✦CAPÍTULO 15✦

Rayssa Sidney

JADIS CAMINHOU ATÉ seu trono e se virou.

— Como vou saber se cumprirá a promessa?

Em resposta, Aslam deu um dos rugidos mais altos e ferozes que eu já tinha visto, fazendo a feiticeira cair sentada em seu trono, apavorada.

Todos gritaram e aplaudiram em comemoração. Abracei Edmundo.

— Eu disse que ficaria tudo bem — sussurrei em seu ouvido, enquanto o abraçava.

— Obrigado. — Sorriu.

— Pelo quê? — perguntei, me afastando e o suficiente para ver seu rosto.

— Por ter estado ao meu lado — disse tímido.

— Sempre estarei ao seu lado, Edmundo. — Retribui o sorriso, fazendo o dele aumentar.

Jadis tinha ido embora e senti um tremendo alívio por não ter mais que ver aquela bruxa. Olhei em direção a Aslam e o encontrando com uma expressão triste, o que fez momentaneamente minha alegria sumir, antes de vê-lo entrar na tenda.

Alguma coisa não estava certa.

— Rayssa, está tudo bem? — indagou Bella. Olhei para minha irmã e abri um sorriso, disfarçando as dúvidas em minha cabeça.

— Está — respondi, mas no fundo sabia que tinha alguma coisa de errado acontecendo.

Passei o resto do dia lembrando a expressão triste de Aslam e o que poderia ter acontecido. Edmundo estava bem e agora era livre. O que eu não tinha percebido?

De noite, fui para perto de um rio onde fiquei sentada vendo as estrelas.

— Rayssa. — Bella se aproximou. — O que está acontecendo? — Perguntou se sentando ao meu lado.

— Como assim? — A olhei sem entender.

— Desde que a Feiticeira se foi você tem agido de forma...estranha — comentou.

Suspirei, Bella nunca deixava passar nada.

— É que... — Pensei um pouco antes de responder. — Quando a Feiticeira foi embora, vi Aslam triste, muito, muito triste. Era para ele estar feliz, já que Edmundo foi absolvido. Então fiquei preocupada.

Bella balançou a cabeça, compreendendo a situação.

— Eu também percebi — contou. — Acha que pode estar acontecendo alguma coisa?

— Eu não sei — admiti, mas querendo profundamente saber.

— Seja lá o que for, sei que ele vai saber resolver.

Concordei. Aslam era muito mais que um leão e tinha uma sabedoria extraordinária. Sim, ele saberia o que fazer.

— Eu vou dormir — disse bocejando, após um tempo de conversa. — Você vem?

— Vou ficar mais um pouco — falei.

— Tome cuidado. Boa noite! — disse se levantando.

— Tá bom, mamãe. Boa noite! — eu disse rindo.

Quando minha irmã já estava longe dei um suspiro, voltando a olhar para as estrelas. Ouvi passos atrás de mim que fizeram meu coração disparar ao cogitar ser um intruso. Ao olhar para trás vi Edmundo.

— O que está fazendo aqui? — perguntou ele se sentando do meu lado.

— Apenas vendo as estrelas — respondi voltando a olhar o céu. Percebi que fez o mesmo. — Edmundo?

Ele olhou para mim.

— Por que você falou comigo daquele jeito antes de Jadis chegar?

— Que jeito? — perguntou sem entender.

— Com arrogância. Parecia que estava com raiva — eu disse.

Ele baixou a cabeça pensativo e olhou para o céu.

— Olha uma estrela cadente! — Apontado para cima. — É a primeira vez que vejo uma.

— Sério? Eu também — sorri. — Deus criou tudo tão perfeito.

— Não parece tão perfeito para mim. — Ele abaixou a cabeça.

— O que quer dizer? — perguntei olhando seu rosto com a pouca claridade que tinha.

— Por que há tanto mal? Tanta falta de amor? Tanta guerra? — Edmundo me olhou.

— Sei que está preocupado com sua mãe. Eu também estou. Meus pais estão em outro mundo em meio a uma guerra. Mas não devemos culpar Deus por isso — expliquei. — Ele nos deu o livre arbítrio para tomarmos nossas próprias decisões. Ele criou o bem e o mal, mas infelizmente a maioria das pessoas escolhem o mal. É por isso que existe tanta coisa ruim. Mas se escolhermos o bem podemos mudar as coisas e transformar o mundo em um lugar melhor.

Edmundo pareceu pensar.

