Calum Hood, Los Angeles, 25 de Dezembro de 2019

Eu estava preocupado.

A noite passada foi bem longa. Depois que Angeline me avisou que Luke estava na cidade não consegui aproveitar muito, ele não era o tipo de cara que fazia essas coisas. Quer dizer, apesar de ser sempre muito emocionado ele não cortava o mundo num gesto impulsivo ou largava a família em datas importantes. Ele não fazia isso, Luke nunca faria isso.

Nicole havia percebido a expressão nada feliz no meu rosto e no de Angeline e depois de quase nos matar e usar a gravidez como chantagem contamos a ela. Foi uma péssima ideia, afinal depois disso ficamos os três preocupados e eu me lembrava muito bem da ginecologista falando que grávidas tinham que evitar o estresse.

Angeline foi falar com o Josh e os dois resolveram dormir na casa de Nicole, eu realmente esperava que eles tivessem dormido pois eu não consegui. Nic estava inquieta e eu muito mais, passamos praticamente a noite toda acordados pensando onde Luke podia ter se metido já que não o encontrei em seu apartamento e ele ignorava todas as minhas ligações.

Saí de casa de manhã bem cedo e segui até seu apartamento de novo, torcendo para que dessa vez ele estivesse lá. Fiquei aliviado ao ver seu carro na garagem e usei minha chave reserva para entrar.

Quando abro a porta vejo Luke deitado no tapete. Uma caneta aberta tinha manchado o sofá de preto, duas garrafas de vinho estavam vazias e a sala estava uma zona. Cd's e papéis espalhados no chão, cacos de vidro e muitas fotos. Furacão Angeline Smiths havia passado na vida de Luke e eu não sabia como ajudá-lo.

Eu já o vi bem triste afinal ele já foi traído mas agora parecia arrasado, não parecia mais o Luke. Ele ficou perdido, meio fora de área, fazendo e falando coisas que não combinavam com sua personalidade. Ele mesmo havia percebido isso, tomou a iniciativa de começar a terapia e ficar longe do álcool — um problema que todos nós tínhamos. Claro, tentávamos conversar sobre isso mas com o tempo ele parou de falar, na cabeça dele não tinha mais jeito.

Por isso não entendia o que ele estava fazendo aqui.

— E aí cara? — murmuro quando ele levanta a cabeça em minha direção.

Luke coça os olhos vermelhos com a mão suja de caneta.

— Que horas são?

Me aproximo, me sentando no sofá.

— Seis, sete... Não sei exatamente.

Ele geme enquanto se sentava direito, tentando arranjar uma posição confortável para suas costas após a noite no chão.

— E o que está fazendo aqui?

— Vim aqui ontem a noite mas você não estava, ficamos preocupados, Nicole principalmente. Estou meio puto por ter deixado minha namorada grávida acordada a noite inteira.

Luke engole a seco e desvia o olhar para a janela.

— Eu estava... Estava na Angeline. — admite mas eu já imaginava, estava lotado de fotos dos dois pelo chão, alguém passou a noite remoendo o passado. — Mas ela não estava lá.

— Ela estava na Nicole com a gente, dormiu lá.

Ele solta uma risada sem humor.

— Que bom, eu estava bêbado, não ia acabar bem.

— Foi na consulta anteontem?

— Fui. Eu estou bem, não é bem de uma conversa com o psicólogo que eu preciso. — rebate impaciente.

Talvez se eu desse um soco em seu nariz por quase me matar de preocupação as engrenagens dele voltassem pro lugar.

— Acho que precisa é de um banho. — provoco.

Ele não acha graça somente continua encarando a janela observando o céu nublado de Los Angeles, estava meio frio aqui dentro e ele só vestia uma camiseta, não é possível que tinha ganhado resistência à baixas temperaturas. Percebo que seu cabelo estava uma zona mas ele nem parecia se importar.

— Não devia ter saído de casa assim, assustou a sua mãe.

Luke demora alguns segundos para responder.

