# 𝐧𝐢𝐧𝐞
Olha, vou contar pra vocês, gostei pra caralho de escrever esse capítulo. Escrever cena de matança e o caralho a quatro dá um prazer gigantesco, nunca fui tão feliz escrevendo algo, mesmo que seja asqueroso KDLAJDKS.
Deu um trabalhinho pra detalhar algumas partes, mas nada que seja impossível pra mãe aqui, me sinto tão superior quando consigo finalizar do jeito que eu quero.
Espero que gostem, não esqueçam de votar, comentar e dar o feedback no fim do capítulo. Amo ler todos! ♡
É isso, fiquem com o capítulo, me perdoem qualquer erro.
Boa leitura!
CWTW: Uso de arma de fogo e arma branca, violência extrema, chacina/massacre, tráfico de drogas, consumo de bebidas alcóolicas e drogas ilícitas.
Takashi
“Por favor,
não esquece.”
“Luna, fica tranquila.
Eu passo aí amanhã,
como prometido.”
Liberei um suspiro fraco depois de bloquear o celular, deixando o aparelho na mesa de centro da varanda, não queria sentir o celular vibrar enquanto eu estava planejando cometer um crime na casa de um dos homens que mais abomino.
Hoje combinamos de nos encontrar na casa de Raphael para discutirmos o assunto do assalto ao banco. Teríamos que ser cautelosos ou eu voltaria para a cadeia em um piscar de olhos. Isso significava que eu poderia pegar uma pena maior ou quem sabe, se o juiz fosse duro demais, perpétua. Além disso, ficaria longe dos meus amigos de novo.
Visto que eu teria que continuar nessa porra toda por mais tempo se eu não me resolvesse com algumas pendencias logo, morreria trabalhando com isso. Eu devia ter sido um filho desobediente, eu não estaria aqui hoje se fosse o caso, os policiais nunca acreditariam em minha história com a justificativa de falta de provas. Não me surpreende, mas eu também tenho o pressentimento de que eles não queriam nada além de me ferrar.
— O banco ainda não fechou, temos tempo — Raphael disse, tragando a fumaça do cigarro e liberando-a segundos depois — É bom que sejamos rápidos, Ally é um banco com uma segurança máxima.
— Só de entrarmos mascarados, a palavra “cautela” não existe — rebato.
— A Marina e Henri vão estar com o carro, eles não dariam um vacilo de deixar uns tiras otários alcançar a gente — Hakkai afirma.
— É… — resmungo — Depois disso, precisamos aparecer na reunião mais tarde. O Javier não vai estar lá, pelo o que eu sei — aviso.
— Ótimo, menos estresse — o azulado disse, se levantando e ajeitando a camiseta que cobria a arma pressionada entre o abdômen e a calça.
— Takashi — ouço a voz de Ash ecoar assim que ele entra, pude ver a AK-47 sendo segurada com a destra dele — A californiana chegou. Tem mais uma mala com cem Oxycontin e quinhentos Zanibarls — anuncia.
— Essas vão pro subsolo — respondo — Não esquece de colocar em fileiras separadas. Vai dar merda se vir tudo misturado e eu não tô afim de problema.
— E desde quando eu te dei algum prejuízo, cara? — o mais novo sorri — Vou ser rápido. Podem ir na frente que eu alcanço vocês depois.
O garoto se afastou da área, entrando para dentro do condomínio novamente.
Não que eu não confiasse em Ash, na verdade eu o achava um dos mais inteligentes mesmo sendo tão novo. Não sabia exatamente se podia chamá-lo de imaturo, visto que com apenas quinze anos ele já estava enfrentando muita barra. A forma que foi criado na infância pareceu ter influenciado seu crescimento tão precoce, além do jeito de pensar extremamente desenvolvido. Ele vivia em nossas mãos, sendo jogado de um lado para o outro só para conseguir se sustentar.
Ter um garoto como ele em nossa equipe é como ter um irmão mais novo.
— Tá pronto? — Nahoya pergunta, atraindo meu olhar ao seu rosto coberto pelo tecido preto que servia como uma máscara.
Todos nós vestimos roupas pretas quase idênticas, além das madeixas presas em um coque para que não fôssemos identificados nem por um fio. O que estávamos fazendo é considerado uma loucura, contudo, é um costume. Não o meu favorito, mas eu já sabia o que fazer.
Felizmente sabia.
Guardei o celular em meu bolso antes de decidir deixar a residência.
— Vamos nessa — respondo, cobrindo meu rosto com o tecido.
Chequei se estava tudo no lugar. A pistola estava escondida na parte dorsal de meu corpo enquanto o canivete estava por baixo na manga de meu casaco, o oktok preso ao meu cinturão, camuflado nas vestimentas pretas. Poderia precisar dele em algum momento.
Eu segui os gêmeos junto com Hakkai, que mantinha seus olhos fixos à frente quando se colocou ao meu lado até alcançarmos a van, no qual seria dirigido por Souya até chegarmos no local desejado. A porta foi arrastada pelo ruivo, eu e o Shiba ficamos nos bancos atrás dos primeiros, visto que estes seriam ocupados pelos irmãos. Meu celular vibrou, o primeiro som abafado foi o suficiente para eu enfiar minha mão no bolso e checar as notificações.
“Já deram partida?”
Marina.
Essa garota com certeza parecia estar se coçando para usar uma de suas espadas. Ela adorava usar uma lâmina bem afiada quando se tratava de defender o próprio exército. Mesmo que eu não curtisse fazer o que estávamos planejando, eu não tinha escolha se não quisesse ser torturado e morto, por mais que eu merecesse, contudo, as pessoas que realmente se importam comigo ficariam chateadas com essa fraqueza.
“Estamos saindo agora.
Fica atenta!”
“Vou fazer esses
otários comerem
poeira!”
Sorri de canto antes de guardar o celular de volta, ouvindo o motor ser ligado pelo azulado e finalmente deu partida. Hakkai olhou para mim assim que percebeu que parei de digitar no celular, pelo o que seus olhos demonstravam, aparentava estar curioso.
— Marina?
— Uhum — respondo — Aposto que ela tá quase enlouquecendo.
— Ah, sim — libera um riso nasal — É engraçado como a samurai não perde a oportunidade de brincar com a espada.
Meus olhos encontraram o rosto do Shiba mais uma vez, que agora parecia fixar o chão do automóvel com os braços acima do encosto do banco. Ele parecia um pouco alheio agora, eu soube o motivo, contudo, decidi manter as palavras presas dentro de mim para não sensibilizá-lo.
