09 - Tréguas?

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5 de Março

Petra estava sentada na varanda, com o celular em mãos, tentando reunir a energia para enfrentar mais uma conversa com Lorenzo. O som baixo da noite envolvia o ambiente, e ela estava determinada a manter a calma dessa vez. Quando o telefone tocou, ela respirou fundo antes de atender.

Oi, Lorenzo. – A voz dela saiu suave, quase como um sussurro, diferente dos tons elevados das últimas conversas. Seu sotaque agora perfeito, como se falasse aquela língua desde criança.

Oi, amor. Como você está? Ele respondeu, o tom mais gentil do que de costume, mas ainda com um resquício de tensão.

Estou cansada, Lorenzo. Eu me sinto... exausta. – Petra admitiu, deixando que a fadiga transparecesse em suas palavras.

Eu sei, querida. Mas precisamos falar sobre nós, sobre o nosso futuro. Não podemos continuar assim.

Eu concordo. Mas você também precisa entender que minha carreira é importante para mim. Eu não posso simplesmente largar tudo e casar quando você quiser. – Petra manteve o tom firme, mas com um toque de tristeza.

Eu não estou pedindo para você largar tudo. Só... queria que você estivesse mais presente. Eu sinto como se estivesse te perdendo. — Lorenzo suspirou do outro lado da linha, e Petra sentiu o peso das palavras dele.

E eu sinto como se você não visse quanto trabalho e sacrifício eu coloco em tudo isso. Não é fácil para mim também, Lorenzo. — Ela fechou os olhos, tentando conter a emoção que ameaçava transbordar.

Eu não quero que você pense que não me importo com você. Eu sei que estou pedindo muito, mas é só porque te amo. — A voz dele se suavizou, e Petra se permitiu relaxar um pouco.

Eu também te amo, Lorenzo. Mas precisamos encontrar uma maneira de fazer isso funcionar sem que nenhum de nós se perca no processo.

Você tem razão. Talvez devêssemos nos esforçar mais, nós dois. Podemos fazer isso funcionar, Petra. Nós vamos conseguir.

Eu realmente espero que sim. Eu não quero que isso continue nos machucando.

Houve um momento de silêncio, onde ambos refletiam sobre o que havia sido dito. Petra sentia o cansaço físico e emocional, mas também uma pequena esperança de que talvez pudessem superar essa fase.

Descanse, amor. Não quero te manter acordada mais do que o necessário. Lorenzo disse, com um tom mais suave.

Obrigada. Você também, durma bem. – sua voz saiu mais suave do que nos dias anteriores.

Boa noite, querida. – Lorenzo tinha uma maneira de sempre fazer Petra abaixar a guarda. Quando as coisas pareciam sair demais do controle, ele dava um jeito de contornar a situação e fazê-la repensar qualquer decisão que poderia acabar a relação.

Boa noite.

Petra desligou o celular e ficou olhando para o céu por alguns minutos, sentindo um pequeno alívio, mas ainda ciente de que as coisas estavam longe de serem resolvidas. Ao menos, dessa vez, ela não havia perdido a paciência, e talvez isso fosse um sinal de que estavam começando a encontrar um meio-termo.

Quando voltou para dentro, o quarto estava silencioso, e Julia parecia estar dormindo. Petra deitou-se, tentando ignorar os pensamentos que ainda rondavam sua mente, mas se permitiu sentir um pouco de paz, por mais temporária que fosse.

Na manhã seguinte, Julia acordou com uma sensação estranha. Não foi o habitual grito abafado de Petra em italiano que a despertou no meio da noite, mas sim o som quase imperceptível do silêncio já pela manhã. Ela piscou algumas vezes, tentando entender o que estava diferente, até se dar conta de que Petra não havia gritado ou chorado na varanda na noite anterior. Isso era uma mudança bem-vinda, e Julia, apesar de não admitir, estava secretamente agradecida por isso.

Ao sair do quarto, Julia encontrou Petra no refeitório, já de pé e parecendo... relaxada? Aquilo sim era estranho. Petra, que andava sempre com o rosto cansado e a expressão fechada, parecia um pouco mais leve. Julia observou-a por um instante antes de decidir que precisava, como sempre, dar uma provocada.

— Bom dia, principessa! Dormiu bem ou Lorenzo finalmente desistiu de você? – Julia soltou, com aquele tom sarcástico que ela dominava tão bem.

Petra ergueu os olhos e viu o sorriso de canto nos lábios de Julia. Ela apenas balançou a cabeça, meio que sorrindo, meio que ignorando.

— Você sempre tão engraçada, Bergmann. – Petra respondeu.

Nyeme, Roberta e Macris estavam sentadas em uma mesa próxima, conversando e rindo sobre as últimas fofocas. Ao ouvir a troca de farpas, Nyeme lançou um olhar curioso para Petra e Julia, enquanto Roberta se inclinou para ouvir melhor. Macris, sempre com um comentário afiado na ponta da língua, não perdeu a oportunidade.

— Parece que a Petra está menos sisuda hoje. Será que o romance italiano está finalmente se ajeitando? – Macris comentou, provocando um sorriso nos lábios de Roberta.

Julia se encostou no balcão, cruzando os braços.

— Mas é sério. Tá até estranho. Não teve show italiano na varanda ontem à noite. Achei que fosse tradição.

Petra riu, mas foi um riso leve, quase involuntário.

— Decidi que talvez fosse melhor mudar de repertório.

Julia piscou, não esperando aquela resposta. Ela estava acostumada a um retorno ácido ou um silêncio ressentido. Mas aquilo? Aquilo era... o que era aquilo? Ela não sabia exatamente como se sentia a respeito, mas decidiu continuar.

