·˚ ༘「𝟎𝟎𝟑」
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129d.C. Fortaleza Vermelha
Entrar no salão do Trono de Ferro parecia fácil para Eddard, mas, assim que passou pelas imensas portas de madeira, percebeu que estava enganado. O som de seus passos ecoava pelo lugar, e sua respiração ficou pesada, como se algo estivesse esmagando seu peito. Ele olhou para o alto, e lá estava ela: a rainha, sentada no enorme trono de ferro, com seus cabelos prateados reluzindo à luz. Abaixo dela, um jovem alto, também platinado, observava tudo com atenção, enquanto mais afastada, uma mulher que ele achou ser irmã de Rhaenyra mantinha um ar tranquilo.
Eddard sentiu-se pequeno perto deles. Era difícil não sentir. Rapidamente, baixou os olhos para o chão, tentando se acalmar. Ele sabia que Rhaenyra não era uma pessoa ruim, mas havia algo em sua presença que o deixava desconfortável. Era curioso, porque ele se sentia muito à vontade ao lado de Jacaerys, o filho mais velho dela.
Porém, antes que o nervosismo tomasse conta, a rainha se levantou. Rhaenyra desceu os degraus com graça, como se flutuasse, e sua expressão mudou completamente. Não era mais a figura intimidadora sentada no trono, mas uma mãe ansiosa. Assim que seus pés tocaram o chão do salão, ela correu em direção a Jacaerys, que a recebeu de braços abertos.
Os dois se abraçaram como se o mundo ao redor tivesse desaparecido. As lágrimas escorriam livremente dos olhos da rainha e de seu filho. Suas mãos passaram pelos cabelos dele, enquanto ela o apertava contra si, buscando consolo naquele momento. O salão ficou em silêncio, todos sentindo o peso daquela dor. Perder alguém nunca é fácil, mas perder um filho e um irmão é um golpe que ninguém deveria enfrentar.
Com o tempo, Rhaenyra pareceu se lembrar de onde estava. Soltou um suspiro, limpou o rosto e sorriu de leve para Jacaerys. Depois, se virou para os visitantes, com o olhar ainda um pouco avermelhado, mas firme.
— Dou-lhes as boas-vindas, lorde Cregan Stark, e aos seus homens.
Cregan não perdeu tempo. Curvou-se respeitosamente, com um dos joelhos tocando o chão. Eddard, assim como os outros homens, o imitou.
— Agradeço, Vossa Graça. Trouxe comigo os melhores homens do Norte para ajudá-la a proteger o reino — disse ele, levantando-se logo depois. Cregan olhou rapidamente para Jacaerys antes de apresentar os companheiros. — Este aqui é lorde Ned Cerwyn, de Winterfell.
Cregan colocou a mão no ombro do homem mais velho, aproximando-o de Rhaenyra. Ned fez uma reverência e falou com respeito:
— É uma honra, Vossa Graça. Espero ser útil no que precisar.
Rhaenyra deu um pequeno sorriso, examinando o homem. Ele tinha algo que a lembrava Lyonel Strong, o que trouxe uma pontada de nostalgia.
— Agradeço a sua disposição, lorde Cerwyn.
Logo, Cregan indicou outro homem, alto e de cabelos cacheados. Rhaenyra precisou erguer o rosto para encará-lo, o que a fez sorrir, achando a situação até engraçada.
— Este é meu primo, Robb Stark. Um dos melhores espadachins do Norte — disse Cregan, com um tom orgulhoso.
Robb se inclinou para beijar a mão de Rhaenyra, o que a fez sorrir com gentileza.
— Minha espada está à sua disposição, Vossa Graça. Espero poder protegê-la.
— Sua ajuda será muito bem-vinda, Robb — respondeu Rhaenyra.
Quando Robb levantou o olhar, algo prendeu sua atenção: a mulher de cabelos ondulados e olhos violeta perto do trono. Ela o encarava com curiosidade, como se o estudasse. Seus cabelos pareciam uma obra de arte, e Robb ficou perdido naquela visão. Rhaenyra percebeu o olhar dele e deixou escapar um pequeno sorriso antes de seguir para o próximo homem.
