# 𝐨𝐧𝐞

Estados Unidos, Califórnia: Los Angeles.

W: Bebidas alcoólicas.

[Nome]

    A led púrpura cintilava no banheiro.

    Meus olhos contemplavam meu reflexo no espelho, arrastando o batom vermelho em meu lábio inferior, deixando a cor vibrante, como sangue vivo, tomando contraste em minha face. Here, Alessia Cara ecoava abafadamente fora do cômodo, neste instante me dando a oportunidade de conseguir idealizar meus amigos em uma roda impregnada com o odor de haxixe, palavras ilógicas fugindo de suas bocas como se aquela sensação fosse tão sublime quanto a primeira vez. Indivíduos osculando bocas excêntricas, todos os cômodos tomados por casais quaisquer lidando com suas vontades carnais.

    Nada fora do habitual em uma festa universitária no território de um dos caras mais populares da UCLA.

    Repentinamente, batidas na porta são audíveis. Afasto o batom de meus lábios, sem desviar meus olhos do espelho em minha frente, eu não deixei de reparar que o glitter cobrindo minhas olheiras permanecia intacto, mas isso deixava a desejar quando notava minha pele pálida, como se eu mal tomasse um sol por dias.

    — Ei, vadia! Abra já esta merda ou arrombaremos essa porta! — reconheço a voz de Senju.

    Incrivelmente, isso fez com que um sorriso mínimo se formasse em meu rosto. Fechei o batom de volta, guardando-o em minha bolsa, minhas mãos alcançaram o mármore gelado da pia, enquanto eu me empenhava em encontrar algum defeito no formato simétrico de gatinho do delineador em minhas pálpebras, ou se uma mancha de batom fosse visível em meus dentes, qualquer coisa que poderia ser motivo de alguma piadinha maçante a partir do momento que eu colocasse meus pés para fora desse banheiro.

    — Anda, [Nome]! Estamos começando a achar que você morreu! — agora, foi Yuzuha quem disse.

    Com maior intensidade, as batidas prosseguiram na intenção de me fazer abrir a porta de uma vez, eu suspirei, tentando me controlar para não rir por ter em mente que algumas pessoas presentes naquele mesmo corredor tivessem suas atenções chamadas para aquela cena infernal delas. Eu as adoro. É como ter aquele grupinho de amigas que não se vê atualmente, aquele que não se separam por nada.

    Finalmente, decido destrancar a porta e girar a maçaneta, dando de cara com três delas: Yuzuha, Senju e Emma. 

    — Sua vaca! Achou que ia escapar da gente, é? — Senju enlaçou meu pescoço com seus braços, deixando um rápido selar em meus lábios.

    — Você diz como se isso fosse possível — retruco, deixando evidente o tom brincalhão de minha voz.

    A música ficou ainda mais elevada agora que eu estava no corredor do segundo andar. O vidro se estilhaçando no chão foi o que consegui ouvir junto dos berros empolgados. Emma alargou o sorriso, mordendo seu lábio inferior, o que indicava como estava começando a ficar cada vez mais animada. 

    A festa havia dado início muito antes de minha chegada, todavia, elas nunca deixavam de ser as primeiras a aparecer, enquanto eu fazia questão de me manifestar mais tarde do que nunca. Eu estava aqui há mais ou menos uma hora. Tempo suficiente para beber, fumar e até mesmo procurar alguém disponível para aproveitar a noite a dois. O único problema é que eu não gostava de sexo casual, mesmo que algumas vezes eu tivesse escolhido essa opção, contudo, mais por precisar. Cômico era, se não fosse trágico, quando eu encontrava alguém que me interessava, mas que sempre apresentava red flags. 

    Eu facilmente poderia ser considerada alguém com um dedo podre.

    — Vamos lá pra baixo, você prometeu tentar se divertir pelo menos um pouco — a platinada relembra, fazendo questão de agarrar meu pulso e me puxar sem esperar minha resposta.

    Não tive muito como ir contra, eu sabia que Senju iria usar até as desculpas mais insignificantes possíveis só para que eu não fosse embora dali tão cedo.

