✦CAPÍTULO 33✦
Rayssa Sidney
A PEDIDO DA DONA ALBERTA, eu, Lúcia e Edmundo fomos à feira comprar coisas para o almoço, como legumes, verduras, leite e algumas especiarias.
— O que acha de levarmos alguns tomates? — perguntei a Lúcia em frente a banca cheia de tomates.
— Acho excelente. Tia Alberta sabe fazer um molho de tomates maravilhoso — contou Lúcia, selecionando algumas batatas.
— Ed, você poderia me ajudar com...— Olhei ao redor, procurando-o, mas ele havia sumido. — Cadê o Edmundo?
— Não sei — disse Lúcia, procurando o moreno pelo mercado. Nos encaramos por um momento, sabendo exatamente onde ele estava.
— Eu não acredito.
Pagamos as verduras e fomos até o galpão onde estava ocorrendo as listagens para a o exército. Edmundo estava na fila, sendo atendido.
— Edmundo. — Lúcia chamou, fazendo todos nos olharem. — Você veio para nos ajudar com as compras.
No mesmo instante, um dos rapazes na fila começou a rir.
— Mais sorte na próxima, fedelho — zombou.
De cara fechada, Edmundo saiu do galpão acompanhado por nós duas.
— Fedelho?! — ele começou, pegando a caixa com as compras das mãos de Lúcia. — Ele era no máximo dois anos mais velho. Eu sou rei, estive em guerras e liderei exércitos.
— Não neste mundo. — O lembrei, colocando algumas sacolas na cesta da bicicleta, enquanto ele amarrava a caixa na garupa.
— Pois é, mas estou preso aqui, brigando com Eustáquio Clarêncio Mísero — murmurou. — Ele bem merece o nome que tem.
— Você não era muito diferente dele — resmunguei.
— Está insinuando o quê?
— Nada. Só estou dizendo que você precisa aprender a conviver com ele, só isso — esclareci.
— Para você é fácil falar, ele é afim de você — falou, voltando a arrumar a caixa e me deixando atônita.
— Pare de falar besteira! — Intervim, envergonhada.
Edmundo direcionou sua atenção em mim e sorriu de lado. Ele sabia que aquilo me deixaria sem graça. Um segundo depois, olhou para Lúcia que prestava atenção em outro lugar.
— O que foi? — Edmundo a olhou com atenção.
— Nada — disse de repente, nos olhando. — Anda logo.
Lúcia pegou a bicicleta e foi na frente. Eu e Edmundo nos olhamos sem entender.
— O que deu nela? — ele perguntou.
— Não sei, nunca a vi desse jeito — respondi.
— Vocês mulheres são estranhas — comentou Edmundo.
— Ei! — intervim. Ele segurou o riso.
— Você fica linda quando está brava.
Revirei os olhos. Ele começou a rir.
Logo chegamos em casa.
— Chegamos — avisei, assim que passamos pela porta.
— Oi tio Arnaldo. Tentei comprar cenouras, mas só tinha nabos mesmo — disse Lúcia, quando passou por ele que lia um jornal. — Quer que a gente comece a fazer o almoço? Tio Arnaldo? — Chamou, mas ele não deu atenção.
Feito isso, Edmundo aproveitou para lhe dar língua.
— Pai, o Edmundo está fazendo careta para você — fofocou Eustáquio, jogando logo em seguida uma bolinha de papel no pescoço de Edmundo, que correu irado atrás de Eustáquio.
— Rayssa é para você — Lúcia me entregou duas cartas. Uma estava com o nome de Bella e a outra com o nome mamãe.
Lúcia foi até as escadas.
— Edmundo olha — ela mostrou a carta. — Carta da Susana.
Edmundo parou na mesma hora. Fomos para o quarto e sem esperar mais, abri a primeira carta.
"Olá irmã, como vai? Sinto sua falta. As coisas não são as mesmas sem você, mamãe e papai. Eu soube que nossa mãe está trabalhando muito e já esteve em vários lugares. Posso dizer que estou feliz por estar aqui. Pedro e eu estamos bem, assim como Susana. Estou dividindo meu apartamento com ela e Pedro está ocupando o apartamento ao lado. Tenho vivido muitas aventuras, nada comparadas a Nárnia, claro, mas ainda sim satisfatórias. Estou aproveitando meus estudos para pregar a palavra de Deus. Não é fácil, mas tenho feito o possível. Espero que também esteja feliz morando com os Míseros. Ainda não tenho previsão de volta, mas acredito que não vá passar de alguns meses. Te amo!"
Ass: Bella Sidney.
Terminei a carta, e passei para a outra.
