17.

CAPÍTULO DEZESSETE:

"Recomeço"

"Não importa o quão exauste eu possa ficar, o quão minha pele possa suar ou meus músculos possam cansar, — ainda escolherei me esforçar até o último suspiro para que o final não seja aquele que eu vi em meus piores pesadelos."



A noite estava fria e silenciosa, enquanto as nuvens escuras encobriam a lua, mergulhando o castelo em sombras profundas, – Lagertha havia sido encaminhada até um dos aposentos do castelo, junto com os acompanhante que havia trago consigo. No interior dos aposentos do príncipe Lucerys, o ar era pesado, apenas com a luz das estrelas invadindo as arestas das janelas do quarto e uma pouca luz da única vela ao lado da lareira apagada, tremulando em seu suporte de prata, projetando luz nas paredes de pedra. O mais jovem dormia em sua cama de madeira escura, coberto por mantas de linho fino e veludo.

Depois de tudo, se tornou cada vez mais difícil adormecer. O príncipe sempre ficava virando de um lado para o outro na cama, inquieto. A cabeça doía de tanto sono, por mais que não conseguisse efetuar o processo. Ele suspirava com a respiração trêmula, sempre tão difícil.

Naquela noite em específico, ele foi dormir bem tarde. O céu estava tão escuro.

O quarto estava tão escuro.

O som de sussurros surgiu ao seu redor, tão baixos e distantes que ele não podia entender suas palavras, mas eles o envolviam como uma névoa fria. O ar cheirava a mofo e a velas queimadas, ele não via nada. Sua visão estava turva e embaçada, era sufocante.

Como se aquelas vozes pudessem ser pedras no sapato. De repente, uma risada estridente ecoou pelos corredores, e o príncipe sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O som parecia vir de todos os lados, ao mesmo tempo familiar e assustador. Ele tentou abrir os olhos e olhar ao redor, mas o corpo parecia tão pesado, – tão preso, sufocante.

Então, uma figura encapuzada surgiu das sombras diante dele. A figura era alta e envolta em um manto negro, o rosto escondido pela escuridão do capuz. Lucerys sentiu seu coração acelerar, reconhecendo a presença sombria do Estranho, um dos Sete. As sombras ao redor da figura pareciam sussurrar, formando palavras que rasgaram o silêncio como lâminas.

"Ele não deveria ter voltado," sussurrou uma voz que parecia vir do próprio vazio. "os destinos não devem ser manipulados. Alguém tem que pagar o preço."

Lucerys tentou falar, mas sua garganta estava seca, e sua voz não saiu. Ele sentia um terror esmagador crescendo dentro de si, uma sensação de que algo muito maior e mais antigo do que ele estava presente, observando-o, julgando-o, amaldiçoando-o.

"Os fios do destino estão emaranhados por sua causa," continuou, dando um passo à frente pelo eco que vez. As sombras ao seu redor se agitaram, sibilando como serpentes. "não dá para fugir de algo que já foi escrito."

Um suspiro foi escutado, distante e cansado.

"Você iniciou isso." Um silêncio pairou entre ambas as vozes. "Você violou a pior das regras. A única que nunca deveria ser quebrada, você deixou alguém que deveria e precisava morrer, viver.

O coração de Lucerys disparou, e ele sentiu seu corpo tremer. "N-não..." ele conseguiu balbuciar, mas sua voz soou fraca, engolida pela escuridão que se fechava ao seu redor.

"Ele morrerá de qualquer forma," disse o Estranho com uma certeza cruel, como se estivesse anunciando um fato tão simples quanto o cair da noite. "Eu só... brinquei um pouco com o tempo."

A risada engoliu todos os sentidos das profundezas da mente de Lucerys, tão rapidamente como quando uma praga se infesta no corpo de alguém. O chão começou a se abrir, como se as pedras se partissem e desmoronassem em um abismo sem fim. O corpo do Velaryon tentou se mover, fugir, mas seus pés estavam presos, incapazes de se afastar. Ele olhou para baixo e viu mãos espectrais surgindo das trevas, agarrando seus tornozelos, puxando-o para baixo.

Ele gritou, lutando contra a força invisível que o puxava, mas era inútil. A escuridão o engolfou, e as vozes ao seu redor se intensificaram, repetindo como um mantra para ele morrer.

"Morra."
"Morra."
"Morra."

Com um sobressalto, Lucerys acordou. Estava de volta aos seus aposentos, coberto de suor frio. Seu peito subia e descia rapidamente, enquanto ele tentava recuperar o fôlego. O quarto estava escuro, iluminado apenas pela chama fraca da vela, — essa que já estava no final. Ele olhou ao redor, com os olhos arregalados, esperando ver algo nas sombras, foi em vão. Não havia nada. Apenas o silêncio do quarto vazio.

Ele passou a mão pelo rosto, sentindo o medo ainda pulsar em suas veias. Parecia tão real, as palavras ecoando em sua mente como um sino de advertência. Os lençóis farfalharam na cama quando Lucerys sentou no meio do acolchoado, virando os olhos até a janela e encarando a escuridão da noite, sua mente lutando para voltar ao normal, para parar de latejar. Ele tinha acordado, mas não se sentia seguro ou mais calmo.

A terrível incerteza se instalou em seu coração: o que ele iria fazer quanto isso? Claramente foi um aviso. Um péssimo aviso. Ele estava exausto.

— Estou cansado.

A voz saiu baixa. Um sussurro.

— Eu estou... tão cansado.

Talvez ele não tenha se dado conta de imediato, mas fungou baixo. Sentindo uma dor no peito, os olhos arderam minimamente. Ele estava chorando.

Lucerys respirou fundo, ele precisava sair dali. Só por um momento. As palavras ainda ecoavam na sua mente, afiadas como lâminas, cortando qualquer tentativa de raciocínio lógico. O príncipe se levantou da cama, os pés descalços tocando o chão gelado. O ar dentro do quarto era sufocante, denso com uma aura de algo não natural. Olhando ao redor, ele notou que a vela estava prestes a apagar, a chama oscilando violentamente. A escuridão parecia quase viva, como se estivesse à espreita nos cantos do aposento, esperando para engoli-lo novamente.

O mais jovem passou por cima dos ombros o primeiro manto preto de couro que viu pela frente r tocou na porta escondida atrás dos armários, forçando-a e entrando em um corredor que ele já sabia onde daria apesar da escuridão.

O príncipe caminhou, sentindo a necessidade de ar fresco. Avistou uma porta um pouco mais afastada que dava bem em uma das varandas do castelo, apenas um pouco abaixo do próprio aposento e forçou a entrada, ele conseguiu respirar melhor dessa vez. O vento gelado bateu em seu rosto, fazendo-o tremer e se acomodar melhor no manto que protegia os ombros. Lucerys deu pequenos passos para frente, sentando em um banco de madeira que ficava colado com o batente da varanda. Era silencioso, ele apenas escutava os passos longínquos dos guardas de longe e o som do fogo das poucas tochas que tinham espalhadas por perto.

Ele suspirou.

Exausto.

Quando finalmente pensou que poderia tomar o fôlego sucessivamente, escutou passos apressados subindo pela escada mais abaixo da varanda que dava a parte inferior do castelo, rapidamente virou a cabeça para olhar na direção do som, era impossível algum manto branco saber daquela localização já que apenas os membros da corte obtinham acesso a certos ambientes do castelo, então por quê...

A outra figura subiu até a varanda e parou no momento em que viu o Velaryon, ele vestia um manto de couro com cordas que prendiam nos ombros, roupas bem discretas e rapidamente Lucerys percebeu quem era pela aparência estupidamente óbvia.

Até porque ele só conhecia uma única pessoa de cabelos brancos que carecia de um dos olhos.

Talvez o mais jovem ainda estivesse com sono, mas ele realmente achou que a safira azul ficou bonita com a luz luar refletindo acima deles, brilhava um azulado bonito, — oh, é verdade, Aemond estava sem o tapa-olho. Ele com certeza ainda estava sonolento.

No entanto, estava muito, muito cansado e emocionalmente exausto para ao menos tentar falar alguma coisa. Ele decidiu ignorar, então virou a cabeça novamente e apoiou-a no batente da varanda, tateando os dedos na bainha da própria capa e juntou as pernas em cima do banco, decidindo deitar a cabeça nos joelhos.

