44 ‐ Ele
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14 de Abril
Na manhã seguinte, o quarto estava silencioso, iluminado pela luz suave do amanhecer. Petra ainda estava nos braços de Julia, sentindo o calor confortável do corpo da ruiva. Ela não queria sair dali, mas sabia que tinha que encarar o dia. Era a manhã da viagem para a Itália, e a tensão do que estava por vir pesava em seus ombros
— Precisamos levantar... – murmurou Julia, seus dedos traçando levemente a pele de Petra. — Temos um avião para pegar.
— Eu sei... – Petra suspirou, fechando os olhos por um momento antes de finalmente se afastar dos braços de Julia. — Mas não sei se estou pronta para encarar Lorenzo de novo, muito menos a família dele.
Julia a observou enquanto ela se sentava na beira da cama, os ombros curvados pelo peso da ansiedade. Aproximou-se e, silenciosa, passou os braços ao redor de Petra, descansando o queixo em seu ombro.
— Não precisa fazer isso sozinha. – sussurrou Julia. — Eu estou com você. Não importa o que aconteça.
Petra inclinou a cabeça, fechando os olhos por um momento enquanto deixava a presença de Julia lhe dar força.
— Obrigada, ju... – sussurrou Petra. — Não sei o que faria sem você agora.
As duas ficaram em silêncio por mais alguns minutos, apreciando a companhia uma da outra, até que o inevitável momento de se levantarem e começarem o dia chegou.
◇◇◇
O aeroporto estava lotado de pessoas, e o time brasileiro se destacava com suas cores vibrantes e a energia que traziam. Enquanto as meninas conversavam animadamente, rindo e compartilhando histórias, Petra estava em silêncio ao lado de Julia. O clima era pesado para ela. A viagem à Itália significava muito mais do que apenas outro jogo. Lorenzo estaria lá, e a simples ideia o fazia sentir seu estômago revirar.
Julia, percebendo o desconforto de Petra, segurou sua mão discretamente, oferecendo-lhe algum consolo. Um leve toque de solidariedade e compreensão, algo que só elas poderiam entender. Trocaram um olhar breve, mas profundo. Não era necessário falar. O silêncio entre as duas comunicava tudo.
— Vocês estão bem? – Pri perguntou ao sentar-se ao lado delas, o sorriso no rosto suavizando a preocupação em sua voz. — Notei que estão mais quietas do que o normal.
Petra deu um meio sorriso, tentando disfarçar a tensão.
— Só... pensando no que está por vir. – respondeu ela, com a voz baixa, sem muita energia.
— Vai ficar tudo bem. – disse Pri com confiança, passando a mão no ombro de Petra. — Você não vai enfrentar isso sozinha.
Julia apertou levemente a mão de Petra em um gesto de apoio silencioso, concordando com as palavras de Pri.
— Eu sei. – Petra murmurou, respirando fundo. — Só preciso me preparar.
Quando chegou o momento de embarcar, Petra sentiu um nó apertando em seu estômago. A ansiedade subiu, e sem pensar, apertou ainda mais a mão de Julia, que respondeu com um sorriso gentil. Julia sabia o quanto aquele momento era difícil, mas também sabia que Petra era forte, mesmo quando não parecia.
Ao chegarem na Itália, o calor dos fãs locais os aguardava no aeroporto. O time foi recebido com carinho, as jogadoras tiraram fotos, distribuíram autógrafos e acenos. No entanto, para Petra, a atenção era desconcertante. A mídia italiana estava especialmente atenta a ela, com olhos curiosos e câmeras sempre prontas para capturar qualquer momento, especialmente sabendo da tensão em sua vida pessoal.
— Respira. – murmurou Julia ao lado de Petra, sentindo a tensão aumentar.
— Estou tentando. – respondeu Petra, forçando um sorriso enquanto assinava outro autógrafo.
Quando o grupo finalmente conseguiu se afastar para uma área mais tranquila, um grito animado ecoou no salão.
— Tia Petra! –gritou uma voz infantil com um sotaque adorável.
O sorriso de Petra surgiu instantaneamente, iluminando seu rosto. Um menino pequeno corria em sua direção, agarrando suas pernas com entusiasmo. Petra se abaixou, pegando-o no colo e rindo. Ela então se virou para as amigas, orgulhosa.
— Esse é Pierre, meu sobrinho, filho do Marco – Disse, apertando-o em um abraço carinhoso. As meninas sorriram ao ver a interação, especialmente Julia, que sempre adorava ver Petra com crianças.
