13 - Colisão em Jogo

━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━
15 de Março

A semana havia começado tensa. O calendário da VNL marcava o primeiro jogo do Brasil contra o Canadá, e a pressão era palpável. Petra estava especialmente nervosa, e com razão. Lorenzo estava a caminho do Rio para assistir ao jogo, algo que Marcela e Marco, seus assessores haviam cuidadosamente planejado. Ele aproveitaria a semana de folga para apoiar Petra e, claro, passar um tempo com ela. Algo minimamente organizado para mostrar para mídia que seus relacionamento estava ótimo. Petra odiava a ideia de que os dois tinham se tornado apenas isso, uma grande aparência para os holofotes.

A ideia que deveria tranquilizar Petra estava, na verdade, surtindo o efeito contrário. Desde que soube da chegada iminente de Lorenzo, Petra mal conseguia se concentrar. Sua mente estava dividida entre o caos emocional de suas últimas semanas e o desconforto crescente com a presença de Lorenzo. O resultado? Uma falta de sintonia total com Julia, o que estava prestes a culminar em um desastre.

Naquele dia, o ginásio estava lotado. As arquibancadas repletas de verde e amarelo, gritos de incentivo ecoando por todo o espaço. Petra e Julia entraram em quadra como titulares, mas logo ficou claro que algo estava errado. As jogadas não fluíam, as comunicações eram truncadas, e os olhares entre as duas revelavam um abismo crescente. Petra olhou para a arquibancada algumas vezes vendo Lorenzo com aquele mesmo sorriso de 5 anos atrás que sempre lhe dava um frio na barriga, por um momento ela sentiu um aperto no peito ao pensar que aquele sorriso só estava lá por causa das câmeras e pessoas ao redor.

No primeiro set, a falta de sintonia entre Petra e Julia começou a se destacar. Um erro após o outro, bolas mal recebidas, ataques frustrados. O Canadá aproveitava cada deslize, e o time brasileiro parecia perdido. Entre um set e outro, enquanto as meninas tentavam se recompor no banco, Petra e Julia finalmente explodiram.

— O que tá acontecendo com você, hein? – Julia sibilou, enquanto se abanava com uma toalha. — Isso não é o que a gente treinou!

— Ah, claro, a culpa é minha agora? – Petra retrucou, a voz carregada de frustração. — Talvez se você parasse de agir como se fosse melhor que todo mundo, as coisas funcionassem!

Julia revirou os olhos, o temperamento esquentando.

— Melhor que todo mundo? Você tá brincando, né? É você que acredita cegamente que mundo gira ao seu redor. Além disso, não sou eu quem está deixando minha vida pessoal interferir na droga do jogo.

As palavras de Julia atingiram Petra como um soco. O sangue ferveu, e ela estava prestes a responder à altura quando Zé Roberto, percebendo a troca de farpas, as mandou direto para o banco. Ambas foram substituídas, e a irritação que já estava alta se tornou insuportável.

No banco, as duas continuaram a discutir em sussurros furiosos, o que não passou despercebido pelas câmeras e pelo público. No fim, o Brasil venceu o jogo, mas a vitória foi completamente ofuscada pela briga entre as duas jogadoras.

Sites de fofoca e redes sociais já fervilhavam com especulações, e a briga entre Petra e Julia se tornava o novo foco da noite. A equipe técnica direcionou as meninas direto para fora de quadra, sem dar chance delas interagirem com a torcida ou imprensa, todos sabiam que tipo de pergunta seriam feitas em qualquer entrevista que fosse concedida.

No vestiário, a tensão atingiu o auge. As outras jogadoras estavam exaustas, física e emocionalmente, e o clima era pesado. Mas Petra e Julia não conseguiram segurar a língua.

— Como você pode ser tão egoísta? – Petra esbravejou, jogando sua toalha contra o banco. — Só pensa em si mesma!

— Egoísta? – Julia retrucou, avançando um passo em direção a Petra. — Eu? A única coisa que você faz é pensar em como tudo gira ao seu redor. Como se o mundo inteiro tivesse que te servir! Acorda, Petra! Você não é a única aqui que importa.