    Descemos os degraus da escada, alcançando o andar central da casa. Acidentalmente esbarramos em algumas pessoas para conseguir atravessar o corredor, este que dava de encontro com a cozinha, o cômodo responsável pelas bebidas.

    Reconhecemos o grito de Emma, que foi tão de repente que acabei me assustando. Só conseguimos deduzir o que aconteceu quando apressadamente desviamos nossa visão para saber o que estava ocorrendo. Nos tranquilizamos quando visualizamos o sorriso da loira, seus olhos fixos em Draken, que é o causador da nossa atenção roubada no momento atual. Ele havia puxado Emma e a fez gritar pelo susto, mas obviamente ela gostou disso. Ela gostou da forma que Draken apertou as mãos na cintura dela e a encurralou na parede para beijá-la em seguida.

    — Ah, droga, cara… É sério que perdemos nosso amigo pra uma garota? — a voz de Ran se faz presente.

    Meus olhos se encontraram com os dele, este mesmo sorriu de canto, me lançando uma piscadela discreta. Revirei meus olhos em reação, mas não segurei o sorriso ladino em meus lábios.

    Assim como elas, recebi o convite individualmente por Ran, um dos membros do time de basquete da UCLA. Um especialista quando o assunto é avaliar as saias curtas das líderes de torcida, como também levá-las ao seu carro luxuoso para oferecê-lo um bom boquete. Confesso que quase caí em seu charme algumas vezes, mas não me deixei ceder quando percebi onde ele realmente queria chegar, de fato.

    Completar a sua lista.

    Apesar disso, ele ainda conseguia ser legal depois de receber um não, por mais que ainda significasse que ele não iria deixar de dar em cima da mesma garota que o rejeitou na primeira vez. O oposto de seu irmão mais novo, que quase nem olhava para uma garota da universidade. Raras vezes o vi com uma. É como se ele preferisse sua própria companhia.

    — E aí — Kazutora foi para perto de Yuzuha, puxando-a pela cintura enquanto levava a garrafa de cerveja aos lábios.

    Ambos demonstrando o quanto a companhia um do outro é considerada a melhor no momento. Eu não sabia exatamente o que esses dois tinham, porém eu intitularia de uma amizade colorida. Mesmo que Yuzuha fosse uma de minhas melhores amigas, ela nunca é específica sobre seus envolvimentos, mas eu me surpreenderia se ela não tivesse algum cara em sua cola.

    Da mesma forma com Senju, que tinha seu campo de visão concentrado em Inui. A platinada passou por ele sem quebrar o contato visual, o loiro descaradamente a seguiu com o olhar, tentando segurar o sorrisinho que quis surgir em seus lábios. 

    — Okay… Sinto que estou sobrando aqui — comento, novamente querendo aparentar ser brincalhona.

    — Talvez seja porque você quer — Ran responde, sem papas na língua.

    — E você nunca esteve tão certo — respondo de volta.

    Decidi seguir até a cozinha, sabendo que Senju estaria procurando uma bebida por lá. Quase tropecei quando esbarrei em outra pessoa, mas antes que meu corpo encontrasse o chão, meu pulso foi agarrado, impedindo minha queda. Meu coração disparou, pensando por um segundo que eu fosse sair dessa mancando, pensei em agradecer quem quer que fosse oresponsável por não ter me deixado cair, contudo, fiquei muda quando visualizei Hakkai.

    Meus lábios se distanciaram para que eu pudesse falar alguma coisa, mas foi como se minha voz ficasse presa entre minhas cordas vocais. O azulado deixou seu olhar fixo ao meu, sem dizer uma palavra, mas ainda me segurando, mesmo que o fato de eu cair já não fosse mais um problema. Ele me soltou quando percebeu que estávamos perto demais, eu não demorei para criar certa distância entre nós dois, não deixando de me sentir um pouco tonta pelas emoções um pouco à flor da pele agora.

    — Cuidado — a voz dele pareceu ser um zunido, interrompendo a música que tocava na festa.

