01. I'm back in Beacon Hills.

ESTOU DE VOLTA À BEACON HILLS
——————— capítulo um.
'uma história termina, para começar outra.'
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EM UM LUGAR ESCURO de sua própria mente, ela podia sentir que já estivera ali. Talvez porque fosse sua cidade natal, de fato. Mas, uma grande parte de si, reconhecia os sons, aquelas estradas e os cheiros antes mesmo que a placa de Bem-Vindos a Beacon Hills passasse por ela.

Viveu uma grande parte de sua infância por aqueles bairros que passava, procurando por aquele casarão no final da rua, que sempre estaria da mesma cor e no mesmo estado; perfeito.

Normalmente, era assim a vida dos Martin.

Talvez tenha começado por Lorraine Martin, a antiga matriarca da família. Diziam que ela jamais saia sem que seus cabelos estivessem cuidadosamente abaixados, seus lábios pintados e uma roupa que qualquer um pararia para olhar.

Ela não tinha tempo a perder, precisava chamar atenção. Talvez para encobrir alguma coisa dentro de si mesma ou apenas porque ela gostava de se sentir poderosa.

Seja o que fosse, Lorraine ensinou sua nora, Natalie Martin, que mais tarde, ensinou sua irmã mais nova e sua própria filha, Lydia Martin. Calista sabia que não tinha uma família funcional, que muitas das vezes, seus cabelos podiam ser considerados mais importantes do que sua saúde mental.

Talvez tenha sido por isso que Calista nunca se deu bem com nenhuma delas.

Natalie Martin era sua tia, irmã de sua mãe. Não é que a menina achava que ela não se importava com alguém, mas como qualquer Martin, sua aparência sempre devia ser a prioridade.

E, então, tinha Lydia Martin.

Calista suspirou quando sua prima veio a sua mente bem no momento em que o carro estacionou na residência dos Martin, evitando olhar pra sua mãe ao lado, que poderia estar se preparando para todas as perguntas; ou observações sobre sua aparência.

Lydia costumava ser sua melhor amiga quando ela morava em Beacon Hills.

De alguma forma, Lydia era diferente de sua mãe; até não ser.

— Callie — Evangeline chamou-a, após tomar um longo suspiro de força e se virar para olhar pra filha mais nova pela primeira vez depois que... — Vai ser melhor para todo mundo se...

— Ninguém souber que um maluco assassino está atrás da gente? — Calista concluiu o pensamento de sua mãe, virando para vê-la, seus olhos brilhando a informação de que ela não conseguiria.

— Não podemos fazer alarme. — Ela parecia cuidadosa. Talvez também soubesse que estava de frente à uma bomba relógio. — Ele ainda não conseguiu o que queria — Calista arrepiou-se, olhando pra sua mãe com fixação. — Deve estar nos procurando e, provavelmente, procurando um velório. — Uma lágrima dançou e manchou o rosto delicado de Eva. — Sabe o que estou querendo dizer, querida?

Clareza não demorou para preenchê-la, fazendo-a encarar sua mãe com novos olhos de abismo.

Sempre pensou em sua mãe como uma rocha inquebrável. Era a imagem daquela mulher que ficava dia e noite acordada, vigiando suas filhas enquanto elas faziam besteiras como festa do pijama e virar a noite assistindo filmes idiotas era a exemplificação de força.

E, talvez ela conseguir ao menos pensar na possibilidade de fingir que sua própria filha não estava morta — e Calista mal conseguir respirar com isso — só podia demostrar que, de fato, ela era sólida.

Mas, ao mesmo tempo, parecia uma atitude de covarde.

Poderia ser a raiva de seu luto recente falando, mas não aguentava mais se esconder daqueles que a caçavam; ela nem sabia o motivo.

Estava exausta de virar as costas para sua própria vida apenas para temer respirar. Não fazia mais de uma semana e já estava igualmente cansada de não conseguir dormir, com medo que o próximo coração que fosse arrancado do peito fosse o dela; ou pior, o da sua mãe.

— Vai me contar o que aconteceu lá? — Ela perguntou, com receio.