Aemond, por outro lado, quase suspirou aliviado. Mentindo para si mesmo que não estava curioso do porquê que Lucerys estava lá naquele horário em específico ou porque ele parecia tão... distante? Esse não é o termo adequado, mas sim, claro... ele definitivamente não estava curioso.

Um suspiro escapou da boca do Targaryen, ele nem se deu conta quando se arrastou para a ponta do banco longo de madeira e sentou no chão, encostando-se na parede da varanda de pedra e pendurando um branco em um dos joelhos.

Lucerys engoliu os pensamentos de uma vez e estalou a língua no céu da boca, chateado, muito chateado.

— Honestamente, qual o seu problema?

A voz do mais jovem saiu como um sussurro novamente, quase sem forças. O caolho suspirou novamente, talvez estivesse tão exausto quanto ele, Lucerys não saberia dizer. Entretanto, aquela situação o irritava.

— O que quer dizer? – Encostou a cabeça na pedra e fechou os olhos. — Não estamos perto um do outro. Eu não falei com você, por acaso virou o dono desse lugar?

Lucerys quase riu desacreditado, mas ele estava tão no próprio limite que se absteu.

— Eu não te entendo, eu.... é sério. – Ele respirou trêmulo, apertando os próprios dedos. — Por que você simplesmente não me ignora e entra? Por que você tem que estar ao meu redor? Eu não entendo você, que inferno! Só me deixa em paz. Por que você não pode fazer isso? Por que você não pode apenas fingir que eu não existo? Achei que já tivéssemos deixado bem esclarecidas as nossas decisões daqui para frente. Eu não te devo mais nada, o que mais você quer de mim?!

O Velaryon cuspiu as palavras com firmeza apesar de estar com a voz tão baixa, ele ofegou no processo. Cansado, cansado. Muito cansado. Ele estava no limite. Talvez já tivesse ultrapassado, Lucerys não sabe, ele só quer descansar um pouco. Os dedos foram se encontra até o próprio cabelo, ele os bagunçou tentando não ficar tão alheio.

Aemond não respondeu de imediato. Na verdade, eles ficaram em silêncio por um bom período de tempo.

— O que eu quero de você? – Ele indagou com a voz tão trêmula quanto Lucerys, mas muito menos turbulenta. — Não sei.

O Velaryon riu e pigarreou: — Hipócrita.

Silêncio.

Apenas os sons noturnos atrapalhavam as respirações deles. Aemond apertava o punho, ele estava com raiva, – muito típico do temperamento extremamente curto e difícil que o príncipe caolho tinha. Lucerys se afastava ainda mais no banco, mesmo que eles estivessem em uma distância bem considerável, principalmente porque Aemond estava no chão. Ele só... estava sufocado. Era angustiante.

— Não bastou o que você fez no jantar? Sabia que as pessoas tem limites? Acredito que já ultrapassei o meu.

— Você não aguenta algumas farpas?

— Você sabe que é muito mais que isso, imbecil! – Finalmente virou o rosto para olhá-lo melhor. — Eu estou cansado, Aemond.

— Entre e vá dormir então. Não estou lhe impedindo

— Eu realmente, realmente estou cansado.

Repetiu novamente, olhando na direção do de fios brancos. Íris castanhas acompanhando os movimentos brilhantes da safira azul, Aemond também olhava para ele da distância que havia entre os corpos.

— O que mais você quer de mim? O que você quer?

Lucerys não percebeu por causa da escuridão, mas Aemond arregalou devagar os cílios, raspando os dedos entre si e rangendo os dentes.

Talvez a pergunta tenha ecoado fortemente na cabeça dele, várias vezes.

"O que você quer?"
"O que você que?"
"O que eu quero?"

— O que eu quero? – Ele repetiu baixo, elevando o olhar na direção do príncipe mais jovem, levantando de repente e se esgueirando para o banco. Lucerys se afastou, quase tombando da ponta do banco de madeira, Aemond segurou ambos os braços dele, pressionando os dedos nas laterais dos cotovelos do de fios castanhos. — O que eu quero, Lucerys?

O Velaryon por si só não se debateu para sair daquele toque brusco e apertado, ele apenas continuava olhando para o rosto de Aemond, sem muita emoção, mas a mente dele estava um turbilhão, ele não iria mentir sobre isso.

— Eu me faço essa pergunta dia pós dia e fico noite após noite sem uma resposta. Eu não sei e isso me enlouquece. Me enlouquece não saber o que diabos eu deveria querer. Me enlouquece que eu tenha tantas dúvidas, que eu excita tanto em fazer o que meus instintos mandam. Eu deveria ter matado você, só assim eu estaria satisfeito, então... por que não o fiz? Me diga então, o que eu quero, Lucerys?

Foi uma pergunta? Talvez. Lucerys também não saberia distinguir, mas ele ditou olhando no fundos das íris castanhas. Foi... estranho. Foi... quase emocionante. O Velaryon olhou para o lado, fugindo do olhar intenso, mas não durou muito já que Aemond forçou o queixo dele na direção de seu rosto novamente.

— Rude.

Lucerys pigarreou.

— Fraco.

Aemond respondeu. O príncipe mais jovem firmou o olhar no rosto de Aemond, ele fazia a mesma expressão que daquele dia em Ponta Tempestade, quando brandiu com toda a raiva e ânsia para Lucerys dar seu olho a ele.

— Como eu poderia saber o que você quer se nem mesmo você sabe? – O Velaryon balançou a cabeça, desgostoso dessa situação e começando a ficar muito exausto, de novo. Lucerys se soltou do aperto bruscamente e tocou nos próprios brancos, massageando para cima e para baixo, levantando do banco e se afastando em alguns poucos passos. — E como ousa me tocar com essas mãos depravadas?

— Isso não é muito brusco de se dizer? – Ele perguntou de gozação, levantando e ficando de frente para Lucerys. — Até para você.

— Ah, por favor... você está... com esse cheiro horrível. – Lucerys torceu o nariz, sentindo um gosto ruim no céu da boca. Irritante. — Você estava na baixada das pulgas, disso eu tenho certeza. Que nojento.

E ele teve a confirmação pela reação defensiva que Aemond teve. Lucerys pigarreou e torce os lábios.

— Quanto desrespeito... até para você.

Repetiu o que Aemond disse em outras palavras com a voz preguiçosa e virou para voltar até os próprios aposentos.

— Você não é uma dama e eu não estou te cortejando, não tenho que ser respeitoso com você.

Lucerys ignorou, mas aquela fala o irritou. Muito, na verdade.

— Se me tocar novamente com essas mãos sujas eu vou cortar cada um dos seus dedos.

Aemond sorriu de ladino, mas não respondeu de imediato, apenas após um pouco de silêncio.

— Tente a sorte.

Lucerys suspirou e foi até a porta, parando apenas para tocar nos pequenos detalhes e voltando a respirar normalmente, soltando o ar que nem ele sabia que estava tão sufocado.

— Se continuar com esses pensamentos tão pequenos eu duvido que vá descobrir o que quer. Bem, não me desagrada. Espero que você nunca tenha a resposta das suas perguntas.

E então, cabelos emaranhados de cor castanha somem nas profundezas da passagem escondida, Aemond aperta o punho de novo, o sorrindo presunçoso sumindo dos lábios. Ele se encosta no batente de pedra e aperta os dedos entre si de novo, praguejando o resto da noite.

Ele sentiu o próprio odor, realmente, era bem nojento.

(...)

O sol da manhã iluminava os arredores de Westeros, tingindo suas antigas muralhas de pedra com um brilho dourado. Nos corredores que davam bem para os aposentos de Lucerys, Lagertha caminhava um pouco ansiosa enquanto observava a abertura das janelas de pedestais rochosos no caminho, quando parou na frente do quarto do príncipe, recebeu um aceno do manto branco que guardava a grande porta.

— O príncipe Lucerys já levantou?

Quando o Cargyll se aprontava para reponder, a porta fora aberta com certa lentidão, o rapaz de cabelos castanhos colocou o pé para fora. Apesar de estar bem vestido, tinha a aparência pouco sonolenta e os olhos cansados, quando teve o vislumbre da imagem da mulher de cabelos dourados, arregalou suavemente os cílios e um sorriso confortável apareceu em seus lábios.

— Já está de pé?

A mais velha acenou com a cabeça e fez uma mínima reverência, sorrindo minimamente ao olhar o príncipe.

