Capítulo 26
Calum Hood, Los Angeles, 21 de Abril de 2019
— Cara, qual é! Quebra essa pra mim! — eu imploro pela milésima vez.
Na verdade não sei por que ainda estava me humilhando, acho que é o desespero tomando conta de mim. Eu sabia que Ashton não ia ceder aos meus pedidos, estava estampado na cara dele.
— Eu não vou viajar duas horas longe da minha namorada só por que você não quer ver a Nicole.
— Por favor! — insisto. Era difícil fazer o papel de desesperado quando não se podia gritar pois todos seus amigos estavam na sala ao lado.
— Vai me contar o que rolou quando por sinal?
Tinha praticamente um mês que eles só me perguntavam o que aconteceu quando encontrei a Nicole. Em resumo o que aconteceu foi: fui completamente humilhado e dessa vez nem foi ela que fez algo, só eu quer agi da forma que sempre ajo, fui um idiota.
— Quando me deixar ir no carro do Mike. — sugiro, talvez com uma informação ele ceda.
Seus olhos brilham num lampejo de curiosidade e tenho esperança por alguns segundos mas ela é completamente destruída quando ele nega com a cabeça.
— Então é nunca. — decreta dando de ombros.
— Ah, qual foi?! Não custa nada.
— Eu vou ter que ficar no mesmo lugar que o Luke e Angie, isso significa muita melação. Minha única distração seria a Nicole mas ela deve estar com um humor péssimo pra você querer evita-la tanto assim.
Ela estava com o humor ótimo na verdade, só não estava com o humor bom pra mim.
— Você é um homem mau, Ashton. Está me jogando para leões famintos. — sussurro pra ele enquanto nos espremíamos para passarmos pela porta ao mesmo tempo.
Ele sorri na minha direção mostrando suas covinhas.
— Você sobrevive.
— E aí, todos prontos? — pergunta Angeline com uma animação fora do normal.
Ela nunca tinha ido no Coachella e estava pra lá de empolgada a situação, falou disso a semana toda. Inclusive eu fui arrastado para um shopping com ela, Ashley e Crystal na terça-feira passada, elas decidiram entre si que eu é quem tinha o melhor senso de moda entre os meninos. Sério? Eu?
— Sim! — Ashley e Crystal gritam em resposta.
Nicole revira os olhos com o escândalo e faz aquela careta fofinha que costumava fazer quando via algo exagerado.
— Michael, nada de parar em cada loja da estrada pra comprar balinhas. — pede Luke e coloca os óculos de sol.
— É a parte mais divertida da viagem! — ele rebate.
— Não vou esperar vocês pra entrar, então não deixem ele parar.
Eu não ia esperar mesmo, ficar de vela pra Angie e Luke com a Nicole do lado seria a pior experiência da minha vida, já não basta as duas horas no carro. Preferia vagar sozinho pelo festival e me embebedar de cerveja com desconhecidos.
— Qualquer coisa mandem mensagem pra mim! — avisa Angeline batendo palminhas.
A viagem pra mim foi mais demorada do que o normal pra mim, a tensão no ar estava palatável mas Luke e Angie não perceberam, entretidos demais em cantarolar músicas e falar coisas melosas... e outras nem tão melosas assim. Não é porque estava de fone de ouvido que ficava surdo.
Nicole não se mexeu nenhuma vez, fiquei irritado por não poder cutuca-la para ao menos ver se ela estava viva ou respirando. Somente se sentou o mais afastada de mim possível, colocou os fones e fechou os olhos. Conseguia ouvir o rock estourando em seus ouvidos. Isso só me deixava mais triste ainda com toda essa situação, queria tanto toca-la que chegava a ser um absurdo. Nunca tinha sentido isso, não sabia o que fazer.
Assim que chegamos Nicole já se afastou para uma barraca de bebida diferente da que estávamos, ela obviamente não queria ficar perto de mim. Angeline se ofereceu para ir com ela mas levou um não, parecia chateada e confusa por não saber o que fazer. Ela tem me ajudado muito, ouviu todos os meus lamentos a noite toda e me explicou como as coisas funcionavam pra Nicole.
