─ 𝐅𝐈𝐕𝐄
— Vamos lá, quero que tenha informações realmente úteis sobre essa mulher, caso contrário, saia da porra da minha casa.
Toji estava em um dia relativamente calmo, apenas averiguando negócios e contratos recentes em sua própria casa, mas ele não era um sujeito de paz e o universo tinha noção disso quando enviou Naoya para dar-lhe supostas informações sobre a stripper Angel.
— Não tenho coisas que podem ser consideradas úteis... - o garoto hesitou ao ver Toji apertando o copo de whisky com tanta força que se continuasse iria estilhaçá-lo — Mas tem algo sobre ela que possa lhe deixar interessado.
— Pare com isso, Naoya, sabe que não tenho paciência para seus joguinhos.- O homem sentou-se em sua poltrona de couro, pousando o copo na mesa ao lado para evitar jogá-lo contra o garoto.
— O fato é que ela é uma stripper das mais caras, espalhafatosa e extremamente requisitada, é de se esperar que ela seja alguém conhecida. - Naoya começou a caminhar na sala, como se organizasse os pensamentos — Mas não tem nada sobre ela, não consegui o nome, antecedentes, registro de cartões, entre outras coisas mas... - Naoya finalmente parou quieto e encarou o chefe — A questão aqui é que Angel não existe. É como se ela fosse um fantasma.
Toji franziu o cenho — Você a seguiu?
— Esse é o problema, não consegui. Tem alguém que a protege. Alguém que escolta ela e pelo que eu vi, a própria não sabe dessa escolta. - o garoto respirou fundo, brincando com o cabo da arma que estava presa na lateral do corpo — Mas como o senhor me proibiu de revidar então tive que recuar, não sei aonde ela mora e muito menos se tem um trabalho fora do Santo Pecado.
Toji analisou as informações e começou a perscrutar entre elas, obviamente ele não contou todos os detalhes que possuía sobre Angel mates de enviá-lo para a missão. Não revelou que era a amante de Satoru Gojo, o herdeiro do clã Gojo, uma das máfias mais antigas do Japão e que provavelmente ela era uma das pessoas que deviam à Sukuna, mas o fato da mulher não ter registros sólidos e concretos era verdade.
Alguém a protegia. Ajudava a dançarina apagar tudo a seu respeito, ela tinha uma vida dupla, porém, ambas eram falsas. Seu salário era depositado numa conta de uma outra dançarina, Chizuko Hirotaka, pagava tudo em dinheiro e jamais era vista em outros lugares se não nos dois empregos. Não duvidava que o próprio Satoru tenha feito isso para esconder sua puta preferida.
— Ótimo, fez um bom trabalho. - Toji mentiu, sinalizando com a mão para ele ir embora. No final das contas aquilo só era uma desculpa para manter Naoya ocupado, nunca houve missão de reconhecimento. Tudo o que era possível saber sobre Angel, Toji já sabia — Antes de ir, fale para a governanta trazer Megumi aqui.
E assim Naoya saiu de sua visão e pelo céus, aquilo era um alívio. O psicopata mirim era um inferno latejante nas costas de Toji e se pudesse, o mandaria para outro continente só para não ter que lidar com o Zen'in mais insuportável que já conhecera.
Toji mexeu nos papéis para organizá-los, voltando a pensar na stripper que passou de um simples peão do tabuleiro, para uma rainha. Até porque, não era qualquer uma que estava sob proteção da máfia japonesa.
A questão é que Angel não é simplesmente a amante de um herdeiro, ela é a garota favorita de Satoru Gojo, líder da máfia costeira do Japão, um homem que assim como ela, mantém uma vida dupla.
O interessante era que Satoru era apegado a ela, geralmente homens como ele não possuíam esse tipo de sentimento. Ele a quer porque sabe que é valiosa, coloca ela sob sua proteção porque tem sentimentos mas não sabe que a divide com alguém que também a quer.
Sukuna também mantém a mulher nas redeas, segurando-a pelas dívidas que Angel possui com ele, mas Toji sabe que Sukuna apenas a prende na intenção de tirar algo dela. Algo que ela tem, algo que apenas ela sabe.
O engraçado era que a própria Angel não sabia que estava envolvida nisso tudo. A mulher provavelmente tinha conhecimento de que o que quer ela saiba é mais valioso que qualquer outra coisa que tenha e que a qualquer momento um dos dois lados da máfia vai atacar.
