28 - Meias Verdades
- Ana Carolina
Qualquer desculpa pra não te encarar
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29 de Março
Naquela noite, o clima nos quartos estava diferente, marcado pela tensão e pela preocupação com Julia e Petra. As duas estavam claramente abaladas, e isso não passou despercebido pelas outras jogadoras.
Julia, ainda perturbada pela discussão com Petra, resolveu buscar refúgio no quarto de Ana Cristina, Kisy, e Diana. Assim que entrou, as três perceberam o abatimento na expressão da ruiva. Ana Cristina, sempre a primeira a notar quando algo estava errado, trocou um olhar significativo com Kisy e Diana. Sem precisar dizer uma palavra, todas concordaram que precisavam fazer algo para animar Julia.
— Vamos, Julia, não fica assim. A gente tem que se distrair um pouco. – Sugeriu Ana Cristina com um sorriso esperançoso.
— Isso mesmo, ruiva. Não vamos deixar você desanimar aqui. – completou Kisy, já pegando o celular para organizar algo divertido.
Decididas a mudar o clima, elas rapidamente chamaram Roberta, Gattaz, Macris, Thaisa, Gabi e Sheilla. O plano era simples: uma noite de risadas, histórias engraçadas, e quem sabe, até um pouco de música e dança no quarto para levantar o astral.
Do outro lado, Rosa estava com uma missão semelhante. Vendo Petra mergulhada em seus próprios pensamentos, a ponteira a arrastou até o quarto de Carol e Pri. No caminho, Rosa chamou Luzia e Kudiess, que prontamente se juntaram ao grupo, trazendo junto Natinha e Nyeme.
Petra estava relutante, mas não conseguiu resistir ao entusiasmo das amigas. Rosa, sempre perspicaz, sabia que Petra precisava de um tempo com as meninas para aliviar um pouco da tensão que estava acumulada.
— O que está rolando, Petra? Parece que o mundo desabou sobre você hoje. – isse Rosa, tentando sondar, mas com um tom de brincadeira para não pressioná-la.
— Vocês sabem que podem falar sobre qualquer coisa, certo? – acrescentou Pri, tentando criar um ambiente confortável para Petra.
No quarto de Ana Cristina, Kisy logo colocou uma playlist animada para tocar, enquanto Sheilla, Gattaz e Gabi contavam histórias engraçadas dos tempos de seleção, arrancando risadas de Julia e das outras meninas. Roberta e Kisy, sempre cheias de energia, começaram a dançar desajeitadamente puxando Diana e Macris mesmo depois dos protestos delas, o que fez Julia rir pela primeira vez desde o treino.
No outro quarto, Rosa e Carol conseguiram arrancar um sorriso de Petra com piadas bobas e lembranças das viagens e jogos passados. Luzia e Kudiess, com seu jeito descontraído, começaram a fazer qualquer coisa para desviar a atenção de Petra dos problemas.
Embora nenhuma delas soubesse exatamente o que havia acontecido entre Julia e Petra, o esforço coletivo para animá-las mostrou a força da amizade e do espírito de equipe que existia entre elas. Aos poucos, o peso daquela noite foi se dissipando, substituído por momentos de alegria compartilhada e por um sentimento de que, independentemente do que estivesse acontecendo, elas estariam ali, umas para as outras.
Conforme a noite avançava, o clima em ambos os quartos começou a ficar mais leve. As meninas, com sua energia contagiante, estavam fazendo um bom trabalho em distrair Julia e Petra. A música, as piadas e as lembranças de jogos passados criaram um ambiente confortável para ambas, ainda que cada uma estivesse imersa em seus próprios pensamentos.
Luzia e Kudiess estavam animadas contando uma história engraçada de um treino anterior. — E aí, a bola passou direto por mim! Acho que até o Zé se segurou para não rir – disse Luzia, arrancando risadas do grupo.
