16.

CAPÍTULO DEZESSEIS:

"Lealdade"

"Lealdade é força, é amante, é a mais pura confiança."

Lucerys deu uma última carícia nas escamas de Andrômeda e foi o suficiente para o dragão pegar voo e subir no céu que começava a escurecer, ele decidiu conversar com Lagertha apenas depois, seria melhor se ela e sua mãe tivessem uma conversa a sós, com explicações mais nítidas do que aconteceu.

Bem, Lucerys tinha um bom pressentimento quanto a isso, então não precisaria se preocupar com nada. O de fios castanhos deu batidinhas nas mãos enluvadas e se aproximou do palanque, sendo recebido por Jacaerys, – Baela e Helaena entraram com muita insistência dos guardas já que Baela parecia bem entretida com toda a "confusão," o restante se retirou juntamente a Rainha Viúva.

— Então era isso o que você se referia? – Perguntou em uma risada baixa, o cabelo ondulado voando suavemente. — Eu não tenho como expressar minha surpresa em palavras, honestamente. – O mais velho passou os dedos pelo cabelo do irmão e sorriu com os olhos fechados. — Mas, estou orgulhoso.

Lucerys sentiu o coração se aquecer por um bom período de tempo. Um dos milhares de pesos se dissiparam de suas costas e ele conseguiu suspirar aliviado, finalmente aliviado. O estresse anterior diminuiu posteriormente, Jacaerys segurou em seus ombros e o puxou para entrarem.

— Vamos, está quase no horário do jantar.

— Uhum...

Cantarolou em resposta, os guardas acompanharam os filhos da princesa para dentro enquanto as criadas recolhiam o restante das coisas que ficaram para trás. Otto, por um lado, estava estressado, isso era nítido por conta de suas têmporas franzidas e os passos duros contra o chão da Fortaleza Vermelha, Alicent decidiu que era melhor eles não conversarem sobre isso no momento, mas a Rainha de vestes verdes percebeu o olhar julgador e confuso do pai em direção àquela mulher de cabelos dourados.

Não foi muito difícil ligar os pontos um no outro.

O plano bem formado na mente do Hightower tinha fracassado.

A mulher de cabelos ruivos levou a palma bem próxima ao peito, apertando os dedos entre si. Por que ela sentia que tudo o que estava acontecendo recentemente, não parecia verdade? Oh, veja só, sem escrúpulos, os dois Hightowers ansiavam pelo trono nas sombras, o filho quase assassinou Lucerys e Otto buscava por aliados para Aegon nos escombros, buscava aliados para uma causa que nem aconteceu ainda.

Era como se... algo estivesse errado.

Como se o presente não parecesse o verdadeiro.

Seus passos pararam instantaneamente quando ela viu os netos brincando no jardim, mas o que realmente a deixou intrigada, foram emaranhados de fios castanhos no meio de cabelos platinados. O aroma de lavanda e rosas preenchia o ar, misturado ao som alegre das risadas das crianças. Alicent sentiu uma sensação boa ao vê-los tão sorridentes.

— Por que....?

Ela murmurou baixo, quase um sussurro. Criston Cole, que estava ao seu lado, mudou o olhar até as crianças, obviamente desconfortável ao ver um dos filhos de Rhaenyra perto das duas crianças Targaryen.

Alicent observava a cena com a expressão mista de nostalgia e preocupação. As crianças corriam e brincavam no gramado bem cuidado. Joffrey, com sua natureza enérgica, sempre tão selvagem, liderava a brincadeira, rindo enquanto tentava escapar dos braços de Jaehaerys, que fingia ser um dragão feroz. Jaehaera, sempre gentil, estava sentada perto de um canteiro de flores, fazendo coroas de flores para o primo e o irmão. Os olhos de Alicent avistaram o filho mais velho, ele estava encostado em uma das arestas de pedra, e pela primeira vez, não havia uma taça de bebida em suas mãos.

A Rainha, de onde estava, podia ver a alegria genuína nos rostos das crianças. Uma grande sensação de alívio percorreu seu coração ao vê-los tão despreocupados, pelo menos por um momento. Quase esquecendo, quase, que não deveria deixar os netos serem levados pelos devaneios do filho selvagem de Rhaenyra.

Ela suspirou lentamente, seus passos leves e graciosos. Ao se aproximar, os netos perceberam sua presença e pararam de fazer o que faziam instantaneamente. Joffrey os olhou confuso.

— Hum?

