Angeline Smiths, Los Angeles, 25 de Fevereiro de 2019
Quando se é criança as coisas são diferentes sabe, o amor é diferente. É tudo tão bonito e colorido, qualquer coisa derrete nosso coração e nos faz soltar um "awn". Me lembro quando saí com Josh pela primeira vez. Minhas bochechas estavam coradas e eu passava a mão no cabelo toda hora, preocupada em parecer bonita. Ele gaguejou diversas vezes e falou com a voz fina. Eu tinha achado fofinho, na verdade acho até hoje.
Mas estar apaixonada por Josh há quatro anos atrás é diferente do que sinto agora. Quando se tem quinze anos as pessoas são sim capazes de sentir um amor avassalador — sei disso porque eu senti — mas não temos maturidade para enfrentar o que sentimos então somente postamos indiretas e damos olharem sugestivos torcendo para a pessoa se tocar. Alguns corajosos se arriscavam a falar as palavras "eu gosto de você".
Mas quando se é quase adulto virar pra uma pessoa e falar que gosta dela me parece muito imaturo. Adultos deixam as coisas rolarem não é? E então depois de um tempo já pulam pro eu te amo e ficam juntos de vez. É assim que funcionava. Ou pelo menos era o que os filmes diziam.
O único envolvimento amoroso que eu tive foi o Josh mas eu não podia usar ele como parâmetro. Ele era perfeito e quando digo perfeito é perfeito MESMO! Sempre foi carinhoso na medida certa, nunca grudento demais ou possessivo, meus pais amavam ele, era bonito, gostoso e transava muito bem. Tinha ótimo gosto musical e eu era apaixonada pela família dele. O que mais eu poderia querer?
Não me lembro exatamente quando deixei de estar apaixonada por ele mas se pudesse evitar com certeza teria evitado.
Minhas outras experiências se resumem a beijos em caras da escola quando eu tinha catorze e em dormir com Peter num surto de raiva.
Era mais fácil quando eu era mais nova e não tinha que me preocupar em não morrer de tesão ou se o cara que eu gosto estava transando com outra pessoa.
Nesse exato momento estou os dois.
Luke foi viajar na segunda de manhã. Os meninos foram na terça à tarde junto com meu pai o que me deixou na dúvida sobre onde ele havia ido. Não mandei mensagem pra ele e nem perguntei nada a respeito, não ia ficar me arrastando por ele. Ele podia ser lindo, cheiroso, extremamente gostoso e com uma voz que fazia meu corpo vibrar de dentro pra fora mas eu ainda tinha meu orgulho.
Me mandou mensagem na quarta de manhã junto com uma selfie sua comendo risoto num restaurante. "O seu é melhor!" foi o que ele disse. Tentei responder do modo mais animado possível, não queria transparecer nada que ele não devesse saber. Me mandou uma foto de Petunia na praia e disse que ela estava com Crystal. Me ofereci para ficar com ela quando ele precisasse.
Ele não falou mais comigo durante a semana. Vários videos dos meninos chegaram pra mim, em todas as redes sociais eu só conseguia ver como pareciam se divertir.
Eles voltavam hoje a tarde da viagem e eu ainda estava criando coragem para levantar da cama. Meu estômago estava embrulhado e eu não queria mesmo ir assistir aula nesse frio.
— Até que enfim dorminhoca! — exclama Nicole saindo do meu banheiro.
Ela havia acabado de sair do banho e estava enrolada em uma toalha. Seus braços tatuados estavam estendidos pra cima enquanto soltava o coque em seu cabelo.
— Não vou pra aula. — decreto no exato momento em que um trovão ecoa do lado de fora.
— Você vai sim! E depois vamos voltar juntinhas pra cá e nos arrumarmos pro show dos meninos.
Ah e ainda tinha esse maldito show. Não devia ter aceitado ir naquele dia mas como eu podia imaginar que as coisas iriam ficar estranhas depois? Quer dizer, não estava estranho, o problema era comigo e não com nós no geral.
— Não quero ir mais. Diz que eu estou doente...
Me viro na cama dando de ombros pra ela.
— Desde quando você é medrosa desse jeito garota?