Marina é ex-namorada dele. Namoraram quando Hakkai estava com dezesseis anos, enquanto ela tinha quatorze, entretanto, o amor surgiu de verdade quando ambos ainda eram crianças, boa parte disso foi por Tom e Elloise terem se responsabilizado para cuidar dele e de Yuzuha na época que descobriram o que Taiju fazia com ambos. Marina era uma das crianças que estavam nas mãos do casal, que davam a vida só para que ela crescesse bem, o que não foi diferente com os Shiba. Tenho certeza que Hakkai é grato.
Igualmente a mim. Não fiquei sozinho por boa parte da minha vida graças aos dois.
Agora, por que ambos terminaram? Bem… Marina terminou com ele. O motivo não me foi explicado a fundo, e eu resolvi não me intrometer em algo que não me diz respeito. Tudo o que ela explicou é que Hakkai não está pronto para um relacionamento.
Mesmo assim, eles continuaram mantendo uma amizade. Se davam bem.
— Aí, Hakkai, não esquece de deixar o arquivo aberto pra hoje — Souya avisa.
— Não preciso que me ensine como faz meu trabalho — o Shiba rebate — Cacete, cê acha que eu sou retardado o suficiente pra não preparar tudo antes?
— Vai saber, eu não confio em você, cara — dá de ombros — Só fica atento, se acontecer qualquer coisa errada a culpa pode ser sua depois.
— Eu sei bem disso, relaxa aí, playboy.
Deixei meu olhar fixo à lateral do rosto do mais novo, que estalou a língua enquanto se ajeitava no banco do veículo. Soube que agora ele estava incomodado pela intriga rotineira que tinha com um dos gêmeos, visto que nenhum dos dois confiavam um no outro, por mais que tivessem uma espécie de amizade. Não dava muito para entender, mas preferia não me meter.
— Porra, será que vocês dois podem calar a merda da boca e sossegar? — Nahoya intervém — Por que não usam essa intriga pra discutir quem mete primeiro em uma vadia na cama? Aposto que vocês entrariam em um acordo uma hora ou outra.
Nahoya tinha formas estranhas de mandar alguém calar a boca.
O trajeto seguiu silencioso depois do comentário repentino do ruivo. Hakkai, por uma vez, acabou saindo de onde estava sentado para pegar a bolsa que estava atrás, retirando o notebook de dentro e apertando o botão de ligar, fazendo a tela ser desbloqueada rapidamente por ele não ter desligado o aparelho. Como o esperado, o arquivo já estava aberto, contudo, percebi que ele alterou algumas coisas, nas quais deixaram alguns códigos binários e morse misturados em partes.
Souya se precipitava em partes quando se tratava de confiança em relação ao Hakkai, visto que ele nunca deixava qualquer coisa escorregar, e se deixasse, ele sempre dava um jeito. Não importa como.
O gêmeo estacionou a van consideravelmente próxima do local. Pude ver meu amigo bloquear o arquivo assim que fechou a tela, guardando dentro da bolsa após, soube que era por precaução. Eu mantive meu olhar fixo na janela, bem ao meu lado esquerdo, cerrando os olhos quando reconheci certos rostos, alguns estudantes da UCLA, e outros, professores.
Me preparei para sair com uma mochila nas costas, contudo, meu ombro recebeu um aperto da mão de Hakkai, atraindo meu olhar facilmente.
— Tenho uma novidade — ele sussurra, apenas para que eu ouça — Preciso discutir uma coisa com você sobre, mais tarde.
— Assim que a gente finalmente der o fora do trabalho, você me dá um toque — respondo, no mesmo tom de voz — Vê se toma cuidado.
Hakkai liberou um riso nasal, cheguei a conclusão que um sorriso de canto preenchia seus lábios.
— Relaxa, eu cavei uma cova pra nós dois.
Eu sorri pela sua resposta inusitada, balançando a cabeça em negação e finalmente partindo da van, me apressando para retirar a arma de onde estava, segurando-a firmemente com a destra, destravando-a em seguida. Os gêmeos seguiram atrás de mim e do Shiba, também segurando duas armas de fogo.
Souya com um Rifle Ferguson e Nahoya com uma STG 44.
Conseguimos entrar, obviamente ganhando atenção assim que notaram quatro mascarados armados entrando no banco. Imediatamente cinco seguranças se aproximaram, nos fazendo agir rápido. Bati minha arma na cabeça de um deles com tanta força que a única reação foi o grito previsível do homem, o outro que se preparou para me atacar também não foi rápido o suficiente para me parar, recebendo o mesmo destino que seu colega. De imediato, fiz com que ambos batessem a testa um no outro quando segurei a nuca destes, atirando na cabeça dos indivíduos assim que os troncos encontraram o chão.
Hakkai desferiu um soco no rosto de sua vítima, disparando dois tiros seguidos na cabeça deste. Souya e Nahoya cuidaram dos outros dois com facilidade, também não poupando suas balas. Em poucos segundos o sangue já se espalhava no chão, causando gritos e desespero dos visitantes. O alarme também havia sido ativado devido ao caos.
Me apressei para mirar a arma em uma das câmeras, acertando o tiro sem dificuldade, enquanto o Shiba prosseguia à frente com os gêmeos, atirando em quem entrasse na frente. Eu continuei atirando em cada uma das câmeras conforme eu seguia caminho, checando cada parte para ter certeza de que eu não havia me esquecido de absolutamente nada.
— Takashi, atrás de você! — Hakkai grita.
Me virei o mais rápido possível até me deparar com mais três deles, conseguindo esquivar da primeira porrada do bastão preto que um deles segurava, primeiramente atirando na perna para fazê-lo cair, em seguida, me apressei para bater a arma na cabeça do próximo e arrancar o canivete de minha manga, acertando a lâmina em seu olho, o que resultou em um grito desesperador deste. O terceiro estava pronto para vir, contudo, consegui enxergar o receio e angústia em seu olhar antes de receber meu chute em seu estômago, seguido de um tiro no mesmo local e outro diretamente na cabeça.
Não tinha muito tempo para pensar agora. Somente me agachei para arrancar o canivete do olho de um dos indivíduos, terminando o serviço com mais dois tiros no restante que ainda respirava, também na cabeça.
Merda… Eu odeio matar pessoas. Odeio a porra desse trabalho.
Pressenti que Hakkai já estava à frente, por onde eu passava era um corpo diferente ensanguentado no chão. O lugar havia sido massacrado, mesmo que algumas pessoas ainda pudessem estar escondidas ou respirando, estava a coisa mais repugnante.
Consegui ver Hakkai nos fundos quando alcancei, vendo-o com, ninguém mais, ninguém menos que o próprio dono do banco: Charlie Russell.
Os gêmeos provavelmente estavam cuidando do restante do assalto.