Murmurou, virou o corpo e viu a mulher de vestimentas esverdeadas parada ali no jardim.

— Vovó! – Exclamou Jaehaera, suas pequenas mãos segurando um punhado de flores. — Olhe o que fiz!

Alicent sorriu, pegando as flores e admirando-as.

— São lindas, querida. Vocês estão se divertindo?

Seu olhar oscilou um pouco até a criança maior. Joffrey a olhou com um olhar avoado, um sorriso se formou em seus lábios.

— Eu sou o cavaleiro que derrotou o dragão!

Sim.

Ela realmente esquecia um fato tão inevitável as vezes.

Joffrey era apenas uma criança.

Uma criança não deveria ser alvo de olhares maldosos de adultos, deveria?

Ela esquecia disso com frequência.

Alicent tentou sorrir e apertou os dedos entre si.

— Você parece um cavaleiro muito valente, Joffrey.

— Claro que sou!

A criança confirmou com a voz animada. Jaehaerys se aproximou um pouco ofegante.

— Ah, vocês dois querem entrar? Acho que já cansei vocês o suficiente. – O Velaryon disse entre uma risadinha macia, jogando a espada de madeira para o lado. — E nós precisamos jantar. – Ele levou as mãozinhas até o cabelo dos dois, bagunçando sutilmente.

Jaehaera sorriu e colocou uma flor acima da cabeça de Joffrey.

— Se nós formos rápido, podemos sentar juntos na hora do jantar.

— Então vamos logo!

As três crianças fizeram uma breve reverência para Alicent e saíram correndo, – foi aí que a mesma teve certeza que os netos estavam sendo muito influenciados por Joffrey, porque Jaehaera e Jaehaerys nunca saíam de sua vista antes dela dar a última palavra.

Ela permaneceu no meio do jardim, sentiu uma pontada de melancolia. As lembranças de seus próprios filhos pequenos vieram à tona, lembranças de tempos... tensos. No entanto, ela ficava feliz em saber que os filhos de Helaena podiam ter uma infância mais leve e suave.

Enquanto o sol começava a se pôr, lançando longas sombras pelo jardim, Alicent permaneceu ali, envolta em seus pensamentos. Aegon observava de longe as crianças, quando eles saíram, apenas deu uma última olhada para a progenitora antes de virar e querer sair também.

— Você não está bebendo.

Ela pontuou enquanto brincava com os próprios anéis de ouro, Aegon suspirou.

— Alguém me disse que seria bom parar.

— Eu vivo dizendo isso para você.

O filho mais velho riu sutilmente, seu olhar fixo nas portas que davam para dentro do castelo.

— Sim. Mas o ego é bem ferido quando se leva advertência de uma criança.


























A herdeira do trono ainda parecia sem palavras diante os eventos que se desdobraram nesse curto período de tempo, sutilmente trocava alguns olhares com Daemon, este que não parecia tão contente, quer dizer...

Por que essa mulher está olhando para a minha esposa desse jeito?

Talvez fosse apenas imaginações desconexas, ele preferiu pensar assim, – mas o príncipe reconhecia um olhar atraído quando via um, não é atoa que a carranca não saiu de seu rosto em todo o percurso pelos corredores do castelo.

Rhaenyra caminhava com graça pelo corredor de pedras antigas, cada passo ecoando levemente pelas paredes. Seus olhos violetas refletiam a luz suave das tochas que iluminavam o caminho. Lagertha tinha as duas mãos para trás do corpo, sua espada estava bem posta em seu quadril. Mesmo com a expressão suave, Lagertha podia sentir olhares perfurantes direcionados a ela.

— Lady Lagertha, – Rhaenyra iniciou com um leve aceno de cabeça, sua voz firme mas acolhedora. — eu devo pedir desculpas pela minha falta de palavras, mas toda essa situação realmente me deixou muito surpresa.

— Todos nós, eu acredito.

Daemon interviu, com a postura de sempre enquanto segurava na base da Irmã Sombria. Lagertha inclinou a cabeça em respeito, não necessariamente se sentindo ameaçada pelo príncipe, – um sorriso ligeiro em seus lábios.

— Princesa Rhaenyra, é uma honra estar aqui. E por favor, não sejamos modestos, pode me chamar apenas de Lagertha. Acredito que já estive em mais batalhas que muitos guardas deste castelo.

Ela riu suave, Rhaenyra seguiu sua risada de forma genuína, Daemon ainda estava com uma carranca no rosto.