— Bom dia, Alteza. – A voz saiu macia, Lagertha gesticulou com o braço para que ele a acompanhasse. — Pode...?

— Oh, claro. – Lucerys se aprontou para sair do quarto, iria fechar a porta com lentidão novamente, felizmente Sor Erryk o ajudou no processo, ele agradeceu com um aceno simples e começou a caminhar pelo corredor extenso com o manto branco seguindo atrás. — Hum... aconteceu algo?

— Na verdade, eu vim me despedir. – Lucerys parou rapidamente no caminho e a olhou de ladino. — Não me sinto confortável ao saber que deixei meu território sozinho, estou com um mau pressentimento, honestamente. Vossa Alteza me entende, certo?

O mais jovem engoliu a seco, meio incerto.

— Mas chegou ontem...

— Bem, meu principal objetivo era deixar claro minha lealdade a Vossa Alteza. – Ela pontuou enquanto passava o polegar na bainha da espada como um hábito. — Agora que meus objetivos estão alcançados, tenho um irmão ambicioso e com sede de vingança me esperando.

— Oh, certo! Como pude me esquecer... o que houve com Aario?

Ela deu um longo suspiro desgostoso.

— Muito mais da metade dos meus guerreiros permaneceram em meu comando, apenas cem homens continuaram com ele. Ele percebeu que a quantidade era mínima e antes de partir, brandiu aos ventos que iria tomar de volta o que o pertencia. – A mulher massageou as têmporas com a ponta dos dedos. — Eu não estou necessariamente com medo, apenas... é difícil saber o que ele vai fazer. E minha irmã permaneceu lá, não quero deixá-la sozinha.

— Entendo...

Eles ficaram em um silêncio meio desconfortável. Lagertha, no entanto, pensou um pouco antes de continuar a falar.

— Tem algo que eu fiquei pensando... por que não vem comigo, Vossa Alteza?

Lucerys a olhou de relance, meio surpreso com a oferta. Ele caminhou o olhar pela janela grande do corredor, observando o céu azul lá fora.

— Você... realmente não precisa achar que tem que dever mais algo, com honestidade, não precisa se incomodar...

— Oh, não... não é repentino. Eu realmente estava a pensar sobre isso desde nossa conversa na noite anterior. – Ela ponderou por um momento e segurou as mãos atrás das costas. — Príncipe Lucerys, eu quero treinar você.

O silêncio reinou novamente, o mais jovem ficou um bom tempo olhando na direção de Lagertha, isso o pegou de surpresa.

— Me... treinar?

— Claro. – Ela respondeu com um sorriso pequeno. — Bem, veja só... és jovem e com certeza ainda não aprendeu tudo que tem que se aprender em um combate. Vossa Alteza fora esplêndido naquele dia com seu dragão, no entanto, não se pode ficar vulnerável num campo de batalha.

Lucerys tossiu um pouco e limpou a garganta.

— Nossa, mmh... seria... uma honra, com certeza! – Lagertha quase pensou que as íris castanhas tivessem brilhado por um momento. — Eu nunca fui bom com... espadas. Eu sou bem abaixo da média, assim por dizer. – Massageou o próprio pulso. — Posso dar trabalho.

— Irei treiná-lo com toda paciência.

Lucerys mordeu o lábio, divertido.

— Eu aceito!

— Eu fico grata. – Eles voltaram a andar um do lado do outro. — Sendo bem honesta... eu estava analisando a forma como alguns guardas do castelo treinam, não é ruim... mas, aquele... Cristan? Crista? Crispin...?

— Sor Criston.

Lucerys corrigiu enquanto dava uma risadinha, Lagertha gesticulou os dedos e murmurou.

— Sim, esse daí'. – Parou por um instante. — Não gosto do seu estilo de luta, uh... o odiei apenas por olhar e nem troquei palavras com este homem.

Dessa vez, o príncipe mais jovem não conteve a risada genuína que escapou de seus lábios e rapidamente tampou a boca com a mão.

— Uh... bem, – Pigarreou. — ele é um encosto. Não perca seu tempo com ele.

— Eu imaginei.

Eles sorriram, quase cúmplices. Erryk apenas observava por trás, no entanto, o guarda ficou contente em saber que o príncipe parecia tão confortável na presença da mulher de porte forte.

Lucerys pensou em algo por minutos e parou de andar.

— Mas... preciso pedir permissão a minha mãe.

— Claro, sem dúvidas. Eu não iria embora com o filho da herdeira do trono sem permissão, isso seria pena de morte, eu creio. – Riu baixinho. — Não se preocupe, posso falar com você, meu príncipe.

— Ah... não seja tão formal comigo, por favor. – Resmungou. — Apenas Lucerys.

— Então não seja formal comigo também, ugh... é tão estranho quando me chamam de "lady". Me sinto como uma dama da corte.

— Veja só, é um bom sinal, significa que está com a aparência jovial.

Ambos riram suavemente.

— Quer companhia?

— Pode ir na frente, eu preciso... fazer algo antes. Tudo bem?

— Claro. Irei cumprimentar a princesa, mais cedo estávamos conversando. Estou surpresa, a princesa Rhaenyra é uma ótima companhia, sendo bem honesta.

— Eu sabia que vocês iriam ter uma boa impressão uma da outra. – Lucerys mordeu a língua. — Quer dizer, eu estava meio a meio, ou vocês se gostariam ou se odiariam.

— Oh, não acho... – Lagertha estalou a língua no céu da boca. — Não me vejo odiando a princesa.

Lucerys ficou um tempo em silêncio, analisando-a.

— Bem...

— De qualquer forma, eu vou indo. Não demore, eu gostaria de partir antes do sol se pôr, se possível.

O príncipe balança a cabeça suavemente e a vê desaparecer entre os corredores de pedra, Lucerys aperta os dedos entre si e vira o corpo, olhando bem para Sor Erryk, este que rapidamente fica com a postura ereta e observa cada movimento do Velaryon.

— Sor Erryk.

O chamou com a voz suave.

— Sim, Vossa Alteza?

— Quero que venha comigo.

— Como...?

Indagou confuso.

— Quero que me acompanhe. Que vá comigo e Lagertha, não posso deixá-lo aqui. Ainda mais... depois...

— Vossa Alteza, com sua licença... me perdoe, mas por favor, não perca sua saliva falando de eventos que não merecem sua atenção.

O corredor permaneceu em um silêncio quieto, Lucerys sentiu o olho tremer de leve com a sentença do homem e apenas massageou o próprio pulso, ele apertou os lábios e encolheu os ombros.

— Certo... – Suspirou baixo. — Mas, ainda sim... venha comigo.

Dessa vez, o manto branco quem ficou calado.

— Irei segui-lo para onde for se essa for vossa escolha, Alteza.

Lucerys sorriu.

— Bom.

(...)

Lagertha aguardava em pé, uma figura imponente em sua armadura de couro, ornamentada com símbolos rúnicos antigos. Seus cabelos dourados caíam em longas tranças, e seus olhos azuis encaravam Rhaenyra com uma mistura de respeito e adoração. Atrás dela, um grupo de suas guerreiras permanecia em silêncio.

Rhaenyra parou em frente à guerreira, tentando esconder a pouca decepção em seu rosto.

— Então, você parte hoje... – Começou ela, sua voz baixa, mas carregada de uma nota de ansiedade. — Eu ao menos sei por onde começar, mmh... acredito que você possa imaginar o quão eu sou grata. Teve todo o trabalho de se deslocar de suas terras apenas para jurar lealdade a mim. – A princesa acariciou os próprios dedos acima da barriga avantajada, logo depois, brincou com o anel que tinha no dedo. — Honestamente, seria tão gratificante se pudesse ficar um pouco mais e conhecer mais de Porto Real.

A Targaryen apertou os lábios e Lagertha sorriu em sua direção, uma expressão suave na qual poucos tiveram o vislumbre de ver da mulher de cabelos loiros.

Lagertha inclinou a cabeça em respeito.

— A lealdade não requer dívidas, princesa. Servirei a você e ao seu filho como prometi. – Ela fez uma pausa, o olhar beirando a seriedade, mas com um toque macio ao olhar na direção da mulher de olhos violetas. — Mas há mais uma coisa que preciso pedir.

Rhaenyra franziu a testa, rapidamente gesticulando com os dedos e um estranho pressentimento apertando-lhe o peito.