Charlie digitava a senha com as mãos trêmulas e lágrimas no rosto, talvez sabendo que sua vida estivesse por um fio graças a quatro filhos da puta que sabotaram todo o seu investimento. Provavelmente todos os seus funcionários partiram dessa para melhor e agora que estava com uma arma apontada em sua cabeça, ele nem mesmo tinha escolha, principalmente quando viu que eu também segurava, porém, eu não tinha só uma de fogo como também tinha uma branca.
E ele sabe que eu as usaria sem qualquer receio.
Contudo, é fácil ver de fora e sentir pena, quando somente nós sabíamos o que ele escondia por trás dessa máscara de homem generoso. Todos estávamos quites, pelo visto.
— Por favor… Poupem minha vida, eu tenho uma esposa e três filhos, eu imploro — o Russell disse aos prantos assim que desbloqueou a porta depois de digitar a senha correta e pressionar a palma da mão no sensor de reconhecimento.
— Aí, cala a porra da boca e mostra onde tá a merda do dinheiro — Hakkai responde, friamente, deslizando o indicador pelo gatilho, talvez para assustá-lo.
Com as mãos ainda erguidas, o homem seguiu seus passos até o centro da sala, a qual continha uma espécie de mesa larga, o branco brilhava tanto que chegava a doer nossos olhos. Ele começou a digitar a próxima senha lentamente, resultando em um suspiro pesado do azulado, mostrando sinais de que já perdia a paciência aos poucos.
E então, foi revelado as fileiras repletas com notas.
Me apressei para pegar os bolos de dinheiro de forma desajeitada, enfiando dentro da mochila, olhando em volta para checar se estava realmente tudo limpo, contudo, nosso refém sofreu uma pancada na parte de trás de sua cabeça repentinamente, todavia, soube de imediato o motivo. Meu amigo havia feito aquilo ao ver que ele tentou sacar sua arma enquanto eu roubava aquela merda de dinheiro.
— Seu otário de merda! — o grito de Hakkai dispara, junto de mais três tiros diretamente na nuca do mais velho — Porra, vai se foder!
Eu me mantive em silêncio, agora recebendo ajuda do mais alto para guardar tudo dentro da bolsa. O som do alarme estava cada vez mais irritante, eu sabia que isso geraria atenção logo, então precisávamos ser rápidos. A mochila já pesava com as notas até conseguirmos enfiá-las em cada canto para que não faltasse, aproveitei para vasculhar em outros cantos da área enquanto o mais novo se apressava para colocar o notebook na mesa e abrir a tela, ligando-o e conectando o pendrive, não demorando para começar a digitar freneticamente.
Deduzi que estivesse cuidando do arquivo.
Peguei mais alguns acessórios de valor e deixei junto das notas de dinheiro, ouvindo os sons dos dedos de Hakkai apertando as teclas juntando com as dos códigos sendo criados no documento que ele preparava. Confesso que mesmo ele tentando fazer aquilo o mais rápido possível, eu estava começando a ficar agoniado por não sair logo dali.
Eu ainda estava na condicional, foderia completamente se os policiais tirassem minha máscara.
— Cara, pode ir na frente se quiser — ele tenta me tranquilizar.
— Tá maluco?! Eu não vou te deixar pra trás, porra — arqueio uma sobrancelha, contudo, um sorriso de canto surge em meus lábios — Não era uma cova pros dois?
Hakkai manteve seu olhar ao meu rosto por curtos segundos, liberando um riso fraco entre os dentes e balançando a cabeça em negação antes de voltar ao processo. Seus dedos prosseguiram digitando tão rápido que meus olhos mal acompanhavam, além dele estar salvando tudo repetidas vezes para que nada saísse da linha. O alarme estava estridente e algumas sirenes poderiam ser audíveis ao longe, me causando um pouco de ansiedade.
Demorou longos segundos para a barra de carregamento finalizar e ele finalmente salvar o arquivo definitivamente, fechando-o e guardando as pressas dentro da mochila, e então conseguimos correr o mais rápido possível. Enxergamos os gêmeos próximos da porta, deduzi que estavam nos esperando para podermos vazar desse lugar imediatamente, porém nos deparamos com a surpresinha desagradável das viaturas cercando em frente ao banco.
A porra da van estava do outro lado, se passássemos daqui… Seríamos baleados por cada um desses tiras. As armas estavam apontadas para nós quatro.
Eu e meus amigos trocamos um breve olhar, pensando em apelar para o ataque, já que estávamos todos armados, mas não precisamos prolongar os pensamentos quando outra van invadiu a área, levando algumas das viaturas para longe junto com alguns dos policiais, finalmente liberando a passagem para a van que viemos. Arregalei levemente os olhos com a chegada inesperada e tão tarde, contudo, eu não reclamaria.
— Vai, vai, vai! — grito.
As portas traseiras do porta-malas da van são abertas, revelando Marina mascaradas com suas roupas pretas, igualmente a nós. Sabíamos que quem estava dirigindo era Tom, então não paramos para pensar em qualquer coisa antes de correr. Os gêmeos se apressaram para entrar no veículo que estavam desde o começo, enquanto eu e Hakkai nos apressamos para pular dentro da van que Marina estava, recebendo a ajuda dela. Sua mão foi estendida primeiro para mim, me puxando e não demorando para fazer o mesmo com Hakkai.
— Tom, já tô com eles! — ela grita, fazendo o mais velho dar partida no exato momento que o tiroteio começou.
Tive que me jogar para empurrar Marina para longe, impedindo um tiro de acertá-la, enquanto Hakkai se apressava para pegar a arma e finalmente disparar para acertar os tiras, agachado pra não se desequilibrar. Eu e a garota fizemos o mesmo depois de conseguirmos manter o equilíbrio, também agachados, porém as minhas costas estavam pressionadas na parede do veículo, vendo-os nos seguir com seus carros conforme Tom acelerava.
— Chegou na hora, samuraizinha — o Shiba brinca, fazendo-a liberar uma risada fraca.
— Ah, cala a boca — ela responde, não deixando seu tom brincalhão passar despercebido enquanto atirava com sua metralhadora.
Me concentrava em acertar as balas nos que estavam nos perseguindo, quase rolando para o lado se eu não me segurasse assim que uma curva foi feita. Quando as balas acabaram, imediatamente tratei de procurar outra arma, sentindo a sensação de adrenalina dominando meu corpo. Tantas coisas a se pensar que eu só vasculhava canto por canto daquela van.
— Takashi! — Marina me chama, atraindo meu olhar — Toma.
Ela me jogou uma pistola recém-carregada, imediatamente me fazendo destravar para voltar à confusão eufórica. Algumas balas eram acertadas no nosso automóvel, enquanto as nossas conseguiram alcançar dois policiais e causar um estrago nas janelas dos veículos.