— Mas é um tanto repentino. – O príncipe se aproximou em um passo, quase em frente da esposa e um sorriso arrogante apareceu em seus lábios, Rhaenyra o olhou de ladino e remexeu a boca. — Quer dizer, que entrada extravagante, não acha? Com direito a um dragão.

— Eu deveria agradecer ao príncipe Lucerys por isso, mas é claro que a herdeira do trono merece um bom divertimento.

Lagertha direcionou o olhar afiado até ele, sempre escondendo muito bem suas reações, mesmo que aquele príncipe fosse incrivelmente arrogante. E ela tinha certeza que ele ficou desconfortável com a presença dela.

Daemon, de pé ao lado de Rhaenyra, observava tudo com uma expressão cautelosa. Seu rosto, geralmente impassível, mostrava sinais de desagrado enquanto seus olhos seguiam os movimentos de Lagertha. Novamente, ele não gostava da atenção que a guerreira estava dando à sua esposa. Sim, Rhaenyra Targaryen roubava suspiros de praticamente qualquer ser que tenha bons olhos, mas era a primeira vez que a princesa se mostrava interessada por um desses olhares. Isso não o agradava.

Talvez seja porque Rhaenyra parecia bastante animada. Os olhos lilases da princesa praticamente brilharam quando viram a mulher empunhar a espada dela para si. Os primeiros pensamentos da Targaryen foram voltados até Visenya. A mulher que inspirava tanto Rhaenyra, seja nos penteados que fazia ou até mesmo em sua personalidade.

Então ver algo semelhante, era realmente muito animador na concepção da herdeira. Finalmente, Rhaenyra quebrou o silêncio, – sua curiosidade evidente.

— Lady....

A Targaryen arregalou sutilmente os cílios e o nariz se remexeu, um sorriso macio adornando seus lábios.

Bonita.

Foi a primeira palavra que veio na mente da outra mulher.

— Ou melhor, Lagertha... sua chegada foi uma surpresa, de fato, – começou ela, escolhendo cuidadosamente as palavras. — eu apenas gostaria de entender melhor o que a levou a tomar essa decisão tão repentina. Hum... eu não sei totalmente tudo sobre sua tribo, mas eu sei que vocês são independentes, desde os seus antepassados, nem mesmo Aegon o Conquistador conseguiu fazê-los dobrar os joelhos.

Claramente os olhos de Rhaenyra brilhavam ainda mais de curiosidade e animação, ela juntou as mãos entre si e olhou bem no fundo dos olhos azuis de Lagertha, esta que engoliu a seco.

No entanto, Lagertha sabia que ela buscava uma resposta, e honestamente, quem era ela para negar isso a uma mulher igual Rhaenyra Targaryen?

— Princesa, acredito que todos nós viemos de um mundo onde a honra e a coragem são os pilares da liderança. Tenho ouvido sobre as lutas dos Targaryen e sua determinação ao trono de ferro. Mas o que realmente me trouxe aqui foi algo mais profundo.

Rhaenyra inclinou-se ligeiramente para frente, interessada.

— O que foi, então?

— Foi seu filho, Lucerys, – respondeu Lagertha, seu tom suave mas firme. — acredito que a princesa saiba que ele praticamente limpou um gramado de homens com seu dragão. Ele me ajudou quando eu mais precisei e ao menos pediu algo em troca. – Ponderou por um instante com o olhar distante. — Vi nele uma bravura e um senso de justiça que me lembraram de meu próprio povo, de nossos valores. Além de que ele abriu meus olhos para algo muito importante, algo que pessoas de má índole me deixaram cega por muito tempo. Apenas fiz o que acredito ser certo.

Lagertha estalou a língua no céu na boca e seu olhar encontrou o da princesa novamente, pronta para continuar a falar, mas aquele brilho curioso em um tom lilás quase a deixaram sem palavras.

— Quero fazer parte dessa luta, ao seu lado.

Rhaenyra suspirou contente e balançou a cabeça em afirmação, algo em seu peito batendo forte.

Daemon deu um passo à frente, seus olhos fixos em Lagertha.

— Esperamos que essa lealdade se prove verdadeira em tempos de necessidade, – ele disse, sua voz carregada de um tom desafiador. — não precisamos de guerreiros que mudam de lealdade tão facilmente quanto mudam de espada.

Lagertha, sem perder a compostura, virou-se para Daemon e ergueu uma sobrancelha.

