Capítulo 25

Angeline Smiths, Sydney, 23 de Março de 2019

— Bom dia! — digo à Liz assim que chego na cozinha.

Ela vestia um vestido vermelho e andava de um lado pro outro colocando as coisas no armário. Era quase nove horas da manhã, eu fiquei trinta minutos na cama na esperança de que Luke acordasse mas nada. Estava com fome então resolvi descer mas admito estar um pouco envergonhada, durante esses dias Luke não havia me deixado sozinha em nenhum momento.

— Ah, bom dia querida! — ela responde com um sorriso. — Tem ovos aqui e torradas na mesa, vegemite também e biscoito. O café acabou...

— Eu faço mais, não tem problema.

Liz assente e fecha o armário embaixo da bancada. Arrasto a cadeira e me sento, levando a mão ao pacote de biscoito.

— Luke nada ainda né?

— Talvez depois das dez, ele costuma dormir muito.

Ela dá risada.

— Esses artistas de hoje em dia... — ironiza. — Mas bom, já estou indo. Dê um beijo nele quando ele acordar.

— Tudo bem. — concordo. Liz pega a bolsa em cima da bancada e coloca no braço.

— Vou voltar antes das seis para poder ficar com vocês antes do voo.

Assinto.

— Vamos ficar esperando, tenha um bom dia!

— Você também.

Quando Liz sai me sinto mais a vontade para atacar os ovos mexidos. Eu tinha vergonha de comer muito em uma casa que não era minha, sempre achava que todos iam pensar "meu deus, quem trouxe essa draga?".

Me sentia triste por ir embora, não queria voltar pra faculdade. Estava extremamente cansada daquele lugar, as aulas estavam cada vez mais complicadas e estudar se tornou difícil com Luke Hemmings sem camisa perambulando perto de mim. Minha única motivação eram as férias que começarão no final de Maio, três meses de verão é tudo que eu precisava.

Passamos os últimos dias dando atenção a toda família de Luke, ficamos um tempo com a mãe dele, com o pai, com os irmãos e alguns amigos antigos. Conheci duas tias dele também, todas muito bonitas por sinal. A família toda dele era bem parecida...

Me sento novamente na mesa após colocar ovos mexidos num prato e jogo mel em cima deles, gostava de coisas agridoces. Quando coloco a segunda garfada na boca meu celular toca e o nome "Mamãe" brilha na tela. Desbloqueio a ligação.

— Oi mãe. — eu digo.

— Oi filha, como você está?

— Bem, nosso voo sai as oito.

— Tem se alimentado direito? Você é meio fresca...

— Não sou fresca mãe e estou muito bem, só um pouco vermelha.

Era outono aqui e estava bem quente, tentei me protejer ao máximo do sol mas não deu muito certo. Apesar de estar acostumada com o calor minha pele insistia em ficar vermelha.

— O que vai fazer hoje? — mamãe pergunta.

Acabo de mastigar antes de responder.

— Luke quer me levar a praia.

Ouço alguém falar no fundo e uma breve discussão se inicia.

— Ah calma, ainda não acabei. — ouço minha mãe dizer. — Seu pai é um chato.

Dou risada.

— É a especialidade dele.

— Vou entregar o telefone antes que ele me mate.

Antes que pudesse responder a voz do meu pai enche meus ouvidos.

— Oi amor! Papai tá com saudades! — ele exclama.

— Oi pai, também tô com saudade.

— Luke está se comportando né? Não é porque estou longe que ele pode se aproveitar.

Reviro os olhos e agradeço a Deus por ele não poder ver a expressão que se formou no meu rosto.

— O Luke só dorme pai, não devia se preocupar com isso.

Há uma pausa antes de ele voltar a falar.

— Gostou daí?

— Gostei, o clima é gostoso.

— Nada de se casar e ir pra longe de mim, ok? Já não basta sua irmã...

De onde meu pai tirava essas coisas?

— Pai, ela mora à quatro quarteirões de casa. Não exagere.

— Sinto que estou perdendo os meus dois bebes. Você mal fica em casa desde quando começou a namorar.

— Vai discutir isso agora? — pergunto.

— Claro que vou.

— Você também mal fica em casa. — rebato.

— Eu tenho um emprego.

— E eu tenho aulas pra frequentar. Em horário integral por sinal.

Ouço ele suspirar.

— Acho que é meu destino ser um pai abandonado pelas filhas. Criei minhas garotinhas loiras com tudo do bom e do melhor, dei amor e carinho pra depois ser descartado assim.

— Pelo amor de Deus Jason! — minha mãe exclama do outro lado do telefone.

Dou risada.

— Pai, você não está sendo descartado. Nunca vai ser.

— Vou me prender a isso.

— Vou desligar, manda um beijo pra mamãe.

— Amo você, criança. — ele diz.