De repente, um grito do Shiba ecoou, contudo, não tivemos nem tempo de encará-lo com toda a merda acontecendo. Não precisava de mais de um neurônio para saber que ele havia sido acertado, mas mesmo assim não parou de atirar, conseguindo atingir um dos policiais que dirigia, resultando no veículo atrás bater, impedindo o caminho. Comparando a quantidade de antes com a de agora, estava mais fácil de competir.
Marina se afastou e voltou apressadamente, lançando um objeto que só pude ver depois que eram sacos de tinta preta. A cor se espalhou pelo parabrisa de um deles, fazendo-o se atrapalhar completamente, gerando um total caos quando outros carros bateram atrás, logo mais deles se atrapalharem e se juntarem à batida. Quando Tom acelerou mais uma vez, uma das viaturas acabou explodindo.
E então, finalmente acabou.
Com a respiração ofegante, me sentei no chão do veículo, puxando o tecido para fora do meu rosto, resultando nos meus fios bagunçar ainda mais. Meu coração martelava no peito, gotículas de suor escorriam de minha testa até o queixo, agora realmente exausto.
Visualizei Hakkai fazer o mesmo, respirando da mesma forma que eu e Marina, esta que se apressou para retirar o tecido do rosto e revelar os fios negros e curtos. Os ventos faziam as madeixas voarem na direção que os empurravam, todavia, ela não pareceu se importar nem um pouco. Nós dois olhamos para a coxa direita do Shiba, conseguindo ver o ferimento nada bonito.
— Ah, seu idiota… — a mais nova o repreende, rasgando o tecido, provavelmente para amarrar envolta — Deixa, eu cuido disso.
Suspirei pesadamente, inclinando minha cabeça para frente com um sorriso mínimo, deixando que meus olhos se fechassem na tentativa de relaxar um pouco. Meu interior todo se corroía como se meus órgãos estivessem sendo engolidos. Imediatamente peguei meu celular, desbloqueando com a digital e abrindo o aplicativo de mensagens, não demorando para encontrar a conversa com [Nome].
“Tô com saudade.”
Enviei a mensagem bem na hora que terminei de digitar. Eu estava bem e precisava que ela soubesse disso com uma simples mensagem, visto que o meu trabalho não é um segredo entre nós, fato este que até me deixava aliviado por não precisar esconder absolutamente nada dela.
Eu não suportaria viver com isso em minhas costas sem que ela soubesse.
Estava tudo tão caótico que só consegui me lembrar de mandar uma mensagem para [Nome]. Era uma necessidade tão forte de deixá-la tranquila sem qualquer medo. Eu me culparia se ela passasse seu dia pensando que poderia ter acontecido algo comigo, além de que isso poderia atrapalhar sua concentração na aula e até mesmo no dia-a-dia.
— Tudo bem por aí? — Tom pergunta um pouco alto para que seja possível ouvirmos.
— Estamos bem, mas… — Marina olha para o azulado enquanto termina o nó, ele não escondia a dor em sua expressão facial — O Hakkai tomou um tiro.
— Ah, merda… Essa porra dói! — o mais novo reclama.
— Eu sei que dói, Hakkai. Porra, como você consegue ganhar um ferimento diferente a cada dia de trabalho? — ela balança a cabeça em negação — Eu vou começar a andar com um kit de primeiros socorros, porque tá difícil.
— Ah, você é uma fofa, Marina — provoca, sorrindo travesso — Fala a verdade, você fica toda preocupada desse jeito porque sente minha falta.
— Você é ridículo — a garota responde, não contendo uma gargalhada falha pela audácia de seu ex-namorado.
Os próximos minutos seguiram com reclamações do azulado e broncas vindas de Marina em resposta, o que já era até uma rotina quando nós três estávamos juntos. Eu permaneci em silêncio e alheio até meu celular vibrar mais uma vez, imediatamente me fazendo desbloquear assim que vi a resposta de [Nome] à minha mensagem.
“Eu também tô.”
Um riso nasal escapou, contudo, bloqueei o aparelho assim que percebi a velocidade diminuindo, atraindo meu olhar à minha esquerda e conseguindo visualizar o galpão com alguns grupos espalhados. Alguns rostos não entravam muito em minhas memórias, poderia ser ou não a primeira vez que estavam ali, enquanto outros já participavam de minha rotina.
Pulei da van junto com a mochila em minhas costas, tratando de pegar as coisas de Hakkai para que ele pudesse sair com Marina mais tranquilamente. Tom apareceu em nossa frente para também ajudá-lo, jogando mais uma bolsa em minha direção, a qual peguei imediatamente antes de seguir meu caminho até Elloise, que estava sentada em uma mesa amadeirada enquanto contava as notas de dinheiro. A mais velha fumava um cigarro, porém assim que me viu, ela virou o rosto na direção oposta para liberar a fumaça.
Tom se aproximou dela, deixando um selar em seus lábios antes de se afastar, bagunçando levemente meus cabelos antes.
Sinceramente, existem raros casos de ter um casal, que já estava na faixa etária dos cinquenta, sendo tão saudável como eles no tráfico. Eu não poderia dizer que nunca vi, porém, era mais fácil encontrar um homem abusivo ou uma mulher manipuladora, do que dois amantes de verdade.
Esses dois, não… Tom é louco por Elloise e é capaz de matar por ela, assim como ela é capaz de morrer por ele.
— Takashi, querido — ela ergue as sobrancelhas — Espero que não tenha sido pego.
— Não fui eu quem levei um tiro — libero uma risada fraca, virando o rosto na direção que meu amigo estava sentado para ser tratado — Tá tudo aqui — eu encaro a mais velha.
— Ótimo! Coloque tudo aqui, irei verificar.
Eu assenti, deixando a mochila que continha o dinheiro e objetos de valor para que ela pudesse checar tudo. Esta separou as notas de forma organizada antes de verificar tudo, abrindo o zíper e se apressando para tirar as coisas furtadas. Pude ouvir o barulho da porta se fechar, seguido da tranca, reconhecendo a figura de Ash, que se apressou para vir em nossa direção.
— Achei que nos alcançaria — comento.
— Foi mal, cara, eu fiquei atolado — suspira — Cheguei o mais rápido que posso, tive que despistar uma maluca com uma serpente atrás de vicodin.
— Quê? Você lembra do rosto dela?
— Ah… Bem, ela tem cabelo colorido, olhos cor de mel e a pele negra — descreve — Se você me perguntar o tipo de coloração, eu não vou saber te explicar muito bem, mas me parecia um azul desbotado que tá perto do verde.
— Tem certeza que não é uma cliente fixa ou você não lembra? — continuo questionando.
— Foi mal, cara, eu não sou bom com rostos — dá de ombros.
— Tá, de boa. Mas você vendeu alguma coisa pra ela?
— Fentanil. Ela disse que queria uma parada forte e vicodin não é bem a melhor opção, se o intuito é deixar tudo mais intenso.