Petra sorriu, mas havia algo no fundo dos seus olhos que Rosa notou. Um silêncio momentâneo caiu sobre o grupo, e foi nesse breve instante que Petra, quase sem perceber, falou em um tom baixo, quase um sussurro
— Eu beijei a Julia ontem à noite.
O silêncio no quarto foi instantâneo e absoluto. As outras meninas se entreolharam, chocadas e sem palavras por um momento. Rosa foi a primeira a reagir, tentando processar a informação.
— Espera... você o quê? – Rosa perguntou, tentando confirmar o que acabara de ouvir.
— Isso é sério, Pepê? – perguntou Pri, surpresa, mas também com um toque de curiosidade.
Petra suspirou, evitando os olhares das amigas.
— Sim. Aconteceu na varanda ontem à noite. E agora... eu não sei o que fazer – confessou, sua voz embargada de emoção.
Natinha, sempre a mais direta, não pôde deixar de perguntar. — E como você se sente sobre isso?
— Confusa. Culpada, talvez. Mas... também foi... bom, acho que isso só aumenta minha culpa. – Petra respondeu, hesitante, como se as palavras não fossem suficientes para expressar o turbilhão que sentia. — Eu sou uma pessoa terrível por ter feito isso.
— Ei, nada disso. Você não é terrível, você é humana, Petra. Essas coisas acontecem e você não pode colocar toda essa culpa só nas suas costas. – Diz Rosa abraçando os ombros da mais nova.
— Querida, Rosa está certa. Você tem que parar com essa mania de querer assumir tudo sozinha, você não tá sozinha, ouviu bem? – Nyeme também se aproxima segurando uma das mãos de Petra.
Petra estava disposta a não reviver o passado de brigas com Julia, mas havia algo mais complexo ali, um sentimento que ela não queria lidar. E apesar te todos os esforços em busca de uma saída para aquela situação, Petra se via entrando ainda mais naquilo que a assustava e o que lhe restava era criar desculpas para não encarar Julia, era fingir que não queria uma conversa sobre o que aconteceu e que não se interessava em resolver as pendências entres elas. Petra apenas queria esconder suas verdades.
◆◆◆
No quarto de Julia, que tinha sido o centro das atenções até então, começou a se sentir sufocada pelo próprio segredo. As meninas estavam tentando animá-la com histórias engraçadas, mas ela mal conseguia se concentrar.
Sheilla percebeu a inquietação e, em um momento de pausa nas risadas, encorajou. — Está tudo bem, Julia? Você parece distante.
Julia olhou para as amigas ao redor. Elas estavam tentando ajudá-la, e ela sentia que devia a elas a verdade.
— Eu... beijei a Petra ontem à noite. – disse de repente, com uma mistura de ansiedade e alívio.
O efeito foi imediato. As conversas pararam, e todos os olhos se voltaram para ela. Gabi, que estava sentada ao lado de Julia, arregalou os olhos.
— Você e a Petra? – Ela perguntou, surpresa, enquanto tentava assimilar o que ouviu.
— Sim – Julia confirmou, sentindo o peso das palavras. — E... foi intenso. Mas agora ela está me evitando, e eu não sei o que fazer com isso.
Roberta tentou entender melhor a situação. — E você? Como se sente em relação a isso? Foi só um impulso ou... tem algo mais?
Julia mordeu o lábio, hesitando em responder.
— Tem algo mais. Eu... eu sei que tem, Betinha, mas ela não ou apenas finge não saber. E tem o Lorenzo... – Julia deixou a frase no ar, sem saber como continuar.
Thaisa se aproximou, colocando uma mão no ombro de Julia. — Vamos por partes, Juju. Talvez ela só esteja assustada. E quanto ao Lorenzo, vocês duas precisam conversar sobre isso, porque fingir que nada aconteceu não vai ajudar ninguém.
— E nós estamos aqui com você. – Afirma Ana segurando a mão de Julia.
Em ambos os lados, as meninas sabiam que nada seria igual dali em diante, e a dinâmica entre Julia e Petra estava prestes a mudar de forma irrevogável.