— Também te amo pai.

Desligo o celular no mesmo momento em que ouço passos se aproximando. Me viro e encontro Luke com bermuda de moletom, sem camiseta e com o cabelo extremamente bagunçado.

— Awn que fofinha. — ele diz e depois boceja.

— Que milagre acordar antes das dez.

— Tenho planos pra hoje, preciso estar pronto.

Ele se aproxima e pega uma garfada de ovo do meu prato. Belisco a torrada e reprimo uma risada quando ele faz careta por causa do mel.

— Pensei que só fôssemos a praia.

— Não é uma simples ida à praia, amor. Inclusive, não vou ganhar nenhum beijo de bom dia?

Reviro os olhos e me ponho de pé, ficando na ponta deles para conseguir alcançar a boca de Luke. O beijo é rápido mas doce, não só por conta do mel, estávamos num clima muito bom ultimamente.

— Hmm... gostoso. — ele diz quando me afasto. — Tem gosto de torrada.

— Nojento.

Luke se senta na mesma cadeira que eu estava sentada e bate suas mãos no colo.

— Senta aqui. — ele pede.

Me sento em suas pernas o observo enquanto pegava o pacote de biscoito e enfiava um inteiro na boca. Seu olhar estava distraído, encarava as paredes e o chão. O bico era notável.

— Por que está com essa cara tristinha? — pergunto.

— Não gosto de ir embora daqui.

— Sente muita falta?

— Sinto. Todos os dias. Se pudesse moraria aqui.

— O que te impede?

— Minha carreira e uma loira muito chata. — ele provoca.

Reviro os olhos.

— Ha-ha! Muito engraçado.

— Você que perguntou.

Ele enfia outro biscoito na boca enquanto passo meus dedos por entre os cachos de seu cabelo. Enrolo um.

— Eu entendo você, também sinto falta da Itália. É difícil se sentir em casa num lugar onde você não cresceu.

— Devíamos ir lá.

— Lá?

Luke assente.

— Na Itália.

— E a banda?

— Acho que consigo uns dias livres quando você estiver de férias.

Sorrio. Luke e eu em Roma me parece uma boa maneira de passar as férias.

— Temos um apartamento perto do Coliseu, você vai adorar! — exclamo e ele sorri.

— Estava pensando também se você não toparia viajar com a gente pra alguns shows... No verão temos mais eventos então não devo parar muito em casa.

— Hmm... não sei sei não. Não é melhor ficar em casa? Os meninos podem se incom...

— Nada disso. — ele me interrompe. — A Crystal costumava ir quando ela começou a namorar o Mike, a única diferença é que ela desistiu na metade do caminho. Você pode ir só nas cidades mais próximas, ainda vai sobrar bastante tempo pra ficar em casa.

Assinto vendo ele mastigar de novo. Não tinha planos para as férias e com certeza não queria ficar longe dele.

— Tudo bem, eu vou pensar no caso. — pego um biscoito de sua mão e mordo um pedaço. — Já marcou um horário com a costureira?

Luke franze as sobrancelhas e sua expressão se torna uma careta.

— Ah mas que droga! Eu sempre esqueço isso!

Tem duas semanas que lembro ele quase todos os dias mas acho que não foi o suficiente.

— Por que não me deixa resolver isso logo?

— Você já faz coisas demais pra mim.

— Mas você é um cabeça de vento e não lembra de nada, se eu não fizer ninguém faz.

Ele se finge de ofendido.

— Magoou.

— Vou marcar um horário e tudo que você vai ter que fazer é aparecer, escolher um terno e deixar ela te medir pros ajustes. Nada mais.

Luke olha pra mim com um sorrisinho esperançoso.

— Você vai comigo?

— Eu por acaso pareço sua mãe? — rebato. — Tem oito anos de idade agora, Hemmings?

— Só não quero escolher algo que que você ou sua família deteste. — ele se defende.

— As chances da minha família detestar são consideráveis mas eu é impossível. Você fica gostoso com qualquer roupa e principalmente sem.

Luke arregala um pouco os olhos e depois assente com a cabeça.

— Não pode dizer isso de manhã, é quando eu e meu amigão aqui estamos com mais energia.

Pois é, eu estava sentindo a energia bem embaixo de mim.

— Eu notei.

Luke chega meu cabelo pro lado e sela seus lábios contra meu pescoço. A sensação é ótima. Seus dedos apertam minhas coxas com força.

Me ponho de pé, já sabia onde ele queria chegar.

— Ah não, nada de gracinhas. Temos que deixar tudo pronto pra irmos embora hoje.

— Temos um tempinho. — ele insiste fazendo biquinho.

— Não temos. Come tudo aí enquanto eu vou começar a ajeitar as coisas.

— Chata pra caralho hein.

