✦CAPÍTULO 30✦
Rayssa Sidney
APÓS A COROAÇÃO DE CASPIAN, saímos a cavalo pelas ruas de Telmar. Todos festejavam com a ascensão do novo rei.
— VIDA LONGA AO REI!
Quando a noite chegou, nos reunimos no palácio para um grande banquete.
— Que delícia! — exclamei comendo um salgadinho.
— Desse jeito você vai acabar com a comida — brincou Lúcia que apenas me assistia comer tudo que eu via pela mesa.
— Quase ninguém está comendo, vai acabar sobrando. — Pisquei para ela. A pequena balançou a cabeça, rindo.
— Com licença. — Pediu Caspian se aproximando. — Me concederia essa dança?
Me estendeu a mão, me deixando surpresa.
— É claro — respondi, sorrindo.
Coloquei minha mão sobre a dele e fomos para o meio do salão. Começamos a dançar.
— Se me permite dizer, vossa Alteza está muito bonita esta noite — elogiou brincalhão.
— Ah, obrigada. Vossa Majestade não está tão mal hoje — brinquei de volta. Rimos.
Reparei que ele não parava de olhar para Susana.
— Por que não chama ela pra dançar?
Caspian olhou para mim.
— O que?
— Susana. Por que não a chama para dançar?
— Acho melhor não.
— Está com medo?
Caspian engoliu em seco.
— E se ela não aceitar?
— Você nunca saberá se não tentar.
Ele suspirou e me olhou.
— Está bem, mas antes quero que me prometa uma coisa — falou. Ergui uma sobrancelha. — Me prometa que vai falar com Edmundo.
— O que ele tem? — Franzi a testa.
— Ele está se corroendo de ciúmes. — Me olhou de forma cúmplice, me fazendo corar.
— Ciúmes? Mas por quê?
— Não sei, você terá que descobrir — Caspian sorriu.
Bufei.
— Vai logo chamar Susana pra dançar — falei sem paciência.
Nos separamos e fizemos reverência um para o outro. O observei indo até Susana e a convidando para dançar. Obviamente ela aceitou. Sorri. Esses dois foram feitos um para o outro.
Respirei fundo e fui procurar Edmundo.
O encontrei encostado em uma das sacadas. Ele ficava extremamente lindo naquela posição.
Me encostei na sacada ao seu lado e fiquei calada, apenas observando as estrelas. Escutei ele dando um suspiro.
— Você está bem? — perguntei, quebrando o silêncio.
— Claro, por que não estaria?
— Por nada — disse um pouco sem jeito.
— Já cansou de dançar? — perguntou sério.
— Mais ou menos. E você, por que não está dançando?
— Não é da sua conta — disse ríspido.
— Nossa! Eu só queria conversar, mas parece que Vossa Majestade não sabe ser gentil — me alterei e virei para sair dali.
De repente, senti sua mão segurando o meu braço e me puxando para si.
— Me desculpa, Rayssa. Eu não queria ser grosso com você.
— Não foi o que pareceu — respondi, sentindo o sangue ferver.
Edmundo suspirou.
— Eu estava com ciúmes — falou tão baixinho que quase não ouvi.
— Por quê?
— Porque eu não gostei de te ver dançando com Caspian. Queria que fosse comigo.
— Edmundo, ele me chamou para dançar. Se você queria tanto dançar comigo, deveria ter me convidado.
— Me desculpa — pediu colocando sua testa na minha.
Apesar de ter ficado chateada, não consegui permanecer com raiva por muito tempo. Me afastei dele.
— Você não me pega!
Comecei a correr.
— Ah é? Ele correu atrás de mim.
Corremos pela sacada até que ele conseguiu me pegar.
— Te peguei. Acho que mereço uma recompensa — ele disse com um sorrisinho malicioso.
— Hum, será? — Ele apertou minha cintura com as duas mãos e se aproximou mais de mim.
— Com certeza.
Sorri, antes de seus lábios encostarem nos meus. Um beijo calmo e doce, sem malícia, como da primeira vez. Minha vontade era de ficar em seus braços para sempre, mas infelizmente isso não seria possível. Pelo menos não agora.
Paramos o beijo após um tempo. Levei um susto quando ouvi alguém assobiar.