Chegou, então, a vez de Eddard. Ele parecia ainda mais nervoso que antes. Era mais baixo que Robb, mas tinha ombros largos e cabelos escuros e ondulados. Quando Cregan percebeu a hesitação do rapaz, deu-lhe um leve empurrão para que se aproximasse.
— Este aqui é Eddard, um dos homens mais inteligentes que já conheci. Talvez o mais esperto dos Sete Reinos! — brincou Cregan, rindo.
Eddard ficou vermelho como uma maçã e gaguejou ao falar:
— É... é uma honra, Vossa Graça. Estou ao seu dispor.
Rhaenyra, com um sorriso gentil, deu um passo à frente e tocou o rosto dele com cuidado.
— É um prazer tê-lo aqui, doce menino — disse ela, em um tom caloroso.
Eddard retribuiu com um sorriso tímido, mas genuíno. Aquela pequena gentileza parecia ter aliviado um pouco o peso em seu coração.
Rhaenyra deu um último olhar aos homens que Cregan trouxera, inclinando a cabeça em aprovação. Seu semblante, embora cansado, carregava uma firmeza que inspirava confiança. Ela ajeitou seu vestido e virou-se para subir os degraus de volta ao trono, mas parou no meio do caminho.
— Lorde Stark, seus homens serão bem recebidos aqui. Espero que encontrem conforto e propósito na fortaleza vermelha. — Seus olhos pousaram rapidamente em Cregan, e ela sorriu levemente. — Cuide bem deles.
Cregan curvou-se em agradecimento, mas Rhaenyra já caminhava em direção à saída, os passos ecoando pelo salão de pedra. Quando ela alcançou as portas, olhou uma última vez para trás, a luz do salão tocando seus cabelos prateados de forma quase etérea.
— Espero que sua estadia traga bons frutos, lorde Stark. — Sua voz ecoou, deixando no ar um misto de expectativa e esperança.
Assim que as portas se fecharam atrás dela, o salão pareceu respirar novamente, como se a presença da rainha tivesse envolvido tudo em uma espécie de transe. Foi então que Daeron, que estivera mais afastado, começou a se mover. Seus olhos estavam fixos em Edward, estudando-o com uma intensidade que não passava despercebida a ninguém... exceto ao próprio Eddard.
Enquanto o jovem ainda tentava processar as palavras gentis de Rhaenyra, Daeron se aproximou alguns passos, como quem não quer nada, uma expressão que misturava curiosidade e admiração.
— Eddard, não é? — perguntou Daeron, sua voz baixa, mas repleta de um charme natural.
Eddard levantou o olhar brevemente, um pouco surpreso, e assentiu.
— Sim, príncipe Daeron. — Sua voz ainda carregava um toque de nervosismo.
Daeron abriu um pequeno sorriso, quase imperceptível, mas intenso o bastante para fazer Eddard levantar uma sobrancelha, intrigado.
— Parece que você já conquistou a atenção de nossa rainha — disse Daeron, casualmente, enquanto ajustava os punhos de sua túnica, mas o brilho em seus olhos deixava claro que ele queria dizer mais.
Eddard riu de forma desajeitada, coçando a nuca.
— Eu... apenas tento fazer o meu melhor, meu príncipe.
— Eu não tenho dúvidas disso — respondeu Daeron, com um tom mais suave, antes de se afastar lentamente.
Enquanto os homens do Norte discutiam as próximas ações, o olhar de Daeron permaneceu, por um breve instante, em Eddard, como se ele tivesse acabado de encontrar algo que não sabia estar procurando.
129d.C. Essos
Lucas acordou com um pulo, o peito subindo e descendo rápido. Mais uma vez, os pesadelos tinham voltado para assombrá-lo. Era sua quinta noite em Essos, e mesmo longe do lugar onde tudo aconteceu, ainda se sentia perseguido por aquelas lembranças sombrias. Não era algo que o mantinha acordado a noite inteira, mas, mesmo assim, era difícil ignorar.