— Você não faz ideia do que eu estou passando! – Petra gritou, sua voz cheia de dor e raiva contida.

— E você acha que eu me importo? – Julia respondeu, os olhos faiscando. — Quer saber a verdade? Eu odeio tudo em você, Lewis, desde aquela sua pretensão de superioridade até o jeito como você sempre tenta passar por cima dos outros. Você só é uma jogadora mimada que sempre teve tudo entregue de bandeja!

O silêncio caiu sobre o vestiário como um cobertor pesado. As palavras de Julia ecoaram nas paredes, e as outras jogadoras ficaram sem reação por um momento. Foi Rosa quem finalmente interveio, puxando Julia para trás enquanto Luzia tentava acalmar Petra.

— Chega, Julia! – Rosa ordenou, sua voz firme. — Isso não tá ajudando ninguém.

— Ju, pega leva. – Kudiess disse ao lado de Petra.

Petra, visivelmente abalada, pegou suas coisas e saiu do vestiário sem dizer mais nada. As outras meninas tentaram seguir a rotina, mas o peso do que havia acabado de acontecer pairava sobre elas como uma nuvem escura.

A volta para o CDV foi silenciosa. Petra optou por voltar no ônibus com as meninas e encontrar Lorenzo depois para não causar tumulto na entrada do ginásio, mas o ambiente estava carregado. Julia permaneceu em silêncio durante toda a viagem, seus pensamentos girando em torno do que havia dito e do que aquilo realmente significava, o sentimento de culpa quase lhe dominando mas seu orgulho sempre falando mais alto quando se trata de Petra.

Naquela noite, o silêncio no ônibus era quase palpável. A vitória sobre o Canadá no primeiro jogo da VNL havia sido ofuscada por uma tensão crescente entre Petra e Julia. Cada jogadora estava imersa em seus próprios pensamentos, refletindo sobre o que havia ocorrido em quadra e fora dela.

Petra, nervosa e emocionalmente exausta, foi a primeira a descer do ônibus. Seus passos eram rápidos, quase como se estivesse fugindo de algo. O jogo e a discussão com Julia haviam deixado sua mente em frangalhos, e a última coisa que ela queria era confrontar Julia no quarto que dividiam. A cada minuto que passava, a sensação de sufocamento aumentava, e a ideia de passar a noite com Lorenzo parecia mais um fardo do que um alívio.

Julia desceu logo atrás, seu corpo ainda tenso e sua mente fervilhando com o rescaldo da discussão. Algo dentro dela clamava por uma resolução, uma necessidade urgente de acertar as contas com Petra, mas o cansaço e a frustração a impediam de pensar com clareza.

Kudiess e Ana Cristina, que haviam observado as duas durante toda a viagem, trocaram olhares preocupados e decidiram segui-las. Nyeme e Natinha, percebendo a tensão, chamaram as outras meninas, e logo o corredor dos quartos começou a se encher de companheiras, todas temendo uma nova explosão entre Petra e Julia.

No corredor, antes de chegar ao quarto, Julia finalmente alcançou Petra, segurando-a pelo braço. Petra se virou com um movimento brusco, seus olhos faiscando de raiva e dor.

— Você acha que pode simplesmente fugir toda vez que as coisas ficam difíceis? – Julia sibilou, a voz baixa, mas carregada de ressentimento.

— E você acha que tem o direito de falar sobre dificuldade? — Petra rebateu, arrancando seu braço do aperto de Julia. — Desde que cheguei aqui, você faz de tudo para me sabotar. Eu não vou ficar calada enquanto você destrói meu jogo!

A proximidade e a raiva de Petra apenas alimentaram a chama dentro de Julia.

— Sabotar? Eu? – Julia deu um passo à frente, quase encostando em Petra. — Você está no meu caminho, Petra. Cada vez que pisa em quadra, eu tenho que lutar duas vezes mais para garantir que não vamos perder por sua causa!

Petra riu, mas não havia humor em sua expressão.

