Capítulo 3


Angeline Smiths, Los Angeles, 14 de Janeiro de 2019

Minha irmã abre a porta e entra sem nenhuma cerimônia no meu quarto, se jogando na cama e espalhando minhas almofadas. Suspiro e rodo minha cadeira, dando as costas pro computador e a encarando. Ela sorri enquanto cerro os olhos vendo seus tênis em cima da minha colcha nova.

- Tira os pés da minha cama. - falo e volto minha atenção ao computador.

Em poucos segundos ouço o barulho de algo se chocando com o chão.

- Eu vim conversar com você. - ouço Tina dizer.

Viro minha cadeira pela segunda vez.

- Sobre o quê?

- Joshua.

Faço careta. De novo não!

- Já conversamos sobre isso.

- Quero saber quando vai terminar com ele. - ela é direta.

- Logo, tá bom?

- Você está dizendo isso tem meses. - Tina joga na minha cara, se sentando entre minhas almofadas.

- Eu vou terminar, ok? - a garanto.

Ela me encara com uma expressão preocupada.

- E o Luke?

Bufo. Ela realmente não ia me deixar em paz.

- O que tem o Luke?

- Não se faça de idiota. Eu sei que aquele dia você entrou na sala do papai pra mostrar alguma coisa pra eles. Eu não sabia quem era mas agora eu sei. - ela faz uma pausa. - Estavam cochichando sobre você no corredor.

- Coisas de garotos. - falo.

- Por favor, me diga que não está flertando com ele.

Fico em silêncio. Mas que merda, será que eu não podia me divertir nem por um segundo sem ter ela pegando no meu pé?

- Angie! Você tem um namorado!

- Eu nunca traí ele, nem nunca trairia. - ela não precisava ficar me lembrando que eu estava em um relacionamento, eu sempre tive total noção disso.

- Eu sei que não. Mas não pode sair por ai seduzindo todo garoto que acha bonito. - Tina se exalta.

- Eu não faço isso. - me defendo.

- Você faz isso desde que ganhou peitos.

Abro minha boca em um perfeito "O", chocada com a capacidade dela de jogar as coisas na minha cara. O modo dela de ver as coisas nem sempre era o modo correto.

- Vai encher o saco do Nicholas!

- Ele tá no trabalho. - ela diz em tom de lamento.

Eu não via hora deles se casarem e ela sair daqui. Essa palhaçada de morar separados até o casamento era ridícula. Todos dessa casa sabem que eles não são mais virgens, afinal era impossível não ouvir.

- Você me irrita! - reclamo, totalmente derrotada após suas acusações.

- O que te irrita é eu falar a verdade.

A encaro fazendo careta e ela faz careta de volta.

- Mas e ai? Eu quero saber do Luke.

- Não tem nada pra saber do Luke. - rebato. - Ele sabe que eu tenho namorado. Eles deviam estar falando de mim porque eu vou levar ele pra ver um apartamento hoje. O papai pediu.

- Quando o Paramore estava aqui você não quis levar eles. - ela me lembrou. - Sabe por que? Porque a Hayley Williams não é um cara gostoso de cabelo ondulado.

Arregalo meus olhos com a sua cara de pau.

- Viu, até você admitiu que ele é gostoso.

- Eu estou falando sério Angeline. Você não pode ficar com alguém que não ama mais.

Suspiro. Eu estava cansada de ter essa conversa. Toda semana era a mesma coisa.

- Eu amo o Josh. Amo de verdade, do fundo do meu coração. Ele é meu melhor amigo. Tirando você e a Nicole, ele é a única pessoa com quem eu posso contar. Eu não quero jogar tudo isso fora.

- Vai jogar sua vida fora e viver pra sempre com alguém que não quer? - Tina rebate e eu sei que ela tem razão.

- Eu vou falar com ele, quando for um momento melhor. - a garanto.

- Não existe momento bom pra isso Angie, lembre-se.

Suspiro enquanto a observava pegar os tênis que estavam jogados no chão e sair. Fecho o notebook, não estava mais com cabeça pra tentar entender aqueles textos.