Naquela noite, as meninas decidiram dormir nos mesmos quartos para garantir que Julia e Petra tivessem uma noite tranquila, longe uma da outra, para reorganizar as mentes antes do jogo contra os Estados Unidos. Sabiam que a tensão entre as duas poderia atrapalhar o foco necessário para a partida, então esse era um esforço coletivo para garantir que ambas estivessem mais centradas.
30 de Março
Na manhã seguinte, Petra acordou com Luzia e Kudiess jogadas ao seu lado, uma cena que arrancou um sorriso dela. Elas dormiam profundamente, exaustas pela noite anterior. Petra decidiu que iria para o quarto mais cedo para evitar qualquer encontro com Julia. Sabia que se encontrasse aqueles olhos azuis, não conseguiria escapar das perguntas e dos sentimentos que ainda não conseguia processar.
Petra levantou-se silenciosamente, ao chegar no quarto que dividia com Julia foi para o banheiro tomar um banho rápido. Ao sair, ela se sentia um pouco mais calma, mais preparada para o dia. Decidiu dar uma volta na varanda para tentar se concentrar no jogo que teriam à noite. A brisa da manhã era fresca e a tranquilidade da praia ao longe parecia prometer um momento de paz.
Mas assim que abriu a porta da varanda, seu coração disparou ao ver Julia já ali, esperando por ela. Ela estava encostada na grade, os olhos fixos no horizonte, mas ao ouvir a porta se abrir, ela se virou lentamente, os olhos azuis encontrando os de Petra de imediato. A tensão no ar era palpável, mas Julia tentou manter uma expressão calma.
— Bom dia, Petra – disse Julia suavemente, com um pequeno sorriso, tentando quebrar o gelo. — Eu pensei que talvez... pudéssemos conversar um pouco.
Petra sentiu seu estômago revirar, mas assentiu, se aproximando da grade ao lado de Julia. Ela não tinha certeza se estava pronta para conversar, mas sabia que fugir não resolveria nada.
— Eu... queria te contar uma coisa – começou Julia, escolhendo as palavras com cuidado. — Depois do jogo desta noite, vou sair com Lukas. Ele quer me apresentar a nova namorada dele, Evelyn. Pensei em te convidar, se você quiser. Sei que você e Lukas se deram bem, e... acho que seria bom.
Petra olhou para Julia, surpresa com a oferta. Ela podia sentir a sinceridade nas palavras de Julia, mas ao mesmo tempo, não conseguia evitar o nó de culpa que apertava seu peito. Petra realmente gostava de Lukas, e a ideia de passar um tempo com ele e Julia era tentadora. Mas o peso do que aconteceu entre elas ainda estava presente.
— Você acha que isso é uma boa ideia? – Petra perguntou, sua voz saindo mais suave do que pretendia. — Depois de... tudo?
Julia suspirou, seus olhos buscando os de Petra com uma mistura de compreensão e determinação.
— Eu acho que... precisamos de um pouco de normalidade, pelo menos por um tempo – respondeu Julia. — E Lukas... ele te faz bem, Petra. Eu vi isso na boate aquela noite que se conheceram. Você sorri mais quando está com ele, fica mais leve. Eu quero que você se sinta assim de novo.
Petra mordeu o lábio, pensando nas palavras de Julia. Sabia que ela estava certa; Lukas tinha um efeito calmante sobre ela, algo que poucas pessoas conseguiam. Mas ainda assim, a dúvida persistia.
— Eu... vou pensar sobre isso – disse Petra, finalmente, tentando encontrar um meio-termo. — Mas precisamos focar no jogo primeiro.
Julia assentiu, respeitando a decisão de Petra.
— Claro. Vamos nos concentrar no jogo. E depois... bem, vamos ver o que acontece.
Elas ficaram em silêncio por um momento, lado a lado na varanda, sentindo a leve brisa que soprava do mar. Por um breve instante, parecia que tudo poderia voltar ao normal, mas ambas sabiam que a realidade era muito mais complicada.