Fazia uma semana desde que aqueles caras acharam elas do outro lado dos Estados Unidos e destroçaram o corpo de Celeste Sinclair bem em sua frente.

Calista não conseguia fechar os olhos sem deixar de ver aquele buraco no seu peito de onde eles retiraram o coração dela com as mãos. Como alguém poderia fazer aquilo? Qual seria a força necessária para destroçar pele e ossos e arrancar o coração de alguém? Qual era a maldade necessária para isto?

Eva tinha saído para comprar o jantar e quando chegou, só encontrou a filha mais nova — que tinha sido escondida por Celeste antes de sua morte — em cima do corpo ensanguentado e destroçado da loira, que olhava sem qualquer brilho ou alma para o teto.

Celeste se jogou para a morte e, depois, como uma necessidade, sua mãe explicou que fora sua culpa. Aqueles homens estavam atrás dela e, por algum motivo, confundiram-a com sua irmã mais velha.

Foi o baque para ela, que só compreenderá o perigo tarde demais.

— Eu sinto muito por estar jogando isso em seus ombros — Eva parecia mesmo sentir. Mas Calista sentia seu peito apertar cada vez mais. — Mas eu não posso perder você também. — Os olhos das duas se entrelaçaram. Juntas, elas formavam um elo, onde sabiam que somente elas sentiria o luto por aquela que trazia brilho pra suas vidas. — Diga alguma coisa.

Calista virou pra frente e encarou a casa de sua prima, a luz ligada. Se fechasse os olhos e prestasse muita atenção, quase podia ouvir os julgamentos sobre como seu cabelo estava.

Talvez se dissesse alguma coisa, como sua mãe pedirá, jamais poderia voltar atrás.

Devia ser mais forte do que era. Pelo menos, aparentar. Deixando seu lado emocional de lado, ela sabia que Eva estava certa, que se se permitisse sofrer o luto, então encontrariam ela e Celeste teria morrido por nada. Isso ela não permitiria.

Respirou fundo e sorriu pra sua mãe, aparentando algo que ela não sentia naquele momento.

— Vamos no reerguer.

Evangeline devolveu o sorriso, só que mais fechado.

Quando as duas desceram daquele carro e o trancou, Calista sentiu como se tivesse aprisionando seus próprios sentimentos e jogasse a chave fora, pois ninguém poderia descobrir seus segredos.

Ninguém podia saber que Celeste Sinclair estava morta.

Mas Calista se perguntava se aquilo não estaria estampado em sua cara no momento em que a porta se abriu e sua tia e sua prima a recepcionaram com um abraço.

— Callie, minha menina! — Natalie Martin continuava em toda a sua glória com aquela pele levemente enrugada, os cabelos lisos tocando em seus ombros e os lábios manchados de um vinho escuro. — Como você cresceu. Está tão linda. Ela não está linda, Lydia?

— Está sim — confirmou a garota, com um sorriso rasgando as bochechas rosadas pelo frio.

— Oi, tia Natalie — Calista devolveu o abraço, forçando um sorriso rasgar seus lábios. — Obrigada.

Assim que se afastou da tia e sua mãe da sobrinha, sentiu todos os olhares nela, principalmente o inquisitor da sua mãe, como se estivesse preparada para salva-lá de qualquer deslize que ela pudesse dar.

Como uma lágrima ao ver a melhor amiga de Celeste, Lydia Martin.

— Onde está a Cel? — Lydia perguntou, se inclinando nos próprios pés para tentar enxergar algo atrás de Eva e Calista. Mas não tinha ninguém. — Não vai me dizer que ela se rendeu ao bronzeado de Los Angeles?

Calista não conseguiria.

Seu peito já estava tremendo só com um mero pensamento de sorrir mais uma vez. Se ela abrisse a boca para falar da sua irmã, desabaria.

— Ela conseguiu um emprego em um Studio fotográfico — Eva tomou a frente, confiante, com um sorriso que não combinava com suas olheiras. — Disse que vem nos visitar no próximo verão.