    Pensar que Hakkai estava aqui, me fazia pensar que… Ele também poderia estar. Não sabia muito bem como reagir pensando nisso, tendo em vista que nos conhecíamos desde a nossa adolescência e, ainda sim, sentia como se tivesse me esbarrado com um estranho, e não com um velho amigo. Ainda me lembrava dos dias de pôr-do-sol que passávamos todos juntos na praia, agindo como um bando de irresponsáveis como se nem tivéssemos um pai ou uma mãe nos esperando em casa, preocupadíssimos.

     Bom… Alguns mais do que outros. 

    Senti um gosto amargo em minha língua quando me recordei do motivo do nosso afastamento, quando sofri com a falta de sono a noite, esperando alguma notícia, mas na verdade… Não queria acreditar que eu estava sendo uma tola esperando o que nunca aconteceria. Ter esperança não é o melhor remédio para o ser-humano, mas claro que tínhamos que aprender isso na marra.

    E cacete… Isso doía pra caralho.

    — Desculpa — eu respondo, tentando não deixar transparecer minha curiosidade.

    Hakkai, mesmo aparentemente tendo percebido o ponto de interrogação em meu rosto, não cedeu. Seu olhar sobre o meu durou alguns segundos antes dele se afastar, me deixando plantada ali, me dando visibilidade do novo desenho de uma aranha tatuada na lateral esquerda de seu pescoço. Também reparei que seu cabelo azulado estava maior. Confesso que a frustração começou a subir à minha cabeça e o toque ácido ainda estimulava minha garganta como se as veias estivessem prestes a estourar. Considerei ir atrás dele, na esperança de que isso fosse tirar minhas dúvidas, mas eu sabia que isso não era uma boa ideia. Ele é problema, e acho que fazia questão de mostrar isso aos outros só para que continuássemos longe dele.

    Ainda com o peito apertado, eu segui até a cozinha, o arrepio começava a abraçar minha pele. Eu queria pelo menos alcançar uma mínima solução para tirar o passado da minha cabeça por agora, ou acabaria enlouquecendo se continuasse machucando minha mente dessa forma. Minha mão automaticamente pegou uma garrafa de vodca que estava no balcão junto com outras bebidas, ela foi aberta por mim com certa pressa e derramada dentro de um copo de plástico azul sendo colecionado com os outros, coloquei o suficiente para conseguir misturar com algum energético aleatório dentro do cooler cheio de gelo, nem por um segundo parando para reparar qual sabor é.

    Não tive tempo de me arrepender, eu levei o conteúdo até meus lábios como se eu estivesse com sede há dias, a sensação da queimação em minha garganta fez com que meus olhos lacrimejassem, quando bati o copo com força sobre o balcão algumas gotículas da bebida despejaram em minha mão. Minha visão se escureceu graças as pálpebras fechadas com tanta força, prolongando a ardência, todavia, não demorei para voltar a realidade quando a luz se fez presente em minha vista mais uma vez, tendo uma imagem borrada das pessoas invadindo o cômodo. Após algumas piscadas, tudo volta ao normal, mas a sensação leve de adrenalina continuava fazendo meu coração bater forte em meu peito.

    — Wow… Devagar, gatinha.

    A risada escapou de minha boca, ao mesmo tempo que minha cabeça tombou para frente. Meu tronco se inclinou um pouco, mas voltei com minha postura ereta para dar de cara com Akkun. O tatuado riu, enlaçando um de seus braços em meu pescoço, e então, levou a garrafa, com uma bebida verde dentro, até os lábios. Enxerguei sua garganta engolindo duas vezes antes de afastá-la. As pupilas estavam dilatadas, me dando a entender de que ele cheirou, ao menos, uma fileira inteira de pó.

    — Akkun, eu quero voltar pro dormitório.

    — Ah, não… Você nem chegou direito. Ainda estamos querendo dar uma passada na praia, cê tem que vir junto.

    Eu realmente me sentia grata quando meus amigos queriam me incluir em tudo o que eles podiam, mas as vezes… Eu, efetivamente, sentia a necessidade de ficar sozinha. Encontrar Hakkai foi um impacto só com uma hora de farra, embora eu não tenha aproveitado de verdade, já era o suficiente só de colocar meus pés para fora do prédio.

