30 - Abraçando a Escuridão
- Jão
Sempre lutei por liberdade
Mas ser livre me fez só
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Julho, 2018 - Atlanta
Julia estava empolgada com a ideia de ter outra brasileira na NCAA. Ela sabia que a presença de Petra significava mais competição, mas também uma conexão com alguém que entendia o que era estar longe de casa, batalhando em um ambiente altamente competitivo. Contudo, todas as expectativas de Julia foram abaladas no primeiro encontro delas em quadra.
Petra entrou no ginásio com uma expressão séria, quase impenetrável. Ela não esboçava um sorriso, não fazia questão de parecer amigável, e sua postura intimidava. Julia inicialmente pensou que Petra estava apenas concentrada no jogo, mas a intensidade era tão palpável que algo a incomodava. Mesmo antes da partida começar, Julia já sentia uma certa animosidade no ar.
Quando o jogo teve início, Julia rapidamente percebeu que Petra não estava ali apenas para competir – ela estava lá para dominar. Cada movimento de Petra era preciso, cada ataque na rede era feito com uma determinação feroz. Quando Petra cravava a bola no chão, comemorava com Jenna Gray como se já tivessem ganhado o campeonato inteiro. A celebração era efusiva, com abraços e gritos que faziam o sangue de Julia ferver. Para ela, aquelas comemorações não eram apenas sobre o jogo; eram provocações diretas, quase pessoais.
Julia olhou para Petra com desdém durante o jogo. A cada ponto que Petra marcava, Julia sentia uma onda crescente de irritação. Ela não podia acreditar que uma jogadora que acabara de chegar estava ofuscando-a daquela forma, ainda mais em um dia em que seu time, Georgia Tech, não conseguia se encontrar em quadra. O placar final de 3x0 para Stanford, com Petra como a estrela da noite, deixou Julia ainda mais furiosa.
Após o apito final, Petra quis se aproximar de Julia. Ela estava curiosa sobre a outra brasileira que também brilhava na NCAA. Petra sabia do talento de Julia e, apesar da rivalidade em quadra, queria conhecê-la. Mas ao ver Julia com uma expressão fechada, irritada e claramente abatida pela derrota, algo mudou dentro de Petra. Uma voz em sua mente sugeriu que Julia não passava de uma mimada que não sabia lidar com a perda, e Petra, já endurecida pela vida, aceitou aquela primeira impressão.
Petra fez um comentário seco para Jenna enquanto observava Julia — Parece que a "estrela" não sabe perder, hein?
Jenna riu, mas Julia, que ouviu o comentário, se virou abruptamente para Petra, os olhos faiscando.
— Quem você pensa que é? – Julia disparou, ainda tomada pela frustração. — Acha que um jogo define tudo?
Petra deu de ombros, com um meio sorriso arrogante.
— Pelo menos hoje, definiu, não é, ruivinha?
A tensão era palpável, e foi naquele instante que a semente da rivalidade foi plantada. Cada confronto entre elas depois disso era marcado por uma animosidade crescente. As provocações se tornaram mais afiadas, os olhares mais desafiadores. O que começou como uma competição saudável rapidamente se transformou em algo pessoal. Julia não suportava a maneira como Petra parecia imbatível e segura, enquanto Petra desprezava o que considerava uma fraqueza em Julia, a incapacidade de aceitar a derrota.
Por meses, essa rivalidade foi alimentada a cada jogo, cada treino, até que as provocações de quadra transbordaram para fora das linhas, tornando a relação entre elas um campo de batalha constante. O que ambas não percebiam na época era que, por trás de toda aquela tensão, havia também uma curiosidade mútua e uma atração que, eventualmente, as levaria a um ponto de inflexão muito além do que poderiam imaginar.
Setembro, 2018 - Palo Alto
Em 2018, o cenário era diferente, mas a tensão entre Julia e Petra só havia aumentado. O time de Julia, Georgia Tech, viajou até Palo Alto, na Califórnia, para mais um confronto com Stanford. Julia estava exausta após uma longa viagem de sete horas, mas determinada a não perder outra vez para Petra, especialmente depois da humilhante derrota anterior.
Desde o aquecimento, Petra fez questão de deixar clara sua presença. Ela olhava diretamente para Julia, lançando sorrisos provocativos e conversando com Jenna Gray de maneira que Julia sabia ser intencionalmente alta, como se quisesse que ela ouvisse cada palavra. Petra estava mais do que disposta a provocar Julia, e parecia se divertir com a ideia.
— Ei, Jen, acho que a gente vai ter que pegar leve hoje, não quero que nossa amiga se sinta mal novamente. – disse Petra, alto o suficiente para Julia ouvir, com um tom claramente sarcástico.
Jenna riu, mas Julia apenas apertou os punhos, se forçando a ignorar as provocações enquanto se concentrava em seu aquecimento. Mas a irritação já estava crescendo, e Julia sabia que precisava canalizá-la para o jogo.
Quando o confronto começou, ficou claro que seria uma batalha árdua. As duas equipes lutavam ponto a ponto, e a tensão entre Petra e Julia era mais palpável do que nunca. Cada vez que Petra fazia um ponto, ela lançava um olhar direto para Julia, um sorriso vitorioso que só servia para alimentar a fúria da outra. E Julia, por sua vez, respondia com ataques poderosos e defesas intensas, tentando a todo custo mostrar a Petra que estava à altura.