— Minha lealdade é firme e bem fundamentada. – Respondeu ela, sua voz firme. — E é dada a quem merece. O príncipe Lucerys me mostrou com clareza que a causa da princesa Rhaenyra é a certa e por motivos mais que óbvios.

Rhaenyra, percebendo a tensão, interveio suavemente.

— E eu não tenho dúvidas disso. Luke consegue persuadir qualquer um com aquele rostinho adoravel. – Disse ela de forma divertida, colocando uma mão no braço de Daemon, o marido era praticamente uma sombra escura e Rhaenyra uma sombra de paz. — E eu adoraria escutar mais sobre sua historia, por favor, me conte, sim?

— E eu adoraria contar para você, princesa. No entanto, acredito que o príncipe não deve estar muito contente com minha presença.

— Oh, sinto muito por ter passado essa impressão. – A voz dele saiu arrastada. — Claramente não foi minha intenção.

— Eu entendo, príncipe Daemon, afinal... o senhor é muito gentil.

Ela afinou sutilmente a voz e um sorriso macio estava em seus lábios, Daemon remoeu com os dentes e revirou os olhos, apertando a bainha da espada.

— Eu vou ver nossos filhos, minha esposa. – O Targaryen se aproximou de Rhaenyra e deixou um beijo suave na palma da mão da princesa, ele virou para a mulher de cabelos dourados mais uma vez. — Por favor, Lagertha, divirta minha esposa com suas histórias, minha mulher, vai adorar escutar todas. 

Ele sorriu presunçoso.

A princesa o olhou desconfiada. O príncipe saiu primeiro entre os salões.

— Mas que atitude estranha...

Ela murmurou e Lagertha segurou a risada.

— No seu tempo, princesa.

Rhaenyra abriu os olhos sutilmente e balançou a cabeça em um sorriso gentil.














































A sala de jantar estava bem iluminada pelas velas, as criadas andavam de um lado para o outro, colocando as comidas e as bebidas na mesa, os guardas estavam postos em cada canto do salão. Nos corredores, Lucerys e Jacaerys encontraram Daemon, ele voltava de onde estava enquanto resmungava consigo mesmo.

— Hm? Aconteceu algo?

A voz do filho mais jovem ressoou pelas paredes, Daemon apenas suspirou na medida que se aproximava deles e segurava em seus ombros.

— Vamos comer.

— A mãe não está com você?

— Ela vai participar do jantar depois. – A voz dele estava áspera e Lucerys direcionou o olhar para ele, com a expressão minimamente confusa e preocupada. — Ela está mais interessada em ouvir as histórias de sua convidada, Luke.

O Velaryon percebeu quase que instantaneamente pelo tom de voz do príncipe e conteve uma risada, não necessariamente entendendo o motivo da frustração dele, mas tendo uma ideia.

— Você não é bom escondendo o seu incômodo, sabe disso, – Jace perguntou em um tom de voz divertido. — não sabe?

— Não é como se eu quisesse esconder.

Os dois riram e Lucerys olhou para Daemon com um semblante suave.

— Você confia em mim, não é?

— Não quero responder a isso. – As íris castanhas permaneceram olhando para os olhos lilases dele, Daemon apenas suspirou. — Bem, você sabe que sim.

— Então não precisa ficar com um pé atrás com ela. – O mais jovem murmurou. — Apesar de saber que não é exatamente por esse motivo que você está desconfiado.

Riu baixinho e deu passos mais na frente, fazendo círculos desconexos no ar com o dedo indicador, Daemon o olhou com uma sobrancelha arqueada.

— Como? – O Targaryen arregalou os cílios sutilmente. — Ai, volta aqui, moleque!

Os três chegaram até o salão de jantar entre risadas baixas, Alicent estava na ponta da mesa com Otto ao seu lado, Aegon sentou perto de Helaena, Jaehaerys e Jaehaera sentavam ao lado de Joffrey. Aemond chegou pela outra porta no mesmo tempo que os três.

— A princesa não vai se reunir a nós? – A de fios ruivos perguntou a uma das criadas que colocava os pratos. — Não a vejo.

— Vossa Alteza decidiu se juntar pata o jantar apenas após conversar com Lady Lagertha, a princesa disse que poderiam começar sem ela.

Foi a última coisa que disse antes de se curvar respeitosamente e se afastar.

— Também não vejo os demais que vieram com aquela mulher.

A rainha murmurou baixo e Otto massageou as têmporas do lado dela, Lucerys por outro lado, apoiou o rosto em uma das mãos e pegou um garfo entre os dedos.

Bingo.