Toji quer descobrir, quer tomá-la de Sukuna e de Gojo. Se ela é tão valiosa assim, por que está com outras pessoas a não ser ele?
— Me chamou? - o garotinho que mal chegava na altura da maçaneta apareceu, vestindo seu pijama de cachorrinhoz e com os olhos baixos de sono.
— Perdão se te acordei - Toji amaciou o tom de voz, seu olhar havia ficado sereno ao encarar o garoto tão parecido com ele — Pode se sentar aqui, por favor?
Era estranho estar com Megumi, não tinha tempo para ver o garoto na maioria das vezes e isso o deixava irritado. Passava mais tempo com Naoya do que com o próprio filho.
Megumi fez o que Toji mandou, lutando contra o próprio cansaço para manter-se acordado diante do pai que vira pela última vez na semana passada.
— Eu só quero que me faça um favor. Pode fazer isso por mim? - Megumi concordou com a cabeça, os olhos azuis tornando-se implacavelmente sérios para uma criança — Quero que observe sua professora e coloque isso - entregou a ele uma pequena escuta — na bolsa dela, tudo bem?
Yuki Nakayama era Angel e Angel fingia ser Yuki. Nada melhor que adentrar em sua vida pelo mais profundo, usando uma criança para observá-la de perto. Quanto mais souber sobre como ela age, com quem fala, como ela é fora dos palcos, melhor para descobrir o que a mulher esconde. Ela era protegida, realmente era difícil se aproximar dela, mas Toji tinha seus métodos discretos.
Toji não podia mandar espiões, caso mandasse, Satoru e Sukuna saberiam que ele está se envolvendo nisso.
Mahito fora burro ao contar para ele sobre a existência dela, ela havia acreditado piamente que Toji apenas aceitaria a informação sem antes investigar Angel, e aquela investigação o fez perceber que ela era bem mais do que aparentava. E agora tinha colocado o próprio chefe em risto.
Começou tudo buscando Satoru, informações sobre aquele desgraçado ardiloso mas terminou com uma mina de ouro ao descobrir a existência de Angel.
Mas não deixou de pensar na probabilidade de Mahito ter feito isso de propósito.
[***]
O caos era o prolixo entre o ódio e a angústia.
E naquele momento Yuki era a definição mais crua e real do que estes dois sentimentos representavam.
Um sorriso falso pintava-lhe os lábios levemente rubros, os cabelos que passaram a madrugada desgrenhados em meio ao suor do medo e do lençol agredindo-os por cada movimento que fazia estavam presos em um coque mal feito, as roupas amassadas e o olhos eram perdidos em um lugar muito distante. Yuki estava de pé, parada em frente a porta da sala de aula, respirando fundo e contando quantos segundos passaram desde que chegara ali, tentando arranjar forças para sorrir para as crianças que não tinham culpa do pandemônio que ela trouxe para a própria vida.
E ainda sim não conseguia forças para atravessar a porta e encarar os olhinhos brilhantes que ainda acreditavam que ela era digna de ensiná-los.
Mas ainda tinha um aluno que precisava dela. Cegamente precisando de ajuda, com seus olhos tristes suplicando por ela toda vez que não conseguia ler.
Então ela entrou.
Por Megumi.
[...]
Fou um esforço inominável dar aula, sorrir, brincar e manter a postura perfeita, de uma mulher perfeita com a porra de uma vida perfeita quando tudo que Yuki queria era enfiar uma faca no próprio peito.
Algumas crianças perguntaram se Yuki estava bem e ela simplesmente respondia que estava muito cansada, problemas de adulto como gostava de responder e as crianças pareciam satisfeitas com sua resposta. O único que não fazia uma pergunta sequer era Megumi, ele apenas a encarava com aqueles olhinhos enigmáticos.
Yuki tinha medo dos olhos do garoto. Aquelas duas orbes azuis índigo ameaçavam ver todos os seus pecados e ela temia que ele realmente pudesse vê-los.
Ao tocar o sinal para o intervalo, Yuki quase deixou-se levar junto com as crianças histéricas, o barulho estridente e contínuo a deixou tonta, cambaleando até a sala dos professores onde rapidamente engoliu três analgésicos e bebeu uma garrafa d'água inteirinha.
Yuki respirou fundo, apoiando-se à mesa, tentando tomar o controle de pelo menos o seu corpo.
