✦CAPÍTULO 24✦

Rayssa Sidney

COMECEI A ME sentir tonta e cambaleei para trás, apenas não caí pois um par de braços me segurou.

— Ela está exausta, precisa deitar um pouco — disse Bella.

— Não precisa, estou bem.

— Não seja teimosa, por favor Edmundo a leve para a sala dos dormitórios — pediu Pedro.

Edmundo me colocou no colo e me levou para uma sala com várias camas.

— Desde quando temos um dormitório? — perguntei com um pouco de dificuldade.

— Desde de que chegamos aqui.

Edmundo me levou até uma das camas.

— Descanse.

Apenas assenti. Meus olhos começaram a pesar e tudo ficou escuro.

***

Bella Sidney

COLOQUEI A MÃO sobre o peito, sentindo-me preocupada.

— Ei, vai ficar tudo bem — disse Pedro, me tranquilizando.

— Acho que exageramos — comentei, olhando para ele.

Pedro não disse nada, mas concordou balançando a cabeça. Seu olhar passou para a imagem de Aslan cravada na parede da tumba, depois deu um suspiro e virou-se para mim.

— Você também precisa descansar — beijou minha mão e andou até a mesa de pedra, sentando-se em frente a parede.

Tive vontade de deixá-lo sozinho com seus pensamentos, mas talvez fosse a hora de resolver o que estava pendente. Me aproximei e sentei ao seu lado.

— Por que não vi o Aslam? — perguntou ele, após alguns segundos.

— Talvez não estivesse olhando — foi o que consegui dizer.

— Fiz tudo errado, não foi?

Segurei sua mão entre as minhas.

— Você aprendeu — Pedro olhou para mim.

— Queria não ser um rei ruim — admitiu.

— E você não é, mas agora é necessário deixar que Aslam faça as coisas.

— Como se eu nem consigo vê-lo?

— As vezes é necessário crer para ver — sorri.

Pedro abriu um pequeno sorriso e beijou minha mão.

— Me desculpa. Estive tão focado em compensar o tempo perdido que não percebi que o que eu realmente precisava estava bem do meu lado. Talvez se eu tivesse conversado com você antes não tivesse tomado tantas decisões ruins.

— Antes tarde do que nunca — brinquei rindo.

Sou o grande Rei Pedro, o Magnífico. E você será minha rainha.

Pedro me beijou e senti que finalmente não só o grande rei Pedro estava de volta, mas também meu namorado e isso era mais que suficiente para mim.

***

Rayssa Sidney

AO ACORDAR percebi que não havia ninguém no dormitório além de mim. Levantei, sentindo a cabeça um pouco pesada, o que me custou alguns segundos antes de sair do local. Peguei um corredor que me levou até uma abertura e além dela estava uma bela vista do bosque Narniano.

Sentado sozinho estava Caspian, olhando para o nada.

— Caspian. — O chamei, fazendo-o se virar.

Sentei ao seu lado.

— Por que está sozinho aqui? Está tudo bem?

Ele deu um longo suspiro.

— Sinto falta dele — contou e entendi que se referia ao pai.

— Entendo — falei, lembrando dos meus pais e de como sentia falta deles.

— Mas o teria decepcionado — continuou.

Encarei a lateral de seu rosto.

— Não fui forte o bastante para impedir que Miraz tomasse o trono.

— Eu discordo. — Me olhou surpreso. — Você fez tudo que estava ao seu alcance. Você lutou. Você tentou. Isso é uma coisa que nem todo mundo faz.

— Mas então, por que sinto que não foi suficiente? Por que Miraz continua no trono? — perguntou demonstrando o quanto está triste.

Pensei em uma resposta.

— Sabe, as vezes Deus permite que dificuldades grandes e que não entendemos aconteçam para nos preparar para algo muito maior que entendemos lá na frente.

— Quem é esse Deus que você tanto fala? — Caspian me olhou.