— Não conseguia ficar lá, tudo tinha o cheiro dela. — pragueja e parecia com raiva. Ele se apoia no sofá para que consiga se por de pé. — Essa merda de apartamento também tem o cheiro dela. Devia me livrar disso e queimar todas essas malditas coisas.

— Provavelmente ia dar nas revistas que você enlouqueceu. — tento fazer piada mas ele não ri. de novo.

Droga, sou péssimo nessas coisas o Ashton que é o rei da maturidade e conselhos inteligentes. Infelizmente ele estava do outro lado do mundo nesse momento.

— Está sendo mais difícil do que eu pensei. — murmura em resposta pegando água dentro da geladeira.

Vou atrás dele e me encosto no balcão.

— Você tem ido na terapia, tentado ao máximo não beber — coisa que não deu certo pelo visto — e conhecido pessoas novas. Seu humor tem estado bom nessas últimas semanas, o que aconteceu para mudar isso?

— Sinto falta dela, é isso o que aconteceu. — responde. — E agora faz tanto tempo que nem ao menos consigo pensar em encara-lá frente a frente. Só queria conversar com ela mesmo que ela grite comigo.

— Acho que ela gritaria. — admito com uma risada.

Fico contente ao ver que ele esboçou algo parecido com um sorriso.

— É, eu também. — concorda, uma expressão pensativa em seu rosto. — Como ela está?

— Bastante ocupada com a faculdade e o estágio, o quarto coberto de rabiscos e maquetes. Tem nos ajudado muito com o bebê, ela decidiu pintar o quarto dele de laranja.

Luke faz careta.

— Laranja?

Foi a minha vez de fazer careta.

— É, Nicole ficou animada com a ideia então não discordei.

— Nada do sexo? — pergunta.

Nego com a cabeça.

— Nada.

Luke larga a garrafa em cima do balcão e passa por mim.

— Droga, vocês são malucos. — pragueja.

Já estava acostumado a ouvir isso de todo mundo mas o bebê era meu e estávamos satisfeitos sem saber o sexo — quer dizer, mais ou menos, eu só estou conformado mesmo.

Luke começa a recolher os papéis que ele havia espalhado pela sala e finalmente tira a caneta que estava manchando o sofá. Ele faz careta, provavelmente já sabendo que teria que comprar outro. Somente o encaro sem saber exatamente o que dizer, queria dar todas as informações mas não sei se isso faria bem pra ele.

Meu lado fofoqueiro falou mais alto.

— Ela tentou te ligar.

Luke se vira pra mim, as folhas em sua mão escapando e voltando para o chão.

— O quê? — murmura.

Me agacho e começo a ajudar ele a limpar tudo, ele se abaixa também.

— Angeline. Ela tentou te ligar há algumas semanas atrás.

— Tentou?

— Tentou.

— Eu perdi meu número. — ele diz.

— Eu falei isso pra ela.

Luke pigarreia antes de voltar a falar.

— O que ela queria? — pergunta como quem não quer nada mas eu sabia que ele estava se remoendo por dentro para saber.

— Eu não sei, talvez falar que te ama e que está com saudades e que não consegue imaginar a vida dela sem você.

— Ela disse isso?

Me arrependo da minha piada imediatamente vendo a esperança brilhar em seus olhos. Maldito seja meu senso de humor horrível!

— Quis fanficar um pouco! — explico desviando o olhar.

Terminamos de recolher todos os papéis e fotos do chão em silêncio, Luke parecia meio aéreo, como se sua mente não estivesse dentro dessa sala e sim em outro lugar. Quando terminamos colocamos tudo em cima da mesa, depois ele poderia escolher do que queria se livrar. Percebo algumas partituras no meio de toda a bagunça.

— Andou escrevendo?

— É o que eu faço quando bebo. — responde.

E faz muito por sinal, é só dar um shot de tequila pra esse cara que ele começa a escrever até na mão se precisar.

— Posso ler?

Luke assente.

— Claro, estava pensando em gravar algumas. Quem sabe pra colocar no álbum, não sei.

