Capítulo 29

Angeline Smiths, Los Angeles, 16 de Julho de 2019

Hoje o dia vai ser ótimo.

Estava tão animada que podia saltitar pela sala, na verdade era isso mesmo que eu estava fazendo. Luke havia me dado uma demo com algumas músicas do novo álbum que já estavam gravadas, não tinha passado pelo processo de pós produção ainda mas estavam maravilhosas. Eu andava de um lado para o outro enfeitando a casa com vasos de flores, elas eram laranjas, amarelas, azuis e brancas, formavam arranjos bonitos e vivos. Eu queria que ele gostasse da surpresa.

Cantarolo o refrão de Teeth — música a qual eu aprendi a amar — enquanto cortava os cabos compridos demais das flores. Era aniversário do Luke, vinte e três anos mas com mentalidade de doze, eu mesmo sendo mais nova me sentia mais madura que ele. Os aniversários com Josh eram incríveis, as vezes viajávamos ou íamos para um hotel caro mas com nossas vidas corridas como estão agora se tornava impossível tirar um tempo de folga. Sei que não devia comparar mas esse é praticamente meu único parâmetro para relacionamentos e as preferências de um homem, eu nunca fiz a linha pegadora eu ficava mais na parte de seduzir.

Eu só queria que fosse especial.

Só conseguimos ficar uma semana em Roma e nem ao menos saímos da cama direito, estava muito quente para ficarmos fritando na rua. Conseguimos ver o Coliseu, a torre de Piza, a Fontana de Trevi e o Panteão. Passamos quase todas as noites com meus antigos amigos que riam muito de Luke por ele não entender nada do que estávamos falando, pelo menos consegui fazer com que ele aprendesse a dizer "Tudo bem" e "Tchau". Foi uma boa viagem e fiquei triste quando acabou, afinal eu podia não estar voltando para as aulas da faculdade mas voltava para meu estágio.

No estágio tínhamos começado um projeto de uma casa enorme para o Chris Brown, eram muitos cômodos e muitas coisas que ele queria. Tínhamos que projetar e ir atrás de amostrar para que ele aprovasse, graças a Deus não estaria perto quando mostrassem as coisas pra ele, acho que não conseguiria disfarçar minha cara de antipatia. Quase todas as pessoas que procuravam a empresa onde estagiava queriam mansões, nosso diretor de projeto nos enchia de mensagens o dia todo e eu praticamente virava a noite consertando as proporções de cômodos e procurando fornecedores.

Na quinta-feira Luke e os meninos iriam começar uma pequena turnê de quinze dias pelo norte do país e pelo Canadá, eu iria encontrar ele nos fins de semana afinal não consegui mais tempo para ficar com ele por toda a viagem. O Chris Brown literalmente arruinou minhas férias, perfeitas.

Mas estava tudo bem, afinal eu estava feliz e o dia de hoje seria perfeito.

Comprei uma guitarra nova pra ele, era uma que sempre víamos numa loja de instrumentos aqui perto e ele sempre babava por ela, mas nunca levava. Fiquei ligeiramente triste por ela ter comido metade do dinheiro que estava guardando mas logo me esqueci disso ao pensar na carinha dele todo feliz. A guitarra era mesmo linda, num tom de preto fosco e com o cabo de madeira escura. Fiquei falando na cabeça de Luke a semana toda, tentando confundi-lo sobre o que seria o presente ou o jantar.

No final ele disse que contanto que não fosse risoto ele ficaria feliz. Acho que ele não se cansa nunca dessa piada.

Às sete e meia da noite tudo estava pronto, havia marcado com Luke às oito. Ele me falou que sairia do estúdio seis da tarde e passaria um tempo com os garotos antes de dirigir de volta. Estava animada e cantarolava baixinho pela casa enquanto me arrumava, meu vestido era azul e bem fechado na parte da frente mas com um decote enorme nas costas, saltos pretos de tiras e um coque bem feito. Passo o perfume favorito de Luke.

Enquanto acendo as velas da mesa de jantar Petunia e Margarida me seguem pela casa, elas estavam tão fofinhas com o chapeuzinho de aniversário e a saia vermelha que coloquei nas duas, até mesmo bato uma foto. Pedi comida árabe pra hoje e tinha um bolo de chocolate na geladeira, peguei o melhor champanhe na casa de meus pais. Tudo estava perfeito.