Sorri com sua curiosidade.

— É quem criou os céus e a terra, quem nos criou. Ele é Onipotente, Oniciente e Onipresente. O princípio e o fim. O alfa e o ômega. Foi Ele quem enviou o seu único filho para morrer em nosso lugar, para que um dia, possamos morar com Ele na cidade em que Ele mesmo foi preparar.

— Nossa! Ele parece Aslan.

Abri um sorriso.

— Acha que serei um bom rei algum dia? — perguntou, após alguns segundos.

— Não acho. Eu tenho certeza.

Farei o melhor por Nárnia, tem minha palavraafirmou.

Me levantei e após me despedir, segui por um caminho contrário, em direção a saída da tumba. Ao longe avistei Suzana e Bella treinando pontaria perto da floresta.

— Não acredito que estão me deixando de fora da diversão — falei, cruzando os braços.

Assisti Susana soltar sua flecha e acertar em cheio em um inimigo feito de pano.

— Dormiu bem? — perguntou Bella, segurando seu arco em uma mão e sua flecha na outra.

— Sim, aproveitei para conversar um pouco com Caspian, antes de vir para cá — respondi, descontraída.

— Ah é! E sobre o que?

— Certamente sobre um futuro casamento em Nárnia. — Suzana respondeu séria, atirando mais uma flecha.

— O que? Nada disso! Susana — ela me olhou. — Estávamos apenas conversando como amigos.

Ela concentrou seu olhar no meu por um tempo.

— Está bem, eu acredito em você. Me desculpe.

— Tudo bem, isso acontece, ainda mais quando se trata de alguém que gostamos. Né? — Seu rosto ficou vermelho, fazendo eu e Bella rirmos.

— Do que estão rindo? — perguntou Edmundo, aparecendo do nada.

— É que... — Susana me interrompeu.

— Não é nada — disse, pegando mais uma flecha.

Ed deu de ombros, parecendo se esquecer assim que seus olhos pousaram em mim. Um sorriso lindo brotou em seu rosto, me deixando nervosa e sem jeito.

— Majestades! Altezas! — chamou Trumpink, correndo até nós. Parecia apavorado.

— O que foi Trumpink? — Bella ficou séria.

— As tropas de Miraz — ele colocou as mãos nos joelhos para tomar fôlego. — Estão vindo em nossa direção.

Trocamos olhares assustados.

— Já avisou os outros? — Susana perguntou.

— Ainda não. Assim que os vi vim correndo avisá-los.

— Vou avisar o Pedro. — Correu Edmundo. Susana foi logo atrás.

— Precisamos sair daqui. Não é seguro — pronunciou o anão.

O acampamento parecia alarmado com a notícia dos telmarinos se aproximando. Nos reunimos em cima da tumba onde conseguimos ver Miraz e suas tropas chegando cada vez mais, com catapultas e milhares de soldados marchando em sincronia.

***

— Esse é seu melhor plano? Mandar uma menina à parte mais escura da floresta, sozinha?! — Se alterou Trumpink apontando para Lúcia.

— É a nossa única chance — explicou Pedro com calma.

— E ela não estará sozinha — interviu Susana se aproximando da irmã.

Trumpink andou até Lúcia. Seus olhos demonstraram o quanto estava tenso e preocupado.

— Não acha que já morreram muitos de nós?

— Nikabrik era meu amigo também — começou caça-trufas com lamento. — Mas perdeu a esperança. A rainha Lúcia não e muito menos eu.

Escutei um barulho de espada se desembainhando. Olhei para o lado e vi Reepicheep segurando sua espada.

— Por Aslan! — disse colocando sua espada no peito em sinal de honra.

— Por Aslan! — repetiu caça-trufas, determinado.

Pedro confirmou com a cabeça que era o certo a se fazer.

— Então eu vou com você. — disse o anão, decidido.

