lorenzo instintivamente, na tentativa de afastar-se do susto. Lorenzo perdeu o equilíbrio e caiu, apoiando-se nos cacos de vidro que estavam no chão.
Por um breve momento, tudo ficou em silêncio. O choque da situação pairava entre os dois. Lorenzo, ofegante, olhou para Petra, o rosto marcado pela dor tanto física quanto emocional.
— Foi um acidente... – ele disse, sua voz tremendo enquanto tentava processar o que havia acontecido. — Foi um acidente, eu juro...
Petra ainda estava tentando entender a situação. O impacto não havia sido forte, mas o suficiente para deixar uma leve contusão ao redor de seu olho. Ela piscou várias vezes, tentando afastar a dor que começava a latejar.
— Eu... sei. – Petra respondeu baixinho, mas a incerteza em sua voz era clara. Ela queria acreditar que tudo aquilo não passava de um acidente, mas o susto e a dor não ajudavam.
Lorenzo se levantou lentamente, suas mãos trêmulas enquanto tentava alcançar Petra. — Por favor, me desculpe, eu não queria...
— Eu menti, Lorenzo! Disse pra todos que foi um acidente porque estava com vergonha do que tinha acontecido e também não queria aceitar a verdade. – Petra caminhou até sua bolsa na intenção de sair daquela casa, de deixar aquele sentimento e Lorenzo para trás. — Você sabe que não foi acidente, nem antes e nem agora, e eu sei que se continuarmos fingindo que foi isso vai se tornar em algo muito maior.
— Petra, por favor... – Lorenzo tinha uma voz mansa, ela sentiu sua raiva aumentar ao escutá-lo. O mesmo homem que estava gritando e a machucando com a voz baixa e meiga como se não tivesse feito nada. E o que viria depois? Mais um "acidente" seguido por seus pedidos de desculpas vazias. Era um ciclo que Petra não estava disposta a viver porque viu de perto o que isso fez com sua própria mãe.
— Estou indo embora e não quero que venha atrás de mim. Quando eu quiser nos vamos conversar sobre o fim desse noivado.
◇◇◇
Quando Marco e Petra chegaram à casa dos Bianchi, Antonella estava na porta para recebê-los. Seu olhar era de preocupação e simpatia.
— Petra, querida. – Antonella disse, envolvendo Petra em um abraço acolhedor. — Vamos. Você precisa de um pouco de descanso.
Petra apenas acenou com a cabeça e seguiu Antonella até o quarto, seu casaco bem ajustado para esconder qualquer marca visível.
Marco observou de longe, a tensão visível em seu rosto. Ele queria evitar que Petra visse as notícias, então fez o possível para manter o celular longe dela. Enquanto Antonella ajudava Petra a se acomodar, Marco decidiu verificar rapidamente se tudo estava em ordem.
— Amor, se precisar de algo, me avise. – Marco disse, tentando manter a calma.
— Pode deixar, querido. Vou cuidar dela. – Antonella respondeu, dando-lhe um sorriso compreensivo. — Por agora, o melhor é deixá-la descansar.
Assim que Marco saiu do quarto, Antonella fechou a porta e se voltou para Petra, que estava sentada na beira da cama, visivelmente cansada.
— Petra, querida, precisa de algo? – Antonella perguntou, com uma voz suave. — Sei que foi um dia difícil. Se precisar de alguma coisa, estou aqui para ajudar.
Petra forçou um sorriso, tentando disfarçar sua dor.
— Só quero um pouco de silêncio agora, Nella. Não quero pensar em nada. – ela respondeu, a voz trêmula.
— Entendo. – Antonella disse, pegando um cobertor e cobrindo Petra com cuidado. — Vou deixar você descansar um pouco. E, se precisar conversar ou tiver alguma necessidade, não hesite em me chamar.
Enquanto Petra se acomodava na cama, Antonella desligou as luzes, deixando o quarto em uma penumbra suave. Ela saiu do quarto para permitir que Petra tivesse algum tempo sozinha, mas sua mente estava cheia de preocupações sobre o que estava por vir e sobre a condição de Petra.
Quando Antonella entrou na sala, Marco estava ao telefone, a expressão carregada de frustração e culpa. Ele tentava acalmar a situação, mas a tensão estava evidente em sua voz.
— Sim, eu entendo, mas precisamos resolver isso rapidamente, Marcela. O que mais podemos fazer? – Marco dizia ao telefone, seus olhos fixos no chão enquanto falava.
Antonella se aproximou, escutando parte da conversa, e percebeu a intensidade de suas palavras. Quando Marco desligou, ele parecia ainda mais abatido.
— Marco, você precisar tentar se acalmar. – Antonella começou, tentando oferecer algum consolo. — Todos estão passando por isso, e não é sua culpa.
Marco passou a mão pelo rosto, claramente perturbado.
— Quando Lorenzo se envolveu naquele boato de agressão em 2018, eu acreditei nele, Antonella. Não havia nada que confirmasse que era verdade, a própria Chiara desmentiu. E eu fui um idiota por acreditar naquele... Meu irmão é um cara desprezível e eu fui um tolo em acreditar que poderia ser diferente. Ele está acabando com a vida da Petra.
Antonella se aproximou, colocando a mão em seu ombro em um gesto de apoio.
— Marco, você fez o melhor que podia, e agora o importante é estar ao lado da Petra e apoiá-la. Não podemos mudar o passado, mas podemos ajudar a lidar com o presente. Vamos focar em fazer o melhor por ela agora.
— Eu só queria que as coisas fossem diferentes – Marco disse, a voz cheia de pesar. — Não posso acreditar que a deixei nessa situação.
— Você não tem controle sobre as ações dele. – Antonella respondeu suavemente. — O que importa agora é o que fazemos para apoiar a Petra e garantir que ela se sinta segura. Estamos todos aqui para isso.
Marco assentiu, ainda visivelmente angustiado, mas reconhecendo o esforço de Antonella para ajudá-lo a ver além de sua culpa.
— Sim, você está certa. Vamos fazer o que for necessário para ajudá-la. Obrigado por estar aqui, Antonella.
— Sempre, querido. – Antonella respondeu, com um sorriso reconfortante. — Agora, vamos nos concentrar em apoiar Petra e garantir que ela saiba que não está sozinha.
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petição pro Marco meter uns tapa no Lorenzo 👍🏼
ah, quase 36k de leituras e eu tô emocionada tá
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