— Elas crescem tão rápido — Natalie comentou, contorcendo a cara em um choro.

Evangeline riu nasalado e soltou um nem me fale tão suave e natural que Calista não conseguiu evitar o estreitar de olhos. Só percebeu que estava mordendo os lábios quando as duas figuras mais velhas se afastaram para a sala e sua prima, Lydia, entrou em sua frente.

— Somos só nós, então?

— Parece que sim — respondeu, arqueando as sobrancelhas.

Lydia soltou um gritinho e bateu palma, rodeando os ombros da prima e a puxando para o segundo andar, onde ficava o quarto de hóspedes que seria o dela agora.

Dava para ver que cada detalhe daquela decoração havia sido pensado pela cabeça de Lydia. Desde as luzinhas piscando em cima da cama até a penteadeira antiga que Calista tinha pintado quando morava ali, há muito, muito tempo.

Evitou soltar um comentário de que moraria com ela por pouco tempo — até Evangeline se firmar no seu trabalho e alugar uma casa —, pois Lydia parecia mesmo animada com tudo isso.

E, apesar de contribuir só com alguns sorrisos falsos e arqueadas de sobrancelhas, Calista admitirá que conseguiu afastar-se da sua mente por pouco naquele tempo que Lydia usou para ficar com ela. Pelo menos, até Eva estar batendo na porta e dizendo que estava na hora de dormir.

Lydia sorriu pra tia, depois pra prima e se foi.

As duas Sinclair se encararam, silenciosas.

— Boa noite, filha — desejou Eva, com a mão na maçaneta.

— Boa noite, mãe.

Mas assim que a porta se fechou e Calista se deitou na cama, sabia que lutaria para dormir.

(...)

■■□□□40%

Calista se recordava pouca coisa de Beacon Hills.

Era uma cidade pequena, onde nada demais acontecia. As ruas eram todas asfaltada e o maior entretenimento que já teve por aquela cidade foi quando os adolescentes mais velhos inventaram um polícia e ladrão por toda a cidade. Eles só deixaram ela participar — que tinha pouco de onze anos — porque um de seus melhores amigos concordou em roubar a sirene do seu pai.

Não conseguiu evitar de sorrir no meio da noite ao se lembrar dele.

Ela não estava em um momento muito bom de sua vida, seu pai tinha acabado de abandonar sua mãe, que antigamente não tinha qualquer visão de um futuro profissional.

Tinha recusado todas as saídas com seus amigos, que costumavam ser apenas na praia vazia de Beacon Hills ou nas montanhas rochosas.

Mas, naquele dia, Stiles Stilinski — cujo nome verdadeiro não era esse — simplesmente roubou seu próprio pai para que ela pudesse participar daquela brincadeira de noite, onde os adolescentes corriam daqueles carros pela rua e nenhum adulto entendia.

Calista sabia que aquela pequena artimanha do garoto rendeu um mês inteiro sem poder jogar seu videogame favorito com o melhor amigo, Scott. Mas ele nunca reclamou e jamais passou na cara dela. 

Tudo o que fazia ela amar aquela cidade habitava naqueles dois garotos. Scott McCall e Stiles Stilinski. Ela os conhecia desde sempre, pois sempre estudaram na mesma escola e na mesma sala, pois Calista fazia questão que sua mãe brigasse na escola para que ela ficasse juntas dos seus garotos.

Estava ansiosa para reencontra-los, para reconhecer as diferenças e abraçá-los, torcendo para que a essência de sua amizade não seja uma das mudanças.

Mas, ao mesmo tempo, ela sentia medo.

Como esconderia um segredo daquele tamanho deles? Provavelmente choraria assim que seus olhos conectassem e culparia sua menstruação, uma das coisas novas nela desde a última vez que estivera naquela cidade.

Em algum momento, Calista adormeceu. Acordar no outro dia foi estranho; levantar da cama foi quase impossível. Natalie e Eva já estavam na cozinha, preparando o café da manhã juntas. Lydia apareceu minutos depois, como se tivesse acabado de chegar de um desfile, seus cabelos estavam perfeitos e seu rosto coberto por maquiagem.