    Sim, eu sei… Irônico para uma líder de torcida da UCLA preferir o dormitório da universidade do que festejar com seus amigos, mas não é bem minha culpa. Claro, eu adorava a companhia deles, mas se fosse para escolher entre uma noite de filmes comendo várias besteiras com eles, ao invés de bebidas e drogas na casa de um garoto cobiçado… Acho que sabemos a resposta correta.

    — Eu não tô no clima pra festa.

    — Você mente mal pra caralho.

    Tombei minha cabeça para o lado, deixando um suspiro fugir de minha boca. Era quase impossível insistir, mas se fosse para não preocupá-los, talvez seria melhor ficar. O único problema, é que se o Shiba também participasse do after, sei muito bem quem estaria com ele. O nervosismo me deu indícios mais uma vez, junto do embrulho que começou a corroer meu estômago como um monstro esfomeado, contudo, também tinha uma possibilidade disso não acontecer.

    Mas por que isso ainda me apavorava da mesma forma?

    — Fala a verdade, você viu alguma coisa que não gostou e agora quer sair de fininho — ele sorri ladino.

    O encarei como se fosse uma aberração de sete cabeças que acabou de ler minha mente. Ele riu de minha expressão incrédula, mas eu apenas balancei a cabeça em negação, desviando meu olhar tão rápido para o copo, como se ele acabasse de falar uma besteira gigantesca. Não foi culpa dele, mas acho que teria sido melhor se ele não tivesse nem adivinhado.

    — Fodeu! Eu acertei mesmo? — ele não conteve a risada alta, inclinando-se sobre o balcão para conseguir se equilibrar.

    — Você é uma peste — eu disse, dando outro gole em minha bebida misturada.

    — Eu não sou uma peste, eu te conheço desde quando éramos crianças, [Nome]. Tá vendo? Você não sabe mentir — contra-argumenta, ainda entre a risada irritante — Desembucha, vai. 

    Tudo bem que Akkun é meu melhor amigo, mas ele não precisava me salvar o tempo todo de uma frustração idiota que nem o envolvia. Tudo o que eu precisava fazer no momento atual era relaxar, pensar que eu seria capaz de aguentar uma noite com meus amigos só para que ninguém se preocupasse, e no fim, eu deitaria em minha cama e poderia pensar o que quisesse. Demonstrar o que quisesse.

    Eu sabia que Yuzuha não chegaria cedo no dormitório mesmo.

    — Nada. Relaxa… Eu não quero falar sobre isso, e por favor, sem insistência, Akkun — sua mão se ergue em resposta, como uma rendição — Podemos ir à praia mais cedo, então? Tenho certeza que ainda vamos ter um pouco de tempo pra conversar até todo mundo chegar.

    — Isso se conseguirmos chegar antes de todo mundo… Algumas pessoas já estão indo pra lá.

    — Não tem problema. Ainda temos tempo pra conversar no seu carro, pelo menos.

    Me aproximei da pia para deixar a bebida descer pelo ralo. Foi realmente um desperdício gastar toda aquela vodca, eu nunca bebia tudo… O calor do momento me fazia agir com impulsividade, eu odiava esse defeito em mim, mas nem sempre conseguia ter controle. O copo foi deixado na pia antes que eu me afastasse, sabendo que o ruivo estava logo atrás de mim. Caminhei até conseguir alcançar a porta de entrada da casa, conseguindo ver algumas pessoas indo até seus carros, provavelmente seguindo o mesmo caminho que eu e Akkun.

    Encontrei a caminhonete dele com facilidade, esta que teve as portas destravadas graças ao botão da chave que ele apertou. Abri a porta do passageiro, me sentando no banco e prendendo meu tronco ao cinto de segurança, Akkun entrou segundos depois, bebendo o que sobrou da bebida antes de lançar a garrafa para longe, e então fechou a porta e ligou o motor, fazendo com que as janelas se abrissem automaticamente. O automóvel não durou nem cinco segundos parados após nossa entrada, deu partida ao rumo desejado.

    — Coloca uma música aí.

    Fiz o que ele pediu. Ergui minha mão até a pequena tela do painel, rolando pela playlist até escolher Sex, Drugs, Etc. 