— O que deseja? Me diga, pode pedir qualquer coisa.

Lagertha respirou fundo, escolhendo cuidadosamente as palavras. A mulher se aproximou em uns curtos passos, pairando na frente da Targaryen, se amaldiçoando por ter ficado calada mais que o suficiente já que se pegou alheia aos olhos coloridos da herdeira.

— Hm... – Pigarreou, voltando aos sentidos. — Quero levar o príncipe Lucerys comigo. Desejo treiná-lo, ensinar-lhe os caminhos do combate e da liderança que minha tribo conhece. Por alguns meses apenas, e então ele retornará a você, mais forte e preparado para qualquer coisa que o aguarda.

As palavras da mulher pairaram no ar como uma espada prestes a cair. Rhaenyra sentiu um aperto no coração. Ela quase havia perdido Lucerys uma vez e a ideia de ficar longe dele agora, quando tantas ameaças pareciam se avizinhar era insuportável. Seu rosto se contraiu, e ela virou-se na outra direção, começando a ficar nervosa de repente.

Mas sua resposta fora rápida e direta.

— Não. Sinto muito. Não posso permitir.

Lagertha contraiu o rosto e suspirou.

— Wow, foi bem rápida na resposta, princesa.

Rhaenyra murmurou.

— Desculpe se fui ríspida, mas não posso deixar Lucerys ir para um lugar desconhecido com uma pessoa que ele acabou de conhecer. Eu não acho que... você seja alguém ruim, eu apenas...

— Está tudo bem. Não precisa me explicar.

Lagertha tinha os olhos cobertos de compaixão, era tanta que até ela mesma se surpreendeu. Rhaenyra abriu a boca para falar algo a mais, mas a sensação de conforto que apenas o olhar da mulher em sua frente trazia para si era inigualável.

A tensão foi apaziguada com o barulho de sapatos pisando no chão. Era Lucerys, o jovem se aproximou de ambas e ficou ao lado de Rhaenyra, tocando no antebraço da mãe, o Velaryon olhou para Lagertha com uma pergunta clara em suas íris castanhas.

Ela apenas balançou a cabeça em concordância, Lucerys suspirou.

— Mãe...

— Não. Não, não e não. – A princesa se exasperou e segurou na mão do filho de forma protetora. — Não permito, não posso deixar...

A voz começou a falhar e Lucerys segurou em ambos os braços da progenitora com carinho, seus olhos expelindo todo sentimento que ela podia perceber, tanto que as íris violetas quase brilhavam com lágrimas não derramadas.

— Lucerys... – A mais velha começou, com a voz tensa e os lábios meio trêmulos. — Você... deseja ir?

Lucerys encarou a herdeira, seus olhos expressando um misto de determinação e carinho. Ele sabia o quanto aquela decisão seria difícil para ela, mas também sentia em seu íntimo a necessidade daquilo para si, de poder se afastar por um momento. Claro, ele imaginava que tudo seria mais fácil com ele por perto, mas o que adianta se ele não tem seu próprio desenvolvimento? Se ele quiser ajudar a mãe a subir no trono sem reais empecilhos, precisa se agilizar. Lucerys também sabe que, por mais cabeça dura que Jacaerys seja, Rhaenyra estaria mais do que bem com ele por perto, com Daemon então... Com um passo à frente, ele segurou as mãos da Targaryen, sentindo a leve tremura nelas.

— Mãe... – Ele começou, a voz firme, mas cheia de carinho. — Eu sei que pedir isso é doloroso, e a última coisa que quero é causar-lhe mais aflição, principalmente com tudo o que aconteceu. Mas eu preciso ir. Eu sei que preciso disso.

Rhaenyra olhou para o filho, os olhos marejados. Ela queria protestar, negar, abraçá-lo e nunca deixá-lo partir. A lembrança do pesadelo de quase tê-lo perdido voltava com força, trazendo consigo todo o medo que ainda a atormentava. No entanto, ao encarar a expressão madura de Lucerys, ela compreendeu que ele já não era mais um menino. Ele era um príncipe que precisava trilhar seu próprio caminho, mesmo que isso significasse deixar o ninho por um tempo.

— E se algo acontecer a você?

Ela sussurrou, sua voz trêmula, quase implorando quando apertou os dedos menores do filho.

Lucerys apertou as mãos dela, trazendo-as aos lábios e beijando-as com suavidade. Antes de responder, Lagertha se colocou um passo à frente e tocou no ombro dele, apenas um gesto reconfortante.

— Enquanto ele estiver sob o meu olhar, nada acontecerá.

Rhaenyra a olhou de ladino, um sorriso de gratidão pelas palavras quase pintando seus lábios.

— Algo sempre pode acontecer, mãe. – Lucerys respondeu com uma suavidade carregada de verdade. — E é por isso mesmo que eu preciso disso. Para me defender, defender você. – Ele murmurou. — Eu voltarei. Eu juro que voltarei forte o suficiente para que nada te machuque ou machuque nossa família.

Rhaenyra fechou os olhos por um momento, sentindo as lágrimas ameaçarem cair. Ela sabia que não poderia protegê-lo para sempre, não poderia impedir o filho de crescer. Respirando fundo, ela abriu os olhos e olhou para Lagertha, sua voz trêmula, mas resoluta.

— Leve-o. – Disse ela, sentindo cada palavra cortar-lhe a alma. — Mas, por todos os deuses, traga-o de volta para mim em segurança. Se eu vê-lo com algum arranhão fatal, céus, nunca te perdoarei.

Lagertha assentiu, o respeito e a seriedade em seu olhar.

— Eu juro pela minha honra, princesa. Lucerys estará sob minha proteção. Não ousaria decepciona-la.

Rhaenyra finalmente soltou as mãos de Lucerys, relutante, como se estivesse liberando um pedaço de seu próprio coração. Lagertha aproximou-se do jovem príncipe, pousando uma mão firme em seu ombro.

— Sairemos antes do anoitecer, tem muito tempo para se despedir de todos.

Lucerys balançou suavemente a cabeça.

— Então vamos comer, certo? Você deve estar com fome. – Rhaenyra passou a ponta dos dedos abaixo dos olhos. — Fale com seus irmãos, vou pedir para preparem suas coisas.

— Uhum...

Rhaenyra deixou um beijo macio na testa do mais jovem e respirou fundo. Quando iria sair, Lagertha se aproximou.

— Posso acompanhá-la?

— Claro... sim, eu adoraria.

E assim, elas saíram juntas. Lucerys suspirou uma última vez antes de ir em direção ao pátio de treinamento, – observando de longe, Jacaerys treinava, jogando a espada de um lado para o outro, vestia apenas uma camisa branca meio estropiada, com manchas pretas, alegando que ele estava a treinar tem um tempo, também tinha a calça preta com pequenos rasgos na parte perto dos pés, isso o lembrava de seu pai, Laenor Velaryon. A lembrança o fez apertar os lábios e sorrir pequeno.

— Por que essa atmosfera parece tão confortável? – Lucerys se questionou enquanto colocava o dedo indicador no queixo, um pouco mais longe, nas pequenas arquibancadas de madeira, Baela e Helaena estavam sentadas juntas, conversando. — Desde quando eles parecem tão próximos? Uh... muita coisa mudou mesmo.

Lucerys massageou as têmporas, o pátio era extenso, então bem mais longe dali, afastado, Aemond treinava com Criston.

Sempre tão áspero. Ele pensou ao escutar a batida das espadas uma contra a outra, o tio parecia ter vantagem. Criston parecia exausto e ofegante, Aemond não estava muito longe disso, suor escorria por sua testa, o tapa-olho dele estava preso de forma desleixada, provavelmente frouxo pelos movimentos que fazia. Lucerys ao menos se deu conta quando o único olho bom do Targaryen pousou em si por um momento, dado os acontecimentos da noite anterior, ambos viraram os rostos, – com raiva. Lucerys pisou fundo entrando de volta na parte inferior do castelo, as bochechas queimando de fúria apenas em lembrar. Aemond apertou a bainha da espada com força, rangendo os dentes.

— Mais uma vez.

Ele comandou com a voz firme.

(...)

Em um amontoado de flores e plantas coloridas, três crianças estavam sentadas preguiçosamente no campo florido, a única que tinha os cabelos cor castanha remexia os lábios de forma inquieta, tocando o pequeno dedinho inferior no queixo e resmungando.