Resolvo ir pro chuveiro. Um pouco de água quente e shampoo de limão iriam ajudar. Tomo um banho demorado ouvindo Tchaikovsky, deixando a melodia me envolver e levar pra longe qualquer preocupação que eu tinha. Eu era ótima em controlar meus sentimentos.

Saio debaixo d'água e resolvo ficar sentada no banheiro, ainda de toalha, olhando o Instagram dos outros. Abro a busca e digito Luke Hemmings. Clico em sua conta e desço para as fotos.
Cara, ele era incrivelmente sexy mas conversando com ele pessoalmente creio que ele não tinha noção disso. Continuo descendo em seu feed quando acabo dando like em uma publicação sem querer. Merda.

- Caralho! - praguejo e retiro o like rapidamente, bloqueando o celular em seguida.

Agora ele ia saber que eu estava fuçando a conta dele.

Vou pro closet a procura de algo pra vestir. Coloco uma calça mom azul escura e uma blusa de manga comprida, decotada e branca. Puxo meu cinto preto do cabideiro e o visto, assim como meu nike da mesma cor. Acho que estava bom, eu me sentia casual pelo menos.

Seco meu cabelo com secador mas me irrito com as ondas que insistiam em se formar. Eu as odiava com todas as forças. Ligo a chapinha mas a desligo em seguida, percebendo que eu estava me esforçando demais pra ir mostrar um apartamento pro Luke. Faço uma maquiagem simples e me dou por satisfeita com o resultado, mesmo querendo estar mais arrumada.

Bom, pelo menos ele iria morrer com o meu decote.

Pego minha bolsa, celular e casaco e desço as escadas. Resolvendo esperar por ele na varanda em frente a minha casa. Eu provavelmente não deveria estar fazendo isso visto que ele ignorou minhas mensagens. Mas fazer o que? Papai tinha mandado né.

- Ei garotos! - eu grito assim que os avisto saindo.

Me ponho de pé e me aproximo, assim como eles.

- Oi Angie! - Ashton diz com um sorriso encantador. Ele era incrivelmente lindo. 

- Então, o meu pai pediu pra eu levar vocês a alguns lugares legais aqui em LA, e eu pensei, por que não? Acho que pode ser divertido.

Todos eles abrem um sorriso e parecem animados com o meu convite. Isso instantaneamente me anima também.

- Graças a deus! - berra Ashton, jogando os braços pra cima em agradecimento. - O Cal não sabe escolher balada.

- Ei! - Calum reclama dando um cotovelada no amigo.

- Podemos ir amanhã se quiserem! O Michael leva a namorada dele e eu posso levar a Nicole e o Josh.

- Por mim está ótimo. - concorda Michael.

- Então, até amanhã! - digo sorrindo, muito animada com a ideia.

Eles acenam pra mim e dão meia volta, prontos pra irem pra casa.

- Você não Luke. - eu digo e todos eles param, sussurrando coisas no ouvido dele.

Em poucos segundos Luke volta a ficar frente a frente comigo enquanto seus amigos seguem pra casa aos risos.

- Desculpe não responder. - é a primeira coisa que ele diz.

Não respondeu mas eu sei que queria...

- Não tem problema. - sou sincera. - Já peguei as chaves. Vamos?

Ele fica sem reação por alguns segundos parecendo pensar se deveria fazer isso ou não. Tudo muda quando eu abro um sorriso, ele sorri pra mim no mesmo minuto. Essa foi fácil.

- Pode ser no meu carro? - ele pergunta.

- Claro.

Andamos lado a lado até o carro dele que estava à alguns metros da minha casa. Ele mantinha uma distância segura de mim e eu confesso que achava isso bonitinho.
Seu carro não era nem um pouco o que eu esperava mas também não conseguia pensar em nada que combinasse mais com ele. Era um Jeep, quadradão e preto.

Entro em seu carro e a primeira coisa que faço é empurrar o banco pra trás e inclina-lo. Tirando meus tênis e colocando meus pés no assento em seguida. Quando vou colocar o cinto de segurança eu noto o olhar de Luke sobre mim.

Esqueci completamente que estou no carro de um estranho.

- Ah, me desculpe. - eu me lamento. -  Eu tenho mania de fazer isso, que vergonha.