— Jace... – Joffrey puxou a bainha da capa do irmão com as mãos menores. — Quem era aquela mulher que estava com a mamãe?

— Ah, você viu?

— Elas passaram perto do jardim, – Colocou uma das mãos perto da boca, escondendo os lábios, especificamente do olhar do padrasto. — Daemon parecia uma entidade demoníaca atrás delas...

Falou como um sussurro e Jacaerys segurou uma risada confusa.

— Você acha qualquer oportunidade para atribuir algum insulto a Daemon, não é?

Joffrey colocou a ponta da língua para fora e deu de ombros.

— Mas, respondendo a sua pergunta, pelo o que eu sei o nome dela é Lagertha. – Ele silibou devagar, passando os dedos no cabelo do irmão mais novo. — Ela é uma guerreira e jurou lealdade a nossa mãe. Agora, pare de ser tão curioso e encha a barriga de comida.

A criança menor deu uma risadinha e voltou a conversar coisas banais com os gêmeos, de vez em quando eles brincavam com os garfos e compartilhavam a comida um do outro, hora Jaehaerys colocava um pedaço de carne no prato de Joffrey e este adicionava um pouco mais de purê de batata nos pratos dos primos.

O clima no salão não era necessariamente ruim, cada parte da mesa tinha suas próprias formas de se entreterem. Por exemplo, Aegon observava com um sorriso discreto nos lábios os filhos brincarem com Joffrey, Helaena conversava com Baela e Jacaerys estava contente em apenas admirar as duas mulheres em seu próprio assento. Mas parece que a própria preocupação mundana de Otto Hightower deixava presente aquela tensão habitual entre eles, não demorou muito para rapidamente vir à tona.

Alicent suspirou sentada na ponta da mesa, seus olhos sorrateiramente foram até Aemond, ele estava remexendo na comida sem muito interesse.

— Aemond, – ela o chamou com a voz baixa — o que houve com seu rosto?

Perguntou com um semblante preocupado, devido aos acontecimentos anteriores, um machucado se fez presente na testa do príncipe, não era extremamente chamativo, – mas com a Rainha sentada ao seu lado e a chama das velas refletindo em sua pele, não ficou difícil de notar.

— Essa pergunta deveria ser direcionada ao príncipe Lucerys, eu acredito.

Ele pigarreou com a voz suave, um sorrisinho brincando em seus lábios enquanto ele apertava os próprios dedos.

Como se fosse uma reação compartilhada, Lucerys olhou para ele com pouca importância apesar de começar a sentir um pouco da raiva florescendo em seu peito.

Eu quem estou com machucados no pescoço e mesmo assim levo a culpa?

— Eu não fui preso no chão por um acaso.

Jacaerys levantou uma sobrancelha e largou os talheres, olhando para o irmão e oscilando o olhar para Aemond.

— Como é?

— Eu te faço uma pergunta simples e você arranja intrigas? – Alicent segurou no antebraço dele, os dedos apertando a manga da roupa preta. — Pelos sete, Aemond!

— Nós tivemos uma conversa, apenas isso. – O caolho parecia se divertir com a situação, para a infelicidade do Velaryon. — Eu pedi desculpas, como era esperado de mim. E acabei descobrindo o quão forte é a habilidade de defesa dos filhos de minha irmã.

— Você chama de habilidade de defesa, eu chamo de reação a uma tentativa de assassinato.

— Tentativa de assassinato? – Daemon perguntou com a voz firme. — Outra?

— É porque o meu tio quer o meu olho tanto para si que ele não consegue deixar as mãos longe de mim.

Lucerys respondeu entre dentes, olhando diretamente para o príncipe Targaryen do outro lado da mesa, esse que remexia os lábios de vez em quando, – os dedos tateando o garfo, e ele realmente quis jogar o objeto para frente.

Aemond iria responder e eles provavelmente ficariam nesse ciclo de troca de farpas, pelo menos até Jacaerys ficar com raiva o suficiente para pular por cima da mesa e jogar Aemond da cadeira.

No entanto, a voz de Alicent se fez presente com uma batida na mesa.

— Chega! – A Rainha ajustou a postura mais uma vez e pigarreou. — Aemond, pare de arranjar mais problemas.

Alicent brincou com a bainha de seu vestido, os nervos dos demais pareceram se acalmar, mesmo que cada um, lentamente amaldiçoava um ao outro nos próprios pensamentos.

E pela primeira vez não foi Aegon que começou a troca de insultos, talvez ele estivesse ocupado demais tentando não se levar pela tentação que aquela garrafa de vinho parecia ser.

