29 - Sua Ruivinha
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30 de Março
No jogo, a atmosfera era intensa desde o primeiro saque. A marcação estava acirrada, e as jogadoras do Brasil se esforçavam ao máximo para superar o time dos Estados Unidos. O primeiro set foi uma batalha suada, mas o Brasil conseguiu arrancar uma vitória apertada. Petra estava, como sempre, se destacando em quadra. Sua energia era contagiante, e a precisão de seus ataques mantinha a equipe americana na defensiva.
Porém, enquanto Petra brilhava, Julia parecia estar fora de órbita. A cada vez que seus olhos cruzavam com os de Jenna, ela sentia sua concentração se esvair. O olhar raivoso da loira parecia uma tempestade iminente, e Julia não conseguia se livrar da sensação de que estava sendo constantemente observada e julgada. Era como se as memórias do passado a estivessem perseguindo a cada movimento em quadra.
Durante um dos tempos técnicos, Zé Roberto notou a distração de Julia e tentou trazê-la de volta ao jogo.
— Julia, concentra! Esquece o resto e foca aqui, no que estamos fazendo! – disse ele, com um tom firme, mas tentando ser encorajador. — Você sabe o que fazer, não deixa nada te abalar.
Julia assentiu, tentando se recompor, mas as palavras de Zé Roberto não conseguiam dissipar completamente a pressão que ela sentia. Petra, por outro lado, notou o nervosismo de Julia, mas não podia se permitir desviar o foco. Ela sabia que o time dependia dela para manter o ritmo e não podia deixar que o drama fora da quadra afetasse seu desempenho.
No segundo set, a tensão continuou a crescer. Jenna parecia determinada a fazer de Julia seu alvo, enviando olhares sempre que as duas se cruzavam em quadra. Julia começou a cometer erros, algo raro para ela. Um saque errado, uma recepção falha, e logo as americanas tomaram a liderança no set.
Petra, percebendo a situação, tentou animar Julia.
— Vamos, Bergmann, respira fundo. – sussurrou Petra, passando por ela durante uma pausa rápida. — Esquece o que está fora da quadra. Eu estou aqui com você.
Julia tentou sorrir, mas era evidente que estava lutando para manter a compostura. As palavras de Petra ajudaram um pouco, mas o olhar de Jenna continuava a persegui-la.
Enquanto o set avançava, as jogadoras brasileiras se uniram em torno de Julia, tentando apoiá-la e manter o foco coletivo. Roberta e Gabi deram instruções claras, tentando manter o time unido e motivado.
— Não vamos deixar elas tomarem a frente, meninas! – exclamou Gabi, com energia. — Estamos juntas nisso, um ponto de cada vez!
No entanto, o segundo set escapou das mãos do Brasil, e os Estados Unidos conseguiram empatar a partida. As jogadoras voltaram ao banco, cansadas, mas determinadas a não deixar o jogo escapar. Julia, apesar de tudo, sabia que precisava se recompor. As lembranças do passado e o olhar de Jenna podiam ser perturbadores, mas ela não podia deixar que isso definisse seu desempenho.
Enquanto Zé Roberto falava, traçando a estratégia para o próximo set, Julia fechou os olhos por um momento, respirando fundo e tentando se centrar. Ela sabia que precisava superar aquilo, por ela mesma, pela equipe, e por Petra.
O terceiro set estava prestes a começar, e Julia decidiu que não deixaria Jenna ou qualquer outra coisa atrapalhar seu jogo. Era hora de mostrar do que era capaz, e de provar que, apesar de tudo, ela estava pronta para lutar até o fim.
O set começou com uma intensidade renovada. O time brasileiro estava determinado a não deixar o segundo set perdido abalar seu espírito. Julia, especialmente, parecia ter encontrado uma nova força interior. Embora Jenna ainda a perturbasse, ela decidiu usar essa tensão como combustível para sua performance.
Logo no início do set, Petra e Julia começaram a se encontrar melhor em quadra. Um ataque potente de Petra, seguido de uma defesa impecável de Julia, colocou o Brasil na liderança. As outras jogadoras perceberam a mudança de atitude de Julia e se alimentaram dessa energia.
— Isso aí, Ju! – gritou Nyeme, ao ver Julia acertar um bloqueio importante. — Vamos pra cima delas!
Com a confiança restaurada, Julia passou a focar exclusivamente no jogo, ignorando o que estava acontecendo fora da quadra. Jenna, percebendo que seus olhares já não surtiram o mesmo efeito, intensificou seu jogo, mas Julia estava preparada. Ela decidiu que não seria intimidada, e sua performance em quadra começou a refletir essa determinação.
Petra, por sua vez, estava jogando como uma força da natureza. Seus ataques estavam cada vez mais precisos e poderosos, e ela se movia com uma fluidez que parecia inabalável. As jogadoras americanas estavam tendo dificuldade em conter Petra, e a dinâmica entre ela e Julia começou a se ajustar de uma forma que deixava o time adversário sem respostas.