Ela começou com suas ideias sobre o que fazer naquele dia, o último dia antes de voltar pra escola.

Sua primeira ideia foi shopping e isso alegrou um pouco Calista, que tomou rapidamente seu café da manhã para acompanhar a prima com o carro dela.

O dia passou-se entre compras e risadas. Quando elas voltaram para casa, cheias de sacolas com roupas novas e diferentes, cada uma se isolou em seu quarto para arrumar e tomar um banho.

As aulas começariam para Lydia no dia seguinte, mas Calista só começaria na quarta, pois sua mãe ainda estava resolvendo as papeladas.

Recém saída do banho, ela secou o cabelo e fez um coque cheio de fios soltos pelo rosto para se deitar. A casa já estava silenciosa e Lydia deveria estar assistindo algum filme, pois chamou ela para a sala por uma mensagem, que Calista fingiu não ver.

Gostava da prima, gostava mesmo.

Mas seu humor costumava oscilar quando ela passava o dia inteiro fora do seu lugar de conforto, tendo que falar a cada minuto e trocar de roupas. Ela passaria o filme; só por aquela noite.

Seus olhos pararam no quadro que ela tinha ajeitado em sua cômoda. Encarou a si mesma abraçando uma garota loira pelos ombros, que fazia uma careta engraçada. Calista suspirou e passou o dedo pelo rosto da irmã, Celeste.

Ela sim teria adorado aquele dia e provavelmente já estaria fazendo pipoca para comer junto com a prima, então dormiriam juntas e Calista teria que ir desligar a TV quando fosse beber água no meio da noite e cobri-las. Celeste era como uma segunda mãe para Calista e sabia que Lydia também a via assim.

Antes que pudesse se culpar por estar guardando o segredo de sua morte, ela desviou o olhar e deixou de lado os seus pensamentos sobre Celeste.

Estava caminhando em direção a cama quando ouviu um barulho em sua janela. Seu sangue esfriou e ela parou no lugar, divagando consigo mesmo sobre o que ela devia fazer. Em passos curtos, ela se aproximou da janela e, então, a abriu, notando bem ali que estava com as mãos tremendo.

Quais eram as chances de terem encontrado-a no segundo dia que chegou na cidade?

Quando ela ia se inclinar para fora, um corpo rompeu a sua frente e ela soltou um grito nada independente, mas para a sua surpresa, o invasor também gritou e quase caiu com o susto.

— Para de gritar, Cali!

Ela parou de gritar e arregalou os olhos quando encarou quem estava ali.

Não era nenhum caçador que queria seu coração.

Ela soltou um sorriso sincero e quase suspirou o nome do amigo:

— Stiles! — Mas o sorriso morreu quando percebeu que ele estava pendurado no parapeito de sua janela, com os pés se balançando no ar. — O que você está fazendo aqui? Você vai cair!

— Vou mesmo — ele respondeu, contorcendo a cara com medo e se inclinando para abraçar mais o parapeito. — Encontra a gente daqui cinco minutos atrás da sua casa.

— O quê?

— Cinco minutos!

E ele simplesmente caiu.

Preocupada, ela se inclinou pra fora da janela, recebendo um dedão suspenso no ar, para dizer que estava tudo bem; o arbusto que Natalie insistia em deixar ali tinha amortecido a queda.

O garoto se contorceu para sair, deixando ela rir pro nada sozinha por um longo tempo, até se dar conta do que ele lhe falou e se virar para sair.

A porta do quarto se abriu e Evangeline pareceu vasculhar o quarto até encontrar os olhos da filha e suspirar.

— Está tudo bem? — Ah, ela não devia ter gritado. — Eu ouvi você gritar e vim correndo.

— Estou bem, mãe — a garota sorriu, tentando disfarçar a mentira. — Eu abri a janela para entrar um pouco de vento e uma barata nojenta voou em minha direção. — Ela contorceu a cara, imaginando como teria infartado de verdade se tivesse acontecido aquilo. Odiava baratas. — Está tudo bem.