Katherine, que vinha cuidando dele desde que foi encontrado, aparecia sempre cedo para limpar seus ferimentos e garantir que ele estava bem. Ela era doce, sempre preocupada. Lucas já a tinha visto passar pelo corredor mais vezes do que o necessário, só para conferir se ele estava respirando. Ela também adorava trazer frutas frescas do mercado e tecidos para fazer roupas para ele. Lucas achava reconfortante o jeito como ela estava sempre por perto. Uma vez, quase pegando no sono, sentiu os dedos dela acariciando seus cabelos. Era uma sensação tão boa que ele quase esqueceu toda a dor e os medos.
No sexto dia, Katherine avisou que precisaria sair mais cedo para o mercado e que um entregador passaria pela casa. Pediu que ele não se preocupasse, pois as empregadas cuidariam de tudo, mas insistiu para que ele permanecesse na cama. Lucas tentou obedecer, mas a monotonia da cama e a curiosidade sobre o lugar foram mais fortes. Assim que Katherine saiu, ele se levantou com cuidado, ignorando as dores que ainda o incomodavam, e começou a explorar a casa.
A casa de Katherine era impressionante. As paredes, de uma tonalidade quente quase dourada, eram adornadas com relevos intricados que pareciam contar histórias dos povos comuns de um passado esquecido. Lustres trabalhados em vidro e ouro pendiam dos tetos altos, refletindo uma luz suave que se espalhava pelo ambiente. As cortinas, feitas de seda translúcida, balançavam levemente com a brisa, revelando detalhes dos vitrais que captavam a luz do sol e pintavam o chão com cores vivas.
No salão principal, o luxo de Essos parecia tomar forma. Almofadas de veludo e cetim, em tons de vermelho e dourado, estavam espalhadas pelo chão, formando uma atmosfera acolhedora. Fontes delicadas jorravam água perfumada com pétalas de flores, enquanto o ar era preenchido com o aroma de especiarias e incensos que vinham de algum lugar distante. O som suave de instrumentos de corda e risadas abafadas ecoava ao longe, criando uma sensação de sonho.
Continuando sua caminhada, Lucas encontrou a sala de banhos. Era um verdadeiro santuário. As paredes eram revestidas com azulejos dourados que reluziam sob a luz das tochas, enquanto o teto exibia pinturas do céu noturno, com estrelas que pareciam ganhar vida. A piscina central refletia a luz, criando padrões ondulantes que dançavam pelas paredes. Nos cantos, plantas exóticas cresciam exuberantes, trazendo frescor e um toque de natureza àquele espaço quase sagrado.
Ao subir uma das escadas, Lucas chegou ao terraço, e a visão roubou seu fôlego. O horizonte se estendia em um mar de dunas douradas entrelaçadas por rios sinuosos. O céu, pintado em tons de laranja e púrpura pelo pôr do sol, parecia se fundir com a terra, como se o mundo inteiro estivesse em paz. Ele ficou ali por alguns instantes, hipnotizado, gravando cada detalhe daquela cena.
Mas o momento durou pouco. Um barulho o fez se virar, assustado. Uma menina, com mais ou menos sua idade, segurava um jarro que quase caiu no chão. Ela parecia tão surpresa quanto ele.
— Quem é você? — Lucas perguntou, dando alguns passos em direção a ela.
A menina colocou o jarro no lugar e cruzou os braços, com um ar desafiador.
— Eu que pergunto. Quem é você? O que está fazendo na casa da madame Katherine? É um ladrão, por acaso?
Lucas sentiu o sangue ferver. Ladrão? Ele parecia um ladrão? Tentou responder, mas ficou distraído pela aparência dela. A menina era magra, tinha cabelos curtos e escuros, um rosto arredondado com traços delicados, e usava um vestido amarelo e sandálias simples. Nos ouvidos, brincos com o desenho do sol brilhavam sob a luz suave.
Antes que ele conseguisse falar, Katherine apareceu na porta do terraço, claramente aflita. Suas vestes escuras balançavam enquanto ela andava em passos rápidos até Lucas.
— Eu não te disse para ficar no quarto? E se tivesse se machucado? — disse, segurando-o pelos ombros e o examinando como se procurasse algum ferimento.
Antes que ele pudesse responder, a menina falou:
— Quem é esse, tia? Está trazendo crianças desabrigadas para casa agora?
Katherine soltou uma risada leve e olhou para ela.