    Encostei minha cabeça no banco, aproveitando o vento que a janela aberta proporciona neste instante, Akkun nem mesmo se importava com o limite de velocidade, parecendo ter pressa para chegar. Talvez ele me deixaria para trás se acabasse encontrando alguém interessante por lá, mas eu sabia que se eu precisasse de alguma coisa, ele com certeza largaria tudo para me ajudar. Diria que tinha sorte de ter sua amizade, conhecê-lo desde que me entendo por gente sempre deixou o detalhe de que eu poderia confiar nele bem firme em minha cabeça. 

    — Vem cá, você e o Jake…

    — Ah, não! Não vamos falar disso… — cerrei as sobrancelhas, deixando meu olhar fixo a ele novamente — Droga, cê tava indo bem — agora, permito que um sorriso largo preencha meus lábios.

    — Vocês dois simplesmente somem pelos cantos e depois não se falam mais? Acho que sei onde isso vai parar.

    — Não vai parar em lugar nenhum — suspiro — Ele é um cara legal, mas…

    — Mas ele não é o Takashi.

    Ouvir aquilo foi como receber um tiro no peito. Nunca pensei que fosse sentir meu interior se deteriorar e parecer como se vários pequenos nós se formassem em cada veia. O sorriso que eu tinha antes não existia mais, Akkun obviamente percebeu e aparentou se sentir nitidamente culpado. Um dos motivos pelo qual não gosto que ele use tantas drogas é por isso… Ele não pensa se uma frase ou qualquer palavra que seja pode causar algum impacto ao próximo nesses momentos.

    O nome de Takashi… Era o que eu estava tentando esquecer até então, mas agora, isso ecoava em minha cabeça, mais uma vez. Essa frase estúpida acabaria me assombrando até que eu fechasse os olhos para dormir. 

    — [Nome], eu não quis- 

    — Não… Tudo bem — eu o interrompi, antes que dissesse qualquer outra coisa.

    Consegui enxergar as pontas dos dedos de Akkun tomando uma coloração esbranquiçada graças ao aperto que davam no volante, eu sabia que ele provavelmente queria socar a própria cara agora, mas nós dois sabíamos que nada do que ele faria poderia consertar a sensação que eu estava sentindo nesta hora. Minha visão borrou, apesar disso eu ainda quis mostrar que eu seria capaz de deixar as lágrimas presas. O ruivo diminuiu a velocidade, estacionando perto da calçada, o motor não demorou para ser desligado, seguidamente o rapaz ao meu lado se virou para poder falar comigo.

    Sua mão acolheu meu ombro, enquanto eu piscava meus olhos, deixando minha visão presa em meu próprio colo.

    — [Nome]... — foi a única coisa que saiu da boca dele, antes de se aproximar de mim e me envolver com seus braços.

    Ainda me forçava a agrilhoar meu pranto na garganta, mesmo que eu soubesse que poderia fazer isso na frente dele sem me preocupar em ser julgada, mas eu continuei guardando aquela dor sufocante em meu peito. Akkun definitivamente não deveria ter comentado sobre isso nem de brincadeira, sobre uma coisa que ainda tinha efeito e me perturbava mesmo que eu jamais demonstrasse isso para ninguém, nem para ele. Mas de igual forma… Não conseguia sentir raiva dele. Não conseguia sentir fúria de uma coisa que infelizmente é verdade.

    Nenhum dos caras que me envolvi depois de Takashi seria de fato o próprio Takashi. O garoto dos cabelos violáceos que só se metia em incontáveis problemas. Um delinquente que dominou meu corpo e alma, que continuava na minha cabeça como um chiclete grudado. Me senti tão deslocada ouvindo o nome dele em voz alta, que por consequência fez com que minhas esperanças fossem cada vez mais enterradas.

    — Por favor, [Nome]... Não se segura, não comigo.
    
    Eu ainda avançava meu silêncio, ouvindo a música continuando a passear nas ondas melódicas. Certo, eu não poderia ficar calada se quisesse demonstrar que ficaria bem, que isso foi exclusivamente um mísero erro de Akkun. Ele não precisaria se afligir e eu me sentiria bem melhor de não ter que preocupá-lo por uma coisa tão boba.