Me sento. Ficar me remexendo na cama não estava estagnando as borboletas na minha barriga.
— A corajosa sempre foi você. — a lembro.
Nicole revira os olhos e solta a toalha no chão.
— O ponto é o seguinte: você vai ficar linda hoje a noite e quando for o momento certo vai dar um chá de bu...
— Nicole! — exclamo.
— O que quis dizer é que você não pode evitá-lo. — diz se enfiando em sua calça jeans. — Você gosta dele.
— Mas estou com vontade de vomitar.
— É o que o amor faz.
Atiro uma almofada na sua cabeça e seus peitos balançam em minha direção.
— Cala a boca! — falo. — Pelo menos eu admito quando gosto de alguém...
Nicole faz cara feia pra mim e pega seu sutiã.
— Eu não gosto do Calum.
— Não disse que era você e muito menos toquei no nome do Cal, você está se entregando.
Ela se senta na cama e começa a calçar o coturno.
— Você ficou uma chata essa semana.
Talvez eu tenha ficado um pouco mal humorada. Contagiei Nicole sem sombra de dúvidas pois ela me deu mais patadas que o normal.
— Estou preocupada. — admito.
— Essa Charlie não importa, ela nem mora aqui.
Grande coisa.
— Luke pode gostar dela.
Nicole revira os olhos como se o que eu falei fosse algo impossível.
— Se isso acontecer você tem o Peter.
— Ele não é um estepe. — rebato.
— Eu acho que é exatamente isso que ele é.
— Você anda cada dia pior, dá ultima vez que ficou assim foi quando o Logan tirou sua virgindade e você se apaixonou por ele.
Nicole se põe de pé e vai até o espelho.
— Eu era uma garota burra.
— Eu sei que é o Calum... por isso está grossa desse jeito.
— Angie eu amo você mas sinceramente já estou cansada desse assunto.
— Ele também não tem falado com você né?
Ela não me responde, somente pega uma bolsinha dentro de sua mochila e vai em direção ao meu banheiro.
— Vou escovar meus dentes.
Bufo e me jogo na cama.
— Eu odeio a 5 Seconds Of Summer. — praguejo.
Nicole me convenceu a sair da cama na marra. Me puxou pelos pés e me jogou de bunda no chão, provavelmente vou ficar dolorida por algumas horas. Visto uma blusa de lã gola alta, calça preta, botas e moletom, torcendo para que seja o suficiente pra me manter aquecida e longe de toda essa chuva.
Talvez se chovesse o suficiente o show fosse cancelado.
E então me lembro que raramente shows eram cancelados por conta de chuva. Teria que rezar para um furacão vir assolar Los Angeles.
Fico na faculdade até pouco depois do almoço e finalmente entrego meu trabalho que fiz no fim de semana. Fiquei com nota oito e me dou por satisfeita, eu me daria no máximo um seis. É difícil se concentrar com Luke do lado.
Combino com Nicole que voltaria para buscá-la as 17 horas e sigo para minha casa. A primeira coisa que vejo quando passo pela sala é meu pai saindo do escritório.
— Oi papai! — praticamente grito e me jogo contra ele.
Ele me abraça apoiando o queixo no topo da minha cabeça.
— Angeline, senti sua falta.
— Eu também. Mamãe fica de mau humor quando você não está por perto.
Me afasto e ele está com um sorriso forçado nos lábios. Mau sinal.
— Preciso conversar com você.
Toda vez que ele fala isso eu me dou mal.
— O que?
Ele aponta pro sofá e se senta. Me sento ao seu lado e meu pé automaticamente começa a balançar, odiava rodeios.
— Aproveitando que sua mãe saiu, vou te fazer uma pergunta e vou fazer só uma vez porque confio na garota que eu criei. Quero que você me diga a verdade.
Eu com certeza ia me ferrar muito.
— Tudo bem.
— Tem certeza que Luke Hemmings é só seu amigo? — pergunta finalmente.
Tento manter minha expressão normal enquanto penso o que poderia ter acontecido. Será que ele ouviu Luke falar alguma coisa sobre mim? Ou alguma mensagem? Muito improvável, nem escrevi direito essa semana.