— É, eu sei como funciona, irmão — respondo — Você vendeu só um frasco?
— Sim, só um.
— Beleza.
Não que todas essas informações fossem realmente úteis, mas eu precisava ter certeza de cada detalhe para não gerar um mal entendido ou qualquer merda que poderia ferrar com qualquer um aqui. Alguns clientes poderiam vir somente pelas drogas mesmo, enquanto outros poderiam ter recebido algum comando. Depois da nossa obra naquele banco, eu senti realmente que minha vida voltaria a ser um inferno por trás das grades, não só a minha, como a de Hakkai.
Eu o encarei em uma distância considerável de onde eu estava, vislumbrando Marina ajoelhada na frente dele enquanto se concentrava em cuidar do ferimento visível pelo pedaço da calça ter sido rasgada pela faca dela. Era possível ouvir os resmungos do Shiba, mas ele permanecia imóvel para não atrapalhar nossa companheira.
— Mandou bem, viu, Takashi — a voz de Elloise chama minha atenção — Você nunca me decepciona. Sabe bem o motivo de eu sempre te dar todas essas responsabilidades.
— Você confia em mim, eu sei, você sempre fala isso — sorri de canto — Tá, eu posso até considerar isso uma honra — brinco.
— Pois considere — ela responde, rebatendo a brincadeira — Não é qualquer um que me ganha dessa maneira.
Eu liberei uma risada fraca, começando a retirar as luvas pretas de minhas mãos e jogando-as na mesa, fazendo o mesmo com o casaco de couro e a camiseta, somente para tirar a de manga comprida que estava por baixo, não demorando para me vestir novamente com a de mangas curtas. Tratei de dobrar as vestimentas antes de deixá-las em um canto do objeto amadeirado, seguidamente batendo meus olhos na figura de Marina se aproximando. Ela retirou as luvas e o casaco, junto com os protetores dos braços, revelando as tatuagens que cobriam a pele pálida.
Hakkai não perdeu tempo para retirar as proteções, igualmente a nós.
— Marina, verifique a mala de armas brancas — Elloise pede.
— Pode deixar — a morena responde, afastando-se.
— Aí, não esquece que eu e você ainda temos que conversar — Hakkai disse.
— Relaxa — asseguro.
— Takashi — alguém me chama, o que me faz encarar quem quer que fosse, me deparando com uma loira de olhos azuis — Eu queria discutir uma coisa com você.
Ela parecia ter uma postura confiante, embora seu olhar parecia demonstrar certo nervosismo. Isso é por estar falando comigo ou algum medo de que eu apontasse uma arma na cabeça dela?
— E quem é você? — pergunto.
— Maeve — responde — Uma das filhas do colega de trabalho do seu pai.
— Ah, sim… Tem tanto otário que trabalha pro Javier, o seu pai é um deles, então — comento, percebendo que pareceu incomodá-la somente depois de ter terminado minha frase, contudo eu não me desculpei — E o quê que cê quer?
— Bom, um acordo. Olha, eu sei que as vendas já lucram o suficiente, mas e se pudéssemos fazer isso tudo aumentar? — sugere.
— Como assim?
— Então… — ela sorri minimamente — Eu tô no ensino médio. A minha média é 3.95 e das minhas irmãs Jaeme, Amy e Leany também tem a média acima de 3.7.
— Hm… — resmungo, apoiando meu tronco na mesa com as mãos nos bolsos, esperando que ela continuasse.
— E… Takashi, nós somos garotas que ninguém imaginaria vendendo… Sabe… Substân-
— Drogas. Sim, eu sei. Para de falar em códigos e desembucha logo — suspiro.
— Enfim… — prossegue — Eu tava pensando… E se existisse todo um sistema extremamente infalível pra vender ilícitos sem ninguém se metendo? — tomba a cabeça para o lado — Hipoteticamente falando, é claro, vamos supor que a gente conseguisse pagar quinhentos dólares por mês pra elas serem aviõezinhos, como garantia nós faríamos o upload no celular em uma nuvem que eu tenho.
— Por que você quer fazer isso? — questiono.
— Ótima pergunta, Takashi… — a mais nova sorri de canto — Eu sou uma sonhadora. Apesar de termos médias fantásticas, nós também temos coisas nos celulares que… Não queremos que o mundo saiba, porque colocaríamos em risco a possibilidade de entrar em IAO, Columbia, Harvard… Além disso, se fôssemos pegas, só pegaríamos de seis a doze meses.
— A intenção de vender drogas é uma pena maior — argumento.
— Não pra menores de dezoito — rebate — O que não é nada comparado a ter a vida toda exposta na internet, então a vontade de denunciar é reduzida praticamente a zero.
Suspirei pesadamente, tombando um pouco a cabeça para o lado, agora cruzando meus braços enquanto o plano, incrivelmente, tão bem elaborado foi revelado. Meus olhos encontraram os de Hakkai por alguns segundos, sua expressão demonstrava tanto interesse quanto o meu.
Sinceramente, ouvir um plano tão bem feito por uma garota como essa me surpreendeu um pouco. Talvez pelo ponto que ela mesma esclareceu sobre sequer imaginarmos vendo-a como uma das responsáveis pelo tráfico.
— É uma ideia incrível — eu disse, mantendo minha atenção para ela mais uma vez — Você é uma gênia, pestinha.
Ela sorriu, nitidamente vitoriosa.
— Obrigada.
— Então beleza — me desencosto da mesa, pegando as chaves perto de Elloise — Eu vou pegar uma mala de cinquenta mil pra você.
Me afastei, tratando de direcionar meus passos à entrada dos fundos daquela área.
— É… Espera — a garota me impede de prosseguir meu caminho, novamente me fazendo encará-la — Acho melhor a gente começar com menos.
— Dez mil? — sugiro.
— Fechado.
E então, finalmente dou continuidade, passando por outro grupo que checava a munição, me deparando com as entradas de cada espaço quadricular ao lado do outro em cada fileira, aproximando da quarta e girando uma das chaves até conseguir enxergar cada quantidade das três malas juntas, pegando a específica do acordo. Dentro, tinha qualquer dose e substância que se podia imaginar, desde as lícitas às ilícitas. Não enrolei para trancá-la novamente e retornar para entregá-la.
— Se você pagar mil pra cada uma delas, você pode conseguir vinte — explico, já à frente da garota mais uma vez — Isso é sete mil de lucro. Três pra mim e quatro pra você — estendo a mala, ela pega rapidamente.
— Valeu, Takashi. Você não vai se arrepender — assegura.
— Você me paga e pega mais daqui há um mês — aviso.
— Ah, sim… Perfeito — responde, finalmente se preparando pra se afastar.