Às oito em ponto me vejo parada olhando pra porta e então penso no quão creepy é isso, parece coisa de psicopata. Resolvo relaxar e colo um episódio de uma série que costumava assistir quando mais nova.

Percebo que havia alguma coisa errada quando o episódio acaba, já haviam se passado quarenta minutos e o relógio se aproximava cada vez mais das nove da noite. Bom, talvez ele tenha pego muito trânsito, ele estava em Hollyhood e era bem complicado nesse horário. Pego meu espelho ao meu lado e passo mais batom, ajeitando meu cabelo em seguida e deixo mais um episódio rolar. Logo, logo Luke estaria em casa.

Bom, eu estava errada. Já era nove e meia e nem um sinal dele, abri meu celular pelo menos umas quinhentas vezes para ver se ele havia mandado alguma coisa mas nada.

Angie:
Luke?
Você está bem?

Apareceu que a mensagem não havia chegado. Suspiro e me ponho de pé, andando de um lado para o outro. Será que ele estava bem? E se ele se machucou? Ou pior, bateu o carro? Angeline se ele tivesse sofrido um acidente você saberia, ele é famoso - tento me tranquilizar. Não saberia se ele fosse assassinado - uma vozinha no meu subconsciente insiste. Franzo minha testa e disco seu número. Disse que o celular estava desligado.

Provavelmente sem bateria e ele está preso em algum engarrafamento. Simples.

Troco as velas da mesa que agora estavam pela metade e tiro os chapéus de aniversário que havia colocado em Petunia e Margarida, é maldade deixa-las com isso por tanto tempo. Faço careta ao pensar que teria que esquentar a comida novamente assim que Luke chegasse, comida requentada não era tão bom quanto fresca mas teria que servir. Sento no sofá de novo mas dessa vez sem os saltos e com os pés pra cima, acho que ele não ia se importar se eu o recebesse sem sapatos.

Mais um episódio da série começa e nem sei quantos passaram até que eu acordasse.

Me levanto num sobressalto, alguma coisa havia caído no chão. Fico assustada ao ver a tigela de hummus derrubada, Margarida e Petunia lambiam o conteúdo com agilidade. Saio correndo em direção a elas que fogem de mim como se eu fosse um monstro, acho que elas sentiam quando faziam algo errado. Limpo todo o chão, ficando aliviada por nenhuma vela ter caído na mesa, poderia ter começado um incêndio, eu sou muito irresponsável.

Mas não mais que Luke Hemmings, ele nem ao menos havia ligado ou me dito alguma coisa, eu não sabia onde ele estava e agora as velas quase no fim.

Quando pego o celular vejo que já era meia-noite. Desisto de esperar e pego uma lata de coca-cola na geladeira e um prato cheio de kibes e esfihas, levo tudo pro sofá e volto para a última cena que me lembrava de ter assistido. Antes de dar play ligo para Calum, só precisava saber se Luke estava vivo, nada mais. Ele atende no terceiro toque.

— Angie! — ele exclama com alegria. Isso faz eu me sentir um pouco melhor.

Estava extremamente barulhento atrás dele, tinha várias vozes e risadas e uma música eletrônica muito alta, me pergunto onde ele estava, o estilo dele não era exatamente esse.

— Oi Cal, por acaso o Luke está aí com você? - pergunto e mordo o interior da minha bochecha.

Ele demora alguns segundos para responder, segundos o suficiente para eu me perguntar se ele realmente tinha me entendido.

— Ele está aqui mas não estamos vendo ele agora, acho que deve estar perto do bar. Quer que eu chame ele?

— Não, obrigada.

— Quê? — ele grita do outro lado da linha.

— Eu disse não, obrigada. — repito, tentando disfarçar meu tom de voz amargo. — Vou dormir agora.

Um bando de risadas passa por ele e uma onda de gritos. Meus olhos começam a lacrimejar de raiva.

— Tudo bem! — ele grita. — Durma com os anjos, anja.

Isso sana a minha dúvida e tenho a certeza de que ele estava bêbado.

— Você também Cal. — respondo e desligo.