— Ei, Pierre! – Carolana se abaixou para cumprimentá-lo. – Você gosta de vôlei? Quero te ver torcendo por nós no próximo jogo, hein!
— Gosto sim! – Pierre respondeu com empolgação. — Eu vejo todas vocês jogarem com a tia Petra na TV. Todas são muito bonitas!
As meninas riram do elogio inocente e do português enrolado que Pierre falava.
Nyeme jogando o cabelo de lado de forma brincalhona.
— Ah, ele sabe das coisas! – brincou, fazendo o pequeno rir.
Enquanto Petra estava distraída com Pierre, Marco e Antonella, os pais do garoto, se aproximaram sorrindo.
— Petra, la mia bambina!
— Antonella, Marco, mi siete mancati tanto! – Petra se aproximou para cumprimentá-los com carinho, trocando algumas palavras rápidas e logo os levou para perto do time para apresentar suas companheiras.
— Meninas, Marco Bianchi, vocês já conhecem. E está moça linda com ele é sua esposa, Antonella.
Petra fez questão de dizer o nome de cada uma das meninas enquanto Marco e Antonella as cumprimentavam com uma simpatia cativante. Julia via que Petra parecia confortável com Pierre em seu colo e os pais dele ao seu lado, pareciam pessoas que lhe faziam bem.
Mas foi quando Lorenzo chegou que a atmosfera mudou. Ele veio com passos firmes, e mesmo sorrindo para as pessoas ao redor, havia uma rigidez em sua expressão. Quando alcançou Petra, ele a abraçou pela cintura de forma possessiva, plantando um beijo rápido, quase forçado, em seus lábios. Petra congelou por um instante, tentando esconder o desconforto.
Julia, que assistia de perto, revirou os olhos discretamente. O ciúme crescia dentro dela, não só por ver Lorenzo ao lado de Petra, mas pela forma como ele a segurava, como se ela fosse um troféu.
As meninas, mesmo rindo e interagindo com Pierre, notaram a tensão no ar. Carolana trocou um olhar
rápido com Natinha, como se tentasse medir a situação.
— Está tudo bem? – Natinha murmurou para Julia, se aproximando.
Julia assentiu com um sorriso forçado, mas estava claro que ela não estava confortável. — Só... estou observando. – sussurrou ela de volta, não tirando os olhos de Petra e Lorenzo.
Enquanto o grupo se movia para fora do aeroporto, Lorenzo manteve Petra próxima, com o braço ao redor de sua cintura. As meninas trocavam olhares de preocupação, sabendo que Petra não parecia estar bem, mas respeitando seu espaço.
Petra, ao se despedir das amigas e de Julia, trocou um rápido olhar com a ruiva, seus olhos implorando para que elas não se preocupassem demais. Mas Julia sabia, no fundo, que não aguentaria ver Petra nos braços de Lorenzo por muito mais tempo. O ciúme queimava lentamente, e mais que isso, a preocupação com o bem-estar de Petra estava sempre presente.
Lorenzo a puxou mais uma vez para perto, dizendo algo baixinho em seu ouvido que Julia não conseguiu escutar, mas ela viu a expressão no rosto de Petra, tensa e desconfortável. Não estava certo. Nada estava certo naquele abraço forçado, e Julia sabia que, de alguma forma, precisaria fazer algo sobre isso.
◇◇◇
A noite em Milão chegou carregada de tensão. Após a recepção no aeroporto, Petra e Lorenzo seguiram para casa que eles tinham, enquanto o resto do time foi em direção à acomodação destinada às jogadoras. No caminho, as meninas conversavam sobre os treinos e estratégias, mas era evidente que a situação de Petra estava na cabeça de todas.
Julia manteve-se em silêncio a maior parte do tempo. Ela estava sentada no fundo do ônibus, o olhar perdido na janela, enquanto as luzes da cidade passavam como borrões. A interação de Petra e Lorenzo, as expressões, os olhares, tudo ficava ecoando em sua mente. Algo não estava certo, e ela odiava não poder fazer nada naquele momento.
— Ei, você está bem? – Kisy se aproximou, sentando ao lado de Julia. — Parece distante.
— Só... cansada, eu acho. – respondeu Julia, tentando sorrir, mas falhando. Kisy sabia que havia mais.
— Foi difícil ver aquilo, né? — Kisy comentou suavemente. — Ela não parecia bem. A gente sente.
Julia olhou para Kisy e assentiu levemente. Ela não precisava dizer mais nada, o time inteiro estava percebendo. Havia algo de errado na forma como Lorenzo agia perto de Petra, como se ele quisesse exercer controle sobre ela a cada segundo.