— Aí, pestinha — eu a impeço de prosseguir, fazendo-a se virar para me encarar novamente — Se você foder comigo, eu mando te sequestrar e vendo seus órgãos pra canibais na Dark Web — com esse recado, ela desmancha o sorriso lentamente, encolhendo os ombros — Sempre dou um jeito de recuperar meu dinheiro.
Algumas risadas soaram diante aquela conversa, de repente tão inusitada, agora sendo visível o receio que corroeu os olhos azuis, contudo, ela sequer disse uma palavra, como se estivesse com medo de me responder de uma forma que eu não gostasse.
— Tô falando sério — quebro o silêncio.
— Tá bem… — ela sorri pelo nervosismo.
Tom liberou uma gargalhada divertida com o diálogo, se aproximando da garota.
— É, eu me cuidaria bem se fosse você, garotinha — ele aconselha — Mas você é inteligente, vai saber o que fazer.
Maeve, agora, sorriu timidamente diante ao elogio do mais velho para descontrair o clima pesado que acabei criando de propósito. Cerrei as sobrancelhas quando percebi suas bochechas coradas, não contendo um riso entredentes assim que me dei conta de que é Tom quem estava falando com ela.
Apesar de seus cinquenta e três anos, o mais velho sabia exatamente de como se cuidar fisicamente. As madeixas brancas não escondiam seu charme, além do corpo bem trabalhado graças a academia e repleto por tatuagens pela pele branca. Os olhos azuis-esverdeados realçavam bem sua face, além disso, também andava com a barba feita.
Sua mulher similarmente não ficava para trás. As madeixas eram um loiro bem claro, pele pálida como se fosse extremamente sensível, um corpo que deixava qualquer cara de queixo caído para quem estava com quarenta e oito anos, também tendo tatuagens acompanhando sua anatomia chamativa. Os olhos acinzentados eram quase capazes de hipnotizar qualquer um.
— Obrigada, Tom… Vou me esforçar — ela disse, não escondendo seu tom de flerte.
— Já explicou pra ela o que fazemos com quem se joga para cima de homens casados? — Elloise intervém — Pense mais com a cabeça e menos com a boceta, menina. Dê o fora daqui antes que eu estoure a sua cara com uma bazuca.
Maeve, dessa vez, arregalou os olhos quando percebeu que Elloise não estava brincando. Seu marido balançou a cabeça em negação, achando graça de toda essa cena. A mais nova se apressou para seguir até a saída, aguardando Ash abrir a porta, e então, ela finalmente desapareceu de nosso campo de visão.
— Sabe do que você tá precisando, colega? — Tom chama minha atenção novamente — Beber — eu liberei uma risada fraca, sentindo o braço rodear meu pescoço — Daqui, vamos diretamente pra minha casa. Chama a sua garota, ela vai gostar.
— Não sei, Tom — desvio o olhar.
— Ah, querido… — Elloise se aproxima — Nos acompanhe. O imbecil do Javier tá quase explodindo a sua cabeça. Um rapaz de vinte e um merece aproveitar o máximo possível, se não vai fazer isso com seus amigos, faça comigo e meu marido.
Me permiti sorrir, sentindo o aperto da mais velha em meu ombro, contudo, ela me fez encará-la mais uma vez quando começou a massagear minha clavícula, me fazendo resmungar quando ela apertou um músculo tenso. A loira arqueou levemente as sobrancelhas.
— Tá vendo? Você precisa relaxar.
— Tá, tá… Você venceu — balanço a cabeça em negação, fazendo-a sorrir largamente ao tirar as mãos de mim, seguidamente Tom me deu um tapa fraco nas costas.
— Você também é bem-vindo, Hakkai, não esqueça — o Scott avisa.
— Acha que eu perderia uma chance de beber com vocês? — o azulado alarga o sorriso.
Tratamos de dar continuidade ao trabalho. Elloise separou os coletes com os utensílios que precisaríamos com algumas substâncias, além das notas de dinheiro que ela organizou e guardou nos fundos junto com as outras malas. Hakkai teve que se manter sentado por causa do ferimento, mas não deixou de trabalhar, ajudando Marina a organizar as armas brancas e a Scott mais velha a separar os comprimidos em pacotes, além das gramas certas do pó.
Souya e Nahoya apareceram junto com Raphael, anunciando que conseguiram despistar os policiais e por sorte encontraram o mais velho, que seguiu por um atalho e eles apenas foram atrás. Sinceramente, esse cara poderia ser má influência em tudo e nos fazer criar uma repulsa extremamente gigantesca por ele, todavia, ele conseguia ser útil quando se tratava de um plano de fuga.
Um dos motivos de fazer parte do exército de Javier.
— Separa isso aqui — Raphael disse, arrastando um pacote de aspirina com o de pó na mesa — Com isso aqui.
— Pra quem é? — questiono, pressionando o último botão do colete debaixo de minha camiseta.
— Calf — responde — Mas leva pro trombadinha ali — ergueu a mão para apontar com o polegar.
Olhei na mesma direção avistando uma das crianças que Javier insistia em manter aqui. Eu sempre preferia evitar a todo custo, independente se fosse útil ou não, eu odiava meter qualquer criança nessa merda toda.
— Cara, pode deixar ele de fora — o encaro — Não vou mandar um moleque de dez anos traficar drogas.
Me virei para seguir meu caminho até as motos estacionadas, a minha estava entre elas. Precisava meter o pé daqui para continuar o meu trabalho antes que me mandassem fazer qualquer outra coisa absurda como essa. Eu preferia esconder um corpo do que isso, e esperava que esse corpo um dia fosse de Raphael.
— Sabe que outra pessoa vai mandar ele fazer isso de qualquer jeito, né? — o mais velho lembra.
— Não é problema meu, eu não faço essa merda — respondo, colocando o capacete.
Montei na moto, ouvindo-a roncar depois de ser ligada. Ash abriu o portão mais uma vez, não demorei para direcionar a moto ao caminho certo, tendo que ir um pouco longe para conseguir me encontrar com os clientes que me foi listado para hoje. Não fiquei muito feliz vendo algumas pessoas tão novas recebendo alguns pacotes, outras em um estado crítico de vício, já algumas pareciam apenas ter uma necessidade de diversão com as drogas servindo de estímulo.
Não é atoa que algumas delas faziam a sensibilidade aumentar na relação sexual. Não me orgulho de ter usado isso algumas vezes em minha vida só para me forçar a sentir alguma coisa, visto que a frustração havia preenchido cada camada de meu cérebro. Acredito que eu nunca mais precisaria, depois de ter aprendido a minha lição estando na pele de um viciado, eu já não sei o que é sentir a adrenalina de um ilícito já faz um bom tempo.
Há muito tempo.