— Quando vai dizer o que aconteceu por sinal? — pergunta Mike depois de nos sentarmos no gramado.
— Espera, ele ainda não falou nada? — indaga Angeline.
Não consigo nem fazer careta, tenho certeza que fiquei pálido no mesmo minuto. Os meninos me encaram ao mesmo tempo com um olhar que se matasse eu poderia me considerar um homem morto.
— Então ela sabe? — Ashton aponta o dedo na minha cara. — Traidor!
— Valeu, Angel. — ironizo frisando bem o apelido, de anjo ela não tinha nada.
— Em defesa do Cal eu devo dizer que quem me contou foi a Nicole mas não pude perder a oportunidade de tirar uma com a cara dele.
Observo seu sorriso com covinhas e a perdoo na mesma hora, quem mais me daria conselhos? Michael? Não sei se ele era a loira adequada pra isso.
— Há, quero meus cinquenta dólares! — Mike grita. — Em cachorros-quentes da barraca ali atrás...
— Vocês apostaram?
Certamente eu ia continuar com a Angie. Michael não parecia nem um pouco envergonhado ou arrependido, nenhum dos meninos parecia na verdade.
— Claro, apostamos tudo. — admite. — Eu apostei que você não nos falou porque era algo tão vergonhoso que você sabia que ia ser zoado.
— E você? — pergunto me virando pra Ash.
— Apostei que foi algo tão ruim que você não nos contou porque estava com medo de nunca mais olharmos na sua cara.
— Sério?
— Você é meio babaca as vezes.
— Perfeito. — Era só o que me faltava! — E você Luke?
— Bom, na minha cabeça você só tava fazendo mistério pra ter um pouco de atenção. Como estamos namorando você ficou meio carente.
Todos dão risada.
— Carente e babaca. Ótimos amigos. — ironizo. Deve ser por isso que a Nicole não quer saber de mim, minha propaganda não faz jus ao produto.
— Relaxa Cal, a gente ainda te ama.
Reviro os olhos na direção de Angeline, eu com certeza não estava sentindo o amor.
— Crystal e Ashley não apostaram nada? — pergunto alto o suficiente para as duas que conversavam entre si se virarem pra mim. Ficava aliviado em saber que pelo menos elas eram indiferentes à catástrofe que havia se tornado a minha vida amorosa.
— Ficamos de fora. — Crys diz.
Ashley dá uma risadinha e encaro as sardas do seu rosto a espera de uma resposta.
— Não ligamos pra sua vida amorosa.
— Isso só está melhorando.
— Calum Thomas Hood, seus amigos merecem saber a verdade! — Angie insiste.
Franzo a testa.
— Como sabe meu nome todo?
— Ela adora olhar as coisas no Google. — Luke explica.
— Anda, cara!
Tinha que avaliar minhas opções. (1) eu podia correr e evitar ao máximo responder essa pergunta, talvez eu consiga enrolar por um dia, talvez uma semana mas não pra sempre então eu só estaria tentando evitar o inevitável. (2) eu podia ficar aqui e deixar que ouvissem minha história vergonhosa e em vez de me zoarem daqui uma semana eles vão ter é esquecido. Eu esperava pelo menos.
— Tudo bem... — concordo. — Quando me encontrei com ela depois de voltarmos de Sydney eu meio que estava esperando que íamos ficar bem sabe, tipo juntos... é assim que fala?
Luke coloca a mão na testa enquanto balançava a cabeça de um lado pro outro.
— Santa enrolação...!
Ignoro seu comentário e continuo:
— Fui na casa dela, ela pulou em cima de mim e nem deu tempo de chegar no quarto começamos na sala mesmo. Ela não falou nada comigo, só me agarrou então eu presumi que estava tudo bem. Que agora teríamos paz e blá-blá-blá.
— E depois?
— Depois eu fiquei um pouco emocionado acho e bom... — faço uma pausa e pigarreio. — Eu disse... — tive que tossir pelo menos três vezes e beber um pouco da minha cerveja para conseguir pronunciar a frase que estava entalada em minha garganta. — Eu disse que amava ela.
Os olhos dos meninos se arregalam e até mesmo Ashley e Crystal que estavam conversando entre si se viram pra me encarar com rostos espantados.