Vou passando as folhas e meus olhos caem direto na página em que o topo estava escrito "Ghost Of You". Tinha várias rasuras na folha e estava meio amassada, apesar da letra horrível ainda era legível.

Aqui estou eu acordado, ainda não consigo dormir no seu lado da cama
Ainda tenho sua xícara de café, o batom desbota com o tempo
Se eu pudesse sonhar o suficiente você me diria que eu ficaria bem
Eu ficaria bem

Então eu afogo isso como sempre faço
Dançando pela nossa casa com o seu fantasma
E eu o persigo, com um tiro de verdade
Dançando pela nossa casa com o seu fantasma

Passo para a próxima folha, o título da música era "High" e estava grifado com pelos menos vinte riscos pretos. A caneta parecia estar prestes a furar a folha quando havia sido usada.

Hoje liguei para dizer que estou mudando
Mas não acho que você tenha respeito suficiente para me ver tentar
Eu tenho acordado em espaços diferentes
E acho que meu coração foi construído para durar mais de uma noite

Eu preciso parar de me decepcionar
Eu preciso parar de me decepcionar

Espero que você pense em mim chapada
Espero que você pense bem em mim
Quando você estiver com outra pessoa
Eu sei que todos os seus amigos mentem
Eu sei que seus amigos não gostam de mim
Eles querem você para si mesmos

— São ótimas! — admito, um pouco chocado por ele ter escrito até mesmo as partituras enquanto acabava com duas garrafas de vinho. — Mas tristes.

— É como eu me sinto. — se lamenta e sinto vontade de socar a cabeça dele na parede.

O que aconteceu com o Luke normal de uma semana atrás?

— Ela também não está bem.

— Eu conheço a Angel, Cal. Não precisa mentir pra mim. Ela é autossuficiente e resiliente, nada no mundo é capaz de derrubar ela, sei que está se saindo bem.

Tudo isso era verdade. Angeline não se lamentava pelos cantos, não ficava remoendo seus erros e muito menos sentindo pena de si mesma. Mas nada disso significava que ela não estava triste, Angie se preocupava e se importava mas não sei se ela via um futuro para eles dois.

— Ela está se saindo melhor que você mas bem não é a expressão certa a se usar.

— Como assim?

— Angie é durona, ela sabe muito bem disfarçar mas não tem como esconder o brilho nos olhos dela quando falamos de você.

O mesmo brilho que vejo nos olhos de Angeline quando falo de Luke aparecia nos olhos dele agora.

— E ela pergunta de mim?

Balanço a cabeça em negação.

— Não muito, acho que ela sabe que deduraríamos ela pra você mas ela pesquisou seu nome no Google. — admito.

Pela primeira vez desde que cheguei Luke dá uma risada de verdade.

— Ela tem essa mania.

— Imagino que não gostou muito do que viu.

Lágrimas, bebidas e garotas. É praticamente isso que tinha nas últimas notícias sobre Luke, e claro, nós dando respostas mal educadas para os entrevistadores que o deixavam desconfortável com perguntas demais.

— Não sei o que estou fazendo, juro que não sei mais. — ele admite se sentando no sofá e apoiando os cotovelos em suas pernas. — Devia estar focado no disco, focado em produzir o melhor para nossos fãs mas estou quase um inválido por causa de um término.

— Você fez todos os shows. — o lembro.

Ele me encara como se o que eu falei fosse loucura.

— Chorei em metade e cancelamos uns sete, estou acabando com a gente. — rebate, parecia revoltado com tudo isso.

— Não nos importamos com isso cara, queremos que fique bem.

— Estou tentando.

— Não está, não está tentando o suficiente. — digo, aumentando meu tom de voz.

Ele franze as sobrancelhas em minha direção.

— O quê?