Joffrey estava pensativo e, surpreendentemente, quieto.

Jaehaerys parou de observar a irmã brincar com algumas joaninhas e se aproximou em passos curtos do outro, sentando ao lado de Joffrey e tocando a bochecha dele com a ponta de um dos dedos.

— O que foi? Você não veio brincar com a gente até agora.

Ele perguntou com a voz baixinha e um beicinho adornando seus lábios, o que era bem incomum na visão dos criados já que Jaehaerys sempre foi mais retraído e geralmente não tinha o costume de pedir atenção.

Joffrey remexeu os lábios novamente.

— Eu estava pensando em um plano em como levar você e Jaehaera escondidos para Pedra do Dragão. Vocês nunca foram, não é? Eu podia mostrar meus brinquedos e a gente ia se divertir muito! Meu quarto é bem grande, sabe! – O Velaryon gesticulou com os braços. — Eu gostaria de levar Maelor também, mas ele é muito pequenininho e iria chorar por colo.

Jaehaerys ficou um tempo olhando para o outro garoto, o de cabelos brancos continuou cutucando a bochecha de Joffrey.

— É só pedir para o papai.

— Humph. – Joffrey fez um beicinho e cruzou os braços. — Não mencione aquele estrupício! Estou com raiva, ele não nos deixou brincar depois do jantar.

— Estava tarde, Joff.

Jaehaerys riu e Joffrey continuou com o beicinho nos lábios, Jaehaera se aproximou dos dois com uma expressão confusa reinando no rosto.

— O que significa "estrupício," Joff?

A garota perguntou com os olhos brilhando em curiosidade.

Joffrey congelou a expressão e coçou a nuca.

"Maldito Daemon..."

A criança de cabelos marrons pensou, a convivência com o príncipe Targaryen rendia muitos xingamentos e maldições orais a outras pessoas, então não foi difícil para o Velaryon aprender tudo com o homem. Joffrey apertou os lábios e pensou mais um pouco.

— É alguém muito sábio e... legal. Por isso, chamem o pai de vocês desse jeito! Ele vai gostar muito, eu tenho certeza.

O filho da princesa sorriu astuto e as duas crianças balançaram a cabeça freneticamente.

— Joff... você realmente quer nos levar para a sua casa?

Jaehaerys perguntou com a voz baixinha e as bochechas meio vermelhas.

— Claro! Eu adoraria levar vocês lá. – O jovem sorriu com os olhos fechados, acariciando o topo da cabeça dos dois. — Lá é muito bonito e tem váááários dragões.

— Hum... – Jaehaerys murmurou, com as bochechas ainda vermelhas. — Eu quero ir na casa do Joffrey, Haera...

Ele disse suave, tocando o ombro da irmã, essa que balançou a cabeça em afirmação.

— Vamos para a casa do Joff!

— Uhum! Nós vamos. – O pequeno de cabelos marrons sorriu. — Deixem isso comigo, okay? Eu vou resolver tudo e proteger vocês!

Os gêmeos concordaram e eles voltaram a brincar, rindo entre si, Jaehaerys decidiu que estava cansado e deitou a cabeça no colo do primo.

— Joff...

O Velaryon baixou o olhar para a criança de olhos violetas.

— Quando eu crescer, também vou cuidar de você igual você faz com a gente.

Joffrey o deu um olhar pouco confuso, mas aquecedor e carinhoso. Ele riu genuinamente e acariciou o cabelo branco do mais jovem.

— Sim, sim... – Cantarolou. — Cresça bastante e fique mais alto que eu para que você possa me carregar por aí, eu sou bem preguiçoso.

Joffrey disse com um tom de brincadeira, mas nem percebeu o príncipe mais jovem apertar os lábios e concordar obedientemente, levando aquela sentença como um objetivo pessoal.

Depois de um tempo, o príncipe Aegon também havia se juntado a eles.

— Oh!! – Joffrey colocou a mão menor na boca, desacreditado. — Você está com uma aparência decente, eu estou muito emocionado!

Peste. – Aegon resmungo e suspirou, sentando na cadeira ao lado de uma mesa branca exposta no jardim. — Ouvi que seu irmão estava procurando por você, Joffrey.

— Hum...

O príncipe murmurou, curioso. Os gêmeos levantaram e olharam para o pai com os olhos brilhantes.

— Pai!

Jaehaera disse suavemente, se aproximando do homem e abraçando o joelho de Aegon, este que sorriu contido e deixou uma carícia meio desleixada na cabeça da filha.

— Vocês estavam brincando de que?

— Ah, na verdade, o Joff disse que nós iríamos para a casa dele!

— Hein?

Aegon subiu uma das sobrancelhas e olhou na direção do citado, este que levantou também e apenas fingiu não estar escutando nada.

— Pai, vamos para a casa do Joffrey. Queremos ir para Pedra do Dragão!

Jaehaerys que disse dessa vez, estufando o peito.

— Não acho que isso seja... – O Targaryen iniciou a fala com a voz contida e receosa, mas não completou quando viu aqueles olhos violetas inocentes quase brilhando de esperança e animação, ele suspirou e se sentiu derrotado por três crianças bem mais novas que ele. — Vou ver o que posso fazer...

As duas crianças pularam animadamente e Joffrey sorrateiramente o deu um sinal de "muito bem" com o dedo indicador e o polegar se encontrando. O mais jovem viu para andar e sair do jardim.

— Papai, você é um estrupício!

As duas crianças falaram com a voz animada, sorrindo calorosamente e abraçando ambas as pernas de Aegon, este que tinha a expressão anterior destruída e resmungou pesadamente.

Joffrey, no entanto, sorria orgulhoso mais à frente com as mãos atrás das costas.

(...)

Jacaerys e Joffrey estavam sentados na cama extensa do quarto dos dois menores, Aegon e Viserys brincavam com dragões de madeira, atracando um no outro. Lucerys pegou Aegon no colo e a criança riu suave, agarrando o pescoço do irmão mais velho, o Velaryon se ajoelhou e trouxe Viserys para seu colo também.

Os outros dois de cabelos castanhos não estavam com uma aparência contentes, fuzilando o irmão com o olhar.

Um julgamento? Ah... estou na forca.

Lucerys pensou e riu sem graça.

— Você não vai.

— Uh-hm!

Joffrey concordou com a fala do irmão mais velho, balançando a cabeça negativamente, os cabelos cacheados se remexendo na medida de seus movimentos.

— Não deixamos!

— Não mesmo!

Lucerys suspirou, meio cansado.

— Olha...

— Você acabou de voltar! E quer ficar longe? Imagina o quão frustrante não vai ser para nós? Lucerys, não... não vá.

Ele iniciou com a voz exacerbada mas logo foi ficando suave, – tão baixa que parecia um sussurro.

— Vocês podem me deixar falar?

Os dois fizeram um beicinho e cruzaram as mãos, Joffrey se esgueirou para o colo e Jacaerys e voltou a ficar com as mãos cruzadas e com um beicinho nos lábios.

— Eu entendo suas preocupações... mas, eu sinto que preciso disso. Preciso... me afastar daqui por um tempo, honestamente, eu fiquei receoso quando recebi a proposta, porque odeio a ideia de deixar a mãe sozinha aqui. – O Velaryon estalou a língua no céu da boca, retraindo o que estava falando. — No entanto, algo me diz que eu preciso ir. Preciso ficar mais forte, e... poderei conquistar, quem sabe, muito mais para o reino de nossa mãe no futuro. Entendam, só... me escutem, eu sei que isso vai refletir no nosso futuro, no futuro de nossa mãe como rainha. So preciso que vocês confiem em mim e, não se preocupem tanto. Eu também odeio a ideia de me afastar para tão longe, deixar vocês... – Comprimiu os lábios enquanto olhava carinhosamente para os dois menores do colo. — Mas é para uma boa causa, e eu voltarei dentro de alguns meses.

— Hmph!

Joffrey resmungou e balançou a cabeça, ele bateu devagarinho na coxa do irmão mais velho, sinalizado para ajudá-lo a descer. Jacaerys sehurou abaixo dos ombros de Joffrey e o colocou no chão, o mais jovem se aproximou de Lucerys e segurou nas bochechas do irmão, balançando o rosto dele de um lado para o outro.

— Acho bom você não se machucar se não eu vou cortar todas as suas roupas e jogar fora! – Murmurou e abraçou o pescoço de Lucerys. — Se você demorar mais eu vou tomar seu quarto para mim...