— Não acredito! — berra Ashley.
Eu também não acredito.
— Calum Hood ama alguém isso só pode ser brincadeira! — Michael grita com a boca escancarada. Consigo ouvir a risada de Angie.
— Fala baixo oxigenado. — rebato.
— Mas o que aconteceu depois? Isso não devia ser algo bom?
— Ela saiu de cima de mim, gritou comigo falando que eu estraguei tudo e que era pra eu ir embora.
Ashton se inclina pra frente, desesperado pelo desfecho da história.
— E o que você fez?
— Eu fui embora ué! — admito, o que mais eu podia fazer quando estava sendo expulso da casa dela? — Estava mortificado de vergonha, eu nem percebi que tinha falado até ela começar a gritar. Foi meio que espontâneo não sei... Ela nem deixou eu acabar de me vestir antes de me empurrar pro lado de fora. Não falei mais com ela desde aquele dia.
— E ela não falou nada com você? — Michael pergunta apontando pra Angie.
Todos se viram pra ela.
— O assunto Calum está proibido. Ela me ligou e disse que ele tinha falado que amava ela e não falou mais nada e quando digo mais nada é mais nada mesmo! Nossas conversas tem sido sobre faculdade, números e roupas. Nem do Luke eu posso falar.
Há aquele silêncio constrangedor enquanto todos se encaravam sem saber o que dizer. Pareciam um pouco desacreditados, em choque talvez. Tudo isso por que disse "eu te amo" pra uma garota? Sério? Quer dizer, eu era um ser humano então estava propício a isso, não sei por que o espanto. Mesmo eu nunca na minha vida, em todos os meus 23 anos de idade, ter falado que amava uma mulher que não fosse da minha família...
— Onde ela está por sinal? — é Ashton que quebra o silêncio.
Faço careta e levo meu copo de cerveja pra boca, percebo que havia acabado com ela.
— Atrás daquele palco com um cara de dreads. — respondo usando o dedo pra mostrar.
— As coisas vão mal pra você amigo. — Mike diz colocando a mão no meu ombro.
Concordava com o que ele havia dito mas me recusava a dizer que não tinha como piorar porque havia mil maneiras de eu me afundar ainda mais na merda por causa de Nicole Longwell.
— E essa é a história do primeiro coração partido de Calum Hood. — ironizo.
— Na próxima talvez você acerte.
— Próxima?! Não quero nem saber disso mais, uma vez foi o suficiente.
— Pois é, você fugiu tanto que olha no que deu. Quase amor a primeira vista. — rebate Luke.
Isso deve ter sido castigo dos deuses por eu não me apegar as garotas com quem saía. Eu sei que é horrível magoar os outros mas o que eu iria fazer? Deixar elas felizes mas ser infeliz pra sempre? Não era justo.
Respiro profundamente e analiso o espaço vendo um grupo de garotas mais ao fundo. A loira percebe que estou olhando e sorri, um sorriso bonito mas nada comparado ao da Nic, infelizmente era o que eu tinha pra hoje.
— Cansei desse assunto, vou ali conversar com aquela loira. Talvez ela me pague um boquete e eu esqueça do meu coração partido por sei lá... trinta segundos?
— Nojento. — Angie grita enquanto me afasto.
Não consegui um boquete mas consegui alguns beijos pelo festival. O problema é que eu não era o único a fazer isso, inclusive tinha quase certeza que Nicole estava na minha frente no quesito números. Queria sentar e me divertir mas ficar perto dos meus três casais de amigos estava me deprimindo, na verdade, tudo estava me deprimindo. É um saco essa coisa de coração, espero que passe logo.
Passo a noite toda com alguns colegas que encontrei e que estavam mais no meu clima, foi divertido e acho até que consegui ficar bêbado o que seria bom se não me deixasse com uma vontade insuportável de chorar. Já estava tarde, quase meia noite, e meus amigos ainda não haviam decidido quando iríamos embora. Mando uma mensagem pra todos com medo de ser esquecido, era a cara delas fazer algo do tipo.