— Eu falei que ia ter outra cunhada — disse Lúcia parada ao lado de Susana, Bella e Pedro, que nos observam sorrindo.
— Beijou, agora tem que casar — brincou Bella.
— Acho uma ótima ideia — comentou Edmundo, me encarando.
Lhe empurrei de leve como forma de repreensão, sentindo meu rosto queimar de vergonha. Todos riram.
— O que estão fazendo aqui fora? — perguntou Caspian se aproximando. — Vamos aproveitar a festa.
Entramos e vi que todos estavam dançando algo coreografado e animado. A alegria era tanta que chegava a ser contagiosa.
— Ótima comemoração — escutei uma voz impossível de não reconhecer.
— Aslam!
— Aslam, que bom que veio — disse Caspian com um sorriso enorme.
— Fico feliz por ter vindo — retribuiu o sorriso.
Com entusiasmo, fomos todos para o meio do salão onde iniciamos uma dança alegre e divertida.
***
No dia seguinte...
Parei em frente ao espelho do quarto, analisando o vestido rosa claro e rodado e gostei do resultado. Nada extravagante ou exagerado. Simples e bonito.
Em poucos minutos Caspian faria seu primeiro pronunciamento como rei ao povo e me recordei do meu primeiro discurso. Eu não havia sido tão ruim, se não fosse pelo fato de eu ter saudado todos com "A paz do Senhor", o que gerou grande risada em Bella, mas para os narnianos foi normal e me senti mais aliviada.
Ri com as lembranças e desejei que Caspian fosse bem, afinal era bem normal tremer diante do público.
Saí do quarto e desci as escadas. Já fora do palácio, descemos mais alguns degraus. Andei até o pátio onde seria a "reunião". Notei que Edmundo já estava lá. Quando me viu seus lábios fizeram algo um "Uau", o que me fez corar.
Subimos em cima do palanque. Mais atrás havia uma árvore e vista para as montanhas. Me perdi um pouco naquele horizonte.
— É lindo não é? — disse Bella. Olhos pareciam um pouco tristes, mas ainda sim sorria.
— Sim.
Esperamos todos chegarem e Caspian finalmente começou seu pronunciamento.
— Nárnia pertence aos narnianos tanto quanto aos homens. Qualquer telmarino que quiser entrar e viver em paz é bem-vindo, mas aquele que desejar, Aslan o levará para a terra de nossos antepassados.
— Já faz gerações que nós deixamos Telmar — contou um súdito.
— Não nos referimos a Telmar. Seus antepassados foram marinheiros errantes, piratas arrastados para uma ilha. Nela acharam uma caverna, uma fenda entre este e o outro mundo — explicou Aslam. — O mesmo mundo de nossos Reis, Rainhas e Princesas. — ele nos olhou.
Fiquei sem acreditar. Tudo estava interligado. Isso quer dizer que outros de nós estiveram aqui, tanto quanto daqui de Nárnia lá.
Aslam continuou.
— É para essa ilha que posso deportá-los. É um bom lugar para quem queira recomeçar. — Terminou e tudo ficou em silêncio.
Fitei a multidão, esperando alguém se manifestar.
— Eu vou — alguém na multidão disse. Me surpreendi quando vi quem era. — Eu aceito a proposta. — disse o ex-general do exército telmarino.
Ele andou até a frente.
— E nós também. — disse a tia de Caspian, segurando o bebê. Ela e mais um lorde caminharam até a frente.
— Porque foram os primeiros a decidir, vocês serão felizes nesse outro mundo. — Aslam soprou em seus rostos.
A árvore começou a se abrir, revelando um portal. Os três andaram até ele, mas antes o general me cumprimentou com aceno de cabeça, o qual retribui e sumiram. Ouvi sons de surpresa.
— Como vamos saber que não estão nos levando para a morte? — Alguém da multidão gritou.
"Meu querido, se você soubesse quem Aslam é...", pensei.
— Senhor... Se meu exemplo pode servir de alguma coisa, passarei com onze ratos sem demora — se prontificou Reepicheep.
Senti uma tensão paira sobre nós. Olhei para Pedro que tinha um pesar nos olhos, assim como Bella. Ele tomou fôlego e olhou para frente.
— Nós iremos — disse dando um passo à frente.
— Iremos? — Edmundo perguntou, sem entender.