Consegui terminar quando o sol se pôs, aproveitando para passar em casa e tomar um banho. Eu realmente queria poder descansar um pouco agora, mas eu não queria furar com Tom e Elloise, além disso, Hakkai e Marina também estariam me esperando. Enchi o pote de Liu com ração e troquei a água, em seguida vesti uma camiseta acinzentada para acompanhar a calça jeans preta, não me esquecendo do casaco da mesma cor para me proteger do frio.
Meus olhos rolaram pela cômoda, a qual tinha alguns papéis desorganizados que estavam jogados no chão antes. Peguei um deles, vislumbrando o desenho de uma modelo vestindo um longo vestido azul-marinho decotado, chegando a cobrir os pés, acompanhado de um casaco branco, o tecido sendo nitidamente de uma pelagem sedosa, rico em detalhes.
Outros desenhos estavam jogados além desse. Desenhos feitos por mim.
Um suspiro fugiu de meus lábios antes de eu decidir sair. Tinha deixado a moto fora do prédio para não me dar o trabalho de ir de um lado para o outro com ela. Não demorei para me apressar, dando partida ao destino desejado. Cheguei uns dez minutos depois em frente ao condomínio dos Scott, sendo permitido a entrar quando foi avisado à Tom, e então segui à frente até encontrar o apartamento dele, vislumbrando a porta aberta, provavelmente o mais velho deixou assim quando minha chegada foi anunciada.
Estacionei na garagem, retirando o capacete, seguidamente me direcionando à entrada. Fui recebido por Konan, uma Rottweiler, que parou para me cheirar antes, recebendo um carinho de meus dedos no topo de sua cabeça. O rabo da cachorra sacudiu em reação, enquanto sua língua estava pra fora para que sua respiração fosse liberada. Os olhos brilhantes pararam em meu rosto, resultando em um sorriso meu automaticamente surgir.
— E aí, garota — dou alguns tapinhas fracos na lateral da cabeça desta, fazendo-a se agitar para pegar minha mão, sabendo que aquilo é uma brincadeira — O Liu sente bastante sua falta.
— Eu também sinto falta dele — a voz de Marina ecoa enquanto se aproxima de mim no hall — E aí — ela ergue seu punho em minha direção.
— De boa? — faço de igual forma para dar um soquinho leve como um comprimento.
— Uhum. O Hakkai tá lá com eles.
Eu e a mais nova caminhamos até a cozinha, conseguindo ser audíveis as risadas dos mais velhos, não cessando quando notaram a minha presença. O Shiba tinha um sorriso travesso nos lábios, levando a garrafa até os lábios para beber o conteúdo alcoólico. A cena em si me levou a conclusão que alguma besteira fugiu da boca dele para esses dois gargalharem tanto, visto que as vezes as piadas passavam dos limites quando se juntavam, principalmente acompanhados do álcool.
— Eu tive que correr tanto atrás de você, garoto — Elloise disse, entre as risadas.
— Eu não sei nem de onde tirei tanta força pra correr de você — o Shiba responde, se juntando às risadas.
Talvez estivessem relembrando alguns momentos da infância de meu amigo, o que me fez pensar que poderiam estar lembrando das encrencas que ele se metia enquanto ainda estava com seus doze ou treze anos, eu não conseguia me lembrar tão bem, já que algumas partes me foram contadas somente depois do ocorrido.
Peguei uma garrafa de cerveja, usando o abridor para conseguir arrancar a tampa sem precisar usar meus dentes, seguidamente me sentei ao lado do mais novo, dando um gole na bebida alcoólica, que não estava tão gelada, visto que se encontrava fora da geladeira. Enquanto a conversa prosseguia, chequei meu celular para saber se tinha alguma coisa de importante, o que não levou a ser o caso, além de meras notificações que não chamaram minha atenção.
— Isso explica suas diversas cicatrizes — ouço Marina comentar.
— Elas tem história — o azulado responde — Acredite, eu até fico feliz em ter boa parte delas quando lembro que foi por eu ter brincado e me sujado o máximo que consegui quando eu era criança.
— Você nos enlouquecia de preocupação — Elloise disse — Okay, eu ficava mais do que Tom, mas você era tão encrenqueiro que eu só sabia pensar que você acabaria se matando.
— Tanto estresse por uma criança brincando causa rugas, meu amor — Tom brinca.
— Eu estou bem até hoje — rebate, fazendo-o rir antes de dar um gole na cerveja.
— Sim, realmente… Tenho que concordar dessa vez.
A mais velha sorriu para seu marido, não deixando passar despercebido que a resposta dele agradou-a. Eu e Hakkai nos entreolhamos e sorrimos de canto, logo em seguida um riso entredentes foi liberado de mim, novamente bebendo a cerveja e engolindo o líquido.
— Eca… Vocês são nojentos — Marina repreende, mas não desmanchando seu sorriso mínimo.
Mesmo que ela dissesse essas coisas quando os dois tinham qualquer interação romântica, eu sabia que ela ficava feliz por eles. Eu e Hakkai também, visto que raramente um casamento funciona tão bem quanto o desses dois nos dias de hoje.
— Okay, definitivamente não consigo ficar somente na cerveja. Preciso do meu vinho — a loira disse, tratando de ir até a coleção que guardava fora do cômodo.
— Traga a garrafa — Tom pede.
— É exatamente isso que vou fazer.
O mais velho bebeu o restante da cerveja que sobrou, deixando a garrafa de vidro vazia na pia. Continuei dando goles em silêncio, ouvindo a conversa aleatória do Shiba com nossa amiga, todavia, o arranhar de garganta do Scott mais velho me chamou atenção, assim pude ver que ele olhava pra mim. Estranhei, devido ao seu silêncio, aparentando aguardar que eu falasse alguma coisa.
— Está indo bem?
Sua pergunta me deixou confuso. O quê, exatamente, estava indo bem?
Talvez ele quisesse saber se eu estava tendo algumas dificuldades no trabalho, se eu estava me saindo bem cuidando de minha própria saúde… Ou quem sabe, como estava indo com minhas irmãs e o monstro que andava por aquela casa, fazendo-a se tornar ainda mais aterrorizante que o comum. Tom não sabe de toda a história, mas sabe que Javier é um cão sujo e desleal com a própria família, mesmo que conseguisse transparecer tamanha confiança aos olhos de fora, sei quem é o Diabo que ronda em minha vida.
Dessa vez não sou eu.
— Não entendi — finalmente respondo.
— Você e a garota.
Oh… Isso.
Meu olhar baixou, seguido de um sorriso de canto, enquanto meus dedos eram elevados aos meus fios, passando-os pelas madeixas, resultando em bagunçá-los levemente por isso. Eu não sabia o que ele queria que eu realmente respondesse, nós trocamos apenas algumas mensagens por hoje. Cogitei em chamá-la enquanto eu estava me arrumando, mas pelo seu visto por último, deduzi que estivesse ocupada com as coisas da faculdade.