— Não! Precisamos de você aqui. — Lúcia colocou a mão no ombro do amigo.

— Temos que segurá-los até Lúcia e Susana retornarem. — Pedro esperou uma sugestão.

— Com licença — pediu Caspian, chamando nossa atenção.

O vi sentado ao lado do professor, antes de levantar e andar alguns passos a frente.

— Miraz pode ser um tirano assassino, — começou — mas como rei, está sujeito às tradições e expectativas dos seus súditos. — Olhou para Pedro. — Existe uma em particular que pode nos dar algum tempo.

— E qual seria esse particular?

— Um duelo até a morte! Podemos fazer um acordo. Tenho certeza que ele irá aceitar.

Pedro balançou a cabeça em concordância.

— Quem vai lutar? — Susana quis saber.

— Eu! — Pedro e eu respondemos juntos.

Todos nos encararam surpresos. Pedro andou em minha direção.

— Você não vai duelar — ordenou.

— Vou sim.

— Por quê?

— Porque eu quero lutar. Porque eu não quero que você se machuque. Eu não iria suportar ver algum de vocês morrendo. Vocês são minha família — desabafei.

— Mas eu sou o Rei.

— E eu sou a Princesa e a Guardiã. — Olhei dentro dos seus olhos.

— Não — disse, se virando para sair da sala.

— Por quê? Acha que não sou capaz. Acha que vou morrer? — Minha voz saiu alterada.

— Sim, acho que não é capaz e que vai morrer — gritou.

Me assustei com sua reação, mas não serviu para me abalar. Meu cunhado segurou minhas mãos.

— Você também é minha família. Preciso proteger você assim como todos aqui.

— Mas não precisa ser o único a proteger todos à sua volta. Me deixa lutar — Pedro olhou dentro dos meus olhos.

— Não — respondeu dando fim a nossa pequena discussão e se retirou da sala.

Percebi todos me olhando com pena. Me retirei da sala e sai da tumba.

Comecei a andar pelo acampamento sem rumo. "Por que o Pedro é tão teimoso? Eu só queria ajudar. Ele não precisa levar tudo nas costas, não é o único que tem que proteger aqueles que ama" Fiquei tão perdida em meus próprios pensamentos que nem percebi que estava na floresta.

Me virei para ir embora, porém fui surpreendida por dois guardas telmarinos, bem atrás de mim.

— Ora, ora. O que temos aqui? — disse um deles, com divertimento.

Notei que um era loiro e o outro era moreno. Os dois aparentam ter no máximo dezenove anos.

— Uma narniana — completou o moreno.

— O que acha de nos divertimos com ela? — O soldado loiro sugeriu me olhando com malicia. Meu coração ficou acelerado.

— Acho uma ótima ideia! — respondeu com um sorrisinho malicioso.

Procurei minha espada, mas lembrei que deixei tudo no acampamento, inclusive meu colar. Sem escolha, corri tentando fugir, porém um deles me alcançou e me prendeu pela cintura.

— Me solta! — gritei me debatendo.

— Olha ela fala! — disse o soldado moreno que me prendia pela cintura.

Parei de debater e encarei o outro telmarino a minha frente com um olhar mortal. Ele começou a rir e segurou a ponta do meu queixo.

— Você é muito bonita — disse me analisando. Desprendi o meu queixo da sua mão.

— Me soltem agora! — Ordenei.

Os dois riram.

— E por que faríamos isso?

— Porque se não me soltarem vão se dar muito mal — ameacei.

— Ui, que medo! — Zombou o soldado loiro.

Ele segurou meu queixo novamente, apertando com força.

— Quem você acha que é para nos ameaçar?

Balanço a cabeça para me desprender do seu aperto.

— A Princesa e a Guardiã de Nárnia — respondi, arrancando expressões surpresas de ambos.

— Você é Princesa? Parece que tiramos a sorte grande Will — disse o soldado loiro, sorrindo.