— Pai... de novo isso? — indago.
Ele não amolece, a expressão continua firme e seus olhos claros estão meio assustadores pra ser sincera.
— Me responda!
Me ponho de pé.
— Isso não é da sua conta.
— Na verdade você é minha filha e ele é meu cliente então é da minha conta sim.
Reviro os olhos e me viro pra ele.
— Você é tão mandão.
— E você é uma mentirosa. — rebate. — Eu não sou de entrar em redes sociais e ai quando entro a primeira coisa que vejo é uma foto do Luke deitado no sofá da casa onde você passou todo o fim de semana!
Me dei mal. Maldito sofá!
— Está parecendo um psicopata.
Ele deita a cabeça pro lado e aponta o dedo pra mim.
— Você não me engana, Angeline Smiths.
Ou eu continuava fingindo e desconversando ou eu falava a verdade. Não queria fazer nenhum dos dois mas estou cansada de inventar desculpas para dormir fora.
— Eu gosto dele. — admito. — Está bom pra você?
— Na verdade está péssimo! Não vê o que isso significa?
— Eu consigo me defender sozinha, pai.
— Escondendo as coisas de mim? — exclama. Seu tom de voz está começando a se elevar.
— É. — concordo. — Escondendo as coisas de você porque você e a mamãe são muito controladores.
— Queremos o seu bem.
— Então me deixem fazer minhas próprias escolhas. Eu moro na casa de vocês e sobrevivo as custas de você, eu lhes devo respeito e satisfação sim. Mas você não podem controlar com quem eu saio ou deixo de sair. Se eu quiser transar com todos os garotos da faculdade eu posso porque isso não diz respeito a você.
Ele cruza os braços e olha pra mim com uma expressão indecifrável.
— Angeline...
— O que foi agora? — praticamente grito.
Papai balança a cabeça de um lado pro outro e coloca a mão na têmpora.
— Conte pra sua mãe porque não vai ser eu que vou fazer isso.
E então dá de ombros e sobe as escadas. Eu não ia me preocupar com isso agora, já tenho problemas demais.
Passo o resto do dia no quarto fazendo exercícios da faculdade e depois vou buscar Nicole. Nós duas não estávamos muito animadas para hoje a noite mas mesmo assim iríamos, não sei quando seria minha próxima oportunidade de ir a um show de graça então deveria aproveitar.
Luke me escreveu "Ansioso pra te ver :D". Fiquei estupidamente feliz com esse gesto e me deu o ânimo que eu precisava pra desistir da ideia de usar moletom hoje à noite. Visto uma calça de cintura alta preta, blusa decotada vinho e uma jaqueta jeans. A chuva havia dado uma trégua mas ainda estava frio demais pra me arriscar a colocar uma saia.
Nicole sai do closet com um vestido xadrez de manga comprida, meia calça e coturno vinho. A invejo por não ter pensado na ideia da meia calça. Seus cabelos iam até a cintura e era volumosos e com cachos tão bonitos.
— Fiu fiu. — digo pra ela e ela me mostra seu dedo médio.
Quando chegamos no show ficamos bem em frente ao palco. Ashley e Crystal já estavam lá e nos oferecem uma garrafa de água. Estava lotado de adolescente histéricas gritando e levantando placas. Me diverti com isso.
O show foi muito melhor do que eu imaginei e Luke ficava extremamente sexy no palco. Ele vestia uma calça de vinil preta que com certeza eu iria fazê-lo usar de novo. Crystal cantava todas as músicas super animada enquanto eu e Ashley sorriamos e cantarolávamos as que conhecíamos, Nicole não chegou ao ponto de cantar mas parecia se divertir.
E então acabou e eu fiquei decepcionada por não ter ouvido a música que Luke tocou pra mim no fim de semana. Crystal nos guiou pela multidão até chegarmos atrás do palco onde os garotos bebiam água e conversavam entre si.
Ashton abraça Ashley com toda força mundo e até a tira do chão. Fofos.
— Olá garotas! — diz Mike.