Meus colegas pulavam animadamente em volta de mim espirrando cerveja pra todo lado mas eu estava mais concentrado na garota que dançava com as amigas ao nosso lado. Era baixinha, cabelo curto e de franja, parecia asiática. Uma gracinha que teria toda minha atenção se eu não estivesse tão pra baixo mas acho que um beijo não mataria ninguém, não queria desperdiçar minha chance.
— Oi.
— Oi. — ela responde.
Reflito por alguns segundos sobre o que dizer mas escolho o caminho mais simples, não estava com muita paciência para enrolação.
— Posso te beijar?
Ela sorri, exibindo o espacinho entre os dentes da frente. Porra muito linda. A encaro tentando ter aquela coisa que dizem ser amor a primeira vista, assim eu superaria mais fácil e seguiria em frente. Não deu certo.
— Posso saber seu nome? — ela rebate.
— Calum.
— Tudo bem Calum, então pode me beijar.
Sorrio e a puxo pra mim, selando nossos lábios em seguida. Me arrependo da minha escolha no exato minuto em que nossas línguas se encontram, tinha gosto de nicotina e vodka pura. Talvez ela esteja bem mais bêbada do que aparentava estar e isso não me deixa muito confortável. Me afasto em menos de dois minutos aproveitando que uma gritaria havia começado em volta de nós, era a desculpa perfeita.
Vejo a última pessoa que eu queria ver perto de uma das barracas, me encarando sem medo de ser vista. Era Nicole. Meu coração para por um segundo ao notar a tamanha fúria com a qual ela me encarava e se quebra no segundo seguinte quando seus olhos se enchem de lágrimas. Ela amassa o copo de plástico em sua mão, dá meia volta e sai andando em direção à um dos cantos vazios do festival.
Ou eu ficava aqui e deixava nossa situação ruim ficar ainda pior ou eu ia lá e tentava fazer o controle de danos. Eu sei do que eu me arrependeria pra sempre se não fizesse então não espero muito e saio correndo atrás dela, nem ao menos dando tchau pra garota bêbada que eu havia acabado de beijar. Não devia ter me ofendido quando meus amigos me chamaram de babaca, eu realmente estava me sentindo assim agora.
Depois de passar por um bando de barracas, vou para atrás de um dos palcos que já haviam sido desligados e a encontro sentada em um banco. Ela funga e meu coração se aperta mais ainda, tinha vontade de me dar um murro por ser tão idiota.
— Ei.
— Sai daqui. — ela grita sem nem se virar pra mim.
Minha primeira vontade é dar as costas e realmente ir embora. Por que ela sempre tinha que ser tão grossa? Será possível que fiz algo que merecesse tanto ódio assim? Mas eu não podia deixa-la aqui sozinha, estava muito afastado dos outros e podia ser perigoso. Sei lá, só não queria ir pra longe.
— Nicole... precisamos parar com isso.
— Você não precisa de nada Calum, eu que preciso! — grita de novo. — De noção!
Me aproximo dela.
— O que isso quer dizer?
A ouço fungar e abaixar ainda mais a cabeça, estava impossível ver o rosto dela mas sabia que estava chorando. Eu vi as lágrimas se acumularem em seus olhos antes dela sair correndo, não tinha como essa orgulhosa esconder isso.
— Não quero conversar agora.
— Não precisamos conversar.
Me sento no banco ao seu lado e a ouço bufar, aquele mesmo barulho que ela fazia quando queria esganar alguém.
— Que merda! — grita mais uma vez. — Não pode só sumir?!
— Não posso te deixar aqui sozinha. — grito de volta. Respiro fundo e tento não cair na pilha, não tinha porque eu ficar com raiva agora. — Por que não olha pra mim?
Um suspiro escapa de seus lábios enquanto ela levanta seus olhos até mim, estavam encharcados e vermelhos, a maquiagem preta borrava seu rosto.
— Satisfeito agora?
Meu coração se aperta, o ar some de meus pulmões e meus olhos começam a lacrimejar. Respiro fundo antes de me arriscar a falar.
— Eu sinto muito, não quis te magoar, eu só achei... bom, achei que o que houve mês passado havia sido um fora.
— E foi. — ela concorda.
Sério, o que diabos estava acontecendo aqui? Ela me dá mil foras e depois chora por eu beijar outra garota? Eu tinha que ficar correndo atrás dela para que ela ficasse feliz?