— Este é Lucas, meu convidado. Ele foi encontrado perto do rio. — Katherine fez uma pausa e sorriu para Lucas. — E você deveria estar descansando, mas parece que já fez uma nova amiga.
"Amiga?", pensou Lucas, quase indignado. "Nunca."
129 d.C. Fortaleza Vermelha
O jardim do Red Keep estava sereno, com o sol se pondo no horizonte, tingindo o céu de tons dourados e alaranjados. As crianças brincavam alegremente entre as flores, e Helaena e Aishae estavam sentadas na grama, com as mãos nos joelhos, observando a tranquilidade ao seu redor. Jaehaera estava concentrada em fazer uma coroa de flores, enquanto Jaehaerys olhava pensativamente para o céu, perdido em seus próprios pensamentos. Maelor, com sua energia exuberante, corria de um lado para o outro, rindo e chamando a atenção de todos.
Foi nesse momento que Helaena, como se guiada por uma percepção interna, disse em voz baixa:
— Você já parou para pensar se... alguém poderia estar onde não deveria?— Ela olhava fixamente para uma árvore próxima, como se algo lá a estivesse atraindo. O olhar de Helaena estava distante, como se ela visse algo que os outros não podiam compreender.
Aishae, surpresa pela pergunta repentina, olhou para Helaena, tentando entender o que ela queria dizer.
— Onde você quer chegar, Helaena?— perguntou suavemente, tentando captar o significado das palavras da amiga.
Antes que Helaena pudesse responder, um som de passos suaves cortou o ar. Rhaenyra apareceu, surgindo entre as árvores do jardim, com uma expressão pensativa. Ao avistar as crianças brincando, ela sorria, mas sua curiosidade logo se voltava para a atmosfera tranquila e um pouco estranha que parecia pairar sobre o local. Ela se aproximou com passos lentos.
— Aishae, Helaena, o que estão fazendo aqui?- Rhaenyra perguntou com um sorriso leve, mas seu olhar se fixou por um momento em Helaena, como se algo naquele cenário a estivesse desconcertando. Helaena, em sua calma habitual, parecia imersa em algum pensamento distante, e isso chamou a atenção de Rhaenyra.
Aishae sorriu e acenou, convidando Rhaenyra com um gesto. — Estamos apenas aproveitando a tarde. Venha se juntar a nós, Rhaenyra.
Rhaenyra hesitou, olhando para as crianças e, em seguida, para Helaena, cujo olhar ainda parecia perdido em algum lugar entre o mundo físico e o intangível. A relutância de Rhaenyra era óbvia, mas ela decidiu se aproximar, atraída pela tranquilidade do momento.
— Eu não quero interromper... Mas, se você insistir...— Rhaenyra respondeu com um tom hesitante, embora uma parte dela desejasse se juntar àquelas duas figuras serenas no jardim. Ela caminhou até onde estavam as crianças e, ao ver Maelor correndo em direção a ela, não pôde evitar sorrir. O pequeno príncipe, com seus olhos brilhantes de alegria, correu até ela e, com um sorriso travesso, pediu:
— Você vai brincar comigo? — Sem pensar, Rhaenyra se abaixou para o nível de Maelor, seus braços se esticando para pegar o menino. — Você está rápido demais, garoto .— Ela o levantou no colo com um sorriso suave, sentindo o peso do pequeno nos braços. Por um momento, o simples gesto de segurar Maelor a fez lembrar de outro pequeno, outro filho que ela perdera há pouco tempo. A dor ainda estava viva em seu coração, mas ela tentou afastar os pensamentos tristes, sentindo a familiaridade do peso do menino nos braços.
Os risos de Maelor eram como música em seus ouvidos, mas a imagem de Lucerys, seu filho, invadiu sua mente. O peso de Maelor, o calor de seu corpo nos braços de Rhaenyra, a forma como ele se acomodava, tudo isso a fez lembrar do vazio que a perda de Lucerys causou. Ela fechou os olhos por um momento, tentando afastar a saudade de seu filho querido, que já não estava mais ali para brincar ou pedir sua atenção. Mas, ao abrir os olhos, ela viu Maelor sorrindo, completamente alheio a qualquer tristeza que pudesse pairar sobre os adultos ao seu redor. Ele parecia feliz, genuinamente feliz, e a presença dele a acalmou, mesmo que por um breve instante.