Reviro os olhos e cruzo os braços.

— O que disse?

Luke abre o sorriso mais meigo que consegue.

— Sim senhora.

— Melhorou!


Eu e Luke demoramos cerca de uma hora para arrumar todas nossas malas, foi meio difícil fechar tudo. Ele tinha resolvido levar algumas coisas do quarto para seu apartamento e eu me empolguei um pouco na loja de cosméticos perto da casa do irmão dele, na verdade me empolguei muito. Depois que ficamos prontos colocamos as malas no carro para não ter que fazer isso depois e dirigimos para ver seu pai, seus amigos e seus irmãos antes de irmos.

Dessa vez me mantive bem longe da loja de cosméticos.

Era quase quatro da tarde quando chegamos na praia, algumas garotas tiraram fotos com o Luke o que foi divertido pois elas fizeram piadas sobre o fato de ele estar com champanhe nas mãos. Estendemos a toalha mais longe do mar, conversamos bastante e Luke bebeu quase toda a garrafa que havia trago.

Estava prestes a dizer que devíamos voltar pra casa para esperarmos a mãe dele quando ele diz:

— Não sei se você sabe mas... eu amo você.

Sorrio, um sorriso que exibiu todos os meus dentes. Sentia meu coração ficar quente ao mesmo tempo em que meu estômago ficava frio, a sensação ao ouvir isso é maravilhosa.

— Agora que você falou eu sei.

Luke franze as sobrancelhas em uma careta fofa.

— Droga, não saiu do jeito que eu esperava.

Dou risada da sua expressão e coloco minha mão em seu rosto, encarando seus olhos azuis que estavam ainda mais brilhantes por conta do álcool.

— Também amo você, bobinho. — respondo.

Foi a vez dele de sorrir como uma criança.

— Bom, isso é bom... muito bom. Pode dizer de novo?

— Acho que não.

Ele mostra a língua.

— Insuportável.

— É, mais você ainda me ama. — provoco, eu ia tirar proveito disso.

— Amo. — concorda e franze a testa de novo. — Droga, estamos começando a soar piegas.

— Você sempre foi o ápice da breguice.

— Você não está muito longe agora que contaminei você.

Me finjo de ofendida.

— Me contaminou?

— É, com o meu coração amoroso. É o meu charme.

Dou risada enquanto balanço a cabeça em negação.

— Não funcionou com as outras. — rebato.

Luke fecha a cara.

— Só não funcionou porque nenhuma delas era o amor da minha vida.

— E eu sou?

— Sim.

— Como sabe disso?

— Eu só sei. Tenho certeza absoluta.

O encaro com a maior cara de boba apaixonada do mundo, eu tinha certeza. Não sei se é porque estamos juntos há pouco tempo, ou porque ele é o homem mais lindo do mundo, ou porque sabia exatamente o que dizer mas eu não conseguia imaginar um lugar melhor para se estar do que com ele. Nada chegaria perto do que eu sinto agora. Era gigante.

— Tudo bem, então vou querer casar no campo. — digo. — Todo mundo descalço.

Ele concorda.

— Pode pedir o que quiser, até sereias eu juro que arrumo pra você. Sereias com asas como no filme da Barbie!

— Sereias não, talvez gnomos.

— Fechado. Isso me leva a outra coisa.

Ele enfia a mão no bolso e sinto meu coração parar por meio segundo. Eu era muito, muito nova para me casar. Sabe o que todos pensam quando vêem uma menina de dezenove anos se casando? Gravidez. É isso o que todos pensam, a Bella do Crepúsculo não estava errada em ser avessa à um casamento, se tornar vampira para que ela possa passar a eternidade junto do Edward tudo bem, agora casar já era demais. Casar é demais.

Penso em mil maneiras de dizer não em cerca de meio segundo até que percebo que em sua mão não tinha nenhuma anel e sim uma chave. Meu coração finalmente volta a bater e a cor volta ao meu rosto. Solto o ar aliviada.

— Que susto, achei que fosse um anel. — admito.

Ele dá risada.

— O anel vem depois.

Luke estende sua mão na minha e a abre, deixando uma chave prateada dentro dela. Encaro sem saber o que dizer, isso era uma chave de quê? Um cofre secreto? Da gaveta da sala que sempre fica trancada?

— É uma chave...? — incentivo.

— Do meu apartamento. Quero que more comigo.

Tenho certeza de que fiz uma careta.

— Luke...

O que eu ia dizer? Será que havia uma maneira de negar educadamente sem quebrar o coração do meu sensível namorado ou estragar o clima perfeito que está entre nós? Será que eu queria dizer não por não querer ou por saber que meus pais teriam uma síncope?

— Você fica lá a maior parte do tempo, dorme comigo quase todos os dias. Quando não estamos na minha casa eu estou na sua e isso não tem que mudar. Mas quero que seja oficial, que o apartamento seja nosso.