Luke vem pra perto de mim e me abraça de lado, inspirando forte o cheiro do meu cabelo. Automaticamente paro de prestar atenção em tudo a minha volta.
— O que você achou? — ele pergunta.
Achei que você estava tão lindo que quis chorar e esfaquear você por não ter falado comigo direito a semana toda.
— Você estava ótimo! — respondo. Achei melhor dar uma resumida.
— É, eu sei. — diz ele fazendo uma careta convencida.
Quando abro minha boca pra fazer piado sobre isso sou interrompida.
— Quem é aquela? — pergunta Nicole e aponta pra uma garota.
Ela conversava com o Calum mais ao fundo. Morena, lábios grossos e incrivelmente pequena. Devia ter um metro e meio.
— É a Mariana. — Luke responde. — Uma amiga do Cal.
— Hm. — é tudo o que Nicole diz. Seus punhos se fecham e seus dentes se cerram.
— Então o que vamos fazer agora? — pergunto.
— Vamos beber. — diz Luke.
Ouço Nicole soltar todo o ar pelo nariz e se apoiar no balcão atrás de nós.
— Ye-há.
— Todos prontos? — pergunta Calum se aproximando com a tal amiga.
Péssima hora. A garota sorri pra nós.
— Oi, eu sou a Mariana. Muito prazer.
— Eu sou a Ashley.
— Pode me chamar de Angie. — faço uma pausa e como percebo que Nicole não ia falar nada eu a apresento. — E ela é a Nicole.
A garota sorri pra Nicole que nem ao menos move um dos músculos do rosto. Luke pigarreia.
— Tudo bem, vamos eu, Angel, os Ash's e Nicole no meu carro.
— Desde quando viramos os Ash's? — Ashley indaga se inclinando pra mais perto do Ashton.
— Só ignore todos. — ele responde e passa o braço por seus ombros.
— Tudo bem o resto vem comigo. — diz Crystal balançando as chaves do carro como uma criança empolgada.
Somente quanto Luke segue em direção ao estacionamento eu percebo que durante todo esse tempo ele havia mantido a mão na minha cintura. Não queria que ele tivesse me soltado. Sigo ele juntamente com Nicole, Ashton e Ashley logo atrás de nós.
— Pra onde vamos? — pergunto.
— Pra casa da Mariana.
Ouço o som gutural que sai da garganta de Nicole e me viro pra ela.
— Perfeito. — é tudo o que ela diz.
A casa da tal Mariana é gigante e fico me perguntando se todos os amigos deles eram milionários. Eu e Nicole não estávamos no clima pra festa então nos esparramamos nas almofadas que ficavam do outro lado da sala. Uma garrafa de vodka colorida estava entre nós enquanto todos se divertiam.
Nicole encarava Calum e Mariana com mais raiva do que o normal e admito estar preocupada. Se ela arranjasse briga com nossa anfitriã seria bem tenso, não estava afim de apartar confusões por agora.
— Nicole acho que devia segurar o copo com menos força. — sugiro.
Ela nem pisca.
— Vou esmagar a cabeça daquela garota no chão.
— Eu achei que não gostasse dele.
Nicole vira todo o copo de vodka de uma só vez e respira profundamente antes de prosseguir.
— Eu não gosto de ser rejeitada. Fui pra aquele maldito show na esperança de conseguir uma noite de sexo e olha só o que eu ganhei. — aponta para nossa frente onde todos nossos amigos estavam empolgados fazendo algo enquanto eu e ela só observávamos. Definitivamente não estávamos no clima. — Michael, Luke e Crystal cantando bebados no karaokê, os Ash's se beijando o tempo todo e Calum Hood pensando em como vai levar a tal Mariana pra fazer sexo no banheiro.
— Eu estou aqui. — a lembro.
Nic olha pra mim e sinto um lampejo de gratidão por trás do seu olhar furioso.
— Está aqui pra se certificar de que eu não vou levantar e esfaquear os dois.
— Você devia parar de bater nos outros, sabia?
O temperamento da Nicole sempre foi um pouco extravagante. Não sei se essa é a palavra certa mas ela explodia muito fácil. Nossa amizade só funcionava porque eu me considero uma pessoa muito difícil de me irritar pois se fosse o contrário já teríamos nos matado.