Rhaenyra apertou Maelor contra seu ventre, buscando conforto no calor da criança em seus braços. A lembrança de Lucerys em seu ventre era uma sombra constante, e, por um breve momento, tentou substituí-la com a presença de Maelor. Mas quem ela estava tentando enganar? Nem mesmo se tivesse outro filho agora, conseguiria apagar a dor que a perda de Lucerys deixou.
129 d.C. Fortaleza Vermelha
Aemond andava de um lado para o outro no quarto apertado, os passos ecoando no silêncio sufocante. O som das botas contra o chão frio não conseguia acalmar o tumulto em sua mente. Cada vez que fechava os olhos, via as asas de Vhagar cortando os céus e sentia o sal amargo do mar. Era como se o fantasma de Lucerys estivesse ali, escondido na brisa que entrava pelas frestas, sussurrando palavras que ele não conseguia compreender.
Parou diante da janela, buscando o ar que parecia faltar. Lá fora, a Fortaleza era uma pintura de cinza e prata, com as nuvens carregadas se misturando ao horizonte distante. Foi então que seus olhos captaram a figura de Rhaenyra.
Ela estava sentada no pátio, o pequeno Maelor aconchegado contra seu peito. A criança parecia tranquila, os dedos pequenos agarrando os cabelos claro que caíam sobre o rosto de Rhaenyra. Por um instante, Aemond apenas observou, os olhos fixos na cena, até que Rhaenyra percebeu sua presença.
Quando seus olhares se encontraram, algo mudou. Rhaenyra apertou Maelor contra si, como se tentasse protegê-lo de um perigo invisível – ou de algo muito concreto. Ele viu o medo nos olhos dela, mas também a raiva, a dor, a mágoa. Era um reflexo, uma onda que rebentava contra ele com força.
E ali, parado diante da janela, Aemond entendeu. O aperto de Rhaenyra em Maelor era mais do que instinto materno; era uma declaração. Ela o temia. Ela achava que ele seria capaz de fazer de novo, de tirar outra criança dela, como fizera com Lucerys.
O mar rugia em sua mente, uma metáfora cruel. Ele era tanto a tempestade que devastava quanto a onda que se partia em arrependimento. Cada passo que dera até ali o aproximava mais da borda, e agora, ao olhar para Rhaenyra e Maelor, ele percebia que já havia caído. O vazio de Lucerys não era apenas dela, mas também dele.
129 d.C. Ponta Tempestade
A sala do trono de ferro parecia mais sombria do que nunca, como se as próprias paredes compartilhassem o peso da dor que havia se instalado ali. As tochas lançavam sombras trêmulas, mas a luz não era suficiente para aquecer o vazio que consumia Rhaenyra. Ela estava sozinha. Pela primeira vez em sua vida, realmente sozinha.
Sentada no trono de ferro, seu corpo parecia pesado, como se o fardo da coroa fosse feito de ferro fundido. A mão apertava o braço do trono com força, as unhas deixando marcas no frio das lâminas. Seus olhos, fixos na porta da sala, pareciam perdidos em um abismo invisível. Ela esperava... não sabia exatamente o quê, mas esperava.
A ausência de Lucerys era um buraco que nada preenchia. Nem as promessas de vingança, nem os sussurros de conselheiros, nem mesmo os rugidos dos dragões nos céus. Sua mente era um mar revolto, repleto de lembranças do filho. O sorriso tímido que ele reservava apenas para ela. A maneira como seus olhos brilhavam quando falava sobre o futuro. A última vez que ela o viu, montado em Arrax, determinado a cumprir seu dever.
— Dever.-ela sussurrou, a palavra queimando em sua língua como fel.
A sala ecoou o som, devolvendo-lhe o vazio. Sua voz parecia pequena, insignificante diante da vastidão da dor que sentia. Rhaenyra se inclinou para frente, apoiando a testa na palma da mão. A coroa escorregou levemente, mas ela não se moveu para ajustá-la.
O peso da coroa era nada comparado ao peso do luto.
— Majestade? — A voz de Ser Erryk interrompeu seus pensamentos, hesitante, quase temerosa.