Coloco minha mão na cara, inconformada com a minha idiotice. Tirando o meu carro, eu só andava com meu pai, Josh e as vezes a Tina. Eu sempre fazia isso com ele, mas não podia fazer isso com alguém que acabei de conhecer.

- Faz parecer que a gente se conhece a muito tempo. - ele diz com um sorriso. - É um hábito meio estranho mas eu não me importo com isso, juro.

- Eu sou muito sem noção! - reclamo de novo, mas continuo com meus pezinhos em cima do assento.

Ele havia deixado de qualquer maneira e eu me sentia mais confortável assim.

- Pra onde estamos indo? - ele pergunta.

Encaminho a mensagem com o endereço pra ele.

- Te mandei o endereço agora.

Ele coloca o endereço no GPS e acelera com o carro, seguindo a rua. Uma playlist começou a tocar com uma música conhecida do Cigarettes After Sex, em um volume bem baixinho.

- Você sabia que quando eu tinha 15 anos eu amava uma música de vocês? - puxo assunto.

Era verdade de qualquer maneira.

- Ah é? Qual?

- Aquela da garota perfeita.

- Garota perfeita? - ele indaga com um cara muito confusa.

Talvez eu tenha errado o nome da música.

- É! É assim... - forço uma tosse pra limpar minha garganta. - You look so perfect standing there, in my american apparel underwear...

- And i know now, that i'm so down! - ele canta comigo.

Dou risada e ele me acompanha.

- É bizarro ter você cantando do meu lado! - sou sincera. - Tipo, cara você canta muito.

Ele sorri parecendo feliz com meu elogio e se atreve a olhar pra mim já que o sinal estava vermelho.

- O segredo está nos vocalzones. É a melhor pastilha pra voz! - ele diz com um tom de voz de propaganda.

Acho graça.

- Vou tomar umas então pra ver se aperfeiçoo o meu talento vocal. - ironizo.

- Não foi tão ruim.

O encaro com os olhos cerrados.

- Ok, foi horrível! - ele finalmente admite e eu dou risada. - Mas eu sei que você deve ter outros talentos.

- Eu gosto de desenhar, pintar. Ah, e eu sei patinar. - me gabo.

- Patinar? Tipo, com rodinhas?

- No gelo.

Ele olha pra mim com os olhos arregalados e estranho sua reação exagerada.

- Cara, isso é muito mais maneiro que cantar, pode ter certeza.

- Claro que não.

- Eu já tentei varias vezes, e eu me machuquei em todas.

- Quando eu for no ringue eu te aviso e ai ensino você a não se estatelar no chão. - eu me ofereço.

Ele fecha a cara e demora uns segundos pra me responder.

- Obrigada Angeline. - é o que ele diz.

- Angie. - o corrijo. - Me chama de Angie. Quem me chama de Angeline é minha mãe quando está brava.

Ele sorri.

- Eu só acho o seu nome bonito.

- Significa pequeno anjo. - digo com uma careta.

- Brega! - ele diz rindo.

- Muito!

Assim que Luke estaciona na garagem do prédio eu sigo até o elevador quase saltitando. Estava animada pra entrar naquele apartamento de novo, ele era meu sonho de consumo que eu tive que abrir mão por um bem maior. O meu.

- Tcharam! - eu digo assim que abro a porta e Luke passa por mim, entrando na cobertura.

Esse apartamento estava localizado em um bairro ótimo, a janela da sala tinha vista pra praia e era uma das melhores coberturas do bairro. Não era tão grande em espaço mas tenho certeza que pra uma pessoa ia cair muito bem.

Luke parecia observar tudo com muita calma. O chão de madeira escura e os móveis e paredes todos em um tom de cinza davam a casa um ar aconchegante. Mas acima de tudo moderno, com eletrônicos de última geração, uma cozinha incrível e bem planejada. Sério, eu amava lugares organizados assim!

- Wow! É realmente... lindo.

- Eu sei! - respondo empolgada. - Eu queria me mudar pra cá mas ai eu desisti.

- Por que?

- Porque morar sozinha é triste! - sou sincera.

Não estava nem um pouco pronta pra ficar em um casa sozinha. Eu ia surtar em questão de minutos.

- Devia comprar um cachorro.

- Eu prefiro gatos.