— Eu não entendo. — sussurro.
— Você é burro ou o quê?
— Nic... — eu começo mas ela me interrompe.
— Amo você, merda! — grita, meu deus como ela gritava... — Que ódio!
— Eu...
— Não quero ouvir tá legal? Não preciso de palavras de pena nem nada do tipo.
— Não são palavras de pena Nicole, só não quero te ver assim. Preciso que você me diga o que fazer.
Ela funga de novo e fico aliviado ao ver que suas lágrimas haviam parado de escorrer, torcia para que seus olhos parassem de lacrimejar. Odiava ver as pessoas chorando mas com ela é diferente, é como se quem chorasse fosse eu.
— Não sei o que aconteceu comigo, isso não é normal pra mim, eu te garanto!
Assinto, pelo menos não era só pra mim que essa situação era inusitada.
— Bom... não é normal pra mim também.
— Nós nem ao menos tivemos uma conversa de verdade. — ela continua.
— Não sei muitas coisas sobre você. — completo.
— Viu, exatamente! Não devia ser assim.
— Na verdade devia ser exatamente assim, não? — indago. — Mesmo se não, agora já foi.
Ela leva a mão ao rosto tentando tirar as manchas de maquiagem.
— Você deve estar me achando uma idiota.
— Idiota nunca, louca talvez. — admito e ela dá risada. Um peso enorme sai dos meus ombros nesse momento. — O que quer fazer?
— Voltar três meses e não ter aberto minhas pernas pra você.
Foi a minha vez de rir.
— Acho que isso não dá.
— Parar de chorar então.
— Por que está chorando por sinal? — pergunto.
— Sério?
— Sério. Quer dizer, vindo de você agora eu imagino que a reação mais esperada era você correr na minha direção e me encher de porrada.
Risada de novo, acho que estava me saindo bem.
— Eu pensei nisso mas doeu mais do que o esperado, não tive muitas forças.
Pigarreio para limpar o bolo que se formou na minha garganta.
— Eu sinto muito. De verdade. Eu realmente achei que você não quisesse me ver nunca mais.
Nicole funga.
— Tudo bem, eu fiquei com três pessoas a mais que você.
Me viro pra ela com uma expressão chocada e aponto meu indicador para seu rosto.
— Você estava contando?!
— Você não?
Fecho a cara. Foi um inferno ver ela agarrando todos esses caras, e o pior foi que não tive vontade de brigar somente vontade de sair correndo e me enfiar embaixo das cobertas para ficar com pena de mim mesmo.
— Não gostei desse jogo. — admito.
Ela suspira.
— Nem eu.
— Mas então... você me ama, é isso mesmo?
— Você disse primeiro! — rebate.
Acho graça.
— Devo mandar você sumir da minha frente agora? — ironizo. Acho que isso nos deixaria quites.
— Só se quiser o meu salto enfiado no seu cérebro.
— Tudo bem, má ideia. Que tal um hambúrguer? Podemos ir andando uns vinte minutos pro norte, tem uma lanchonete lá.
— E o show? — pergunta.
— Não estou nem aí pra esses shows. — me ponho de pé. — Quero ficar com você.
Ela sorri pra mim e pega minha mão.
— Tudo bem. Contanto que meu hambúrguer tenha bastante cheddar.
Angeline Smiths, Indio, 22 de Abril de 2019
Estou com sono.
Ficar o dia todo assistindo shows, pulando e bebendo não era pra mim. Acho que me encaixava na categoria sedentária. Já passava da meia noite, ventava pra cacete e nem mesmo a jaqueta que Luke havia me emprestado melhorava minha situação. Mas estava feliz apesar de tudo, estar aqui hoje foi ótimo e divertido, já estava com planos pro do ano que vem.
O cara que ficou me olhando desde que Luke saiu de perto de mim se aproxima e não fala nada só estende a mão na minha direção.
— Não, não. — eu digo desviando. — Eu tenho namorado.
O cara cruza os braços musculosos e me encara, aquela cara que você faz quando sabe que alguém está mentindo pra você, a diferença é que eu não estava mentindo.