Tiro os grampos de meu cabelo e os jogo no sofá, me sentando ao lado do meu prato de novo. Margarida se aconchega encostada na minha panturrilha enquanto Petunia se deita no tapete, a abertura da série começa a tocar e enfio um kibe inteiro na boca numa tentativa ridícula de preencher o vazio que se instaurava no meu estômago. Não comi muito, estava sem fome e com as mãos tremendo de raiva e nem ao menos prestei atenção no que estava assistindo, só via as cores e as formas se mexendo. Quando o episódio chegou ao fim eu estava com os olhos ensopados de lágrimas de puro ódio, deixei a televisão no mudo e fui mexer no meu celular.

Me sentia péssima, não acredito que ele havia feito isso comigo. Eu sei que é aniversário dele e ele tem o direito de fazer o que bem entender pra comemorar mas eu planejei a semana toda, pensei na decoração (nada muito clichê pois não combinava com ele), pensei no que comer (sair do comum que no caso era comida italiana, chinesa e fastfood), pensei na música (o que foi muito difícil afinal temos gostos diferentes mas optei por rock antigo), pensei até mesmo no que vestir (algo sexy mas recatado que o deixaria com vontade de me deixar nua).

Não era grande coisa o que eu havia preparado eu sei, mas foi com muito carinho. Eu tinha deixado claro a semana toda que eu faria um jantar e ele havia concordado com isso, foi algo que eu sugeri há algum tempo e ele topou, se quisesse sair com os meninos eu aceitaria, tudo que ele precisava fazer era dizer "Angeline, você se importa se sairmos no meu aniversário em vez de jantar?", eu teria dito que não e ficaríamos juntos. Só queria passar seu aniversário perto dele, nada mais. Luke viaja na quinta, eu trabalho nesse dia e na quarta também. Só ficaríamos juntos na semana que vem agora.

Não que ele se importasse, afinal teria ligado se realmente quisesse estar comigo.

Toda a minha tristeza foi se transformando em raiva gradativamente e quando ouço o barulho da chave na porta me ajeito no sofá ficando sentada em uma pose firme.

— Onde você estava? — é a primeira coisa que pergunto.

Luke demora alguns segundos para me encontrar na sala e dá um passo torto que me faz ter a certeza de que ele estava bêbado. É notável a minha decepção, tenho certeza que ela estava dando piruetas no meio da sala nesse momento. Ele pigarreia e se aproxima, sentando numa ponta do sofá o mais afastado possível de mim.

— Eu estava com os meninos. — responde com a voz arrastada.

— Esqueceu do jantar?

Assim que faço essa pergunta Luke se vira pra mim, os olhos arregalados numa expressão de surpresa. Eu não acredito que ele havia esquecido.

— Eu me esqueci, droga. Me desculpe Angel.

— E o que estava fazendo com os meninos?

— É meu aniversário, fomos pra um bar beber um pouco.

Por ironia do destino seu cheiro invade meu nariz, fedia a álcool e maconha. Acendo a luz do abajur e ele coloca a mão em cima dos olhos tentando fazer sombra, mas eu havia visto como estavam vermelhos.

— Muito né, está fedendo a álcool. — digo. — Por acaso fumou maconha?

Luke funga e abaixa a cabeça.

— Me desculpa tá legal?

— E nem pensou em me ligar? Sabe como é, talvez a namorada quisesse passar o aniversário do namorado com ele...

— Meu celular descarregou.

Tinha percebido depois de milhões de chamadas na caixa postal mas não entendia por que ele não havia me ligado. Eu teria ido até lá, não me importava em ficar com os meninos, eu os adorava, talvez eles pudessem até mesmo vir pra cá. O ponto é tenho certeza que um deles devia ter bateria no celular.

— E ninguém mais tinha um celular?

Ele bufa e parecia sem paciência. Pelo menos éramos dois.

— Eu me esqueci disso também, ok? Eu sempre passo meu aniversário com eles, me desculpe por esquecer que nesse ano deveria ser diferente.

Não acredito no que eu estava ouvindo.

— Tá legal. — respondo e me ponho de pé.

Ele se levanta também.

— Ainda podemos jantar.

— Eu já comi. — murmuro.

Luke dá um passo na minha direção mas me afasto, dando de ombros pra ele e pensando se seria muito infantil me trancar no quarto. Estava magoada, muito magoada e principalmente irritada.

— Qual foi Angeline? — ele indaga. — Eu já disse que sinto muito.

— Você literalmente esqueceu que tinha uma namorada durante a noite toda, não quero nem pensar no que você pode ter feito.