Mas ele não iria beber.

Não que ele houvesse apostado isso com Joffrey, mas perder moralmente para um pirralho que nem chegava na cintura dele era humilhante.

Daemon suspirou um pouco desapontado, ele honestamente gostaria de poder ter algum motivo para odiar mais o sobrinho.

Mas ele se absteu, os pensamentos muito distantes e focados na nova presença no castelo. Aquele incômodo o deixando com uma carranca no rosto mais uma vez. Ele remexeu no prato com o utensílio de metal, observando a massa da torta de vez em quando se esfarelar.

No momento em que iria enfiar o garfo em um pedaço da torta, o objeto de metal escorregou no prato, fazendo um pequeno barulho estridente e ele viu um pedaço da torta voando para a frente.

A rainha Alicent estava sentada na frente de Daemon.

A torta voou pelo ar e atingiu Alicent na bochecha, espalhando molho e pedaços de carne por toda parte, descendo do pescoço até o vestido. A rainha abriu os cílios tão lentamente que era possível perceber, a mesa ficou em silêncio é a ruiva estava em choque, e por um momento, eles juraram ter escutado uma risada bem fraca e aparentemente contida.

Mas é claro que não foi Joffrey.

Alicent seguiu com os olhos na direção do príncipe, Daemon parecia tão surpreso quanto ela, mas ele tinha uma expressão mais feliz do que arrependida.

— Desgraçado, o meu vestido!

O príncipe desonesto nem percebeu quando sentiu uma coxa de frango ser jogada bem na sua cara, lambuzando o rosto de molho e caindo rapidamente na mesa. Isso foi o suficiente para o temperamento do príncipe subir e ele levantar da cadeira, enfiando a mão no resto da torta e segurando em um punho.

— Que desperdício de carne, Vossa Graça!

Com isso ele jogou em direção da rainha mais uma vez, mas ela foi mais rápida e pegou o prato, bloqueando o ataque de comida.

As criadas olhavam para a cena sem saber o que fazer.

Aegon levantou e acabou esbarrando em Joffrey, fazendo ele cair no chão, mas como se fosse uma fila, os gêmeos estavam atrás dele então caíram juntamente no processo.

Jacaerys estava muito alheio ao que realmente aconteceu, mas sua primeira reação foi pegar o corpo de vinho e jogar na direção do tio.

— Não mexe com criança!

Aegon o olhou confuso e ensopado, o vinho vermelho escuro manchou a roupa do Targaryen, que reagiu instintivamente, pegando um punhado de frutas e jogando-as de volta. Em questão de segundos, o salão foi tomado por uma briga de comida, com tortas, frutas, pedaços de pão e até copos de vinho sendo lançados por todos os lados.

Que desastre.

— Isso foi pelo meu pescoço, idiota!

Lucerys disse com a voz um pouco mais alta enquanto pegava uma colherada de purê de batata e jogava no tio, Aemond estava tão absorvido com a mãe brandindo ao seu lado que estava toda suja, que ao menos percebeu quando uma bomba de batatas amassadas veio em sua direção. Cobriu seu olho não cego e sujou todo o seu tapa-olho, ele levantou rapidamente apertando os punhos e retirando a comida do olho com os dedos.

— Eu vou enfiar esse frango na sua goela, sobrinho.

A confusão era total, o salão de jantar estava uma bagunça!

Joffrey choramingava que bateu o joelho no chão e os gêmeos tentavam consolar ele.

Mas rapidamente ele levantou quando viu uma oportunidade perfeita diante seus olhos castanhos. Um sorriso, – que na visão de Aegon beirava a maligno, – se pôs em seu rosto. Joffrey apoiou as mãozinhas na mesa, seguindo com o olhar as comidas voando para cada canto, Otto ao menos fez algo, talvez o choque de mais cedo foi tão forte que o deixou desconexo dos acontecimentos do presente.

Ainda tinha purê em um dos potes, um dos filhos mais jovens da princesa segurou e jogou bem na direção de Otto Hightower.

O pai da rainha, no momento que sentiu o cabelo sujo de comida, subitamente levantou o rosto e viu a criança insolente de Rhaenyra com os dedos sujos de purê de batata. O mais velho levantou, e iria jogar comida na criança também se não fosse por Baela ficando na frente de Joffrey e tendo seu vestido recém feito totalmente sujo.

A Targaryen o olhou com a expressão firme.