— E cadê ele?
Abro a boca para responder mas antes que conseguisse falar Luke aparece, suas mãos automaticamente envolvem minha cintura. Ele me entrega o copo que havia trago pra mim e olha pro cara na nossa frente.
— Acabou de chegar. — responde com um sorriso. Assim que o garoto some Luke se vira pra mim com uma expressão engraçada. — Caralho que coisa mais chata, sumo dois minutos e já tem gente caindo matando em cima de você.
Acho graça.
— Deve ser um sinal pra você não sair de perto.
Ele sorri e me puxa pra perto de si, tiro meu copo do meio de nós para que ele não seja amassado.
— É, acho que vou me manter por aqui. — sua mão desliza pra minha bunda. — Bem juntinho.
Sinto o volume na sua calça ser pressionado contra mim. Cerro meus olhos.
— Hm, o que que é isso Hemmings?
— O quê? — pergunta.
— Seu sonso.
— Estou animado.
— Eu percebi.
Ele dá risada.
— Feliz por estar aqui com minha namorada linda e completamente bêbado. — continua. — Só assim pra aguentar isso que está tocando... você sabe o que é?
— Na verdade não.
O que quer que seja com certeza não fazia o estilo do Luke e nem o meu, depois de ficar o dia todo em pé e sentada na grama eu só queria me esticar numa cama macia e tomar um banho quente. De preferência com Luke nos dois cenários.
— Onde está o resto do pessoal? — pergunto.
Todos sumiram deve ter mais de uma hora, eles afirmaram que não aguentavam ficar perto de nós por conta do excesso de melação. Ashton e Ashley também estavam assim e ninguém saía de perto deles o que me faz pensar que Luke os expulsava para ficar sozinho comigo.
— Comendo batata frita no gramado ali atrás, menos o Cal e a Nicole. — ele responde. — Não sei onde se enfiaram.
— Ela me mandou uma mensagem, eles estão comendo hambúrguer em algum lugar por aqui.
— Será que se acertaram?
— Eu espero que sim. — uma ideia passa por minha cabeça e dou um pulinho animado derrubando metade da minha bebida no chão. — Ai podemos sair de casal!
Luke dá risada.
— Todos os quatro namorando seria algo histórico, nunca aconteceu.
Luke me aperta ainda mais contra sim e me pergunto se iríamos voltar pra casa ou dormir por aqui mesmo. Eu não trouxe muito dinheiro, nem carregador, nem roupas. Seria bom voltar pra casa mas não me garanto muito na direção, mesmo tendo bebido pouco eu me sentia alterada, espero que Crystal esteja sóbria e com vontade de voltar pra casa.
— Será que vão dirigir de volta ainda hoje? — pergunto.
— Acho que sim. As meninas não beberam muito.
Já os garotos... Toda vez que cruzei com eles estavam tão bêbados que podiam vomitar ou sair pulando por ai.
— Alguém tinha que ficar sóbrio né.
— Olha quem fala. — Luke rebate com um sorriso bem-humorado.
— Estou me divertido e abusando de você, já me pagou sete drinks.
— Pago mais quinhentos se quiser.
— Olha que posso aceitar.
Luke me agarra e me dá um beijo faminto. Era quente e me deixa mole ter todo esse contato com ele quando o álcool ainda está no meu organismo. Seus lábios tem gosto de drink de laranja que ele bebia, sua mão desce até meu quadril e seu lábio vai pro meu pescoço.
— Luke estamos em público.
Ele me ignora completamente e continua beijando minha clavícula. Mordo meus lábios sentindo a pressão no meio das minhas pernas aumentar.
— Porra, você me deixou morrendo de vontade.
Dou risada.
— Você sempre está com vontade. — respondo puxando seu rosto para cima.
— Deve ser por que você é a garota mais gostosa do mundo. — ele diz. Seus olhos claros estavam brilhantes por causa do álcool ou talvez da luxúria.
— É, deve ser por isso...
— Eu amo você, Angel. Eu amo muito.
Sorrio e passo a mão em volta do seu pescoço.
— Muito quanto?
— Maior que eu.
Uma gargalhada escapa da minha garganta.
— Porra, é muita coisa.