"Oi, minha querida. Estou com saudades. Sinto muito não ter mandado notícias antes, eu estava muito atarefada, mas graças a Deus estou bem. Apesar de ficar longe de você, estou gostando do emprego. No momento, estou em Paris. É linda, cheia de vida e com pessoas muito educadas. Semana que vem vou para Washington, e vou aproveitar para dar um oi a sua irmã. Espero que não fique chateada de eu dizer que terei que viajar por mais alguns meses. Eu te amo muito."
Ass: Aurora(mamãe).
Mais alguns meses? Não sabia se iria aguentar as discussões de Edmundo e Eustáquio por mais alguns meses. Dobrei as cartas e as guardei na cômoda.
— Mais uns meses, como vamos sobreviver? — escutei Lúcia reclamar.
— O que foi? — Me aproximei dos dois.
— Susana disse que teremos que passar mais alguns meses aqui — explicou, dobrando a carta.
— Bom, então somos duas. Também vou ter que passar mais alguns meses aqui.
— Vocês têm sorte — começou Edmundo, pegando a carta da mão da Lúcia. — Pelo menos vocês dormem no mesmo quarto, já eu tenho que dividir o quarto com aquele chato.
— Pedro e Susana que são sortudos — corrigiu Lúcia, se levantando da cama, enquanto Edmundo se deitou nela. Tomei o lugar da Pevensie caçula.
— É, eles são mais velhos e nós somos mais novos — falou Edmundo relendo a carta da Susana. — Não somos tão importantes.
— Pelo menos vamos poder ficar juntos. — Tentei mostrar o lado bom de tudo.
— Pensando por este lado, não é tão ruim assim. — Edmundo disse, me encarando. Senti meu rosto queimar.
— Vocês me acham parecida com a Susana? — Lúcia perguntou em frente ao espelho. Antes que pudesse responder, Edmundo se levantou.
— Vocês já tinham notado este barco? — se referiu ao barco pintado em um quadro na parede.
— Já. É bem estilo de Nárnia — respondeu a mais nova, se aproximando da pintura. Me posicionei ao seu lado, lembrando de como seria maravilhoso voltar para lá.
— Isso só serve para nos lembrar que estamos aqui e não lá — comentou Edmundo, descontente.
— Era uma vez, órfãos desocupados que acreditavam em Nárnia e em contos de livros empoeirados — zombou Eustáquio, entrando no quarto.
— Agora você apanha. — Ed ameaçou, dando um passo à frente.
— Não Edmundo, não vale a pena. — Segurei seu braço.
— Não sabe bater? — perguntou Edmundo com raiva.
— A casa é minha, entro onde eu quiser, são só convidados — defendeu-se, sentado na beira da cama da Lúcia. Voltamos nossa atenção para o quadro. — O que há de tão especial em uma pintura? É horrorosa.
— Não dá para ver do outro lado da porta — retrucou Edmundo sem se dar o trabalho de tirar os olhos do quadro.
— Parece até que a água tá se mexendo — comentei, notando algo diferente.
— Quanta bobagem! É nisso que dá ficar lendo livros imaginários de contos de fadas. — Eustáquio acusou. Esses dois vão acabar me deixando louca.
— Era uma vez, Eustáquio, o chato, só lia livros inúteis de fato. — Edmundo rimou em resposta, arrancando um sorriso meu e de sua irmã.
— Gente que ler sempre contos de fadas vira sempre um fardo horroroso para gente culta como eu. — Apontou o Eustáquio, fazendo Edmundo o encarar com cara de poucos amigos.
— Fardo horroroso? — perguntou indignado.
"Lá vem briga", pensei. Resolvi prestar mais atenção no quadro. Não sei era coisa da minha cabeça, mas a água realmente começou a se mexer.
— Lú, você tá vendo o mesmo que eu? — perguntei perplexa.
— Sim. —respondeu surpresa. — Edmundo, olha isso!
Um vento forte saiu do quadro e com ela gotas de água. Olhei para os dois garotos que não paravam de discutir. De repente, a água começou a sair do quadro e a cair no chão de madeira do quarto.
— O que é isso? — perguntou Eustáquio, assustado. — Parem agora, se não eu vou contar para a mamãe.
Eu, Edmundo e Lúcia nos entreolhamos esperançosos.
— Eu vou pisar nesse quadro mofado. — falou Eustáquio, pegando a pintura.
— Não Eustáquio, para! — pedi, tentando pegar o quadro dele.
Por conta da água, deixamos a pintura cair no chão, o que fez o quarto inundar em poucos segundos. Debaixo d'água consegui ver os outros nadando para cima. Ainda um pouco desnorteada, os segui. Para a minha surpresa, estávamos em mar aberto.