O Velaryon riu, pequenas lágrimas se formando nos olhos.

— Você pode ficar no meu quarto enquanto eu estiver ausente, eu sei que você gostaria de fugir no meio da noite para os aposentos dos gêmeos da nossa tia.

— Ah! – O pequeno sentiu as bochechas corarem. — Como você sabia?

— Bobinho.

Lucerys apertou o nariz do irmão, esse que resmungou e segurou nas mãozinhas de Viserys e Aegon.

— Vou roubar um pouco de bolo de limão com os meninos, não briguem!

Joffrey inflou as bochechas enquanto apontava na direção de ambos os mais velhos e levou as crianças de cabelos brancos para fora. Jacaerys ainda tinha aquela carranca característica no rosto, típico dele. Lucerys levantou do chão ao mesmo passo que o irmão mais velho.

— Jace...

— Ah, sério. – Ele respirou fundo, fechando os olhos e os abrindo logo depois. — Me deixe ir com você então.

— Não.

A resposta foi ríspida e rápida.

— Você precisa ficar aqui. – Lucerys apertou os lábios e sorriu pequeno. — Preciso de você aqui. – Tocou as laterais dos braços do outro. — Nunca, jamais saia do lado de nossa mãe. Preciso que você fique de olho em cada passo de Otto Hightower, cada passo de Alicent.

Jacaerys parecia confuso por um instante.

— O que eles...

— Apenas... confiem em mim, tudo bem?

Felizmente, eles pareciam se entender pelo olhar, – desde sempre os irmãos foram bem próximos e tinham uma conexão invejável. Jacaerys suspirou e balançou a cabeça.

— E, não saiam de Porto Real. Fiquem aqui, não importa o quão difícil seja as provocações deles, fiquem aqui.

Jacaerys permaneceu o olhar firme no irmão, mas não disse nada mais. Apenas concordou, sem pestanejar.

— Não deveria me preocupar com o Lorde Strong?

Lucerys evitou de tremular o olhar, mas os lábios tremeram, querendo um sorriso pequeno. Ele se conteve.

— Não, acho que não.

— Bem, suponho que sim. Não o vi esses tempos, e você?

Lucerys não disse nada por um curtíssimo período de tempo, o príncipe brincou com os próprios dedos e remexeu os lábios.

— Não, não vi.

Jacaerys o olhou com uma certa desconfiança, mas supôs que era infundada.

— Bem, serei seus olhos e ouvidos enquanto estiver fora. Nunca, jamais esqueça de mandar cartas.

— Sim... eu sei.

Lucerys cantarolou, meio triste.

Eles ficaram em silêncio.

— Vou sentir saudade.

Jacaerys sussurrou, a voz surpreendentemente suave.

— Eu sei. – Lucerys murmurou. — Eu também.

Eles trocaram olhares carinhosos antes de sorrirem de forma desleixada e Jacaerys bateu em seu ombro suavemente.

— Espero que volte menos magrelo.

— Espero que quando eu voltar você comece a parar de cair mais nos seus treinos.

Revirou os olhos.

— Você cai mais que eu.

– Calado.

Eles riram baixinho e Jacaerys saiu do quarto, Lucerys foi um pouco depois. Ele estava ansioso, nervoso e com um medo sutil. Na verdade; ele já sabia até mesmo o que iria fazer quando voltasse. Ele sabia exatamente, apenas... precisava de um tempo fora para organizar seus planos e, o Velaryon confiava plenamente em Jacaerys, ele não o decepcionaria, nunca.

Um pouco mais distante dali, perto dos aposentos dos que vestiam mantos verdes, as sombras que se formavam nas grandes salas e corredores pareciam carregar os segredos e intrigas da corte. O sol iluminava a varanda de pedra polida do quarto da princesa Helaena, ela mexia suavemente no berço do filho menor, um sorriso em seus lábios. O filho havia sido levado para tomar leite mais cedo.

Aemond, movia-se silenciosamente pelos corredores. Seus passos eram quase imperceptíveis, como o deslizar de uma sombra pela superfície de um lago. Seu manto negro oscilava suavemente enquanto ele caminhava, a longa capa envolvendo sua figura como uma extensão de sua própria aura sombria.

Ele estava sobrecarregado e precisava descontar sua frustração em alguém.

Ao atravessar as portas dos aposentos, ele parou. Lá, de costas para ele, estava Helaena. Os longos cabelos platinados da irmã brilhavam sob a luz dos feixes de sol, suas vestes leves ondulando com a brisa. Helaena parecia imersa em seus pensamentos, olhando fixamente para o céu, certas lembranças pintando sua mente alheia, fazendo-a sorrir de vez em quando. Aemond sentiu uma pontada de irritação. Ela sempre fora uma presença etérea, estranha e distante. Isso o irritava as vezes.

— Eu sabia que viria. – Disse a princesa suavemente, sem se virar para ele. Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas carregava uma tensão subjacente. — As sombras te acompanham, irmão.

Aemond franziu o cenho, cerrando a mandíbula. As palavras dela sempre o desconcertavam, cheias de simbolismos e presságios sombrios. Ele caminhou em direção à balaustrada de pedra, parando a uma curta distância dela. A brisa tocou seu rosto, e ele respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão de pensamentos em sua mente.

— Helaena. – Ele começou, sua voz fria, controlada, como o fio de uma espada sendo desembainhada. — Sei que ainda tem seus receios em relação a mim, mas há coisas que precisamos discutir.

Ela virou o rosto lentamente para ele, os olhos claros e insondáveis o encarando. Havia algo de desconcertante naquele olhar, uma mistura de dor, ressentimento e uma compreensão quase sobrenatural. Ela não disse nada, mas a expressão em seu rosto deixava claro que sabia o que ele estava prestes a dizer.

— Oh, não me olhe desse jeito. – Ele zombou e colocou ambas as mãos atrás das costas. — Percebi... que você está muito próxima deles.

Helaena piscou lentamente, o olhar permanecendo fixo no rosto do irmão, ela sabia de quem ele falava.

— Ele é... gentil. – Murmurou ela, como se estivesse tentando se convencer disso ou talvez desafiando a escuridão que Aemond trazia consigo. — Diferente de todos nós.

— Ingênuo. – Corrigiu Aemond, um tom de desprezo em sua voz. — Mas isso não é importante agora. – Ele se inclinou um pouco para mais perto dela, seu olho violeta brilhando com uma intensidade contida. — O que é importante é que eu espero que tenha cuidado.

Helaena permaneceu em silêncio, seu olhar desviando-se para o horizonte, como se estivesse procurando respostas nas profundezas das nuvens. Aemond respirou fundo, tentando controlar a raiva e a estranha preocupação que cresciam dentro dele. Ele sabia que seu aviso seria recebido com resistência, mas não podia deixar de expressá-lo.

— Se você engravidar... – Ele disse, suas palavras cortando o ar como uma lâmina afiada. — Deve considerar não levar isso adiante. – O silêncio após suas palavras era quase palpável, carregado com o peso da sugestão.

— Como você poderia...

— Muitos guardas desse castelo são leais a mim, felizmente. Porque... imagine se ninguém pudesse-a dar um aviso tão importante? Como você pôde ser tão imprudente dessa forma?

Helaena tremeu levemente, como se um vento frio tivesse atravessado seu corpo. Lentamente, ela voltou-se para ele, os olhos arregalados de incredulidade.

— Abortar...? – Sua voz saiu num sussurro, chocada, e havia um brilho de lágrimas começando a se formar em seus olhos. — Você ousa sugerir isso?

Aemond a encarou, seus lábios apertados numa linha fina, tentando manter seu controle. Ele sabia que era cruel, que suas palavras poderiam parecer um golpe à irmã, mas via isso como um mal necessário.

— Não se trata do que eu ouso ou não. – Retrucou, a voz baixa e cortante. — Trata-se do que é necessário para a nossa família, para manter os inimigos à distância.

Ela deu um passo para trás, como se tivesse levado um golpe físico, as mãos subindo instintivamente para cobrir o ventre. Helaena olhou para ele como se não o reconhecesse, seus olhos agora cheios de uma mistura de horror e repulsa.

— Você está matando uma criança que ao menos existe.

Ela tentou rir, apertando os lábios.

Ele não desviou o olhar, sua expressão permanecendo fria como uma máscara de pedra.