A careta ainda estava no meu rosto e parecia só aumentar conforme eu encarava seus olhos esperançosos.

— Meu pai reclamou hoje mesmo que eu não ficava tempo o suficiente em casa, ele vai ficar irado.

A verdade é que queria que Luke desistisse da ideia sem eu ter que negar, me pouparia dor de cabeça principalmente porque quero morar com ele. Quero de verdade. Mas isso envolve coisas que não sei se estamos prontos no momento.

— Você pode dormir lá todos os dias que quiser. — insiste. — Só quero que leve suas coisas, que deixe aquele lugar ainda mais com a sua cara. Se é que é possível pois você nem se mudou e já organizou tudo do seu jeito.

Abro a boca em um "O" perfeito e coloco a mão em meu peito.

— Isso foi uma crítica? — indago.

— Não. Foi um pedido desesperado de um homem apaixonado. — ele diz e eu dou risada. Tenho que cortar o álcool da dieta dele. — Pode por favor me dar essa honra Angeline Smiths? Não sei se sobreviverei mais um dia sem saber a resposta.

— Não é muito cedo?

— Bom, eu quero ficar com você todos os dias o tempo todo então está até meio tarde demais.

O encaro. Eu também queria ficar com Luke todos os dias, a verdade é que chegava a ser insuportável ter que dormir numa cama sozinha sabendo que poderia estar com ele. Sei que meu pai ficaria chateado ao pensar que estaria perdendo sua outra filha mas acredito que ele superaria fácil, pelo menos ele superou o fato de eu namorar o integrante de uma banda. Tenho dezenove anos, não sou mais criança e posso me cuidar sozinha. Se eu conseguir o estágio com o professor Saltzman vou ter meu próprio dinheiro, é pouco mas dá pra manter o carro e comprar comida. Isso quer dizer que sobreviveria se ele cortasse o cartão de crédito.

— Tudo bem, vamos vamos fazer isso. — concordo.

— E vamos adotar um gato. — acrescenta.

— Quê? — Por que mesmo deixei ele beber?

— Preciso de um gato. — insiste.

— Você está bêbado Luke, não precisa de nada.

— Preciso de um gato, vamos adotar um. Não, vou adotar um de presente pra você! Você escolhe o nome.

— Você nem me perguntou se eu queria! — rebato.

— Você quer?

— Bom, por que não né?

Qualquer problema que eu tivesse colocaria a culpa no Luke por ter inventado isso, sem contar que estava certa de que quando o álcool saísse de seu organismo ele desistiria dessa ideia.

— Vai ser lindo. A Petunia vai adorar! — ele comemora.

— Ela não vai comer minha gata, vai?

— Gata?

— É, quero uma menina.

— Tudo bem. — concorda. — E não, ela não vai comer sua gata, Petunia é uma lady.

Dou risada.

— Vou confiar na sua palavra.

Luke se inclina na minha direção e segura meu rosto com as duas mãos, me beijando em seguida. Seus lábios tinham gosto de champanhe assim como sua língua. O beijo é intenso e carinhoso, as vezes sentia que poderia desmanchar em seus braços. Ele se afasta com o maior sorriso do mundo.

— Eu te amo tanto que quero gritar.

— Não ouse.

— Angeline eu te amo. — ele grita.

Sim, meu namorado era o mais piegas do mundo! Bato a mão na testa, não acredito que isso estava acontecendo...

— Meu deus não devia ter trago esse champanhe.

Ele se vira pra mim.

— Amo você, amor.

— Também te amo Luke, agora sossega.

— Não quero sossegar, sou o homem mais feliz do mundo.

— Está namorando a Rihanna e não me falou por acaso? — ironizo.

Luke fecha a cara.

— Ha-ha. Muito engraçada.

Tudo bem, acabou a palhaçada para o Luke hoje. Me ponho de pé e bato as mãos em minhas pernas e bunda, tirando a areia que insistia em grudar mesmo estando sentada em cima da toalha.

— Onde está indo? — ele pergunta.

— Comprar uma água pra você. Sua mãe não merece ter que te deixar bêbado num aeroporto.

— Ela sabe que você vai cuidar de mim.

Fecho minha cara e aponto um dedo pra ele.

— Acabou a gracinha Hemmings, não se mexa. Volto em dois minutos.

Dou meia volta e começo a ir em direção ao quiosque.

— Te amo! — ele grita.

Droga, eu também amava aquele idiota.

Oi gente, espero que tenham gostado do capítulo!
Comentários e votos são muito importantes pra mim, me ajudam demais! Obrigada todo mundo que tá sempre me dando apoio!

Pequeno spoiler do próximo capítulo: teremos coachella e Cal&Nicole.

Vejo vocês logo logo!

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