— Pode ser — disse finalmente.

Permanecemos olhando as estrelas em silêncio.

— Eu já vou dormir — disse Edmundo, levantando.

Então lembrei que ele não havia me respondido.

— Edmundo, você não respondeu minha pergunta. — O lembrei.

— Ah é, mas sabe o que é? Eu tô com muito sono — disse, dando um bocejo em seguida.

— Edmundo! — exclamei.

— Tchau! — Correu.

Me levantei e fui atrás dele. Só consegui alcançá-lo quando ele entrou em sua tenda.

— Esse Edmundo — falei com as mão na cintura.

Decidi que também era a hora de dormir e fui para a tenda.

Bella Sidney

DEPOIS DE DEIXAR RAYSSA na beira do lago, minha primeira intenção foi ir diretamente para a tenda, porém o ar estava tão agradável que decidi ficar um pouco mais. O vento da noite vinha como uma calmaria, tirando de forma inexplicável todos os pensamentos que me afligiam.

O céu coberto por estrelas — tantas que era difícil contar — me prenderam com sua beleza.

— Atrapalho? — perguntou Pedro surgindo atrás de mim.

Minha primeira reação foi ficar assustada.

— Não, tudo bem — respondi mais tranquila.

O loiro se juntou a mim e ficamos em silêncio olhando as estrelas.

— Não me lembro da última vez que vi tantas estrelas — comentou ele.

Puxei o ar puro do acampamento de Aslam, antes de responder.

— Eu também não. Isso me encanta — respondi e me vi perdida outra vez naquela imensidão dos céus.

Você me encanta — disse Pedro, me fazendo olhar surpresa. Seus olhos azuis me encaravam de uma maneira diferente. Admiração, talvez.

Um frio subiu pelo meu estômago, surpresa com aquela declaração, junto aos meus batimentos cardíacos. Sem saber muito bem o que fazer, comecei a andar para trás pronta para ir embora, quando sua mão pegou a minha e me senti puxada para perto de seu corpo. Com uma de suas mãos na minha bochecha e outra na cintura, Pedro Pevensie juntou nossos lábios em um beijo lento.

Seus lábios macios tinham um calor gostoso e dançavam em um perfeito encaixe aos meus. Minhas sobrancelhas se ergueram com a atitude e lentamente minhas mãos passaram para seus cabelos loiros.

Encerramos o beijo com dois selinhos e me vi sorrindo ao encostar a testa com a sua.

— Você é cheio de surpresas — comentei sem deixar o sorriso morrer.

— É, eu tento — respondeu convencido e rimos.

Ele passou a mão sobre minha bochecha, antes de nos despedirmos e irmos cada um para sua tenda.

Rayssa Sidney

EU NÃO CONSEGUIA DORMIR. Por mais que tentasse, havia alguma coisa que me impedia de simplesmente adormecer. Meu peito estava pesado, estava aflito.

— Rayssa — Lúcia me chamou. Virei para ela. — Não consegue dormir?

Neguei com a cabeça.

— E você? — sussurrei.

— Também não.

Ficamos alguns segundos em silêncio até vermos a sombra de Aslam passando pela nossa tenda. Eu e Lúcia nos olhamos e fomos acordar as outras.

— Bella — chamei minha irmã que abriu os olhos lentamente.

Fui pegar minhas coisas e ela foi logo em seguida. Susana e Lúcia fizeram o mesmo. Saímos da tenda e começamos a seguir Aslam, tentando não sermos vistas.

— Não deveriam estar na cama? — perguntou Aslam de costa para nós.

Minhas sobrancelhas se ergueram. Nos olhamos e chegamos perto dele.

— Não conseguimos dormir — disse Lúcia.

— Por favor, Aslam. Não podemos ir com você? — perguntou Susana.

— Ficarei contente com a companhia por enquanto — respondeu o leão. — Obrigado.

Nos juntamos a ele e começamos a fazer carinho em seu pelo, indo o percurso todo assim.

— É a hora. Daqui devo seguir sozinho — disse Aslam.

— Mas Aslam...— tentei contestar, porém ele me interrompeu.

— Tem que confiar em mim, pois deve ser feito. Obrigado Bella. Obrigado Susana. Obrigado Lúcia. Obrigado Rayssa — agradeceu.

Não aguentando, corri para abraçá-lo. Quando o soltei, ele olhou para nós e disse :

— Adeus — e voltou a caminhar, desta vez sozinho.