Rhaenyra ergueu o olhar, mas não respondeu imediatamente. Seus olhos, vermelhos pelo choro que ela não permitia mais, fixaram-se nele com uma intensidade que o fez recuar um passo.
— O que foi? — Sua voz era áspera, como uma lâmina gasta pelo uso.
— O conselho aguarda sua presença, minha rainha.
Ela queria rir. Conselho? Que conselho? Um grupo de homens tentando guiá-la para longe de sua dor, para longe da memória de Lucerys? Não. Eles não entendiam. Não podiam entender.
— Que eles esperem.
Erryk hesitou por um momento, mas acabou inclinando a cabeça em silêncio, deixando-a sozinha novamente.
Quando ele saiu, Rhaenyra se levantou lentamente. Cada movimento parecia um esforço colossal, como se o luto tivesse se tornado um peso físico que ela carregava nos ombros. Ela caminhou até a janela, onde o vento frio da noite varria seus cabelos dourados. Lá fora, a silhueta de Syrax era visível contra a luz fraca das estrelas, uma presença familiar, mas distante.
Ela observou o dragão por um longo momento, sentindo uma conexão que sempre estivera ali, mas que agora parecia frágil. Syrax rugiu, um som grave e cheio de tristeza, como se sentisse a dor de sua cavaleira.
Rhaenyra fechou os olhos, permitindo que as lágrimas finalmente escorressem. Não havia ninguém ali para vê-la, ninguém para julgá-la por sua fraqueza. Apenas ela e sua dor.
— Aemond...— O nome surgiu de seus lábios, cheio de ódio e mágoa.
Ele havia tirado Lucerys dela. Ele havia roubado seu filho, sua alegria, seu coração. E ele pagaria por isso. Não importava quanto tempo levasse.
Rhaenyra ergueu o rosto, o vento frio secando as lágrimas em sua pele. O rugido de Syrax ressoou novamente, quase como se sentisse seu ódio . Rhaenyra apertou os lábios, virando-se para encarar a sala do trono mais uma vez.
A solidão ainda estava lá, como uma sombra que jamais a abandonaria.
Na manhã seguinte, antes mesmo do sol nascer, Rhaenyra já estava pronta. A Fortaleza Vermelha ainda dormia, mas ela não conseguia ficar parada. O peso no peito era insuportável, uma mistura de dor e negação que a sufocava. Lucerys não podia estar morto. Ele não estava morto. Ela precisava de algo, qualquer coisa, que provasse isso.
Montada em Syrax, voou direto para Ponta Tempestade. O vento frio batia em seu rosto, mas ela mal sentia. O céu ainda estava meio escuro, com tons alaranjados no horizonte.
Quando pousou na praia, viu um grupo de aldeões reunidos perto da água. Eles cochichavam entre si, apontando para algo na areia, mas se calaram assim que Syrax rugiu. O dragão dourado aterrissou com força, espalhando areia e água ao redor.
Rhaenyra desceu sem dizer nada, o manto negro arrastando na areia úmida. Caminhou até eles, o olhar fixo, ignorando os sussurros assustados.
— O que encontraram? — perguntou, sem rodeios.
Um dos homens, hesitante, apontou para os destroços espalhados mais à frente.
— O mar trouxe... partes. Não sabemos o que é.
Rhaenyra não esperou por mais explicações. Caminhou na direção indicada, os pés afundando na areia molhada. Quando chegou perto, o que viu fez seu coração parar.
Ali estavam os restos de Arrax.
A visão foi como um soco. As asas estavam rasgadas, como se tivessem sido destruídas por garras enormes. Havia pedaços de couro e ossos espalhados, misturados à areia manchada de sangue seco. Um pedaço da sela estava lá, ainda preso em um fragmento do dragão, destruído e irreconhecível.
Rhaenyra caiu de joelhos, as mãos trêmulas tocando um pedaço do couro rasgado. O tecido era áspero, frio, sem vida — assim como o vazio que agora tomava conta dela.
— Não... não pode ser — sussurrou, a voz fraca.
Ela olhou ao redor, os olhos varrendo os restos, desesperados por qualquer sinal de Lucerys. Mas não havia nada. Nenhum corpo. Nenhuma prova de que ele estava ali, de que ele ainda vivia.