— Estou tentar ajudá-la. Vamos lá, não seja tola... – Ele suspirou, massageando as têmporas. — Eu dei um jeito no guarda que me contou, deveria me agradecer.

Os olhos dela se estreitaram, e pela primeira vez, havia uma faísca de raiva em seu semblante.

— Eu não pedi por isso.

— Não me irrite, imagine se alguém pior tivesse visto? Deuses...

— Não acho que você tenha posições de me julgar.

Aemond segurou a barra da balaustrada com força, seus dedos se contraindo com a força do aperto. Ele sentia o ódio fervilhar em seu interior, mas também a preocupação genuína por Helaena, um misto de emoções conflitantes que ameaçava quebrar sua fachada impassível.

— Faça o que achar certo, então. – Ele disse finalmente, com uma amargura. — Eu não contarei para ninguém, mas é melhor você se previnir. Não diga que não foi avisada.

Helaena virou-se novamente, desviando-se do olhar do irmão, encarando o horizonte com os olhos perdidos. Aemond permaneceu onde estava, seus pensamentos um turbilhão de planos, receios e frustrações. Ele sabia que não poderia controlar tudo, nem todos, mas isso não diminuía sua necessidade de tentar proteger aquilo que considerava seu.

Sem mais palavras, ele se virou, voltando pelo caminho que havia feito até a varanda.

(...)

Perto de uma dos batentes de pedra da janela extensa, o príncipe caolho descansava os braços ali, olhando a paisagem distante. Lucerys se aproximou do terceiro batente, com um pilar de pedra grosso e grande separando ambos, os deixando distante, mas perto o suficiente para entender cada palavra.

— Ouvi que está saindo.

A voz firme e desdenhosa do príncipe ecoou na mente de Lucerys, ele respirou fundo e fechou os olhos, aproveitando a brisa meio fria daquele dia ensolarado. Estranhamente fria.

— Estou.

Silêncio.

— Quanto tempo?

— Isso não é da sua conta.

— Imaginei.

Mais um silêncio pairou entre eles.

— Vamos parar.

— Parar o que?

— Não finja ser tolo. – Lucerys estalou a língua no céu da boca, ainda com os olhos fechados. — Vamos parar com isso.

— Hm... – Aemond não disse nada. — Honestamente, não sei o que está falando.

— Só... não tem sentido. Não sei se você pensa o mesmo, mas eu não acho que valha a pena continuar essa... coisa que nós ficamos fazendo.

— Que coisa?

Ele perguntou, zombando. Lucerys se controlou para não grunhir, ao invés disso, o príncipe mais jovem apenas encostou a cabeça em uma das mãos.

— Aemond, kepus.

O chamou, suave. O Targaryen virou o rosto, no entanto, não se dava de ver o rosto de Lucerys por conta do pilar de pedra.

— Você sabe.

— O que eu sei?

Lucerys realmente lutou contra a vontade de resmungar e apenas apertou os dedos entre si. O príncipe de cabelos marrons suspirou e murchou os ombros, apoiando o rosto agora em ambas as mãos, Lucerys continuou com os olhos fechados, – o vento batendo em seu rosto suavemente, a brisa mexendo com os fios do cabelo.

— Eu tirei algo de você e você tirou algo de mim. Podemos parar com isso.

Apenas o som e farfalhares secundários e terciários era escutado, Lucerys levantou a postura e apoiou ambas as mãos no batente da janela, abrindo os olhos lentamente.

— O que você me tirou nunca mais voltará e o que eu tirei de você jamais se restaurará. – Lucerys apertou os lábios. — Não vamos ultrapassar a linha, sim? Vamos viver eternamente um com rancor um do outro, sem olhares curiosos e angustiantes, sem farpas direcionadas. Vamos apagar a existência da vida um do outro.

O Velaryon cuspiu as palavras com firmeza.

Nesse momento, a vez de se segurar parar nao grunhir foi Aemond, ele virou bruscamente, dando um passo para trás do batente, mas sem sair de onde estava.

— Você acha que é fácil assim?

— Não é. – Ele tratou de responder. — Mas nós vamos fazer ser.

Silêncio.

— Me imagine como a poeira das suas roupas depois de um treino intenso e me limpe do seu ombro, jamais se lembre de mim e imagine que eu sou insignificante. Não olhe para mim, não gaste sua saliva tentando me ofender, simplesmente me transforme em fumaça.

Aemond mordeu a própria língua e riu. Riu sombriamente, ele retirou o tapa-olho com força do rosto, a safira azul brilhando contra o reflexo do sol.

— Você vai conseguir fazer isso também? Me transformar em fumaça? Você vai simplesmente tentar esquecer? Você não vai fazer nada?

Lucerys alternou o olhar entre o príncipe caolho e a janela.

— Não. Eu queria, mas não vou. Vou fingir que você jamais existiu.

Silêncio, silêncio e silêncio.

Eles permaneceram assim. Sem se moverem, apenas olhando um para o outro. Era estranho na concepção de Lucerys, parecia tão estranho. Ele ignorou a dor no peito decorrente das lembranças anteriores, não apenas dos acontecimentos em Ponta Tempestade, mas também de quando eles eram crianças. Olhar para a safira azul não o transmitia um sentimento... bom, era mais como... desconforto. Ele não se arrependia, mas ainda era desconfortável.

Aemond também não compreendia.

Por que, por que, por que....?

Fique com ódio de mim, queira um pagamento.

Peça algo de volta, fique furioso comigo, inferno!

Ele se sentia patético.

Tenha a mesma reação que eu tive.

Queira tirar algo de mim na mesma proporção.

Por que ele não estava com ódio transbordando em seu olhar? Ele já deveria ter tentado o matar, certo? Ele deveria... Aemond quis calar as vozes interiores, – apertava os dedos na mão com tanta força que a pele começava a ficar vermelha.

— Aemond. – O chamou, tirando-o daquele transe. — Espero que você encontre o que tanto procura.

O que eu procuro...

Foi a última coisa que o Targaryen escutou antes de Lucerys se virar.

(...)

A princesa estava um pouco angustiada, seu coração batia fortemente no peito e ela mordia os lábios no processo, abraçando o próprio corpo. Rhaenyra não suportou por muito tempo aquela expressão sórdida e cobriu o rosto com as duas mãos, sentindo lágrimas se formarem em seus olhos.

— Isso dói.

Ela murmurou, com os lábios trêmulos. A herdeira sentiu uma mão em sua cintura, a trazendo para perto protetoramente e um queixo se apoiar na curvatura de seu pescoço.

Shh... calma, está tudo bem. – Daemon disse suavemente, deixando um beijo carinhoso atrás de sua orelha. — Ele vai ficar bem.

— Eu sei...

— Sabe mesmo? – Ele murmurou risonho, mas ainda suave. — Não chore.

— Como não poderia? Estou vendo meu filho crescer perante meus olhos, uns anos atrás ele era apenas um garotinho com o nariz quebrado.

Ela resmungou e o Targaryen mais velho sorriu.

— Ele já está vindo.

— Não posso atrasar a partida deles?

— Querida... – Daemon riu novamente e se afastou, ainda tocando as mãos da outra. Ele levou a mão esquerda até a barriga avantajada, cada vez maior. — Honestamente, eu não gosto da ideia dele ir. Principalmente com ela...

Rhaenyra o olhou pouco confusa, limpando as lágrimas dos olhos.

— Qual o seu problema com ela? Eu a acho muito honesta, gentil e confiável.

Nyra... por que você está elogiando outra pessoa na frente do seu marido?

Ele choramingou, parecendo uma criança birrenta, – a princesa pensou e riu baixo.

— Do que você está falando? Ela é uma mulher.

— Isso é o pior!

Rhaenyra não conteve a risada que escapou de seus lábios, mas a sentença do marido a fez se questionar um pouco. Apenas de pensar, as bochechas corarem minimamente, a mais jovem balançou a cabeça.

— Bem, pelo menos você me divertiu. Eu só... estou com medo.

O Targaryen segurou nas mãos de Rhaenyra e beijou seus dedos.

— Lucerys tem um dragão que se bobearmos pode chegar a bater de frente com aquela velha da Vhagar, você realmente está preocupada com ele?

Rhaenyra estreitou o olhar para Daemon e suspirou.