— Claro, porque o mundo gira em torno de você, Julia. Talvez o problema seja que você não suporta a ideia de que eu posso ser tão boa no seu nível ou até melhor que você.

As palavras de Petra foram como um golpe, e Julia, por um instante, perdeu o fôlego. Kudiess e Ana Cristina estavam a poucos passos, tentando intervir antes que a situação piorasse. Nyeme, Natinha, Rosa e Carolana vinham logo atrás, prontas para separar as duas se necessário.

— Isso é ridículo, Petra – Julia finalmente conseguiu dizer, a voz firme, mas tremendo com a intensidade do momento. — Você sempre faz isso, sempre age como se fosse a vítima. Se eu confio mais em mim mesma do que em você, talvez seja porque você nunca provou que posso confiar em você. Talvez, se parasse de bancar a coitadinha e jogasse como uma profissional, isso não aconteceria!

Petra deu um passo à frente, as mãos tremendo de raiva.

— Você não me conhece! Não sabe pelo que eu passei para chegar aqui. Então, não se atreva a questionar minha dedicação ou meu talento!

Kudiess finalmente se colocou entre as duas, levantando as mãos em um gesto de paz.

— Ei, ei! Calma, meninas. Estamos no mesmo time, lembram? Não adianta nada essa briga agora.

Ana assentiu, os olhos preocupados.

— Isso não vai levar a nada. Vocês estão destruindo o clima do time. Precisamos resolver isso de outra forma.

Julia deu um passo para trás, respirando fundo, mas ainda havia tensão em seus olhos. Petra, embora ainda com raiva, parecia tentar se recompor.

— Eu só quero jogar em paz — Petra disse, a voz mais baixa, quase como um desabafo.

Julia a encarou por um longo momento, e algo em seu olhar suavizou. Talvez finalmente percebesse que sua raiva não era apenas por causa das falhas em quadra, mas por algo mais profundo que ainda não tinha compreendido completamente.

— Então jogue – Julia disse, enfim. — Mas jogue ciente de que somos uma equipe. Não estamos mais na faculdade, não somos mais adolescentes.

— Acho que todas precisamos descansar – sugeriu Natinha, prática como sempre. — Vamos deixar essa discussão para outra hora, de preferência longe dos corredores do CDV.

Com um suspiro pesado, Petra assentiu e começou a caminhar em direção oposta do quarto que dividia com Julia.

— Onde você vai? – perguntou Rosa. Petra não respondeu, ela sequer olhou para alguém e apenas seguiu seu caminho sumindo no fim do corredor. Carol e Pri se entreolharam preocupadas em um entendimento silencioso para irem atrás da mais nova.

Rosa, Carol, Pri e Nyeme seguiram Petra enquanto ela caminhava em passos pesados até o hall do CDV. As outras, após uma tentativa falha de fazerem companhia à Julia começaram a se dispersar, preocupadas com o futuro do time. Luzia e Kudiess seguiram atrás de Petra também, Ana ficou com a ruiva no quarto tentando trazer uma leveza mas o clima estava péssimo.

Petra sabia que Lorenzo estava esperando por ela, o que apenas acrescentava mais peso ao caos emocional daquela noite. Ele estava encostado em seu carro, com uma expressão que misturava preocupação e frustração. Petra sabia que a noite seria longa, mas naquele momento, o que mais a angustiava era a incerteza do que viria a seguir, tanto com Lorenzo quanto com Julia.

Quando Petra saiu pela porta de entrada, Rosa tentou ir até ela mais uma vez mas foi impedida por Nyeme.

— Deixa, Rosa. Talvez ela precise de um tempo, vamos dar isso à ela. Amanhã ela estará aqui de novo e vamos cuidar melhor disso.

As meninas observaram Petra se afastar com Lorenzo, trocando olhares preocupados. Elas sabiam que a briga entre as duas jogadoras havia deixado marcas profundas, e o futuro daquele time, que sempre fora unido, estava agora mais incerto do que nunca.

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.

oioi vidocas
estão bem? eu tô ÓTIMA depois de largar essa bomba de capítulo, beijos

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top