27 - Culpa
- Jão
Eu quero ser maior, eu quero ser melhor
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29 de Março
Na manhã seguinte, Julia acordou e, ao perceber que Petra não estava no quarto, sentiu um leve desconforto no peito. Talvez fosse apenas o cansaço acumulado ou a ansiedade pelo treino, mas algo parecia fora do lugar. Vestiu seu uniforme rapidamente, esperando encontrá-la no refeitório, mas quando chegou lá, Petra não estava com as outras meninas.
Julia tentou disfarçar a preocupação, conversando casualmente com as colegas, mas seu olhar sempre voltava para a porta, esperando que Petra aparecesse. No entanto, foi apenas quando o time chegou à quadra para treinar que ela a viu.
Petra já estava lá, com as bochechas ruborizadas pelo esforço, o corpo suado e os cabelos bagunçados, indicando que ela havia começado o treino horas antes de todo mundo. Julia sentiu o coração acelerar, uma voz em sua mente lhe dizendo que Petra nunca pareceu tão atraente. A visão da morena, tão determinada e focada, a deixava inquieta.
As outras meninas também notaram a presença de Fernandinho e Sheilla na quadra, ambos claramente atentos aos movimentos de Petra. Era como se estivessem a vigiando de perto, prontos para intervir caso algo saísse do controle. O clima estava diferente naquela manhã, carregado de tensão.
Durante todo o treino, Petra se manteve distante, alegando estar focada em melhorar seu desempenho. Mas Julia sabia que havia algo mais. A distância não era só física; Petra estava evitando Julia a todo custo, o que apenas confirmava o que ela já suspeitava: o beijo da noite passada a tinha abalado profundamente.
Enquanto Julia tentava se concentrar, sua mente voltava sempre à noite na varanda. Ela podia ver nos olhos de Petra a luta interna, a culpa que parecia consumir a morena por dentro. Petra estava noiva, havia dito "eu te amo" para Lorenzo há poucos dias, mas agora estava presa em um turbilhão de emoções que ela claramente não conseguia controlar.
As outras meninas também perceberam a tensão entre as duas. Era difícil ignorar os olhares rápidos que trocavam, a forma como evitavam contato visual e a maneira como Petra se afastava sempre que Julia se aproximava. O que antes era apenas uma rivalidade em quadra agora tinha se transformado em algo muito mais complexo, e todas sabiam que, cedo ou tarde, isso afetaria o time.
Sheilla, percebendo o clima pesado, decidiu intervir em meio ao intervalo do treino. Chamou Julia de lado e, estava com seu tom sério — Está tudo bem entre você e a Petra? Algo aconteceu?
— Estamos bem, Sheilla. É só... muita pressão. A gente está tentando manter o foco. - Julia tentando manter a compostura respondeu com um leve suspiro.
Sheilla olhou nos olhos de Julia, como se tentasse ler o que estava nas entrelinhas.— Foco é importante, mas se tiver algo que precise ser resolvido, é melhor fazer isso agora, antes que afete todo mundo. Além disso, a gente se preocupa mesmo com vocês, Ju. Então, por favor, se houver algo... você sabe o que fazer, certo?
Julia assentiu, sabendo que Sheilla estava certa, mas não tinha ideia de como resolver a situação. Petra estava se afastando, e Julia não sabia se era por causa do beijo ou da culpa que a morena estava carregando.
O resto do treino continuou com uma tensão palpável, enquanto as jogadoras trocavam olhares preocupados. Elas sabiam que algo estava errado, e que as coisas só iriam piorar se nada fosse feito.
Após o treino, Petra permaneceu na quadra, determinada a continuar seus exercícios. Nenhuma das tentativas das outras jogadoras de convencê-la a descansar surtiu efeito. Julia, percebendo a tensão no ar, lançou um olhar significativo para as outras meninas, pedindo silenciosamente que fossem na frente. Relutantes, elas entenderam a mensagem e se retiraram, deixando Julia e Petra a sós.
Petra estava completamente focada em seus movimentos, repetindo com uma intensidade que beirava a obsessão. Julia observava à distância, notando como cada gesto, cada gota de suor refletia a angústia interna que Petra estava tentando suprimir. Ela sabia que Petra a havia notado, mas estava fingindo não ver. Para Julia, ver Petra daquela forma era agonizante. Ela podia sentir a culpa que Petra estava carregando, uma culpa que, de certa forma, também começava a pesar sobre ela.