Seus devaneios foram interrompidos por um choro baixinho, quase imperceptível se não fosse pelos soluços em intervalos curtos. Yuki aproximou-se de onde o som vinha, apenas para ver Suyen sentada ao lado de sua mesa, com o rímel borrado e cabelos só não piores que o seus.
— Ei... - Yuki sentou-se ao lado dela — O que aconteceu?
Suyen com seus cabelos ruivos fitava o próprio dedo sem aliança. O coração de Yuki retumbou tão forte que temia que a amigo escutasse.
— Meu marido... - mais um solução dolorido e regado por lágrimas — Ele me chamou pelo nome de outra mulher.
Yuki não se permitiu demonstrar reações, ela ficou estática, processando a própria respiração enquanto via a colega de trabalho se debulhar em lágrimas.
— Vou descobrir quem é essa mulher, preciso ver a cara dela... - Suyen virou-se para encarar Yuki, apenas ódio pairava nos olhos dela.
Então era aquela a sensação de ser traída? A sensação de todo seu esforço ter sido em vão. Todo seu suor e toda sua batalha por um amor ser jogada pela janela por outra mulher que chegou depois. Suyen teve todo seu vigor arrancado de si, sua vida por momentos torturantes perdendo o sentido.
Será que era assim que a esposa de Satoru se sentia?
Suyen parou de chorar e a máscara triste fora substituída por frieza, ela encostou na lateral da mesa de madeira. Pegou o maço de cigarros que guardava no bolso da saia, ela o acendeu com precisão e rapidez oferecendo um dos outros três que ainda restavam no maço para Yuki, que com as mãos trêmulas, aceitou.
Suyen acendeu para ela e voltou a encarar um ponto fixo da sala dos professores.
— O que você faria se estivesse no meu lugar?
Ela não sabia ao certo como responder, até porquê, Yuki sempre foi a outra mulher.
Yuki engoliu em seco e pela primeira vez em muito tempo sentiu-se insegura perto de outra mulher. — E-Eu não sei... Acho que me separaria.
A ruiva soltou uma gargalhada baixa e sombria, como se estivesse conflitante com seu próprio coração e mente — Esqueci que você nunca foi casada. Não dá para me separar.
— Por que não? - Yuki perguntou, não conseguindo conter a indignação na voz.
— Porque eu o amo, tenho ódio, mas infelizmente dependo dele - lágrimas escorriam silenciosamente pelas suas bochechas alvas — É triste e doloroso, você ver que a pessoa te faz mal e ainda sim não conseguir se ver longe dela. Ainda sim ter certeza que não consegue viver sem ter a ajuda dela.
"Lá no fundo eu sempre soube que ele me traia mas ainda sim eu nunca fui atrás, preferi viver na ignorância a perder o homem que eu amo. Mas ontem de madrugada ele chegou em casa bêbado, parecendo triste e cansado e eu me ofereci para consola-lo... - um riso amargurado e grave saiu de sua garganta e Yuki continha a vontade de sair correndo dali - Ele disse que me amava."
Por minutos em silêncio ensurdecedores Suyen ficou calada e mesmo com medo Yuki permaneceu ali, ao lado dela, sentindo-se a pior mulher do mundo.
— Ele nunca havia dito que me amava. Somos casados há dez anos e eu nunca vi essas palavras sendo direcionadas a mim - a voz rouca começava a ficar embargada, e Yuki numa tentativa de consolo acariciou as costas dela lentamente — Eu fiquei tão feliz mas depois quando terminou ele disse eu amo você, Angel. Me dê uma chan e.
Faltava voz em Yuki. Ela não disse absolutamente nada quando Suyen se levantou, arrumando a saia e oferecendo a mão para ajudar Yuki a fazer o mesmo.
— Preciso ficar sozinha. - Suyen disse em uma dispensa — Obrigada por me escutar. Obrigada por não despejar conselhos inúteis.
Yuki não lhe deu conselho nenhum porque ela era a mulher a quem o marido de Suyen clamava enquanto estava deitado ao lado dela.
Não tinha o direito de se sentir triste, ela foi a causadora disso. Se houvesse sido mais esperta... Se tivesse se atentado mais aos detalhes não precisaria sentir aquela culpa infernal que alastrava-se por todo seu interior. Mais um casamento destruído por culpa dela.
Yuki se despediu com um leve selar na bochecha da colega, virando-se na intende ir embora mas quando teve a visão da porta pode ver uma pequena figura fugindo, mal passava de um vulgo ágil quando Yuki se deu conta de que alguém estava ali.
Alguém estava espionando as duas.
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