Mais uma vez, o salão estava uma bagunça.

Cada um deles dizendo insultos enquanto a comida voava por cima dos ares.

Joffrey limpou as mãos e ficou abaixo da mesa com os gêmeos e Helaena, esta que estava com os joelhos unidos e acariciava o cabelo da filha.

— Nossa, que bagunça! Estamos em uma selva...

Joff... você acabou de jogar comida no vovô.

— Eu?! Eu não estava fazendo isso! – Colocou a mão no peito. — Escorregou. – Ele respondeu em uma risadinha.

Foi nesse momento que Rhaenyra e Lagertha retornaram ao salão, interrompendo as risadas divertidas que a princesa dava. As duas pararam na entrada, a Targaryen tinha os olhos meio arregalados é uma das mãos na barriga. O salão, outrora um cenário de realeza e elegância, estava agora um campo de batalha culinário. Todos os presentes estavam sujos de comida, com pedaços de torta, frutas e vinho manchando suas roupas e rostos.

— Mas o que significa isso?!

A princesa levantou a voz com as mãos perto do corpo. Ao escutar a progenitora, Lucerys parou com uma mão no ar segurando uma maçã, pronto para jogar na direção de Aemond, esse que segurava outro pedaço de frango. O cabelo de Daemon estava meio vermelho por causa do vinho, as roupas de Aegon estavam molhadas, o cabelo de Jacaerys tinha grãos de arroz e Baela parecia querer queimar Otto no fundo de seus olhos.

Uma figura pequena saiu debaixo da mesa e levantou os bracinhos.

— Dessa vez não foi eu quem causou a confusão!

Joffrey disse rapidamente, obviamente orgulhoso de si mesmo. Otto o olhou de ladino.

Lagertha, observando a cena com um olhar misto de surpresa e divertimento, riu levemente.

— Os nobres sabem se divertir, apesar de que seja de uma maneira tão... peculiar.

Ela obviamente estava segurando a risada.

— Até mesmo você, vossa graça?

Rhaenyra suspirou olhando na direção de Alicent, essa que tinha comida no rosto e descendo até o vestido. Todo mundo estava uma bagunça.

— Controle o seu marido então, obviamente ele estava procurando intrigas!

Daemon virou o olhar na direção da ruiva, desacreditado de suas palavras.

— Primeiramente, pode surpreendê-la, vossa graça, mas foi totalmente sem querer.

— Daemon. – A princesa repetiu com a voz firme. — Fale a verdade.

— Eu realmente sou inocente dessa vez.

A última coisa que eles escutaram foi um suspiro de Rhaenyra, ela abriu a boca para falar algo, mas a situação era tão degradante que chegava a ser cômico.

— Por deuses, limpem isso. – Ela falou nitidamente para as criadas. — Eu ia lhe oferecer um bom banquete, Lagertha, mas como pode ver... a nossa comida está nas paredes e nas vestimentas de meus irmãos, filhos e marido.

— Sem problemas, princesa, eu não estou com fome. Em qualquer circunstância, posso comer algo simples da cozinha.

— Obrigada por ser compreensiva, eu ao menos sei o que dizer quanto essa situação, céus...

A de fios dourados riu.

— Família, não é?

— Pode não parecer, mas sim.

De longe, Otto rangia os dentes e sentia um gosto amargo na ponta da língua, os olhos foram até a irmão de Aario. Lagertha retribuiu o olhar sorrindo e acenando para ele.

Isso deixou o homem com mais raiva contida.

— O que ainda estão fazendo aqui? Vão se limpar! Isso é uma vergonha.

A princesa segurou em seu vestido e se virou para sair, mas antes, olhou para o marido.

— Se você não for trocar essa roupa e limpar seu corpo, se prepare para dormir no fosso com Caraxes.

Foi sua última sentença antes de virar mais uma vez e sair do salão de jantar. Daemon levantou rapidamente da mesa.
































Lucerys limpava o rosto com a ajuda de um tecido úmido, mergulhando de vez em quando na bacia de água, vestia roupas mais frescas e o cabelo estava pouco molhado. Foi quando escutou batidas na porta e um dos guardas entrou.

— Príncipe Lucerys, – o manto branco se curvou — perdoe-me a intromissão. A senhorita Torghead gostaria de falar com vossa alteza.

O Velaryon rapidamente balançou a cabeça em concordância e colocou o pano úmido perto da bacia.

— Tudo bem, deixe-a entrar, por favor!

