Bella Sidney

DE REPENTE OUVIMOS um barulho de carro. Corremos até a beira da estrada de chão. O carro passou direto por nós, nos deixando frustrados.

Não demorou muito vimos uma mulher vindo em nossa direção em cima de uma carroça e parou bem à nossa frente.

— A senhora é a dona Marta? — perguntou Pedro, incerto.

— Queria que não fosse — disse ela, séria. — O que estão esperando? Subam.

Assim fizemos.

Pedro estendeu sua mão, me ajudando a subir, porém sua puxada foi um pouco forte demais e acabei dando alguns passos a mais em sua direção, ficando bem próxima dele. Nos encaramos alguns segundos, seus olhos azuis grudados nos meus.

Pedro deu um sorrisinho e isso serviu para me acordar. Devolvi o sorriso, soltando sua mão e procurando um lugar para sentar, enquanto tentava esconder meu rosto vermelho.

Sentei ao lado de Pedro e de Susana. Por conta do receio e da forma como D. Marta nos tratou, fomos o caminho todos calados.

Quando estávamos chegando pude ver uma casa enorme. Na verdade uma mansão. Ela era linda e possuía um jardim enorme na frente. Fiquei encantada com tanta beleza.

D. Marta parou a carroça e descemos.

— Por aqui — disse D. Marta e a seguimos para o interior da casa.

Ela era ainda mais impressionante por dentro. O chão parecia ser coberto por mármore e chegava a brilhar de tão limpo. Chegamos às escadas que também eram grandes e parecia que levava a outros corredores.

— Agora as regras. — Pronunciou D. Marta. — É proibido gritar, correr, brincar nas escadas. "NÃO toquem em nada."— gritou quando Susana ia tocar em um móvel. — E o mais importante nunca incomodem o professor.

A seguimos até um corredor com várias portas.

— O quarto de vocês duas — apontou D. Marta para Susana e Lúcia. — Será na segunda porta à esquerda.

— A de vocês dois — disse para Pedro e Edmundo. — Será a segunda porta à direita.

— E a de vocês duas — disse para mim e Rayssa. — Será a última, aquela lá no fundo.

Olhamos para onde ela estava apontando. Devo admitir que fiquei com um pouco de medo do lugar.

— Vão e se arrumem para o jantar. E não se atrasem! — mandou D. Marta, por fim.

Ficamos calados e ela se foi.

— Esse lugar dá medo. — disse Lúcia se encolhendo ao lado de Susana.

— Talvez tenham fantasmas e monstros aqui — disse Edmundo tentando fazer medo em Lúcia.

— Para Edmundo! — Rayssa o repreendeu. — Lúcia não tem nada disso aqui, não se preocupe.

— Então, até daqui a pouco pessoal. — Eu disse indo para o quarto.

— Até! — disseram juntos.

Entramos no quarto e vi que tinha duas camas de solteiro, duas cômodas, uma prateleira com livros e uma janela com vista para o jardim. Apesar de antigos, os móveis pareciam em perfeitas condições.

— Quem vai tomar banho primeiro? — perguntei.

— Pode ser você. Vou ajeitar nossas coisas — disse Rayssa tirando as coisas de sua mala.

— Tudo bem.

Peguei as coisas que seriam necessárias para usar e entrei no banheiro.

Liguei o chuveiro. A água estava fria.

Comecei a pensar em tudo que estava acontecendo. Na guerra, na minha família. Me perguntava quando tudo teria um fim.

Não demorei e logo saí do banho.

— Sua vez. — Avisei minha irmã.

Optei por colocar um vestido branco, cinza e preto meio rodado até os joelhos. Arrumei meu cabelo em um rabo de cavalo.

Vi minha bíblia em cima da cômoda e resolvi ler.

Provérbios 3: 5-6

"Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas."

Acabei de ler e continuei esperando a Rayssa.

 Rayssa Sidney

MINHA CABEÇA ESTAVA a mil, sentia que a qualquer momento podia acabar tendo uma crise de enxaqueca. Então para me acalmar, comecei a cantar sentindo a água escorrendo pelo meu corpo.

"Aquieta minh'alma, faz meu coração ouvir tua voz. Me chama pra perto só assim eu não me sinto só. Porque na verdade eu descobri que tudo que eu preciso está em ti, mas meu coração é teimoso demais pra admitir. Sei que depender é como viver perigosamente, mas eu preciso acreditar e confiar no que você me diz.

E mesmo que minh'alma grite, e tente me fazer voltar atrás eu vou confirmar, eu vou descansar me lançar no teu amor, no teu amor Senhor.

O tempo não pode apagar as muitas águas nunca levarão o amor que você sente por mim eu sei que tudo vai se cumprir. Vai ser difícil eu sei largar tudo por você, mas eu sei que quando eu pensar em desistir. Você estará ao meu lado me segurando, me assegurando de que tudo vai ficar bem. E se eu cair a tua mão me levará e se eu chorar toda lágrima você enxugará."

Terminei de cantar e senti a paz do Senhor me invadir.

Sai do banheiro e Bella estava sentada na cama olhando o tempo passar.

— Demorou, hein! — disse assim que me viu.

— É, me empolguei cantando — falei, indo até a cômoda.

— Percebi — comentou, rindo.

Coloquei um vestido azul claro e arrumei o cabelo em uma trança de lado.

— Porque será que Edmundo é tão chato e bruto? — perguntei.

— Não sei, talvez seja por causa dos ataques e ter que ficar longe da mãe, não sei. — Bella respondeu também tentando entender. Fiquei pensativa.

— Por que a pergunta? — ela perguntou, curiosa.

— Nada, só estou querendo entender o porquê dele ser desse jeito. Parece até não ter sentimentos — expliquei calçando uma sapatilha azul.

— Por que é tão dura com ele? — perguntou.

— Não sou dura com ele.

Bella me olhou com cara de "Fala sério"

— Tá! Talvez eu seja um pouco dura com ele. Mas é que eu não suporto esse jeito dele.

Pensei um pouco.

Desde que Edmundo e eu nos conhecemos não nos demos bem. Ele era um cabeça dura e de alguma forma aquilo me tirava do sério.

— Tá, talvez eu possa tentar — aceitei, mesmo achando uma tarefa extremamente difícil.

Bella sorriu e me abraçou feliz.

Ouvimos uma batida na porta.

Levantei e fui abrir. Eram Susana e Lúcia.

Lúcia foi logo entrando.

— Viemos chamar vocês para jantarmos — disse a Pevensie caçula.

— Ótimo, já estamos prontas — falou Bella se levantando e indo em direção a porta.

No corredor, os meninos estavam à nossa espera.

— Alguém sabe onde é a sala de jantar? — perguntou Pedro.

 Todos balançaram a cabeça negativamente e...

Continua...

O que estão achando? Cometem e votem.

Deus abençoe vocês!