— Eu sei lá… A gente tá indo — respondo, ainda um pouco confuso, contudo, ele libera uma risada fraca.
— Você parece mais leve desde que encontrou essa menina — comenta — Está apaixonado?
Porra, é claro que eu tô.
Acho que seria impossível não sentir alguma coisa se pararmos pra analisar a nossa situação. Eu e [Nome] não tivemos uma relação qualquer como um casinho de adolescente, o que passamos foi a coisa mais real, gostosa e… triste, que qualquer ser humano poderia passar com quem ama. Ela é importante pra mim, assim como eu, talvez, sou pra ela também. Prefiro acreditar que chega perto da minha intensidade, mas não a mesma.
A minha com certeza consegue ser maior.
— A pattyzinha roubou o coração do nosso traficante — Hakkai brinca.
— [Nome]... — Marina comenta — Faz tempo que não vejo ela.
— Ela com certeza deve sentir sua falta — eu disse, desenhando formatos imaginários na mesa com o indicador.
— Voltei — Elloise entra cantarolando, chamando a atenção de todos — Muito bem, vamos detonar essa belezinha — ergue a garrafa enquanto a outra mão segura as taças.
Nem mesmo Hakkai perdeu tempo para começar a se servir, parecendo mais animado que o normal, sabia que era por Marina e a bebida misturada, tendo em vista que ela conseguia fazê-lo se soltar facilmente. É evidente que esses dois ainda tem muito o que resolver até que meu amigo tomasse consciência do que ele realmente estava deixando ir.
Não percebi o tempo passar, mas soube que ficamos tanto tempo conversando e bebendo que Elloise teve que ser levada pelos braços de Tom até o quarto, já completamente desmaiada por ter bebido tanto. Eu e Marina aproveitamos para ajudar Hakkai, já que ele estava ferido e, pra piorar, muito bêbado. Não conseguimos segurar as risadas baixas quando algumas coisas sem sentido escapavam de sua boca, me fazendo pensar que nem mesmo ele sabia o que estava dizendo.
Ao chegarmos no quarto de Marina, o deitamos em um dos lados da cama com cuidado, conseguindo ver a expressão sonolenta do azulado.
— Aí, cara… Eu te amo — ele deixa escapar, me fazendo liberar um riso nasal — Não ri… Isso, é sério, tá legal? — repreende.
— Tá, foi mal, cara — balanço a cabeça em negação, ainda sorrindo de canto quando meus olhos se encontram com os da garota, que também acha graça da situação, mas minha atenção logo volta à ele — E eu também te amo, okay? Agora dorme, você tá podre de bêbado.
Nem sabia se ele havia me escutado, já que vi seus olhos fechados quando me afastei para conseguir checá-lo melhor, decidindo arrumar sua cabeça no travesseiro, em seguida cobri-lo com o cobertor para que não passasse frio. Esse condomínio não é tão aquecedor pra isso.
Encaro Marina quando me aproximo da porta.
— Você-
— Ah, pode deixar. Ele vai ficar bem — ela me impede de falar, como se soubesse o que eu estou pensando.
— Tá — sorri minimamente — Boa noite. Se cuida também, por favor.
— Prometo — ela cruza os braços, encolhendo os ombros com um sorriso fino nos lábios.
Me aproximei da garota antes de decidir sair, deixando um selar em sua testa, em seguida segurei a maçaneta, encarando-a uma última vez. Ela acenou gentilmente antes que eu fechasse a porta, fazendo-a sumir de meu campo de visão, e então, finalmente pude seguir meu caminho até o andar de baixo, encontrando o hall e saindo depois de desbloquear a porta.
Um suspiro cansado fugiu de meus lábios assim que peguei o capacete de minha moto, todavia, o movimento vibrante do meu celular no bolso me impediu de continuar. Peguei o aparelho um pouco rápido, erguendo levemente as sobrancelhas quando vi que [Nome] é quem estava ligando.
Era a primeira vez que ela estava ligando desde o meu retorno.
— Ei, tudo bem? — meu tom de voz soa tranquilo, mas sou cortado imediatamente.
— Vem me buscar — cerro as sobrancelhas ao perceber a voz embargada, indicando que ela está chorando — Vou te mandar a localização, só… Não faça perguntas, eu preciso que você venha — quanto mais ela libera as palavras, mais seu choro parece aumentar — Por favor…
Obviamente, uma sensação aterrorizante embrulhou meu peito e estômago, borbulhando como a adrenalina de cair de um prédio. Contudo, a sensação conseguia ser mais torturante do que a prática. [Nome] estava soluçando de chorar na ligação, eu precisava ver se ela estava bem, se alguém a machucou… Oh, Deus! Se eu souber que foi algum filho da puta que tentou tocar nela a força eu nem mesmo conseguiria me manter são.
De qualquer forma, precisava pensar nisso somente depois, Ela estava precisando de mim, e nesse exato momento.
— Tô indo agora — respondo, encerrando a chamada sem esperar alguma resposta.
Nós conversaremos daqui há pouco de qualquer forma.
A notificação da localização me foi enviada bem rápido, o que me deixou mais tranquilo enquanto eu me apressava para colocar o capacete em minha cabeça, rezando um milhão de vezes para que eu chegasse no local imediatamente para poder acalmá-la.
Eu odeio quando ela fica desse jeito, odeio vê-la chorar, odeio vê-la em agonia. Odeio que ela sofra.
Seja quem for que fez isso com ela, com certeza estava procurando.
E eu faria o filho da puta achar.
Gente, quero agradecer os 3k de views, vocês são demais, muito obrigada mesmo!!!
O que vocês acharam desse capítulo?
Foi um dos meus favoritos, apesar de ter demorado pra finalizar e algumas partes serem extremamente cansativas de desenvolver, foi muito legal de escrever.
Cara, a atualização demorou dessa vez porque tô trabalhando em uma nova fic, que inclusive é de Tokyo Revengers, também! Convido vocês a lerem, também tem essa pegada de crime, só que em máfia, de forma bem mais complexa e trabalhada, e se serve de interesse: é dos irmãos Haitani! Enemies to lovers e uma protagonista super fodástica, do jeitinho que o Diabo gosta.
Inclusive, quero deixar avisado aqui que as atualizações de Arabella se tornarão uma por semana! Como estarei escrevendo duas fanfics agora, é bem mais fácil pra mim atualizar ambas semanalmente, um capítulo por vez.
Ainda não tem capítulos disponíveis, mas soltarei o primeiro na semana que vem! Aproveitem pra seguir a playlist (o link tá na minha bio) e dar uma olhadinha nas informações, que já estão no meu perfil. Vocês não vão se arrepender!
Espero que tenham gostado, me perdoem qualquer erro ortográfico que eu não tenha visto.
Até o próximo capítulo!
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