Mas, no fim, foi Stanford quem saiu vitorioso novamente. Após cinco sets intensos, o placar final foi 3x2 para Stanford. Julia, esgotada, estava visivelmente frustrada. O jogo foi acirrado, mas perder mais uma vez para Petra era um golpe difícil de engolir.
Enquanto os times se cumprimentavam no final, Petra não perdeu a oportunidade de lançar mais uma provocação. Se aproximando de Julia, ela disse com um sorriso brincalhão. — Parece que você ainda precisa treinar um pouco mais para acompanhar meu ritmo, ruivinha. Talvez na próxima...
Jenna, que estava ao lado, soltou uma risada, claramente se divertindo com a dinâmica entre as duas. Julia, por outro lado, apenas cerrou os dentes e lançou um olhar mortal para Petra, o que só fez Petra sorrir mais.
— Não se preocupe, Bergmann. – continuou Petra, agora com um tom mais suave, mas ainda provocativo. — Um dia você chega lá.
Julia não pôde deixar de se sentir ainda mais irritada, mas ao mesmo tempo havia algo naquela rivalidade que a motivava, a empurrava a melhorar. E por mais que ela quisesse odiar Petra naquele momento, havia uma pequena parte dela que admirava a determinação e a habilidade da outra brasileira, mesmo que ela nunca fosse admitir isso em voz alta.
Enquanto Georgia Tech deixava o ginásio, Julia olhou para trás, vendo Petra conversando animadamente com Jenna e o resto da equipe de Stanford. A raiva ainda fervia dentro dela, mas ela prometeu a si mesma que da próxima vez seria diferente. Ela derrotaria Petra, de um jeito ou de outro.
Dezembro, 2018 - Palo Alto
Aquele ano foi uma montanha-russa de emoções para Petra e Julia. Georgia Tech, o time de Julia, acabou eliminado na semifinal pela equipe de Duke. Embora Petra não devesse se importar, uma pequena parte dela ficou frustrada. Ela queria ter a chance de enfrentar Julia na final, queria sentir o sabor de derrotá-la no jogo mais importante da temporada.
Por outro lado, Stanford seguiu firme, vencendo North Carolina na semifinal e garantindo seu lugar na final contra Duke. O jogo aconteceu em Palo Alto, o ginásio estava lotado, e a pressão para vencer em casa era palpável. Petra sentia que era seu dever levar Stanford à vitória, especialmente com os olhos do público e de outros times, incluindo o de Julia, sobre ela.
A final foi eletrizante. Stanford venceu de 3x1, mas cada set foi uma batalha. Petra estava no auge de seu jogo, e suas habilidades foram o destaque da noite. Ela marcou impressionantes 39 pontos, deixando todos boquiabertos com sua performance. Quando marcou o último ponto do jogo, que garantiu a vitória para Stanford, suas colegas de equipe a cercaram, abraçando-a em comemoração.
Por um momento, Petra se permitiu sentir a alegria pura da vitória. Ela estava no centro das atenções, o nome que todos estavam aplaudindo. Mas então, enquanto as meninas se afastavam, algo chamou sua atenção. Petra olhou em direção à arquibancada e viu Julia observando a comemoração. Julia estava perto da quadra, e seus olhos se encontraram por um breve segundo. Sem perder a chance, Petra deu uma piscadela para Julia, uma última provocação para fechar a temporada com chave de ouro.
No entanto, a euforia começou a dissipar, e Petra reparou em algo que a fez sentir um vazio inesperado. Em todos os jogos em que enfrentou ou assistiu Julia, havia uma constante: no final, Julia sempre corria para a arquibancada, onde alguém a esperava. Às vezes, era o pai, a mãe, ou Lukas, mas sempre havia alguém ali, esperando por Julia, pronto para celebrar ou confortá-la.
Mas para Petra, o cenário era diferente. Ao olhar em volta, ela percebeu que não havia ninguém específico para ela nas arquibancadas. Nenhum rosto familiar, nenhum abraço esperado após a vitória. Embora estivesse rodeada por colegas de equipe e fãs, Petra sentiu uma solidão aguda, uma pontada de inveja que ela não conseguia ignorar. O vazio de não ter ninguém ali, especificamente para ela, era um contraste doloroso com a euforia do momento.
Depois do jogo, enquanto as celebrações continuavam, Petra caminhou sozinha pelos corredores do ginásio, tentando processar os sentimentos conflitantes que a dominavam. Ela era a campeã, a estrela da noite, mas, ao mesmo tempo, uma sensação de isolamento se instalava em seu peito. Julia, que havia se tornado sua maior rival e, de certa forma, uma obsessão, tinha algo que Petra não tinha: alguém que se importava, alguém que estava sempre lá, independentemente do resultado.
Enquanto refletia, Petra percebeu que sua inveja de Julia ia além da quadra. Não era apenas sobre ganhar ou perder, mas sobre algo mais profundo, algo que Petra talvez nunca tivesse admitido para si mesma até aquele momento. Ela queria o que Julia tinha, não apenas a atenção em quadra, mas o carinho e o suporte fora dela. E mesmo que não fosse da maneira certa, ter atenção de Julia, mesmo que fosse para brigarem, fez Petra se manter em sua zona de conforto.
Esses pensamentos a seguiram enquanto Petra saía do ginásio naquela noite, a vitória em suas mãos, mas um novo e inquietante desejo crescendo dentro de si.
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não dá, não sei sustentar a gracinha de deixar vcs sem capítulo por mais de 24h
me valorizem viu
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