— Os outros que deviam parar de me irritar.
— Lembra no último ano? Você quebrou o nariz da Polly Nelson e só conseguiu uma suspensão.
— Quando eu quebrei o nariz do Blake Sullyvan não fui suspensa. — Nicole rebateu.
— Não foi suspensa porque ele te assediou.
Ela revira os olhos.
— Foda-se! Não estamos na escola.
— É. O que significa que se partir os dentes dela você vai presa.
Ela faz careta.
— Eu odeio você, Angeline. Realmente odeio.
Dou risada e me esparramo mais no estofado em que estávamos sentadas. Luke e Crystal começam a cantar Diamonds da Rihanna. É quando Nicole se levanta.
— Vou pra casa, estou cansada dessa palhaçada.
Seguro o pulso dela.
— Nic, não se enfia na sua bolha. Eu sou sua amiga e você pode contar comigo.
— Eu sei e eu amo você por isso...
— Eu achei que você me odiasse. — a interrompo.
— Me deixa terminar. Eu amo você por isso mas tem coisas que eu prefiro resolver sozinha.
Ela era tão teimosa.
— Cal é uma boa pessoa.
Nicole revira os olhos.
— Ele é um galinha.
— Você também é. — rebato.
— Exatamente. Vamos deixar as coisas como estão. Não vou ter cabeça para conciliar números e um garoto.
— Você é genial, tenho certeza que dará um jeito.
Ela sorri pra mim antes de dar de ombros.
— Te ligo amanhã. — ela diz.
— Se cuida, Nic.
CALUM
Nicole passa por mim e Mariana como um jato e então abre a porta da sala e vai pro lado de fora. Mariana me olha e já sei o que aquele olhar significava. Me ponho de pé e saio correndo atrás daquela maluca.
— Ei, onde está indo? — grito por trás de seus costas.
Nicole vira pra mim e faz careta. Seu cabelo estava puxado pro lado esquerdo do ombro e ela tinha um capuz na cabeça. A chuva fina molhava meu cabelo e me deixava com frio.
— Pra casa. — responde e vira a cara, voltando a encarar a rua.
— Posso te levar lá. — me ofereço.
— Já chamei o táxi e ele está bem perto.
— Então espero aqui com você.
Isso era frustrante pra ser sincero e incrivelmente doentio. Tinham várias garotas que molham a calcinha só de me ver e se atiram em mim com a maior facilidade do mundo mas eu tinha que ficar afim da única que não dá a mínima pra mim. Eu só podia ser masoquista!
Depois do domingo passado eu decidi que não ia mais correr atrás dela e então Mariana aparece e me diz que Nicole gosta de mim. Obviamente ela está errada.
— Por que está estranha desse jeito? — pergunto.
Por deus, será que eu não podia simplesmente calar a boca?
— Estranha? — rebate. — Você mal falou comigo hoje.
Agora é minha culpa!
— Você me deixou confuso da última vez que nos vimos, não sabia se deveria falar com você.
Ela se vira pra mim e me encara, a expressão indecifrável.
— Não importa.
— Nicole...
Sou interrompido por um carro preto que para na nossa frente.
— Meu táxi chegou. Tchau Calum.
Ela se enfia lá dentro antes mesmo de eu conseguir falar.
— Tchau. — murmuro.
Fico plantado na chuva até o carro dobrar a esquina. Um gemido frustrado escapa da minha garganta enquanto marcho de volta pra dentro. Jogo minha jaqueta ensopada no hall de entrada e volto pra mesa da cozinha.
— Que cara é essa? — Mariana pergunta assim que me sento.
— Ela foi embora.
— A garota que você gosta?
Jogo a cabeça pra trás.
— Não fala assim, parece que estou no ensino médio.
Ela dá risada e desliza uma dose de tequila pra mim.
— Tanto faz, Hoody.
Pego o copo e viro em minha boca. O álcool me ajuda a esquecer que estou com frio.
— Mas sim, ela foi embora. Falou umas coisas estranhas... — suspiro. — Não sei o que ela quer de mim.