— Meu filho está fugindo dos meus braços, quem sabe se daqui a pouco não é Jace, Joffrey... se Joffrey for tão cedo assim eu vou ter uma síncope, Daemon – Dessa vez foi o príncipe que riu. — Viserys e Aegon ainda são pequeninos, vão ficar do meu lado por muito tempo. — A mulher balançou a cabeça, concordando consigo mesma.

— Sim, sim, minha rainha... eles irão ficar conosco para sempre. E sobre Joffrey, sinto que ele vai querer usar sua juventude para explorar toda Westeros, Pentos talvez...

— Calado! Vou desmaiar apenas em pensar...

— Estou brincando.

Eles riram um com o outro.

— Eu confio nele, e você?

Rhaenyra suspirou e apertou os lábios, um lampejo de saudade adiantada ardendo em seu peito. Quando ela lembra de como o dragão de Lucerys o protegeu ferozmente no dia em que voltou para Porto Real, ela se sente aliviada, percebendo que não importa onde ele fosse, ele estaria bem. Foi na imensidão do olhar caloroso de Daemon que ela teve a certeza que, não precisava ficar tão aflita.

Tudo ficaria bem, ela sabia que sim.

— É claro.

Eles sorriram um para o outro e escutaram as portas do salão abrirem, Lagertha estava com Lucerys.

— Princesa, com sua permissão...

— Ah, sim...

— Nós já vamos partir.

Rhaenyra apertou uma das mãos de Daemon, mas conseguiu sorrir genuinamente.

— Então vamos, sim?

Ela respirou, trêmula. Temendo que fosse chorar novamente. Lucerys se aproximou da mãe e segurou em seu braço, caminhando juntamente a princesa para fora do castelo. Jacaerys estava segurando Viserys no colo, Joffrey segurava uma das mãos de Aegon. Baela e Rhaena haviam o desejado uma boa partida e o entregado livros para entretê-lo na viagem. Era emocional demais e ele sentia que fosse sufocar com tanto carinho.

Não era ruim, na verdade, Lucerys nunca tinha percebido exatamente o quanto era amado.

Ele abraçou forte os irmãos, Joffrey deixou um aperto forte em sua bochecha, fungando loucamente e chorando como a criança que ele era.

— Se você não voltar eu nunca te perdoarei.

Ele brandiu alto, afundando o rosto no peito do irmão. Lucerys sorriu pequeno e acariciou o cabelo dele, Joffrey se afastou e o Velaryon só pôde perceber como os filhos de Aegon rapidamente foram o consolar, principalmente Jaehaerys, que o puxou para um abraço desleixado.

Lucerys remexeu os lábios e não precisou palavras entre ele e Jacaerys, tudo o que eles precisavam falar, já havia sido dito mais cedo. Eles apenas sorriram um para o outro, Lucerys percebeu no fundo dos olhos do irmão o que ele falava internamente.

Vou sentir saudade. Melhor você voltar, seu idiota teimoso.

Lucerys não saberia confirmar se essas eram as palavras exatas, mas ele tinha uma noção. Daemon se aproximou dele, a expressão estava desgostosa como sempre, mas ele sabia que o príncipe estava meio orgulhoso.

— Vai levar Sor Erryk com você?

— Sim... eu ia pedir permissão antes, mas acabei me esquecendo... – Lucerys inflou as bochechas e murmurou. — Tem algum problema?

— Na teoria sim, mas... eu vou cuidar disso. – Daemon apertou o queixo dele e bagunçou o cabelo do Velaryon, esse último que bufou. — Se cuida, garoto.

— Uhum...

Rhaenyra segurou no rosto do mais jovem e deixou selares suaves na test do filho, voltando a olhá-lo, os olhos lilases brilhando com carinho e saudade.

— Volte para mim, sim?

— Eu vou. – O príncipe beijou a mão da princesa e sorriu tristemente. — Eu te amo, mãe. – Ele sussurrou, carinhosamente.

Rhaenyra arregalou suavemente os olhos e apertou os lábios novamente, rindo na medida que sentia poucas lágrimas descerem de seus olhos.

— Eu também te amo, meu doce menino.

Lucerys assentiu, seu olhar firme, virou para andar a frente, mas ao mesmo tempo, voltou-se uma última vez para sua mãe, que o observava com um misto de orgulho e angústia. Ele se aproximou dela, envolvendo-a em um abraço apertado. Rhaenyra o segurou com força, inalando o cheiro familiar de seu filho, gravando-o em sua mente para suportar os dias de separação que viriam.

Com isso, eles se separaram. Rhaenyra ficou parada, observando enquanto Lucerys ia até Andrômeda, o dragão fora escoltado com um chamado de Lucerys, suas belas asas cortando os ares, a grande besta pousou no chão, fazendo um estrondo e rugindo, mas logo se amansando quando viu seu montador se aproximar. Lucerys acaricio as escamas do grande dragão, um sentimento de saudade invadindo seu peito.

— Senti sua falta...

Ele sussurrou para si, tão baixo, mas o dragão pareceu entender já que envolveu o Velaryon com uma das asas. A princesa sentiu uma dor profunda em seu peito, mas também uma chama de esperança. Seu filho estava crescendo, tornando-se um homem, e embora temesse o que o futuro lhes reservava, ela sabia que ele precisava fazer essa jornada para se tornar quem estava destinado a ser.

Mesmo que isso a assustasse.

Lagertha se aproximou da princesa, obviamente, o príncipe Daemon poderia estar rosnando loucamente se fosse um cachorro. A mulher se ajoelhou já última vez e levantou.

— Obrigada pela confiança, princesa.

— Não precisa agradecer. – Ela disse suavemente e segurou em uma das mãos da mulher. — Cuide dele por mim, por favor.

— Não precisa me pedir, irei levar como uma ordem, princesa Rhaenyra.

Elas se olharam carinhosamente.

— Quando o treinamento dele estiver terminado, nós voltaremos.

— Pretende... – Daemon começou, devagar. — vir junto?

— O que posso dizer? Há coisas muito atrativas em Porto Real.

— Sério?

Rhaenyra sentiu de repente que ficou no meio de dois dragões famintos e suspira.

— Bem, é a minha deixa. Sor Erryk...

A mulher o chamou, o manto branco rapidamente vai para seu lado e se curva para a princesa.

— Não saia do lado dele.

Daemon disse firmemente.

— A segurança do príncipe é minha prioridade, Vossa Alteza.

O Targaryen apenas balançou a cabeça. Perto de seu dragão, Lucerys subia com a ajuda da inclinação de Andrômeda, se acomodando em suas costas e apertando as pernas nas escamas.

— Esperem por mim. – Ele disse baixinho enquanto olhava para a família, um sorriso nos lábios e olhos brilhantes. — Eu vou salvar todos vocês.

Olhos curiosos e cheios de ânsia e confusão observavam de longe.

Isso foi o suficiente para Lucerys segurar nas rédeas do dragão e levantar voo, os cavalos se preparando para saírem e seguirem o animal imenso.

Uma coisa era certa, Lucerys sentia o interior formigar. Como se tudo estivesse ocorrendo como o planejado.

Sentindo o vento em seu rosto, o príncipe preferiu se preocupar depois.

O futura o reserva muitas coisas, ele está ansioso para descobrir cada uma delas.

Não importa se forem ruins ou boas. Não importa mais nada, porque... Lucerys irá salvar toda a sua família.

Ele não se incomodaria se isso significasse entregar a própria alma para o destino.

Está tudo bem. Ele vai aceitar tudo que tiver que fazer.















































































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✦ E aqui se encerra a primeira fase de Alma por Alma, eu gostaria de agradecer todo o carinho que recebi o ano inteiro, todos os comentários, tudo! A história está com mais de 90K de leituras, eu só tenho a agradecer!!!! Caramba, eu nunca imaginaria que chegaria nesse nível, honestamente, quando eu comecei a escrever, nunca nem pensei que alguém iria querer ler, haha. É sério, muitíssimo obrigada. Nesse mês que vez eu já vou tentar trazer o primeiro capítulo da segunda fase, já vou avisando a vocês que a partir da 2º fase, veremos muito do desenvolvimento dos lucemond, muita confusão, baixaria e o pau quebrando, portanto, não desistam de mim >< eu sei que demoro a atualizar, mas é porque gosto de trazer capítulos bem elaborados e com muita explicação.

Essas são as minhas considerações finais, vejo vocês em outubro! BEIJINHOS <3

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