— Repertório novo? Então vamos ter uma versão acústica, algo mais suave? – Julia provocou, arqueando uma sobrancelha.

— Talvez. – Petra respondeu, jogando a maçã no lixo após a última mordida. — Ou talvez eu só esteja cansada de fazer tanto barulho por tão pouco.

O comentário de Petra fez Julia parar por um instante. Era uma resposta cheia de significado, mas ao mesmo tempo, tão vaga quanto possível. Petra sempre teve essa habilidade de dizer muito com poucas palavras, deixando Julia intrigada.

— Cansada? De Lorenzo ou de mim? — Julia brincou, tentando aliviar o clima que começava a pesar.

Petra deu de ombros, pegando uma garrafa de água.

— Talvez dos dois. Mas vou deixar você na dúvida. – ela saiu do refeitório, mas não sem antes dar uma última olhada em Julia, seus olhos brilhando com uma mistura de desafio e cansaço.

Nyeme, Roberta e Macris trocaram olhares, curiosas com a dinâmica entre Petra e Julia.

— Parece que as coisas estão esquentando, ou esfriando? – Nyeme perguntou, com um tom de brincadeira. — O que foi isso, gente?

— Não sei, mas a Petra está com um ar diferente hoje. Talvez esteja mesmo mudando alguma coisa. – Roberta respondeu, observando Petra sair do refeitório.

Julia ficou ali, sozinha, processando o que acabara de acontecer. Petra não mordeu a isca como de costume, e aquilo de alguma forma a deixou desconfortável. Era como se a dinâmica delas estivesse mudando, e Julia não sabia se gostava disso. Mas, ao mesmo tempo, havia uma parte dela que se sentia satisfeita. Petra estava mais relaxada, menos irritadiça, e isso era bom. Bom para o time, Julia se forçou a acreditar que era bom para o time. Mas ela também não sabia ao certo o porquê havia algo na presença calma de Petra que a acalmava também, mesmo que ela não admitisse isso nem para si mesma.

Ainda assim, a necessidade de chamar a atenção de Petra, de provocar e demonstrar seu “ódio” persistia. Talvez fosse a maneira que Julia tinha de lidar com as próprias emoções, ou talvez fosse só um hábito difícil de largar.

Enquanto se preparava para o treino, Julia decidiu que iria continuar provocando Petra, mas talvez de um jeito diferente. Afinal, a morena ainda parecia tão frágil pela situação atual com Lorenzo.

Enquanto Petra saía do refeitório, Roberta não conseguiu conter a curiosidade e se inclinou em direção a Julia, com um sorriso malicioso no rosto.

— Tá me dizendo que a nossa Pepê tá mudando de atitude? – Roberta provocou, levantando uma sobrancelha.

Julia, ainda processando a conversa anterior, deu de ombros, tentando parecer indiferente.

— Quem sabe? Talvez ela finalmente tenha percebido que vale mais a pena me ignorar – respondeu Julia, mas o tom leve de sua voz entregava um certo incômodo.

Nyeme deu uma risadinha, olhando para Macris, que balançava a cabeça em descrença.

— Vocês duas são um caso perdido – Macris disse, pegando mais um gole de café. — Todo mundo vê que tem mais coisa aí do que só implicância.

Julia bufou, tentando esconder o rubor que subia em seu rosto. — Vocês estão imaginando coisas. Só tô garantindo que ela não fique muito à vontade. Sabe como é, rivalidade saudável.

— Rivalidade, claro... – Nyeme respondeu, alongando as palavras e lançando um olhar conspiratório para Roberta, que começou a rir.

Julia deu uma olhada rápida ao redor, verificando se Petra já estava longe o suficiente para não ouvir, e então se aproximou mais das meninas.

— É sério, tá? – insistiu, mas o brilho em seus olhos não ajudava a convencê-las. — Petra só está tentando se mostrar mais durona porque tá com problema com o príncipe italiano. E eu realmente acho que isso tá atrapalhando o desempenho dela, só tô tentando lembrar ela de que a prioridade agora é o time.

Macris se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— Julia, você pode até tentar se enganar, mas tá na cara que tem algo mais rolando. E outra, até você tá diferente. Todo esse clima... Tá esquisito, no mínimo.

— Esquisito mesmo – Nyeme concordou, fingindo estar pensativa. — Parece que alguém tá ficando macia, quem diria.

Julia revirou os olhos, fingindo desdém.

— Se acham mesmo isso, então fiquem à vontade para assistir o show. Porque eu não vou parar de provocar. Só estou pegando leve porque a miss simpatia está toda fragilizada por estar com problemas no paraíso.

Nyeme riu alto e deu um tapinha no ombro de Julia.

— Ah, a gente vai assistir de camarote, com certeza!

Julia se afastou da mesa, ainda mantendo a fachada de confiança, mas algo dentro dela estava realmente mudando. O comportamento de Petra naquela manhã havia abalado as expectativas que ela tinha. Será que estava, de fato, perdendo o controle da situação? Ou será que estava exatamente onde queria estar, testando seus próprios limites com Petra?

Enquanto seguia para o treino, ela se pegou sorrindo, sem perceber. Talvez Macris e Nyeme estivessem certas, mas Julia não estava pronta para admitir isso, nem para elas, nem para si mesma.

Já no vestiário, enquanto trocava de roupa, Julia decidiu que se Petra estava mudando, ela também mudaria suas estratégias. Talvez fosse a hora de ver o que acontecia quando o sarcasmo dava lugar a algo mais sutil. Seria interessante ver como Petra reagiria.
O treino estava prestes a começar, e Julia estava pronta para ver até onde aquela nova dinâmica as levaria.

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o que? julia deixando o ódio de lado? cedo demais né...

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