    — Tudo bem, eu já disse — me afasto do ruivo, não conseguindo sentir nada mais do que alívio por ter conseguido reprimir a dor — Não é por isso. Não é por ele não ser o Takashi.

    Akkun suspirou pesadamente, encostando-se no banco e esfregando o próprio rosto com a destra. Soube que ele fixava um ponto aleatório da rua noturna, provavelmente ainda ponderando que fez merda e, talvez, castigando-se em silêncio. Torcia para que ele não se lembrasse disso no dia seguinte, dado que eu não queria que essa conversa voltasse à tona.

    — Melhor esquecer isso.

    — É… Melhor mesmo — concordo.

    Akkun ligou o motor outra vez, dando partida sem proferir uma palavra. Não foi a intenção de nenhum dos dois deixar o clima pesar, mas isso acabou saindo fora do planejado. Um ruivo se culpando e jogando mil pragas a si mesmo mentalmente e uma garota com a mente quebrada que mal esqueceu um cara com cabelo roxo que corria dos policiais de moto.

    A rota seguiu com um silêncio desconfortável, já que nenhum dos dois teve coragem de dizer alguma coisa. Akkun estacionou onde a areia dava início, como previsto algumas pessoas chegaram antes de nós e continuaram a diversão. Tirei meu celular da minha bolsa para ver a hora, avistando os números em marcação às quatro da manhã. Logo iria amanhecer.

    Decidi deixar meus pertences dentro do carro, tirando minhas botas de coturno antes de abrir a porta do veículo e me retirar de dentro. O ruivo travou as portas quando também saiu, sua aproximação foi óbvia, mas não hesitei seu toque previsível para outro abraço, o qual retribuí sem fazer pouco caso.

    — Mesmo que você fale que não é minha culpa, ainda sim… Sinto muito.

    — Achei que era pra esquecer do assunto — um risinho sai de meus lábios, em seguida me afasto para conseguir enxergar o rosto do mais alto.

    — Que assunto? — ele sorri largamente.

    Por incrível que pareça, isso conseguiu me tranquilizar. Melhor assim, Akkun com seu sorriso marcante e, de certa maneira, quebrando o galho.

    — Não faço a mínima ideia — acompanho seu sorriso.

    Ele beijou minha testa antes de se afastar, contudo ainda fez questão de segurar minha mão para seguirmos nosso caminho perto do mar. Paramos aproximadamente da areia molhada, não nos importando de sentar, embora isso fosse molhar meu vestido, isso era o de menos agora. 

    — O Takuya não vem? — pergunto, encarando-o após.

    — Ele não apareceu na casa do Ran… Não tenho certeza se vamos ver ele hoje.

    Takuya não ficava de fora quando o assunto era a nossa amizade. Assim como eu conheço Akkun há tanto tempo, nosso loiro responsável similarmente fazia parte desse meio. Estar no mesmo ambiente que os dois era como ficar no meio do fogo e do gelo, se juntasse… Poderia facilmente virar uma catástrofe, mas Takuya é naturalmente considerado o mais cabeça fria entre nós.

    — Parece que sou eu quem vou te levar pra casa hoje, então — brinco.

    — Não vai ser difícil, os dormitórios são do mesmo prédio.

    Eu sorri, abraçando meus próprios joelhos, meus olhos estavam fixos no mar com suas ondas esbravejadas, me fazendo pensar que um único mergulho em meio delas daria chances maiores da pessoa afundar, isso se não soubesse nadar. Identifiquei um calafrio ao memorar os pesadelos constantes que tive no fundo do oceano, aquele escuro vazio com a água gelada sendo a única coisa que estaria em contato com seu corpo, mas seus olhos não enxergam nada.

    Seu interior é aquecido pela adrenalina, mas o frio ainda está ali com você. Ambos em uma eterna solidão.

    — Gatinha, tá com frio? Você se arrepiou do nada — a voz de Akkun chama minha atenção, mais uma vez.

    Eu estou? Mal havia notado, na verdade. Olhei para meus braços e os esfreguei para expulsar as bolinhas que surgiam em minha pele.