Seu semblante fica sério e ele franze as sobrancelhas num claro descontentamento.

— Está desconfiando de mim?

— Nunca se sabe quando a Charlie pode sair de um buraco.

— Não acredito nisso... — ele murmura balançando a cabeça em negação, seus olhos se desviam de mim enquanto ele coloca o indicador e o dedão na ponte do nariz.

— Eu fiquei o dia todo arrumando a casa, coloquei malditos chapeuzinhos de festa nas meninas, não fui nem pro estágio só pra ter tempo e deixar tudo perfeito pra você! — grito. — Então me desculpe, mas quem não está acreditando nisso sou eu.

Luke respira profundamente e dá de ombros.

— Não quero discutir isso agora, é meu aniversário.

— É, e você já o comemorou então boa noite. — respondo.

Sigo pro quarto e tranco a porta antes de me deitar, ele que se vire no sofá.

Luke Hemmings, Los Angeles, 17 de Julho de 2019

Acordo com minhas costas me matando, era difícil pra um cara do meu tamanho dormir num sofá. Não tomei banho pois minhas roupas e toalhas estavam dentro do quarto, não peguei um travesseiro nem um cobertor porque estavam no quarto e meu celular tinha zero de bateria porque adivinhe só: meu carregador estava no quarto.

Foi uma noite longa que só serviu pra me deixar com mais mau humor ainda.

Quando acordei dei de cara com Angel na cozinha, ela mexia nas coisas e claramente não estava preocupada em não fazer barulho. Me espreguiço e me sento no sofá olhando pra ela que comia uma torrada. Estava com o cabelo preso em um rabo e vestido branco.

— O que tem de café? — pergunto.

Angel olha pra mim sem nenhuma emoção.

— Pra mim torradas mas pra você... — ela faz uma pausa e coça a cabeça. — Poxa acho que me esqueci.

Faço careta. Eu sei que eu havia pisado feio na bola mas não era algo imperdoável, eu não havia mentido em nada que eu falei. Estávamos no estúdio e saímos as seis, resolvi ir ao bar com eles e mais uns amigos e ficar até as oito mas nesse ponto eu já estava bêbado demais pra me lembrar de voltar. Eu estava me divertindo e esqueci de ligar pra ela, acontece.

— Não pode simplesmente me perdoar? Eu já pedi desculpas.

Ela me encara como se pudesse me bater e larga a torrada no prato.

— Não dou a mínima pras suas desculpas, você não entende a dimensão do que faz.

Angeline se põe de pé no mesmo momento que eu.

— Você está exagerando.

— Exagerando?! — indaga, aumentando o tom de voz. — Eu fiquei falando disso a semana toda, estava ansiosa pro seu aniversário. E então você sai pra trabalhar e aparece às uma da manhã, bêbado e com os olhos vermelhos dizendo que se esqueceu de chamar sua namorada pra sua comemoração de aniversário.

Quando ela fala tudo parece mil vezes pior...

— Eu mandei mal, eu sei. — admito.

— Mal? — ela ironiza. — Péssimo, Luke. Péssimo.

A observo enquanto ela tira Margarida de cima da sua mochila e a coloca no chão, pendurando a mochila nas costas em seguida. Angel está indo em direção a porta quando digo:

— Podemos ficar juntos hoje, ver um filme e pedir comida. Ou ir pra algum lugar, o lugar que você quiser.

Ela se vira pra mim ainda sem emoção nenhuma, me senti num dejavu, Angeline me encarava desse mesmo jeito quando estava apenas brincando comigo.

— Eu tenho estágio hoje.

— É só não ir.

Ela dá uma risada irônica.

— Já faltei ontem, me desculpe mas você não é o único com compromissos.

Eu era tão idiota, tão tão tão idiota.

— Me desculpe. — murmuro.

— Seu presente tá do lado da tevê, tem comida de ontem na geladeira. Ah, e antes que eu me esqueça, feliz aniversário Hemmings.

Não consigo nem ao menos responder alguma coisa antes que ela saia pela porta.

Porra, dessa vez eu vacilei.

Oi gente!!
O que acharam da atitude do Luke? Acham que Angel exagerou na reação? O que vocês fariam se fosse com vocês?
Eu admito que tinha feito muito pior...
Espero que tenham gostado galera, estamos com quase cinco mil visualizações, isso é muita coisa. Muito obrigada sempre!

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