- Tanto faz. É uma ótima companhia de qualquer maneira.

- Vou pensar nisso. - respondo.

Nunca havia pensado em ter um animal de estimação. Talvez seja isso que falte na minha vida.

- Aqui é muito bonito. Gosto das cores. - ele diz levando o dedo ao papel de parede preto da sala.

- Eu também! Tons escuros parecem mais reconfortantes, eu acho.

Ele assente concordado e parecia encantado pela casa, assim como eu fiquei quando vim aqui pela primeira vez. Vimos os dois quartos que mesmo pequenos eram organizados de uma forma que os deixavam espaçosos, e depois fomos direto pra varanda. O piso dela era de madeira e tinha muitas plantas. Uma banheira de hidromassagem estava lá assim como uma mesinha e cadeiras. Era lindo.

- E ai? O que achou? - pergunto a Luke assim que ele acaba de ver tudo.

- Eu adorei! - ele exclama e isso me empolga. - Acho que você me conhece melhor que os meus pais.

- Foi fácil, eu só dei um google.

Ele faz careta.

- Wow, não deia ter feito isso. Aposto que achou um bando de coisas horríveis. - acho sua preocupação bonitinha.

- Fofocas de ex namoradas, você com falas bem explícitas, fofocas de tour... - faço uma pausa. - Ah, eu também descobri que você é canceriano e tem 22 anos.

- Coisas que só o google proporciona. - ele brinca.

- Privilégios da fama.

Acho graça.

- Muito obrigado por ter me trazido aqui Angeline... - fecho a cara pra ele e ele se corrige. - Angie. Eu adorei! Sabe quando eu posso assinar o contrato?

- Yay! Eu sabia que você ia adorar! Meu tio vai me pagar! - comemoro como uma criança que acabou de ganhar um brinquedo.

- Seu tio? - ele pergunta confuso.

- Ele é dono da imobiliária. Ele ficou puto porque eu segurei esse apartamento e acabei não ficando com ele, ai eu apostei que iria arranjar um morador novo em duas semanas. E olha só!

- E o que você ganhou?

- Um carro novo!

Ele arregala os olhos parecendo chocado.

- Droga! Nunca foi tão fácil assim pra mim... - ele se lamenta.

- Não sei. Acho que por eu sempre ter tudo eu vejo uma beleza muito grande em conseguir as coisas por mérito próprio.

- Mas não se nega um carro novo! - ele me lembra.

É, eu sabia disso.

- Com certeza não!

Desbloqueio o celular e aviso o meu tio, recebendo uma mensagem dele em seguida.

- Meu tio tá vindo, ele disse que em vinte minutos está aqui.

- Legal.

Ele se afasta indo pra perto da enorme janela da sala que tinha vista pra praia. O sol estava se pondo. Ele parecia tão tranquilo, acho que podia mudar isso um pouco.

- Ei Luke, posso te fazer uma pergunta?

Ele se vira pra mim.

- O que?

Me aproximo dele.

- Você se sente atraído por mim? - eu pergunto.

Sua expressão se desmancha e ele parecia estar ficando pálido.

- Co-como assim? - ele gagueja.

Fofo.

- Você se sente atraído por mim, Luke? - repito minha pergunta.

Arqueio minha sobrancelha dando um leve sorriso, sem mostrar os dentes. Eu gostava de vê-lo nervoso.

- Você não tem um namorado?

- Se eu não tivesse.

Ele respira profundamente quando ru dou um passo pra trás.

- Qualquer pessoa se sentiria atraída por você, Angeline. - ele responde sem olhar pra mim.

- Entendi.

- Por que está perguntando isso?

Ah, Luke. Você não ia gostar de saber.

- Já teve vontade de me beijar, Luke? 

- O que? - ele parecia desacreditado com as palavras que saíam da minha boca.

- Te fiz uma pergunta.

- Sim... antes de saber que você tinha um namorado. - ele diz, parecendo um pouco menos tenso agora.

- Você achou que estávamos flertando então... entendi. - pego minha bolsa e meu casaco no sofá. - Tenho que ir, nos vemos amanhã.

Ele não diz nada mas o ouço pigarrear. Com certeza ele iria amar o dia de amanhã!

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