— Se ela estava confusa deve gostar de você. — repete pela milésima vez nessa noite.
— Ela não dá a mínima pra mim. Pode ter certeza disso.
— Homens.
— Alex respondeu? — pergunto. Não queria mais conversar sobre minha vida amorosa recém descoberta.
— Claro, já está vindo pra cá.
— Sabe, pra sua namorada ela até que é bem grudenta.
Mariana revira os olhos.
— Eu odiava isso no Dean mas eu gosto disso nela. Vai entender...
Nesse exato momento Michael começa a cantar "I Dreamed a Dream". Ele desafina completamente afinal nenhum de nós tem voz pra cantar aquilo. A nota alta vai direto pro meu cérebro e tanto eu quando Mariana colocamos a mão no ouvido.
— Caralho eu vou matar o Clifford! — exclamo.
— Quer ir lá pra cima? Vou arrumar o quarto pra você dormir.
— Seria ótimo. — concordo enquanto levantamos. — Estou um caco e com o coração partido.
Ela dá risada enquanto me envolve pela cintura.
— Sinto muito por isso, amigo.
Assim que chegamos no começo da escada Mariana se vira pra nossos amigos.
— Ei gente vou deixar tudo pronto pra você dormirem lá em cima. Quando acabar desliguem tudo, ok?
Todo mundo assente e Angeline manda um beleza.
ANGELINE
Já estava trinta minutos sentada sozinha enquanto mexia em minhas redes sociais pensando se valia a pena chamar um táxi quando Luke vem falar comigo.
— Você parece cansada. — ele diz.
Seus olhos estavam brilhantes e meio aéreos, ele parecia alterado mas não bêbado. Uma gota única de suor estava no topo da sua testa embaixo do cacho que escapou do penteado e estava batendo em sua sobrancelha.
— Estou um pouco na verdade. — admito enquanto passo o indicador na borda do meu copo.
— Quer ir pra sua casa ou ficar aqui?
— Você quer que eu fique? — pergunto. Sinto que essa não foi como as perguntas que eu costumava fazer, eu realmente desejava ouvi-lo dizer que me queria aqui.
— Claro que quero. — responde.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa a luz da sala se acende a música para. Michael e Crystal pareciam brigar por alguma coisa e seja lá o que era aquilo, estava na mão do Mike.
— A festa acabou! — ele decreta e então vejo que estava com um controle na mão.
Ashton e Ashley que estavam jogados no sofá reviram os olhos em conjunto e voltam a se beijar.
— Mikey! — reclama Crystal enquanto cruza os braços.
— Sinto muito amor. Agora corre lá pra cima e fica com o melhor quarto. — pede ele. — Vou pro banho.
Mike beija o topo da testa de Crystal antes de ir em direção ao corredor, já ela sobe em disparada pro andar de cima. Luke olha pra mim com uma expressão divertida, parece ter gostado do que viu.
Luke estava me tratando normalmente, eu que havia me isolado um pouco. Ele estava sendo paciente por me aturar pois eu me sentia uma chata. Queria beijar a boca dele e enrolar seus cachos em meus dedos. Mas não podia fazer isso sem perguntar a ele antes.
— Quem é Lola? — pergunto.
O olhar divertido do Luke some e podia jurar que suas íris ficam mais lúcidas do que nunca. Ele abre a boca duas vezes antes de finalmente falar.
— Ela é só uma amiga.
— Sério?
Luke suspira e passa a mão no cabelo, desviando o olhar em seguida.
— Eu não quero mentir pra você. Já tivemos um lance mas acabou.
— Então porque ela te ligou seis vezes no domingo?
Eu sei que estou parecendo a namorada surtada mas me sinto no direito de saber o que está acontecendo.
— Seis? — ele repete. Parecia surpreso.
— É, seis.
— Ela é meio insistente. Fui ver ela na segunda e... — ele para de falar.
Seu olhar vai pra mim e então pro chão e pra mim de novo. Luke leva a mão a testa e faz careta como se tivesse feito algo que não devia fazer. Entendi tudo.
— Então viajou na segunda pra ir encontrar ela?
— Foi.