As lágrimas começaram a escorrer antes que ela pudesse impedir. Não era apenas tristeza; era a angústia de uma mãe que precisava acreditar que seu filho estava vivo, mas tudo ao redor gritava o contrário.
— Luke... — murmurou, a voz engasgada.
Ela ficou ali por um tempo que parecia interminável, enquanto as ondas quebravam contra a areia e os aldeões observavam de longe, sem coragem de se aproximar. O cheiro do mar misturava-se ao cheiro de carne queimada, e a lembrança do sorriso de Luke parecia mais distante a cada segundo.
Quando finalmente se levantou, seus olhos estavam vermelhos e seu rosto molhado de lágrimas. Olhou uma última vez para os restos de Arrax, o dragão que ela havia visto crescer ao lado do filho.
A raiva começou a tomar o lugar da dor. Não era justo, não era certo. Aemond tinha arrancado Luke dela, mas ele pagaria. Ele pagaria com sangue.
Rhaenyra passou horas ali, no chão, sem conseguir se mover. A dor era tão forte que parecia consumir todo o seu ser. Ela segurava os pedaços de Arrax como se ainda pudesse sentir algo do filho através deles. O vento frio batia em seu rosto, mas ela não sentia. Seus olhos estavam fixos nos restos do dragão, as escamas quebradas e o couro rasgado. Era como se, ao abraçar aquilo, ela ainda tivesse alguma ligação com Lucerys.
As lágrimas não paravam de cair, mas nem isso a fazia se sentir melhor. O silêncio ao seu redor só era quebrado pelo som das ondas quebrando na praia, como se o mar a estivesse lembrando da perda a cada instante. A dor era imensa e parecia não ter fim.
Só quando o sol estava bem alto, iluminando a praia, ela conseguiu se levantar. Seu corpo estava exausto, mas a perda de Lucerys ainda a consumia por dentro. Com as mãos trêmulas, ela apertou os pedaços de Arrax contra o peito. Não havia mais nada ali. Só um vazio profundo.
Ela olhou para o mar mais uma vez, mas não encontrou nada além de dor. Aquele cenário parecia tão distante, como se nada mais tivesse sentido.
Finalmente, ela caminhou até Syrax, que estava quieta, esperando. Quando montou, o peso da dor ainda estava ali, mas não havia mais lágrimas para derramar. Só o vazio.
Syrax rasgou os céus, e Rhaenyra olhou para trás, uma última vez. A praia, o mar, os pedaços de Arrax — tudo isso ficava para trás.
129 d.C. Winterfell
A época mais fria do ano se tornou ainda mais fria em Winterfell, tornando a muralha ainda mais desolada. O vento cortante soprava sem piedade, atingindo um rosto pálido, de traços austeros, e cabelos dourados que brilhavam sob a luz tímida do céu cinzento. As vestes pesadas e as luvas reforçadas pareciam incapazes de aquecer aquele corpo, que tremia, mas não apenas pelo frio.
Havia algo mais. Algo que o vento sussurrava, algo que se escondia entre as sombras do gelo e da pedra. Uma inquietação o consumia, uma angústia que apertava seu peito e tornava a respiração pesada. Ele se deteve, os olhos fixos na imensidão branca, como se procurasse uma resposta.
Mesmo que suas preces aos deuses antigos buscassem conforto, a sensação de que sua alma estava ligada a algo – ou alguém – além de seu entendimento não o abandonava. Quem era ele, e o que, ou quem, despertava tamanha tormenta em seu ser?
⋆°. — Quem é viva sempre aparece né?
𐙚⋆°.— Gente desculpa a demora mas finalmente eu voltei oficialmente!
𐙚⋆°.— Quero atualizar com mais frequência também.
𐙚⋆°.— Gente como o lucerys perdeu a memória e a Katherine nomeou ele de Lucas até ele descobrir certas coisas os povs dele serão com o nome Lucas.
𐙚⋆°.— gente prestem muita atenção nas ações da Rhaenyra agora, até o final no ato I ela vai
fazer muitas coisas.
E OLHEM A NOVA CAPA DE AZUL REAL .
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