Eu não entendia o que estava acontecendo, acho que nenhuma de nós entendia.

Susana colocou sua mão no ombro de Lúcia e começou a andar. A seguimos, seguindo Aslam de novo, mas desta vez sem que percebesse e nos escondemos atrás de alguns arbustos.

Aslam estava indo para a mesa de pedra, onde todo o exército da bruxa estava, inclusive a própria Jadis.

— Não estou gostando disso — comentou Bella assustada com o que via.

Todas aquelas criaturas do exército de Jadis gritavam e festejavam. A Feiticeira subiu em cima da mesa de pedra com um punhal em mãos.

— Observem, o grande leão! — gritou com deboche.

Todos começaram a rir.

— O que está acontecendo? — perguntou Susana sem entender.

— Eu não sei — respondi.

Então um minotauro jogou Aslam no chão, fazendo com que a zombaria aumentasse.

— Por que ele não reage? — perguntou Lúcia, desesperada.

— Amarrem o animal — Jadis mandou. Começaram a amarrá-lo.— Esperem! Tirem todo o pelo dele.

Assim o fizeram, tirando todo o seu pêlo enquanto zombavam e debochavam dele.

— Está parecendo a história que você nos contou Rayssa — disse Lúcia, me olhando.

Então minha ficha caiu. Tudo fazia sentido.

Olhei para Bella com vontade de chorar, sabendo exatamente o que fariam com ele. Ela me abraçou de lado. Ela também entendeu.

— Podem trazê-lo até mim — ordenou a feiticeira.

Puxaram Aslam com uma corda até a mesa de pedra. Todos estavam gritando e comemorando a derrota de Aslam. A bruxa fez um sinal para se calarem. Um silêncio se fez até começarem a bater cajados no chão e os gritos voltarem de novo.

A bruxa se ajoelhou perto de Aslam.

— Sabe Aslam, estou muito decepcionada com você. Achou mesmo que com tudo isso poderia salvar o traidor humano? Você vai me dar a sua vida, mas ninguém será salvo. É nisso que dá o amor — ela se levantou — Esta noite será desfeita a magia profunda, mas amanhã nós tomaremos Nárnia, para sempre!

Todos gritaram felizes.

— Consciente disso, desespere-se — disse levantando o punhal. — E MORRA! — E cravou o punhal na barriga de Aslam que aos poucos foi fechando os olhos. Estava morto.

Comecei a chorar como nunca antes. Aslam estava morto.

— O grande gato está MORTO! — gritou Jadis, levantando outra vez a comemoração do seu exército e suspirou aliviada com a vitória. — General, prepare suas tropas para a batalha. Por mais curta que ela possa ser.

Depois de todos irem embora, fomos até a mesa de pedra onde o corpo de Aslam se encontrava. Lúcia correu e se sentou do lado do leão, pegando seu elixir.

— É tarde — disse Susana, segurando as lágrimas que ainda restavam. — Se foi.

Subimos em cima da mesa de pedra e ficamos do lado do corpo sem vida de Aslam. Lúcia voltou a chorar.

— Ele sabia o que estava fazendo — disse Bella, como se fosse um consolo.

Nos encostamos nele e voltamos a chorar.

Ouvi ruídos. Levantei a cabeça e vi ratos.

— Saiam daqui! Saiam todos vocês! — exclamou Susana.

— Não. Olha! — eu disse, observando os roedores. Eles estavam roendo as cordas. Ajudamos a desatá-las.

— Temos que contar aos outros — disse Bella.

— Mas, não podemos deixá-lo — disse Lúcia.

— Mas eles precisam saber — insistiu — Não há mais tempo.

— Espera! — falei lembrando de algo. — As árvores.

Olhei para as meninas.

— Árvores, árvores! — comecei a chamar.

De repente, vimos as pétalas de rosas começarem a se mexer, transformando-se em uma mulher de pétalas.

— O que deseja Alteza? — perguntou fazendo uma leve reverência.

— Avise o acampamento sobre a morte de Aslam — mandei.

— Sim, Alteza — disse ela, triste.

— Obrigada — agradeci em um sussurro.

A mulher fechou os olhos e se foi com o vento. Deitei a cabeça de novo em Aslan. Ficamos assim até o amanhecer.

— Temos que ir — disse Bella, se levantando.

Sem dizer nada, nos levantamos e fomos andando. De repente, o chão começou a tremer tão forte que quase nos fez cair.