◇◇◇
Na casa onde Petra estava com Lorenzo, a tensão no ar era palpável. Petra tentava manter a calma, mas sua mente estava a mil. Cada palavra que Lorenzo falava parecia ter uma carga de expectativa que ela não conseguia mais suportar. O jantar foi repleto de silêncios desconfortáveis, e, quando voltaram ao quarto, ela sabia que Lorenzo tentaria ter uma conversa que há muito tempo ela não queria mais ter.
— Você não acha que está na hora de decidir? – Lorenzo quebrou o silêncio, sua voz controlada, mas com uma ponta de impaciência.
— Decidir o quê? – Petra respondeu, já sabendo aonde a conversa iria, mas tentando ganhar tempo.
— O casamento, Petra. – Ele a encarou com os olhos apertados. — Isso já está se arrastando por tempo demais. As pessoas estão começando a comentar, e eu não vou ficar nessa situação indefinidamente.
Petra respirou fundo, sentindo o peso da pressão sobre ela. — Lorenzo, eu já te falei... minha carreira está em um momento importante, eu estou passando por coisas demais, não é simples assim. Eu preciso de tempo, preciso me concentrar nos jogos...
— E quando não são os jogos, é outra coisa. – Lorenzo interrompeu, sua voz se elevando. — Sempre tem uma desculpa, Petra. Primeiro era Stanford, depois a seleção, e agora o que? O que mais você vai usar para adiar isso?
Petra ficou em silêncio por um momento, tentando controlar a maré de emoções dentro dela. Ela amava Lorenzo, ou pelo menos, ela pensava que sim. Mas cada vez que ele forçava a situação, ela se sentia mais distante dele, mais sufocada.
— Eu não estou adiando nada. – disse Petra calmamente, embora sua voz tremesse um pouco. — Eu só quero fazer as coisas no meu tempo.
Lorenzo bufou, cruzando os braços.
— O "seu tempo" parece nunca chegar. Petra, não dá mais para fingir que está tudo bem. Você tem que escolher. Ou é o casamento, ou é esse jogo sem fim.
— Não faz isso parecer uma escolha entre você e minha carreira. – Petra sentiu a raiva começar a borbulhar. — Eu já te falei como o vôlei é importante para mim. Por que você não consegue entender?
— Porque eu estou cansado de ser o segundo lugar na sua vida! – Lorenzo explodiu, levantando-se abruptamente. — Eu estou sempre esperando por você, sempre sendo deixado de lado. Eu sou seu noivo, Petra! Quando é que eu vou ser sua prioridade?
Petra se levantou também, agora mais furiosa do que nunca.— Não é sobre prioridades, Lorenzo! É sobre respeito! – Ela gritou, a voz ecoando pelo quarto. — Você sabia desde o começo o quanto o vôlei significava para mim. E agora, você quer que eu jogue tudo fora?
Lorenzo ficou em silêncio por um momento, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto ele processava as palavras de Petra. Quando ele finalmente falou, sua voz estava mais fria.
— Então é isso? Você vai escolher o vôlei ao invés de nós?
Petra não respondeu imediatamente. Ela queria gritar, queria dizer que ele estava errado, mas algo dentro dela a impediu. Porque, no fundo, ela sabia que talvez já tivesse feito essa escolha, mesmo que ainda não tivesse admitido para si mesma.
◇◇◇
Enquanto isso, no hotel do time, Julia estava no quarto que dividia com Ana, mexendo no celular para distrair a mente. Mas sua concentração estava longe dali, e sua preocupação com Petra só aumentava.
— Julia? – Ana perguntou, saindo do banheiro. — Está pensando nela, né?
Julia assentiu, sem esconder sua preocupação.
— Não sei o que está acontecendo exatamente, mas não consigo parar de pensar que ela não está bem. Lorenzo... ele não parece o cara que ela descreveu antes.
— Nenhuma de nós gosta dele. – admitiu Ana, sentando na cama ao lado de Julia. — Mas, Ju, a Petra é esperta. Ela sabe o que está fazendo.
Julia mordeu o lábio, insegura. Ela sabia que Petra era forte, mas também sabia que, por trás daquela fachada, havia vulnerabilidade. E era essa vulnerabilidade que a preocupava mais do que qualquer outra coisa.
— Ela vai precisar de nós. – Julia finalmente disse, a voz baixa mas cheia de determinação. — E quando isso acontecer, eu so quero estar lá para ela.
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boa noite e vão dormir 👍🏼
(tô caindo de sono então ignorem os erros que provavelmente tem bjs
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