— Com certeza! — Me apertou mais, colando minhas costas no seu peitoral. — Vamos levá-la para o rei Miraz. Quem sabe ele não nos dá ela de presente.

Engoli em seco, me arrependendo do que havia feito.

O outro soldado amarrou minhas mãos com uma corda e começou a andar. Me debati e gritei por socorro, mas estamos longe demais do acampamento narniano.

Entrando no acampamento telmarino, recebi vários olhares me analisando com curiosidade. Fui levada até uma tenda, onde se encontrava Miraz e seus lordes, sentados atrás de uma mesa.

— Majestade, encontramos uma das princesas de Nárnia na floresta — informou, deixando todos na tenda surpresos.

Miraz me olhou e deu um risinho vitorioso.

— Acredito que seja a princesa Rayssa. Certo? — perguntou. Não respondi. — O gato comeu sua língua? — Os lordes riram.

— Talvez se me soltasse eu poderia lhe responder — respondi friamente.

— Mas quem me garante que não vai tentar fugir? — Miraz perguntou.

Olhei em volta. Era impossível fugir dali.

— Me solte e não vou tentar fugir — dei minha palavra, recebendo um olhar desconfiado do rei telmarino.

— Creio que não seja uma boa ideia meu rei — interveio um dos lordes, sentado à mesa. Seu rosto, já marcado pela idade, revelava que era um combatente.

Miraz não desviou seus olhos de mim.

— Eu prometo. — Insisti.

Ele fixou seu olhar no meu. Senti como se quisesse ler meus pensamentos.

— Soltem-na. — Sorri aliviada. — Mas se fizer alguma gracinha, saíra daqui morta — Miraz apontou sua espada para mim. Senti um calafrio percorrer todo o meu corpo, mas concordo mesmo assim.

O soldado moreno que se chamava Will, me soltou.

— Então,vai responder a minha pergunta? — indagou impaciente.

— Sim, sou a princesa Rayssa. — Passei as mãos pelos meus pulsos doloridos.

— Já pensam em se render?

— Nunca!

— Isso me surpreende muito, já que Caspian sempre foi um tolo fraco — disse com desprezo.

— Pois se engana. Caspian está muito mais forte do que imagina. Acho bom se prepararem para se renderem. — Miraz e seus homens riem como se tivessem ouvido uma piada.

— Acho que não princesa. Ainda mais agora que temos vocês como prisioneira. — Vi ódio em seus olhos. — Guardas prendam-na. Deixem ela sem água e sem comida.

O rei de Telmar se levantou e apontou sua espada para mim.

— Se não se renderem, você pagará com sua vida princesa.

Ele deu um sinal para os guardas que me tirassem da tenda.

Fui guiada pelo acampamento até um tronco de árvore seco, onde fui mais uma vez amarrada de forma brusca.

— Pena que teve que acabar assim princesa. Podíamos ter nos divertido tanto — lamento o loiro, passando sua mão pela minha bochecha.

Virei o rosto para o outro lado, arrancando uma risada dele, antes de se levantar. O outro apenas piscou para mim, com um sorrisinho malicioso e foram embora.

Percebi que estava em uma parte isolada do acampamento. Senti minha garganta arder e acabei deixando algumas lágrimas caírem.

Olhei para o céu.

— Deus, sei que está aí e que me escutas. Creio que vês a minha situação. Não sei porque o Senhor permitiu que eu entrasse nesse cativeiro, mas de uma coisa eu sei, o Senhor é o único que pode me ajudar. Estou apavorada, perdida. Me livra das coisas ruins que podem fazer comigo. Senhor me dá forças e me tira daqui. Em nome de Jesus. Amém!

CONTINUA...

Que capítulo foi esse minha gente???? Quem mais está ansioso para saber o que vai acontecer? Fiquem ligados nos próximos capítulos, pois teremos muitas emoções ainda.

Deus os abençoe!

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