    — Lembrei de uma coisa.

    — E eu posso perguntar sobre essa “coisa”? — seu dedo indicador e médio fizeram aspas.

    — Já tá perguntando — libero um riso nasal — Akkun, eu-

    Sons de buzinas e motores roncando foram audíveis antes que eu pudesse finalizar a frase, conseguindo fazer com que eu e o ruivo direcionássemos nossas vistas até as motos barulhentas, facilmente reconheci alguns deles, enquanto outros me deram dúvidas, entretanto, acabava chegando a conclusão de que eu talvez não conhecesse.

    Bufei uma risada quando percebi que quem os acompanhava na garupa eram minhas amigas. Draken estava com Emma, Kazutora com Yuzuha, Inui com Senju, Takemichi com Hinata, e por fim, Mikey… Com uma garota que eu não tive certeza se conhecia ou não, visto que ela também estava com um capacete, igualmente às meninas. Os outros rapazes seguiram o mesmo rumo e logo estacionaram suas motos uma do lado da outra.

    Minhas amigas desceram das motos e tiraram os capacetes de suas cabeças, entregando aos donos que deram a carona. Seus sorrisos se tornaram largos quando conseguiram me reconhecer mesmo com uma certa distância. Desta vez, Hinata estava com elas vindo em minha direção, me fazendo pensar que agora nosso grupo estava completo naquela noite. Ela raramente aparecia junto conosco em algum lugar, preferia receber carona de seu namorado, mas isso mudava quando combinávamos de fazer alguma coisa, só nós cinco.

    As quatro garotas correram em minha direção, eu me levantei junto com o ruivo ao meu lado. O abraço coletivo quase me fez cair na areia molhada, já que todas elas quase pularam em cima de mim, mas eu não me importei tanto, eu sabia que estavam todas, no mínimo, bêbadas pra cacete.

    — A gente tem que vir aqui mais vezes, essa praia é maravilhosa — Hinata comenta, enquanto se afasta.

    — Isso se a faculdade deixar — Emma profere.

    — É por isso que sempre combinamos de fazer alguma coisa nos finais de semana — Senju argumenta — Ou nas sextas, quando podemos encher a cara à vontade.

    Os meninos se aproximaram, cumprimentando Akkun com um toque de mãos ou um leve aperto no ombro, alguns deles me abraçaram logo em seguida. Ele era considerado parte da nossa roda de amigos de certa forma, mesmo que nem sempre saíssemos todos juntos, eu tinha créditos por apresentá-lo para todo mundo na nossa adolescência. Sempre preferi que todos nós tivéssemos um tipo de união, pois eu também odiava me sentir dividida sobre com quem sair.

    Hakkai apareceu como se tivesse sido invocado de algum portal, tentei disfarçar o nervosismo que fez a vontade de vomitar se manifestar novamente. Agora sim, eu realmente não poderia olhar para o mar ou acabaria passando vergonha por não conseguir me controlar.

    — O Baji trouxe as bebidas — Chifuyu disse, apontando para as duas sacolas que o moreno segurava.

    — E eu trouxe o baseado.

    Quase perdi o equilíbrio de minhas próprias pernas quando reconheci a voz que pronunciou a última frase, ela vinha logo atrás de mim, soube disse porque a pessoa que havia se manifestado não estava em meu campo de visão. Foi como se meu cérebro desaprendesse a usar os comandos para  fazer meu corpo se mexer, todos os movimentos possíveis pareciam ter agarrado o meu coração pelas batidas eufóricas que eram capazes de até mesmo fazer meu peito doer. O rosto de Akkun estava levemente pálido, isso só serviu para confirmar que a pessoa atrás de mim é realmente quem estou pensando.

    Virei minha cabeça para poder vislumbrá-lo, torcendo para que eu não parecesse uma idiota em sua frente, embora eu possivelmente já estivesse passando essa imagem para todos que estavam assistindo aquela cena impagável, mas alguns provavelmente nem entendiam porque eu estava tão tensa. 

    Meus olhos finalmente encontraram o rosto familiarizado em minha frente… Mas agora, o cabelo purpúreo estava maior.

    — Bom te ver, [Nome].

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