— Certo — a mãe suspirou, mas ainda assim pareceu analisar o quarto, em busca de algum perigo. — Vou dormir um pouco. Amanhã eu começo na Delegacia de Beacon.

— Que bom, mãe — Calista sorriu, feliz de verdade pela mãe. — Boa sorte.

Eva sorriu, então saiu.

Calista se movimentou rapidamente para pegar sua jaqueta vinho no cabideiro e abriu a porta silenciosamente, estudando o corredor antes de sair por ele. Seus passos não foram tão silenciosos quanto ela queria, então buscou fingir normalidade até a cozinha, como se fosse apenas beber água.

Olhando de um lado pro outro, ela sorriu pequeno e avançou para abrir a porta.

— Para onde você vai?

Ela pulou de susto e buscou segurar seu coração antes que ele pulasse também e acabasse fora do peito.

Quando virou-se para observar a prima dentre a escuridão, a luz da cozinha se ligou e Lydia a encarou com um sorrisinho meio maldoso.

— Lydia, você me assustou. — Era óbvio. Mas a ruiva de cabelos soltos apenas arqueou as sobrancelhas como se reforçasse as perguntas. — Estou saindo. Para... é, espairecer.

— Eu vi o carro dos seus amiguinhos.

Lydia sempre fora esperta.

— Espairecer com eles — reforçou, dando de ombros.

As duas se encararam.

Calista se questionou se a prima teria coragem de dedura-lá para sua mãe. Nunca foi proibida de sair com os meninos, sua mãe adorava o Scott e Stiles... Bem, era o Stiles. Os pais costumavam ficar eternamente desconfortáveis, porém bens, com ele.

Mas sabia que se sua mãe soubesse que ela estava planejando sair com eles naquele momento, ficaria de castigo pelo resto do seu ano.

Principalmente por causa da ameaça que parecia rondar elas.

— Tá bom — Lydia deu de ombros, fazendo Calista suspirar. — Mas amanhã você vai sair comigo e com o Jackson.

— Combinado — afirmou, sorrindo.

Então, saiu pela porta, confiante de que sua prima lhe daria cobertura. Passando por um gramado infinito, ela chegou até a rua, onde conseguiu enxergar o Jeep que Stiles tinha ganhado de aniversário.

Ele ligou para ela por Face Time no mesmo dia, gritando tanto que Celeste teve que sair do quarto dela para dar uma bronca em Stiles, que ficou completamente vermelho enquanto Calista e Scott riam dele.

Scott foi o primeiro a vê-lá, sentado no banco do passageiro. Ele deu um tapa de leve no ombro de Stiles que franziu o cenho e olhou rapidamente na direção onde ela estava.

A dupla de amigos pulou para fora do carro conforme Calista se aproximava, com um sorriso enorme e pronta para recebê-los em um abraço. Eles não a decepcionaram nesse quesito, pois a apertaram como se ela estivesse em um poço prestes a cair.

Quando eles se afastaram, tinham sorrisos largos e brilhantes na face.

— Como ficaram sabendo?

— Não por você — Stiles disse, sarcasticamente, fazendo Scott repreende-ló com um barulho com a boca. — O quê?! Nossa melhor amiga chega na cidade depois de anos e eu preciso saber pelo meu pai? Estou terminantemente chateado.

— Desculpa — ela pediu, sorrindo gentilmente para ele. — Eu ia ligar amanhã.

— Depois de fazer compras com Lydia Martin?

— Beleza, o quanto do meu dia você seguiu hoje? — Ela devolveu a pergunta, um pouco assustada, mas não surpresa.

Stiles deu de ombros com um sorriso típico.

— Vai começar na escola amanhã? — Scott perguntou, dispersando o clima cheio de sarcasmo e birra entre os dois.

Eles eram assim.

Stiles costumava responder tudo com sarcasmo, o que divertia Calista, até ser com ela. Ela odiava, de verdade, sarcasmo. Mas, em contra partida, amava o amigo que era preenchido pela figura de linguagem. Os dois formavam uma ótima dupla, mas quando Stiles se lembrava de que gostava de irritar a amiga com aquilo e ela respondia com deboche, Scott era quem entrava no meio para acalma-los.