No meio do set, após um ponto crucial em que Julia salvou uma bola quase impossível, Petra correu para ela, gritando com entusiasmo. — Isso, Ju! É assim que se faz!
Julia, sentindo o apoio de Petra, sorriu genuinamente pela primeira vez no jogo. Ela sabia que ainda havia muito a resolver fora da quadra, mas naquele momento, tudo que importava era o jogo.
A interação entre as duas começou a chamar a atenção das adversárias e até da torcida. Era evidente que a rivalidade havia se transformado em algo mais complexo, e a sintonia que estavam mostrando em quadra era inegável. O Brasil continuou a dominar o set, com Petra e Julia liderando o time.
Quando o terceiro set chegou ao fim, o Brasil havia recuperado a liderança, vencendo com uma margem confortável. As jogadoras se abraçaram no centro da quadra, comemorando a vitória parcial.
Enquanto as equipes se preparavam para o quarto set, Julia percebeu que Jenna ainda a observava, mas dessa vez, o olhar parecia menos ameaçador. Talvez até um pouco de respeito estava começando a surgir ali. Julia não deixou de notar, mas agora, isso não importava tanto quanto antes. Ela havia provado para si mesma que podia superar as inseguranças e jogar seu melhor.
No início do quarto set, o Brasil manteve a vantagem, e a confiança no time estava no auge. As jogadoras americanas começaram a sentir a pressão, e erros começaram a aparecer em seu jogo. Petra e Julia estavam sincronizadas, e cada ponto conquistado fortalecia ainda mais a conexão entre elas.
Quando o Brasil chegou ao match point, o ginásio estava eletrizado. Zé Roberto fez sinal para que Roberta fizesse a última jogada, e a bola foi perfeita para Petra, que finalizou o ponto com um ataque arrasador. O Brasil venceu o set e o jogo, garantindo a vitória sobre os Estados Unidos.
As jogadoras se abraçaram em comemoração, a energia no ginásio era contagiante. Julia e Petra se encontraram no meio da quadra, e por um momento, trocaram um olhar que dizia tudo. Não era só a vitória que estava sendo celebrada ali, mas também o fato de que, apesar de tudo, elas haviam encontrado um jeito de se apoiar e superar suas dificuldades juntas.
— Boa jogada, principessa. – sussurrou Julia, enquanto as outras jogadoras continuavam a comemorar ao redor delas.
— Você também não foi nada mal, ruivinha. – respondeu Petra, com um sorriso que misturava alívio e algo mais profundo. Ao escutar Petra a chamar daquele jeito, Julia pode sentir exatamente a nostalgia do momento em que se enfrentaram pela primeira vez em Atlanta.
Ainda havia muitas coisas não ditas entre elas, muitas questões a serem resolvidas, mas por agora, elas estavam onde precisavam estar: juntas, na quadra, fazendo o que amavam. E isso era o suficiente.
Petra, ainda ofegante após o jogo, se aproximou das jogadoras americanas para os cumprimentos de praxe. Ela trocou sorrisos e apertos de mão com cada uma, mantendo o respeito e cordialidade. Algumas jogadoras dos Estados Unidos, reconhecendo o talento e a presença de Petra em quadra, até pediram uma foto, e Petra, sempre simpática, aceitou sem hesitar.
— Bom jogo, Liz. – disse Jenna, com sua mania de chamar Petra pelo apelido do seu nome do meio, ela tinha sorriso genuíno nos lábios. — Você jogou muito bem hoje.
— Você também, Jen.– Petra respondeu, com um sorriso de gratidão. — Foi um jogo duro, mas é sempre bom jogar contra vocês.
— Sua ruivinha não mudou nada, não é? – Jenna sempre pegou no pé de Petra por causa da implicância com Julia. Ela chegou a ter raiva de Julia na universidade também, mas não podia negar que agora estava surgindo um respeito pela ruiva. — Vi vocês comemorando juntas. É oficial, posso deixar de odiar ela agora?
Petra tinha um sorriso leve nos lábios, sua amizade com Jenna era uma das relações mais fortes que ela tinha, lembrava das incontáveis noites em que Jenna à viu chorar e ficou com ela, sem sair do seu lado nem por um minuto sequer. Elas conversavam sempre que podiam, mesmo com suas rotinas de treino corridas, elas davam um jeito, por isso Jenna estava consciente de tudo que aconteceu desde que Petra chegou ao Brasil, desde a briga que teve com Julia até o beijo. — Você sabe que nunca teve motivo pra odiar ela. Nem eu tinha, era só implicância boba, Jen.
— Qual é! Implicância boba, né? Lembra o que eu dizia na época da faculdade? É só tesão acumulado, eu nem estava errada e você sabe disso.
— Jenna Gray! Fala baixo, meu Deus. Acho que sua convivência com a Kisy e a Kudiess no Minas tá te deixando maluca. – Diz Petra tentando manter o tom de voz baixo por estarem rodeadas de outras jogadoras na quadra.