Julia não se sentia culpada por Lorenzo, longe disso. O que a perturbava era o efeito devastador que essa situação estava causando em Petra. Ver a morena se torturar por algo que, na opinião de Julia, não deveria ser motivo de culpa, era insuportável.
Finalmente, sem conseguir mais suportar o silêncio entre elas, Julia deu alguns passos em direção a Petra. Sua voz, suave, mas firme, quebrou a concentração da morena.
— Petra, a gente precisa conversar.
Petra parou por um momento, suas mãos caindo ao lado do corpo enquanto ela respirava fundo, ainda de costas para Julia. Quando finalmente se virou, seu rosto estava fechado, decidido.
— Não tem o que conversar, Bergmann. O que aconteceu entre a gente na varanda... foi errado, extremamente errado, você entende? Não pode se repetir.
Julia sentiu uma pontada no peito, mas não se deixou abalar. Ela deu mais alguns passos, agora mais próxima de Petra, sem desviar o olhar.
— Por que foi errado, Petra? Porque você está noiva de um homem que te faz sofrer? Porque você se sente culpada por algo que, no fundo, você sabe que não deveria? Eu não vou deixar isso de lado tão fácil.
Petra balançou a cabeça, como se tentasse afastar os pensamentos conflitantes que a atormentavam.
— Não é sobre isso, Julia. Eu... eu estou noiva. Eu disse que amava Lorenzo. Eu não posso simplesmente...
Julia a interrompeu, seu tom mais firme agora.
— Você pode. Você só não quer admitir que merece mais do que isso. Eu sinto isso toda vez que vejo você tentando esconder o quanto está machucada. E eu não vou fingir que não me importo de ver você chorar naquela maldita varanda a cada ligação de alguém que não se importa em te magoar sempre que tem chance.
Petra fechou os olhos, tentando manter a compostura, mas a confusão era evidente em sua expressão. Por um breve momento, Julia viu a luta interna que Petra estava travando, a batalha entre o que sentia e o que acreditava ser o certo. - Você está mesmo tentando me convencer de que eu não devia me sentir culpada por ter feito o que fiz? Você tem noção do que eu fiz? Acho que não, afinal, eu sou a pessoa comprometida aqui!
— Então você vai continuar se machucando assim? Vai continuar fingindo que está tudo bem, quando claramente não está? Isso não é justo com você.
Petra abriu os olhos, agora brilhando com uma mistura de frustração e tristeza. Ela não queria admitir que Julia estava certa, mas as palavras da ruiva a atingiram profundamente.
— Ah, por favor, Bergmann! Eu bem me lembro de você fazendo questão de mostrar o quanto me odiava nos últimos anos sem ao menos me conhecer! Quer mesmo fingir que se importa agora? - Petra parou por um momento como se estivesse tentando se controlar para não dizer algo que pudesse piorar ainda mais aquela situação, depois de um longo suspiro cansado ela continuou. — Só... Ele ainda é meu noivo, eu não devia ter feito aquilo, eu-
Sem dizer mais nada, Petra pegou sua mochila e saiu da quadra apressada, sem olhar para trás, deixando Julia sozinha no ginásio, com a sensação de que havia muito mais a ser dito, mas nenhuma delas estava pronta para encarar a verdade.
Petra estava com seus pensamentos completamente divididos entre Lorenzo e Julia. Ela odiava a ideia estar naquela situação, mas odiava ainda mais colocar eles dois naquela situação, sua culpa indo muito além do que devia. Ao ver o olhar de Julia na quadra,Petra desejou desesperadamente se alguém melhor por elas duas, queria ser mais disposta à convencer a si mesma de que merecia mais. Desejou voltar ao passado onde era alguém melhor e sentiu medo pensando em que momento a vida dela havia virado esse caos todo? E por quanto tempo duraria? Seu medo de que sua vida dali em diante fosse apenas isso, a tristeza lhe consumindo. Sua mente trabalhando os sinais que poderiam ser um pedido de ajuda, mas quem a entenderia? Ela inconscientemente desejou estar nos braços de Julia mais uma vez, como se aquele beijo pudesse salvá-la. Petra estava completamente perdida em sua própria vida, sua confusão crescente e o peso do vislumbre de uma vida em que ela mesma se via triste pra sempre.
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estou revistado mais um pra tentar postar ainda hoje MAS é bem provável que eu durma na metade do próximo pq tô meio cansadinha hj 🥲
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