Geralmente, quando ele conseguia, os três voltavam a conversar normal e rir enquanto Calista entrava no carro de Stiles e zombava de sua carteira de motorista.

Quando Scott não conseguia, bom, era um desastre de colisões.

— Então — ela se inclina para ficar entre o banco onde os dois estavam. — O que vamos fazer nessa noite? Comer uma pizza? — Scott troca um olhar zombatório com o amigo. — Oh, oh! — Calista pulou no banco, tocando sem perceber o ombro de Stiles. — Vamos assistir Diários de uma Paixão, finalmente!?

— 'Tá mais para um filme de terror — cochichou Scott, virando o rosto para a janela.

Calista franziu o cenho.

— Sabe que eu não gosto de filme de terror, Sti. — O garoto de cabelo raspado sorriu com o apelido e bateu no volante como se fossem tambores para prolongar o mistério. — Ah, meu Deus, fala logo!

— Iremos procurar um corpo!

A boca da única garota do carro se abriu e ela encarou o amigo sábio e nada corrupto, que só soube responder com um dar de ombros intenso. Quando Calista ouviu o rádio roubado do Xerife apitar pendurado no painel do carro, sua ficha caiu e ela arregalou os olhos.

— Stiles, isso é crime!

— O que não é crime hoje em dia? — Ele questionou, mexendo as mãos no volante.

— Eu não quero ir — afirmou, cruzando os braços.

— Qual é, Cali — Stiles intercalou o olhar entre o caminho e o retrovisor, onde estava o olhar dela. — Você era mais divertida.

— Eu ainda sou.

— Ah, é? Não parece.

Ela suspirou, sabendo que era um tipo de jogo que Stiles estava fazendo com ela, mas que estava funcionando, pois ela não refutou mais a ideia estúpida.

Com medo da amiga desistir, Stiles se manteve quieto, ao contrário de Scott, que fez questão de dar todos os detalhes sobre a missão que eles teriam ali. Parecia que ele esperava que a qualquer momento, enquanto contava que uma parte de um corpo foi encontrado por dois atletas e que o assassino pudesse estar a solta, Calista fosse desistir.

Com a sua desistência, Stiles não teria o que falar ou fazer além de dar meia-volta e deixar a garota em casa, quieta, rendendo para McCall uma boa noite de sono antes do primeiro dia.

Mas Scott tinha se esquecido do porque Stiles quis buscar a ruiva para início de conversa.

A curiosidade dos dois eram completadas uma com a outra e quase desfaleceu em seu banco quando conseguiu enxergar os olhos de Calista brilhar, querendo saber mais. Mas ele a entendia.

Nada acontecia em Beacon Hills.

Stiles parou antes de entrar na floresta, iluminando a placa da reserva, que dizia atentamente para ninguém adentrar as profundezas daquela escuridão sem fim, principalmente à noite.

É óbvio que nenhum dos três piscaram na direção daquela placa conforme passavam, agora a pé.

— A gente vai fazer isso mesmo? — Scott questionou, dando uma última chance para os dois amigos.

— Você sempre reclama que não acontece nada nessa cidade — Stiles respondeu, passando pelo amigo com uma lanterna.

— Acho que ele estava querendo dizer mais sobre adolescentes bêbados botando fogo em casebres — divagou Calista, acompanhando os amigos.

— Exato — Scott concordou, depois franziu o cenho, pensando no que a amiga disse. — Querem saber? Eu só queria dormir bem antes do treino amanhã.

Ele acompanhou os passos dos amigos.

— Claro! Por que ficar sentado no banco requer muito esforço. — Calista repreende ele com um olhar e quando percebe que ele tenta ignorar, empurra seus ombros. — 'Que é?

Calista bufa e encara Scott.

— Não liga para ele. Eu aposto que você vai se sair muito bem esse ano, Scooter.

O garoto de cabelos ondulados sorriu, sentindo suas bochechas arderem com vergonha, enquanto Stiles revirava os olhos para os dois, perguntando-se quanto tempo demoraria para eles ficarem juntos agora que estavam grandes.