Luke se inclina e sela nossos lábios, os dele estavam famintos e desesperados. Sua língua me provocava, ele queria que eu cedesse as suas vontades e se continuasse assim eu tenho certeza que cederia.
— Eu tô tão duro que acho que meu pau vai furar minha calça. — ele diz no meu ouvido.
Fico arrepiada ao ouvir sua voz rouca e a pressão no ventre só aumentava. Tinha que parar de beber, toda vez que bebia eu só conseguia pensar em uma coisa...
— Começou. — ironizo.
— O quê?
— Você, suas mãos cheias de dedos e palavras sujas nos meus ouvidos. — sua mão desce por minhas costas. — Conheço seus truques.
Ele exibe os dentes em um sorriso convencido.
— Sempre funcionam.
— É, sempre. — admito.
— Por favor. — ele insiste mas balanço a cabeça em negação.
— Não vai rolar.
— Só uns beijinhos, nada demais.
Meu Deus eu não acredito que Luke Hemmings estava querendo dar uma escapadinha como um adolescente qualquer. O álcool mexia com a cabeça desse homem, a irresponsável aqui deveria ser eu.
— Pode me beijar aqui.
— Mas não do jeito que eu quero beijar e nem passar a mão onde quero passar.
Ai meus Deus... onde será que ele queria passar a mão?
— E o show?
— Tá uma porcaria. Por favor, não custa nada.
Ele faz beicinho. Ah droga, era mil vezes mais interessante me agarrar com ele em algum canto.
— Tudo bem, — concordo. — onde?
Ele sorri e aponta pra um lado onde havia menos pessoas e menos iluminação.
— Tem um palco vazio ali.
❖
A casa do meu pai ficava no caminho da do Michael então resolvemos passar a noite lá para não faze-lo dirigir por vinte minutos a mais. O carro do Luke ficou com Ashton e Ashley, eles escolheram passar a noite em Indio assim como Nicole e Calum. Não sei o que rolou mas parece que se acertaram, ou então só não resistiram um ao outro. De qualquer maneira o Cal vai me contar tudo nos mínimos detalhes mesmo...
O problema é que dormir na casa do meu pai não foi uma boa escolha. Quando levantamos achei que o mau humor dele fosse pela minha mudança, ele não gostou nem um pouco da ideia, muito menos minha mãe mas ela havia aceitado com mais facilidade. Já meu pai fazia um drama descomunal toda vez que me via, na cabeça dele ele havia sido abandonado pra sempre e olha que vinha aqui pelo menos quatro dias por semana.
Pensei que iria ouvir mais um dos seus lamentos sobre eu ter ido embora mas aí ele mandou o Luke se sentar também, o que até agora era novidade. Ele não queria que Luke tivesse o gostinho da vitória por ter me tirado de casa, palavras dele. Papai entra na sala e tampa uma revista em cima da mesa, as palavras em vermelho fazem meu coração saltar no peito:
LUKE HEMMINGS NÃO TEM VERGONHA!!!
Na noite madrugada de ontem o vocalista da banda 5 Seconds Of Summer, Luke Hemmings, foi flagrado em um momento um tanto íntimo com sua namorada atual Angeline Smiths, filha do renomado produtor musical Jason Smiths. Os dois frequentavam o último dia do festival Coachella em Indio quando foram fotografados dando uns amassos atrás de um dos palcos. Hemmings estava com o zíper aberto, será que os paparazzis interromperam alguma coisa?
— O que vocês tem a me dizer sobre isso? — pergunta meu pai jogando a revista em cima da mesa.
Anexada ao artigo havia uma foto nossa, ambas as bocas um pouco vermelhas por causa dos beijos, a única diferença é que a minha estava escancarada de surpresa enquanto Luke apenas dava risada no fundo. Eu usava minha mão para tentar esconder sua calça aberta e levemente abaixada. Malditos paparazzis.
A verdade é que nem ao menos fizemos alguma coisa, Luke estava pra lá de empolgado com nossos amassos atrás do palco e parece que minhas mãos não foram o suficiente pra ele. O álcool subiu a cabeça, ele baixou o zíper e então fomos fotografados. O pior de tudo é que eu fiquei mortificada de vergonha enquanto ele deu uma crise de risos. O paparazzi sumiu antes que pudéssemos falar alguma coisa, o que nos levou a achar o Michael e voltarmos imediatamente pra casa.