— Olhem! — exclamou Lúcia chamando nossa atenção.

Quando virei vi que Aslam tinha desaparecido e a mesa tinha se partido ao meio. Voltamos, sem entendermos nada.

— Cadê o Aslam? — indagou Bella.

— O que fizeram? — perguntou Susana.

Uma luz forte surgiu atrás da mesa de pedra. Então, Aslam apareceu. Vivo!

— Aslam! — gritamos em coro e corremos para abraçá-lo.

— Mas nós vimos o punhal, a Feiticeira — pronunciou Susana.

— Se a Feiticeira entendesse o significado de sacrifício, talvez tivesse interpretado a magia profunda de outro jeito — Aslam disse enquanto andava. — Se uma vítima voluntária, inocente de traição é morta no lugar de um traidor, a mesa de pedra se partirá. E talvez até a própria morte seja revogada.

— Mandamos avisar de sua morte — disse Bella. — Pedro e Edmundo já foram para a batalha.

— Precisamos ajudá-los — disse Lúcia pegando sua adaga.

— E vamos querida. — Afirmou Aslam. — Mas não sozinhos! Subam nas minhas costas. O caminho é longo e o tempo é curto.

— É...você tem certeza que consegue carregar todas nós? — perguntei apontando para mim e para as meninas.

— Ainda dúvida? — perguntou em um tom divertido. Sorri de volta e subi logo atrás de Lúcia. — Talvez queiram cobrir as orelhas.

E deu um rugido bem alto.

— Segurem-se! — disse antes de correr.

— Onde estamos indo? — perguntei. Ele não respondeu.

De longe dava para ver as torres de gelo do castelo da bruxa. Aslam era rápido, por isso não demorou para chegarmos ao castelo. Este por sua vez estava cheio de estátuas de pedra. Uma cena horrível! Lúcia foi em direção a um fauno.

— Esse é o Sr. Tumnus — ela disse com os olhos marejados.

Aslam chegou perto do fauno e soprou, fazendo com que a cor de seu rosto voltasse e logo todo o seu corpo voltou ao normal. O fauno perdeu o equilíbrio, mas Lúcia o segurou para não cair, arrancando sorriso do mesmo por ver sua amiga de novo.

Ele olhou para nós.

— Sr. Tumnus! — disse Bella indo abraçá-lo, seguida por mim e por Susana.

— Vamos — disse Aslam. — Temos que revistar o Castelo. Pedro vai precisar de todos que encontrarmos aqui.

Assim fizemos. Depois que todos voltaram ao normal, fomos para o campo de batalha. Eu nunca tinha visto um na minha vida e por mais assustador que fosse, com Aslam perto tudo parecia pequeno.

Aslam deu um rugido anunciando sua chegada e mostrando que estava vivo.

Descemos da montanha e fomos ajudar os outros. Peguei meu arco e flecha e comecei a atirar nos soldados da bruxa. Ouvi Aslam dar outro rugido. Me virei e o vi pular em cima da bruxa, matando-a.

Fui até Pedro.

— Pedro! — exclamei e o abracei.

Susana, Lúcia e Bella chegaram logo em seguida e o abraçaram. Olhei em volta.

— Onde está Edmundo? — perguntei. Trocamos olhares e saímos correndo.

Edmundo estava deitado no chão, ferido. Susana atirou em um anão inimigo que se aproximava de seu irmão caçula. Cheguei e me ajoelhei ao seu lado com os olhos marejados. Tirei seu capacete.

Lúcia pegou seu elixir e deixou uma gota cair na boca de Edmundo. Meu coração estava apertado com a possibilidade de perdê-lo.

Esperamos um pouco até Edmundo finalmente abrir os olhos. Pedro foi o primeiro a dar um abraço nele, seguido por Susana, Lúcia e Bella. Depois de se soltarem, ele olhou para mim. Só então o abracei.

— Me prometa que nunca mais nos dará um susto desses — eu disse soltando o olhando sério. Ele riu.

— Prometo.

Apesar da situação, rimos.

Vimos Aslam se aproximar de uma estátua de pedra e soprar em seu rosto, fazendo o mesmo voltar ao normal. Lúcia pegou seu elixir e...

CONTINUA...

Oiê! Como estão? Espero que bem. 

Mais um capítulo feito com muito amor para vocês. Espero que tenham gostado.  

Não esqueçam de deixar aquele comentário e sua estrelinha para me ajudar. 

Até o próximo capítulo. Tchau!

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