Quanto tempo levaria para ele ficar de lado? Quão fácil seria para Calista esquecer dele?

— Só de curiosidade... — Scott falou algum tempo depois, mudando de assunto quando Stiles jogou na cara dele que seu sonho de entrar no primeiro time não era nada realista. — Qual parte do corpo estamos procurando?

— Eu ia falar que preferia alguma das partes... — Os dois encararam ela. — Mas, sinceramente, vou vomitar e ter pesadelos de qualquer forma.

— É... — Stiles gagueja. — Não tinha pensado nisso.

Scott ri.

— E se... — Era óbvio que ele estava testando os conhecimentos inexistentes de Stiles sobre a situação. — O cara que matou a garota ainda estiver aqui?

— Também não tinha pensado nisso.

— Certo. — Quem riu agora foi ela, só que sem nenhuma graça. — Só quero deixar registrado que se eu empurrar vocês dois sem querer na direção do assassino enquanto eu fujo, não vai ser assassinato.

— Tecnicamente, será — divagou Stiles, recebendo um dar de língua da garota.

Os três subiram o morro com auxílio das mãos, Calista entre Stiles e Scott.

— Que bom saber que planejou isso e pensou em cada detalhe.

— Eu sei — Stiles riu, chegando primeiro no topo e se virando para ajudar Calista.

— Sabe... — Scott estava terrivelmente ofegante. Calista virou para ajudar ele, que se apoiou na árvore, puxando sua bombinha. — Eu acho que a vítima de asma deveria ser quem segura a lanterna, 'né?

— Mas aí como você seguraria a bombinha? — Zombou Calista, com um sorriso travesso de quem não teve nenhuma dificuldade para subir naquele morro.

O que não era uma surpresa para seus amigos.

Suas raizes sempre foram acordar cedo para caminhar, fazer algum esporte no verão e exercitar a mente nos finais dos dias. Se havia alguém que poderia ser coroada a Miss de Beacon Hills, mesmo tendo passado anos fora, era Calista Sinclair.

Talvez fosse justamente aquilo que fizesse os dois garotos pararem uma hora ou outra e se perguntarem o que ela estava fazendo com eles.

Quando os dois se aproximaram de Stiles, o garoto puxou ela para o chão, que puxou Scott junto. Stiles desligou a lanterna e os três estreitaram os olhos para suas frentes, ouvindo passos amassarem folhas.

Se fosse o assassino, Calista jurava que correria.

— Andem logo! — Stiles falou, levantando para correr.

Calista o seguiu, puxando um Scott asmático para correr junto com ela.

— Stiles! Espera!

Mas ele estava muito na frente e tinha sido emboscado pelo... próprio pai. Scott e Calista arregalaram os olhos, tendo um minuto de vantagem para se esconderem atrás de árvores.

Se Noah Stilinski contasse para sua mãe o que ela fez no seu domingo à noite, Evangeline surtaria.

Ela não podia ser pega.

— Cadê seus parceiros do crime?

— Ah, o Scott?

— E a Callie — Noah incrementou. — Sei que ela está na cidade e sei que você sabe porque bisbilhotou minha conversa com a mãe dela. Então, cadê eles?

— Ela deve estar em casa — ele desconversou —, como o Scott, que disse que queria ter uma boa noite de sono antes do primeiro dia de aula. Só tem eu — adicionou, depois de uma longa tomada de ar. — Na floresta. 'Tô sozinho.

Noah não desistiu e chamou pelo nome dos dois, fazendo Calista se pressionar mais ainda na árvore e mal respirar até a luz da lanterna do Xerife ter se desviado novamente, junto com sua atenção.

Stiles, sem escolha, foi puxado pelo pai até o carro. Ela sentia muito pela bronca que ele parecia prestes a levar, mas se preocupou mais com aquele momento em que estava na floresta, sozinha com Scott McCall.

Ele estava mais para uma isca apetitosa do assassino antes de se manquetear com ela

— O que fazemos agora?