Petra finalmente se afastou, dando um pequeno aceno de cabeça para Julia antes de entrar novamente no quarto. Julia ficou na varanda por mais alguns minutos, refletindo sobre a conversa, antes de também se preparar para o dia que as esperava.
Ambas sabiam que o jogo contra os Estados Unidos seria um desafio, mas sabiam também que o verdadeiro desafio viria depois, quando teriam que encarar os sentimentos que estavam tentando ignorar.
◆◇◆
O clima no ginásio estava eletricamente carregado. A expectativa era palpável, e a presença de algumas ex-colegas de Stanford adicionava uma camada extra de intensidade ao confronto. Julia, ao chegar ao ginásio, manteve os olhos fixos em Petra, tentando não parecer preocupada. Ela estava especialmente nervosa ao saber que Jenna Gray estaria lá. Julia se lembrava bem do ódio que Jenna demonstrava por ela após o incidente com a bolada em Petra durante a faculdade. A raiva parecia ser uma constante, mais intensa até mesmo do que a tensão entre Julia e Petra.
No aquecimento, Petra estava visivelmente animada e correu empolgada para interagir com as jogadoras dos Estados Unidos, incluindo Jenna e Plummer. A animação dela era contagiante, mas também causou desconforto em algumas das suas colegas de time. Rosa estava de implicância, observando com um olhar azedo enquanto Petra se divertia com as "chicleteiras".
— Olha só, Pri, sua filhinha interagindo com as rivais – comentou Rosa, um tom sarcástico na voz. — O papo ali deve ta muito bom, né?
Luzia e Kudiess estavam emburradas, visivelmente irritadas ao ver Petra se aproximando de Jenna e Plummer. Elas não disfarçavam o desconforto ao ver a interação amigável de Petra com suas antigas amigas.
— Não sei o que ela vê nessas gringas. – murmurou Luzia para Kudiess.
Julia, de pé ao lado, sentia a pressão dos olhares raivosos de Jenna em sua direção, o que fazia com que sua ansiedade aumentasse. A tensão era nítida, e Julia não conseguia deixar de se sentir desconfortável com o ódio que emanava de Jenna.
Nyeme, observando a situação, tentou descontrair.
— Gente, parem com essa birra. Sabiam que a Jenna é um amor? Petra adora ela. E é só um aquecimento, vamos focar no jogo – disse mas logo mudou a expressão ao ver a libero adversária pulando nas costas de Petra enquanto brincavam e riam. A cena fez com que Nyeme levantasse uma sobrancelha, e ela se virou para as outras meninas.
— O que tava dizendo, Ny? – Provoca Natinha fazendo algumas das meninas rirem.
— Vocês viram isso? – Apontando para a interação animada. — Olha o tamanho da intimidade.
Pri, a mais ciumenta do grupo, estava com a cara fechada. Ela não conseguia esconder seu desconforto ao ver Petra tão próxima das adversárias. — Não gosto nada disso. Será que ela esqueceu que joga com a gente e não com elas?
Carol e Roberta, sempre rápidas com suas piadas, não perderam a chance de alfinetar.
— Pri, você está parecendo uma mãe ciumenta agora – brincou Carol. — Será que precisamos colocar limites na nossa filhinha?
— É, e se ela quiser se divertir um pouco antes do jogo, deixa. – Roberta deu uma risada. — Quem sabe não nos dá uma vantagem extra contra os EUA?
O clima na quadra estava um misto de tensão e leveza, com as provocações e piadas tentando aliviar a pressão. Julia se esforçava para manter o foco, enquanto Petra parecia absorver a energia positiva do aquecimento. A equipe se preparava para o jogo, cientes de que, independentemente das rivalidades e das tensões, a vitória era o objetivo principal e todos os problemas que as cercavam fora de quadra deviam permanecer assim, fora do jogo, como se desaparecesse no momento em que o apito fosse soado indicando o início da partida.
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oi mores
com medo de aparecer aqui depois que ameaçaram de puxar meu pé no cap anterior
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