— Hum, você ficou vermelha porque, Lewis? Então, finalmente vai largar aquele italiano sem sal? – Pergunta Jenna com seu tom de voz mais natural possível, ela não gostava nenhum pouco de Lorenzo, era algo em comum com Rosa e Petra riu em pensar na possível conversa que as duas podiam ter sobre isso. — Ei, olha! Kisy e Nyeme estão vindo, vou falar com elas. Mas esse assunto ainda não acabou, Elizabeth, quero detalhes.
Petra riu vendo Jenna ir até as brasileiras, perguntando por Kudiess, Gattaz e Pri. Ela observou a interação das amigas, partes diferentes da sua vida juntas, ela sentiu seu peito aquecer com a cena. Depois Petra se concentrou em falar com outras meninas que estavam por perto.
Quando se despediu das adversárias, Petra caminhou até a torcida americana, onde sua popularidade estava em alta. Ela tirou fotos com alguns fãs que gritavam seu nome, sempre mantendo seu carisma e simpatia. A recepção calorosa dos torcedores americanos a surpreendeu, mas também a encheu de orgulho. Mesmo em terras estrangeiras, ela conseguia conquistar o coração do público.
Quando finalmente chegou à torcida brasileira, Petra avistou Lukas acenando para ela. Ao lado dele estava uma jovem mulher, que Petra imediatamente identificou como Evelyn, a namorada que Lukas mencionou no dia que se conheceram. Com um sorriso, Petra se aproximou, pronta para conhecer a nova pessoa importante na vida do irmão de Julia.
— Petra! – Lukas exclamou, enquanto ela se aproximava. — Quero que conheça a Evelyn. Evelyn, esta é a Petra, a pessoa mais falada lá em casa ultimamente. – Lukas brincou, tentando aliviar qualquer tensão.
— É um prazer finalmente conhecê-la, Petra. – disse Evelyn, com um sorriso caloroso. — Lukas não para de falar sobre como você é incrível.
— O prazer é meu, Evelyn. – respondeu Petra, apertando a mão dela com um sorriso. — Espero que ele não esteja exagerando.
— Ah, depois de assistir você jogar hoje, eu tenho certeza que não é exagero. Garota, você arrasou! – Evelyn sorriu. Petra por um momento pensou na possibilidade de Evelyn odiá-la pelas fotos vazadas com Lukas, apesar de não haver nada demais as páginas de fofoca fizeram parecer muita coisa. Mas Petra sentiu um alívio ao perceber que não era esse o caso, Evelyn demonstrou gentileza, e parecia disposta a conhecê-la.
Antes que a conversa pudesse continuar, Julia se aproximou, ainda levemente suada e com um sorriso no rosto, apesar da intensidade do jogo. Petra notou que Lukas e Evelyn se animaram ao ver Julia, como se esperassem por algo.
— Ei, Petra, – começou Lukas, com um tom casual, mas claramente interessado na resposta dela. — Você vai aceitar o convite da Julia para sair com a gente depois daqui?
Petra olhou rapidamente para Julia, que a encarava com uma expressão mista de expectativa e ansiedade. Julia estava claramente tentando manter a compostura, mas Petra conseguia ver a tensão em seus olhos.
— Bom. – Petra começou, um pouco hesitante, mas com um sorriso que deixava claro que ela estava aberta à ideia. — Acho que não posso recusar, não é?
Julia deixou escapar um suspiro de alívio, embora tentasse disfarçar. Lukas e Evelyn trocaram olhares cúmplices, satisfeitos que o plano deles de aproximar as duas estava funcionando.
— Ótimo! – exclamou Lukas, visivelmente animado. — Vai ser divertido, prometo. E vai ser bom para todos nós relaxarmos um pouco depois de um jogo desses.
— Sim! – Evelyn acrescentou. — E eu adoraria conhecer mais sobre você, Petra.
Petra riu, mas ainda sentia uma leve tensão interna. Embora estivesse tentando seguir em frente e manter as coisas leves, a presença de Julia ao seu lado era um lembrete constante das complicações que ela estava tentando evitar.
— Vamos fazer isso então. – Petra respondeu, tentando manter o tom casual e despreocupado. — Vai ser bom dar uma desligada.
Julia, finalmente relaxando um pouco, sorriu para Petra, e naquele momento, ambas sabiam que ainda havia muito para resolver entre elas, mas estavam dispostas a tentar, um passo de cada vez.
— Então, está combinado. – disse Julia, voltando a ser a Julia confiante de sempre. — Encontro vocês na saída.
Lukas e Evelyn assentiram, e com isso, o grupo se dispersou para se preparar para a saída. Petra ficou ali por mais alguns momentos, observando Julia enquanto ela se afastava, ainda sentindo aquela mistura de sentimentos que só Julia parecia ser capaz de evocar nela. Mas agora, pelo menos, havia uma chance de lidar com tudo isso de forma mais calma e talvez, apenas talvez, descobrir o que realmente queria.
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tenho 4 capítulos pra revisar, mas vocês só terão eles no fim de semana
um beijo 😘
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