— Temos que ir embora — ela suspirou, andando lado a lado com ele, sentindo como aquela floresta tinha ficado muito mais estranha e horrenda sem a presença marcante e engraçada de seu amigo. — Não pense em monstros — murmurou pra si mesma, quase fechando os olhos. — Não pense em monstros.

Sentiu algo deslizar pela sua mão e sentiu seu coração bater mais forte quando percebeu que era a mão quente de Scott, que sorria para ela.

Os dois se olharam e compartilharam um sorriso firmes.

Não tinha o porquê ter medo.

— Vamos — Scott chamou.

Eles andaram por cerca de cinco minutos até Calista parar ao ouvir um som que parecia vir de longe.

— Ouviu isso, Scott? — Ele franziu o cenho enquanto negava, claramente mentindo para proteger o medo da garota. Eles andaram seis passos exatos até o som voltar, mais perto. Calista apertou a mão dele, fazendo-o parar. — E agora?

— Agora eu ouvi — ele não pôde mentir quando puxou a bombinha com a mão livre.

Calista estava pronta para zombar do amigo — apenas para descontrair — quando uma manada de cervos desceu pela colina, na direção deles. Um grito ficou preso na garganta dela quando Scott largou a bombinha e pulou em sua direção, levando os dois para o chão e cobrindo o corpo dela com o seu para evitar que ela fosse pisoteada.

Quando todos passaram, Calista tinha seus olhos fechados fortemente e xingava.

— Você 'tá bem?

Ele a ajudou a se levantar.

Calista assentiu, sem voz.

— Droga, minha bombinha. Pode me ajudar a procurar?

— Claro — ela respondeu, apesar do medo.

Chutou as folhas com as pontas dos pés, tentando esquecer que quase morreu pisoteada por cervos. Se saísse com vida daquela floresta, caçaria Stiles no outro dia e o faria assistir Diários de uma Paixão por, pelo menos, uma semana!

— Scott? — Ela o chamou quando ouviu o seu grito. — Scott! — Correu até ele, como se pudesse ter impedido sua queda do barranco.

Calista tropeçou em algo e segurou um grito quando percebeu que era um corpo. O corpo.

Se arrastou para longe daquilo, completamente em choque. Mas acabou batendo em uma superfície sólida, que se mexia e... babava?

Já com os olhos arregalados, ela olhou para trás, dando de cara com os olhos vermelhos neons. Tudo dentro de si paralisou com aquilo que parecia um animal, mas ao mesmo tempo, não. No curto momento que aquela coisa avançou para matá-la, pôde jurar que sorrirá para ela.

Ela gritou estridentemente quando sentiu os dentes daquela coisa em sua clavícula, fazendo os pássaros dormindo acordarem e voarem para cima, para longe de sua dor e de sua certeza de que morreria, de fato, naquela floresta.

— Calista! — Ouviu de longe a voz de Scott.

E, olhando para o céu, para as estrelas, desejou um último pedido.

— Scott! — Ela conseguiu gritar e ficará feliz por ter sido atendida. — Fuja.

Mas aquilo fez com que aquela coisa saísse de cima dela e corresse na direção de Scott. Segurando o lado do ombro que sangrava sem parar, ela tentou ficar de pé e mancar até onde imaginava que Scott estava, mas o barranco era muito profundo.

O grito de Scott no momento seguinte a fez apagar qualquer resquício de raciocínio lógico e avançar, caindo no morro aos tropeços, mas Scott já havia sido arrastado por aquela coisa e corrido para longe.

Calista sorriu quando viu o amigo fugindo e fechou os olhos.

Desejou que sua mãe não se culpasse pela segunda morte daquele mês.

■■■■■100%

1.
Primeiro capítulo postado com sucesso! Espero que vocês tenham se interessado o suficiente para continuar porque estarei esperando por vocês nos próximos.

2.
QUE ALÍVIO que eu consegui postar essa fanfic na data prevista, ou seja, ainda hoje.

Oi, dezesseis de janeiro de dois mil e vinte e cinco, você sabe que é importante.

Deus ama você.
❤️‍🔥

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