— Vamos embora. Chegou a nossa hora — ele se virou para Caspian e andou até o mesmo. — Afinal, não precisam mais de nós aqui.
Ele entregou sua espada à Caspian.
— Vou cuidar de tudo até que voltem. — Caspian disse com determinação.
— Esse é o problema. — Susana se manifestou pela primeira vez. — Não vamos voltar.
Olhei para Bella e a mesma estava olhando para o chão. Então era isso que a preocupava.
— Não vamos? — Lúcia olhou para Pedro.
— Vocês três vão — Pedro respondeu se referindo a mim, Lu, e Ed. — Pelo menos, foi o que ele disse. — Apontou a cabeça para Aslam.
— Por quê? Eles fizeram alguma besteira?
— Pelo contrário, querida! Mas tudo tem o seu tempo. — Aslam explicou calmamente. — Seu irmão e sua irmã, assim como Bella, aprenderam o que podiam neste mundo. É hora deles viverem por conta própria.
Pedro se aproximou de Lúcia e segurou suas mãos.
—Tudo bem, Lu. É tudo muito diferente do que eu pensava. Mas estou conformado. Um dia você compreenderá. Vamos.
Fui me despedir dos meus amigos. O primeiro foi Reepicheep. O cumprimentei com uma reverência e ele fez o mesmo.
— Vou sentir sua falta — admiti.
— Também sentirei a sua Alteza! Mas sei que em breve nos veremos de novo.
Sorri. Me abaixei e o puxei para um abraço.
Depois disso, fui até Trumplink que se segurava para não chorar. Sem demora o abracei sendo correspondida imediatamente. Me afastei para poder vê-lo melhor.
— Não se esqueça de mim — pediu. Segurei as lágrimas e lhe dei um sorriso emocionado.
— Você também não se esqueça de mim, meu caro amiguinho.
Foi a vez de Caspian.
— Gostei de te conhecer — falei. Ele sorriu.
— Obrigado.
— Pelo quê? — franzi a testa.
— Por ter me aconselhado no momento em que mais precisei. Por ter me ajudado. Você realmente é uma grande amiga.
Sorri ainda mais emocionada. Vai ser difícil segurar o choro desse jeito. Pulei para abraçá-lo.
— De nada.— Eu disse em seu ouvido. Nos afastamos.
Agora só faltava um que acreditava ser o mais difícil.
Parei na frente de Aslam não contendo as lágrimas. O abracei logo em seguida.
— Não chore querida — Aslam pediu.
— Eu queria ficar — falei com a cabeça em sua juba.
— Eu sei, mas você entenderá que tudo tem um propósito.
Me desprendi e virei para frente. Vi Susana e Caspian se beijando. Pena que eles não podiam ficar juntos, mas como Aslam disse, tudo nessa vida tem um propósito.
Me ajuntei dos outros.
— Acho que quando eu for mais velha eu vou entender — murmurou Lúcia.
— Eu sou mais velho e acho que não quero entender. — Edmundo disse e me olhou. Levantei uma sobrancelha.
Susana se juntou a nós e ficamos um do lado do outro. Era hora de partir.
Entramos no portal, e assim como da primeira vez em Nárnia, foram segundos até nos encontrarmos novamente no ponto inicial de tudo. A estação de trem.
Olhei ao redor. Era como se nada tivesse acontecido. Olhei minhas roupas e estavam intactas. Por hábito, toquei em meu pescoço e senti o colar que minha mãe deu. Tinha esquecido que não estava com ele em Nárnia.
O trem parou e a porta se abriu. Vi alguns passageiros descerem, enquanto outros entravam.
— Você não vem Files? — perguntou o garoto que Susana conversava na banca de jornais, no dia em que nos encontramos.
Nos entre olhamos e sem demora pegamos nossas malas e entramos no trem.
— Será que tem como voltarmos? — Edmundo perguntou mexendo em sua bolsa. — Eu deixei minha lanterna nova em Nárnia.
Começamos a rir.
Podíamos não estar em Nárnia, mas pelo menos estávamos juntos. E sei que ainda tinha muita coisa pela frente.
CONTINUA...
Alguém mais se emocionou junto comigo?
Muito obrigada por lerem, não esqueça de deixar a estrelinha.
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