Afundo meu rosto em minhas mãos, eu não acredito que deixei um momento de tesão me colocar nessa enrascada.
— Você me prometeu que não ia colocar minha filha nesse tipo de situação e você — papai aponta pra mim — me prometeu que ia ter juízo nesse relacionamento.
Suspiro e o encaro.
— Estávamos bebados.
— Você nem devia beber por sinal, ainda não tem vinte e um. Essa desculpa não vale.
— Me desculpa senhor Smiths... — Luke começa a dizer mas meu pai o interrompe.
— Ainda não estou falando com você. — rebate e se vira pra mim. — Angeline, confiei em você e no seu bom senso e é isso que você faz? Meu nome está na matéria, você sabe o que está em risco aqui?
— O quê? Ninguém vai te contratar agora porque você tem uma filha que faz sexo com o namorado?
Me pai coloca as mãos na cintura e tinha certeza que ele estava se controlando muito para não fazer um escândalo, a veia na sua testa estava prestes a saltar.
— Angel, você não está ajudando muito. — Luke sussurra pra mim.
Me viro pra ele.
— Não estou ajudando? Meu pai sabe muito bem que eu faço sexo e ele também faz inclusive, senão não estaria aqui. Não estou entendendo o motivo disso tudo.
— É uma polêmica amor, isso prejudica sim os negócios.
— Meu pai tem dinheiro para pelo menos dez gerações viverem bem sem nem pensar em emprego. Ele sobrevive.
— Mas isso mancha o nome da minha empresa Angeline, você tem ideia do quanto eu trabalhei duro para sermos os melhores do país? — grita.
Suspiro. Eu errei mas quem nunca errou não é mesmo? Não era o fim do mundo, não é como se eu tivesse estragado tudo por dar amassos no meu namorado famoso atrás de um palco.
— Me desculpe pai, não estava pensando quando fiz aquilo.
Luke concorda.
— Me desculpe senhor. Não vai mais se repetir.
Me viro pra meu namorado.
— Não?!
— Não no meio da rua.
Meu pai pigarreia e voltamos nossa atenção pra ele, sua coloração ainda estava vermelha e uma gota de suor se projetava na sua testa. Fico aliviada por ver que sua veia não estava protuberante mais.
— Eu ainda estou aqui. — ele nos lembra. — Tratem de não se meter mais em confusão e deixar que o assunto morra.
Antes que pudéssemos responder meu pai dá meia volta e vai para seu escritório. A tensão ficou no ar me deixando com uma sensação horrível, odiava decepciona-lo.
— Ele ficou chateado. — Luke murmura.
Meus ombros caem na minha expressão típica de derrota.
— Eu que deveria estar chateada por ter dado esse mole, vão cair matando em cima de mim agora.
Luke passa o braço por cima dos meus ombros.
— Eu defendo você.
— Você não defende nem a si mesmo, Hemmings. — rebato e ele franze a testa.
— Idiota.
— Vou chamar os garotos.
Meu namorado tira o celular do bolso enquanto o encaro com a testa franzida. Chamar os garotos por acaso ajudaria em quê? Eles ainda não eram super heróis.
— Pra quê? — pergunto.
Luke sorri e me encara.
— Vamos escrever uma música.
Nenhuma vergonha
Angel com a arma em sua mão
Apontando em minha direção, me dando carinho
O amor é fatal, não vai dar uma chance a ele?
O centro das atenções, não me faça perguntas
Vá em frente e me acenda como um cigarro
Mesmo que seja algo que você possa se arrepender
Você me tem agora, agora, agora
Me engula, engula, engula
Eu só me animo quando as câmeras estão ligadas
Nunca é o suficiente e nunca fico satisfeito
Eu não tenho vergonha
Eu amo o jeito que você está gritando o meu nome
OI GENTE CAPÍTULO GIGANTE COMO PROMETIDO!
Deu muito trabalho, então comentem por favor hihi
Muito obrigada pelo apoio de sempre, até breve!
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