— Cara, preciso te dizer uma coisa. — começo. — Eu amo você, você é meu irmão e também amo a Angeline. E é por amar os dois que vou dizer isso: pare de se culpar e pensar em como poderia ter sido, você tem que seguir em frente. Não sabemos se vocês vão ficar juntos ou passar o resto da vida separados mas sabemos que vocês ainda tem muitos anos pela frente e esses anos tem que ser ótimos. Temos um álbum para finalizar, ano que vem vamos entrar em turnê, Michael e Crystal vão se casar! Michael cara, nosso amigo Michael! Aquele que vivia se lamentando pelos cantos por nunca dar certo no amor finalmente encontrou alguém com quem vai passar a vida toda. E eu que nem ao menos sabia o que era isso estou apaixonado por uma garota que está com meu filho na barriga. Você vai ter sua chance de ser feliz se se esforçar pra isso, mas tem que deixar essa merda ir, cara.

— Não é tão fácil. — murmura, desviando o olhar para a janela.

Se ele olhasse pra lá mais uma vez ia sair voando numa queda de trinta andares.

— Não é tão fácil? — repito. — Então é isso que faz para seguir em frente? Transa com um bando de garotas, bebe e destrói porta retratos?

Luke revira os olhos.

— Escrevo músicas e choro, esqueceu essas.

Coloco a mão em seu ombro numa tentativa falha de fazer com que ele olhe pra mim.

— Luke, eu sei que está aí, sei que está perdido e que está tentando mas precisa tentar mais.

— Isso tudo é minha culpa.

— É culpa dos dois, dois teimosos de merda que não abaixam a cabeça pra nada mas vai ficar se punindo até quando? — grito.

— Não estou me punindo. — ele grita de volta.

Me ponho de pé.

— Claro que está! Você a decepcionou e isso magoou você, então você está a meses se botando pra baixo.

Luke finalmente me encara e respira fundo antes de começar:

— Calum...

O interrompo, não queria mais saber de desculpas.

— Por favor Luke, se não for fazer por mim faça por ela, ela está preocupada com você.

Ignorando os pedidos de Angeline e a parte em mim que dizia para não dar esperanças ao Luke tiro meu celular do meu bolso e mostro as mensagens que Angie havia me mandado. Um bando pra ser sincera, desde ontem a noite lotando minha caixa de mensagens perguntando se eu havia tido notícias ou iria atrás de dele de novo. As duas últimas eram de vinte minutos atrás e perguntava se ele estava bem.

Luke suspira e entrega o celular de volta pra mim, seu rosto numa expressão que não conseguia decifrar.

— Quer ouvir a música? — pergunta, acho que não queria mais falar sobre o assunto.

— Claro, só um minuto.

Abro minha conversa com Nicole enquanto Luke pegava o violão.

Wildflower: Cal, encontrou ele?
Wildflower: Como ele está?
Wildflower: Me liga porra, estou preocupada!

Calum: Ele vai ficar bem.
Calum: Diga a Angie para relaxar.
Calum: Talvez demore mas te vejo no jantar.
Calum: Peça a Mali para trazer a Petunia aqui.
Calum: Amo você.

Wildflower: Ela está indo!
Wildflower: Também te amo, Cal.

Sigo para sala e me sento no chão, de frente para Luke e o violão.

—  Pedi minha irmã para trazer a Petunia aqui pra te animar um pouco. Vamos acabar com isso, limpar esse apartamento e guardar tudo que você não quer ver mais em caixas. Depois você vai tomar banho, vamos pedir comida e eu vou te deixar no aeroporto. Ainda tem duas semanas com a sua mãe, devia ficar com ela.

Ele funga.

— Obrigado Cal.

Sorrio.

— Somos irmãos Luke, sempre vou estar aqui quando precisar.

Oie gente!
Parece que o Luke tá bem mal né galera, coitado do meu bolinho :(
Falando em Luke vcs viram a foto que ele postou de Halloween?? Cheio de tatuagem, lindo demais quase morri do coração!!

Angel está em reta final, só mais 4 capítulos e o epílogo pra finalizarmos! Tô ansiosa!

Espero que tenham gostado <3 até breve!