Mais a frente, vi um enorme navio se aproximando. O mesmo navio da pintura.
— Nadem! — mandei
Logo pude ver pessoas pulando do navio e nadando até nós. Tentei me afastar, por medo de serem piratas, porém algo me segurou.
— Tudo bem. Calma, respira. — pediu. Olhei para a pessoa e me surpreendi.
— Will! — exclamei, surpresa. Will foi um dos meus sequestradores da última vez que estivemos aqui, e que no final de tudo acabou me salvando.
— Oi Princesa — respondeu.
— Edmundo é o Caspian. — Lúcia gritou.
— Estamos em Nárnia? — perguntei para Will.
— Sim, estão em Nárnia.
Aquela com certeza havia sido a melhor notícia do ano. Com a ajuda de Will subi no navio por meio de uma prancha que foi puxada por marujos. Vi Caspian juntamente com Lúcia, mais a frente.
— Caspian! — O chamei, fazendo-o se virar.
— Rayssa. — pronunciou vindo até mim e me abraçando. — Você está maior. Está mais bonita. — elogiou.
— Obrigada. — Sorri. Caspian estava um pouco mais velho, com a barba por fazer, mas seu cabelo continuava grande. — Essa barba caiu bem em você.
— Obrigado. — Devolveu o sorriso e me entregou uma toalha.
— É bom te ver Caspian. — disse Edmundo.
— Também é bom ver você Edmundo. — Os dois apertaram as mãos.
— Você nos chamou? — perguntei.
— Não desta vez — respondeu.
Estranho. Sempre que viemos à Nárnia era porque precisam da nossa ajuda. Pelo olhar dos Pevensie dava para ver que pensavam a mesma coisa que eu.
— Bom, do mesmo jeito é um prazer estar aqui. — Edmundo admitiu cortando o silêncio. Não pude conter um sorriso de orelha a orelha.
Escutamos um grito, vindo de algum lugar do convés. Eustáquio estava no chão se debatendo, quando um ratinho muito conhecido foi arremessado no chão.
— Reepicheep! — exclamei, alegremente. Ele se virou para mim.
— Alteza! É um prazer revê-la, assim como as vossas Majestades. — falou, fazendo uma reverência.
— Oi Reepicheep — cumprimentou Lúcia, sorrindo. —É bom te ver.
— Concordo Majestade — respondeu o ratinho, cavalheiro como sempre. — Mas agora o que faremos com este intruso histérico. — Se referiu a Eustáquio.
Olhei para o loiro.
— Esse rato gigantesco quase arranhou a minha cara toda — acusou, apontando para Reepicheep.
— Eu só tentei tirar a água dos seus pulmões, rapazinho. — Reepicheep se defendeu.
— Ele falou, vocês ouviram? — disse Eustáquio, surpreso e assustado. — Alguém mais ouviu? Ele falou.
— Ele fala sempre. — Um dos marujos contou.
— Verdade, fazer ele se calar é difícil — comentou Caspian, brincalhão, fazendo todos a bordo rirem.
— Quando não houver nada a dizer senhor, eu prometo que não direi — disse o pequeno ratinho a Caspian.
— Eu não sei que brincadeira é essa, mas eu quero acordar agora! — gritou Eustáquio.
— Eustáquio se acalme — pedi.
— O que acham de jogarmos ele de volta ao mar? — Repicheep propôs.
Olhei para Lúcia e depois para Edmundo que parecia pensar na proposta.
— Edmundo! — Lúcia o repreendeu.
— Eu exijo saber aonde eu estou, agora! — gritou Eustáquio, batendo o pé.
— Está no Peregrino da Alvorada, o melhor navio da marinha de Nárnia — um minotauro respondeu.
Não esperando ver a criatura, Eustáquio desmaiou, fazendo mais uma vez os marujos rirem.
— Fiz alguma coisa errada? — perguntou o minotauro.
— Cuida dele, por favor. — Caspian pediu e subiu alguns degraus que davam para o convés. — Homens, vejam nossos náufragos. Edmundo, O Justo. Lúcia, A Destemida. E Rayssa, A Valente. Grandes Rei, Rainha e Princesa de Nárnia.
Ao dizer isso, todos se curvaram em respeito. Posso dizer que finalmente estava em casa de novo e esperava que nossa estadia aqui não acabasse tão rápido desta vez.
Que capítulo incrível! Finalmente nossos protagonistas voltaram a nossa amada Nárnia. Não esqueçam de deixar nos comentários o que acharam e de deixar a estrelinha para me ajudar.
Até a próxima! Deus os abençoe.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top