Assinto. Ainda não tinha certeza sobre o que estava acontecendo dentro de mim. Queria sair de perto dele. Não sentia raiva nem tristeza mas sim decepção. Estava decepcionada de verdade por Luke Hemmings não ter suprido as expectativas que eu mesma inventei. Isso é bizarro.
— Você beijou ela?
— Beijei.
Imagino as unhas vermelhas gigantes da tal Charlie arranhando as costas do Luke enquanto ele gemia o nome dela. E então sinto raiva, cerro os dentes e desvio o olhar pra longe.
— Você trepou com ela? — pergunto.
— Trepou? Sério?
— Te fiz uma pergunta.
— Não. Não transei com ela, Angel.
Angel é o caralho.
— Tudo bem. — concordo me levantando.
— Tudo bem?
— É, eu beijei o Peter no dia que fui fazer o trabalho então estamos quites.
Luke balança a cabeça de um lado pro outro.
— Quites?
— Tenho um eco agora? — rebato e meu tom de voz sai mais ríspido do que eu esperava.
Ele dá uma risada sem humor enquanto apoiava a cabeça em suas mãos.
— Não acredito que vamos fazer isso de novo.
— Nem eu. — murmuro.
— Não devíamos brigar por isso.
Devíamos. Vocês são só amigos Angeline, se toca. Vocês não deviam brigar pois isso não importa o suficiente pra ele querer discutir com você.
— É. Não devíamos.
Dou de ombros e sigo em direção a escada. Não queria ficar perto do Luke e não queria esperar um táxi pra ir pra casa. Eu estava cansada e com frio. Mariana tinha nos chamado pra dormir aqui então vou aceitar o convite.
— Pra onde você vai? — Luke pergunta um tom mais alto.
— Vou ficar com o Cal.
Não foi muito difícil convencer Calum a dividir a cama comigo apesar dele ter ficado desconfiado. Ele tomou banho e quando se enfiou ao meu lado nas cobertas eu já estava quase dormindo. Ele apaga a luz e quando pula na cama meu coração quase sai pela boca.
— Idiota. — xingo enquanto ele dá risada.
— Então Angie por mais que seja tentador e tudo mais eu realmente não vou transar com você. — ele começa. — Você sabe disso não é?
— Você já disse isso, Cal.
Ele falou isso pelo menos cinco vezes desde que entrei nesse quarto.
— Então trate de me explicar porque está enfiada embaixo das mesmas cobertas que eu. Eu achei que seu lance fosse o Luke.
Dou risada e fico satisfeita por ter parado de fazer a careta deprimente que não saiu do meu rosto desde o momento em que deixei a sala.
— Eu não quero ficar com o Luke agora.
— E quer ficar comigo?! — ele indaga parecendo incrivelmente surpreso.
Faço careta mesmo sabendo que não tem como ele ver.
— Calum! — o reprimo.
— Me desculpe mas você já quase arruinou nossa banda uma vez.
— Eu não quase arruinei nada.
— Talvez eu tenha exagerado um pouco. — ele funga e então se remexe no meio das cobertas. — Mas e aí, pode contar!
Agora consigo sentir seu hálito quente perto de mim o que me dá a certeza de que ele se virou pro meu lado.
— É só fazer as contas. Mariana está num quarto, Mike e Crys em outro, Luke no do fim do corredor e você aqui. Os Ash's estão na sala então ou eu durmo aqui com você ou em cima da mesa de bilhar. Entendeu agora?
— Eu não perguntei isso.
Já estou me arrependendo dessa decisão.
— Eu não quero ficar perto do Luke porque estou chateada com ele.
— O que ele fez?
— Como sabe que ele fez alguma coisa?
— Por que o Luke adora se fazer de vítima e agir como se todo mundo pisasse nele. Quer dizer, as ex namoradas dele realmente acabaram com ele mas isso não quer dizer que ele nunca vacilou.
— Ele disse que foi ver a Lola na segunda e que beijou ela. — confesso e solto um grande suspiro derrotado em seguida.
— Lola no caso Charlie?
— Essa mesma.
— Hm... — ele diz depois de alguns segundos.
— O que esse hm quis dizer?
— Ela e Luke costumavam ter um lance.
Novidade.
— Disso eu já sabia.
— Ela é caídinha por ele. Tipo, muito mesmo. Completamente apaixonada.
— Não posso culpar ela. — digo.
E então percebo que havia dito. Meu rosto pega fogo e tenho vontade de me sufocar com meu próprio travesseiro.
— Ah não! — Cal exclama alto demais.
— Xiu!
— Ah não, ah não, ah não! — ele grita se remexendo na cama.
Taco uma almofada em cima do rosto dele numa tentativa falha de fazê-lo falar baixo.
— Cala a boca, Calum Hood! — digo entredentes.
Ele faz uma pausa longa.
— Você está apaixonada por ele.
Meu rosto queima e sinto que estava prestes a ficar mortificada.
— Grande coisa. — respondo, cruzando meus braços.
— Eu achei que você fosse tipo, arrancar o coração dele do peito e devora-lo na frente dele. E ai você se apaixona?! — indaga. — Droga, vou ter que dar minha palheta preferida pro Mike.
Abri minha boca em um "O".
— Vocês apostaram?
— Nós apostamos tudo, não se sinta especial.
Reviro os olhos.
— Você não pode contar pra ele. Nem pra nenhum dos garotos.
— Mas...
— Por favor Cal! — o interrompo. —Por favorzinho!
Ele fica alguns segundos em silêncio e então responde.
— Só se você me contar o que está rolando com a Nicole.
— Isso não é justo.
— Você me ajuda e eu te ajudo.
Penso por alguns segundos. Se eu não falasse nada pro Cal eu seria fiel a minha amiga mas teria que aguentar ela infeliz por bastante tempo. E eu não queria que ela ficasse triste por pura teimosia. Acho que valia a pena tentar ajudar, contando que ela nunca saiba pois se descobrisse eu ficaria sem os dentes.
— Ela estava chateada por você não ter dado a mínima pra ela e talvez com ciúmes por você estar com a Mariana. — admito. — Ela até citou quebrar dentes e esmagar cabeças.
— Não acredito nisso. Não depois do que ela disse.
— O que ela disse?
— Disse que eu estava muito apegado e devia sair um pouco do pé dela. Disse isso no domingo depois de se aproveitar do meu corpo, claro.
Isso era tão a cara dela.
— Ela está com medo. — a defendo.
— De mim?
— Claro. Você é igual a ela só que você tem bochechas grandes, um pênis e um temperamento melhor.
— O que isso quer dizer? — ele pergunta.
— Que está óbvio que ela gosta de você.
— Uau. Nossa. Sério? — ele exclama se sentando na cama. — Tipo, nossa, serio mesmo?
— É. — concordo dando risada.
— O que eu deveria fazer agora?
— Só espera. Ela vai perceber que fez burrada mas vê se não fica provocando. Ela costuma bater nas pessoas.
Ele gargalha e me sinto mais feliz por ele estar feliz.
— Tudo bem, vou me lembrar disso.
— E nada de contar pro Luke sobre o que conversamos aqui, ok? Prometo que Nicole não saberá de nada.
— Ok. — concorda enquanto se enfiava de volta nas cobertas.
— Prometa!
— Tudo bem, eu prometo!
— Ótimo.
Viro pro outro lado da cama e fecho meus olhos. Depois de uns cinco minutos Cal volta a falar.
— Angie, será que quando todos nos acertarmos vamos fazer uma grande saída em casal?
— Vai dormir.
— Você é chata. — ele rebate.
— E você não cala a boca.
Ajeito a coberta em cima de mim e fecho os olhos de novo.
— Está puxando a coberta.
Reviro os olhos.
— Não é só a Nicole que sabe quebrar narizes. — o ameaço.
— O começo de uma bela amizade.
OI OI GENTE! COMO VCS TÃO?
Hoje eu quis dar uma inovada e coloquei uma partezinha do ponto de vista do Calum. Vocês querem mais pontos de vista dele ou da Nicole?
POR FAVOR RESPONDAM! :)
Não tenho muita coisa pra falar então é só isso mesmo. Espero que tenham gostado <3
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