O guarda se curvou uma última vez antes de abrir a porta e a figura de Lagertha se fazer presente, ela estava com vestimentas diferentes, o de fios castanhos pensou que foram roupas que sua mãe a deram.

— Príncipe Lucerys, – ela iniciou com a voz terna, se aproximando devagar e sorrindo gentilmente — antes de tudo... obrigada.

O agradecimento era genuíno, Lucerys sabia disso mais do que ninguém. Ele podia ver nos olhos dela.

Ele sorriu pequeno.

— Você não precisa me agradecer.

— Mas eu quero. – Pontuou com a voz firme. — Muito obrigada.

O Velaryon balançou a cabeça suavemente e gesticulou com a mão na direção do sofá perto da varanda fechada. Eles se sentaram de frente um para o outro, Lagertha deixou a espada perto do estofado e Lucerys aconchegou um travesseiro em cima de seu colo.

— Eu não disse para a princesa Rhaenyra sobre o Hightower. – A mais velha iniciou. — Achei que você não queria mostrar os planos do traidor verde... ainda.

Lucerys cantarolou suave.

— Isso mesmo. Eu agradeço que tenha entendido o que eu falei. – O mais jovem levou o dedo indicador até o queixo, pensando por um momento. — Eu poderia simplesmente falar tudo o que sei para a minha mãe, eu sei que poderia. No entanto, acusar alguém de traição é algo muito grave... principalmente se não temos provas o suficiente, e eu odeio admitir mas... ele é muito meticuloso.

A de fios dourados rapidamente compreendeu e afirmou com a cabeça.

— Além do mais, ele tem pessoas que o apoiam, ou melhor, pessoas que não aceitam uma mulher no trono. – Resmungou. — Eles apoiariam até mesmo uma cabra se isso significasse tirar uma mulher do poder.

Lagertha riu por um momento, mas era a perfeita verdade. A dolorosa e realista verdade.

— Então, para que possamos deixar cada vez mais os verdes encurralados, precisamos levá-los até o limite. Até um ponto que eles não possam respirar, que eles fiquem tão sufocados que ficará insuportável.

O príncipe apertou o travesseiro entre os dedos, subitamente as memórias afundando seus pensamentos mais uma vez. Como um looping que não parava, cada vez... cada um deles. Cada morte.

— E eu preciso da sua ajuda.

Lagertha o olhou com suas íris brilhando um fogo inalcançável. Ela sorriu firmemente.

— Bem, você me escutou antes. Minha espada é sua agora. – Ela repetiu. — Qual será o primeiro passo?

Lucerys mudou seu olhar até a janela e ficou em silêncio por um curto período de tempo.

— Sabe uma coisa que mais nos cega? – Ele silibou com a voz suave, perigosa. — Além do amor é a falsa humildade. Quando alguém nos estende a mão, nos cobre de carinho e logo depois nos esmaga com cenários de mentira... isso é uma situação tão perfeita. – Ele riu consigo mesmo. — Se tratarmos com carinho alguém que apenas foi tratado com ódio... esse alguém passa a ser tão leal quanto um cachorro.

Pontuou, a voz distante e o olhar focado nas cortinas esvoaçantes do quarto.

— Se tirarmos Aegon e Alicent dos pilares, quem vai sobrar para Otto tratar como peão? Alicent é movida pela ambição do pai e a própria, Aegon é o fruto da ambição e tem a sorte de ter nascido um homem.

— O que está sugerindo...

— Trate um odiado com carinho e ele será tão leal quanto um cachorro.

Repetiu.

Lagertha suavizou o olhar e um sorriso pequeno se fez presente no rosto.

— Oh.

— Eu repetirei para mim mesmo e estou falando para você, Lagertha.... eu não me importo com o que pode acontecer comigo. – Lucerys brincou com os próprios dedos. — Minha mãe vai ser a rainha. E não por meio ano, por alguns meses... ela vai ser a rainha até o seu último suspiro.

O quarto ficou em silêncio por um tempo.

Lagertha levantou e pegou em sua espada mais uma vez, virando o rosto na direção do mais jovem, o olhar refletindo sutilmente com a luz que escapava das arestas da varanda.

— Guarde minhas palavras... esse maldito trono vai ser da princesa Rhaenyra, meu príncipe.




































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Ai gente, perdão, mas eu AMO escrever cena cômica e com entretenimento em alma por alma, eu adoro quando fujo do angst, é tão bom e deixa mais suave! Por isso que se você busca apenas enredo triste, sinto muito mas alma por alma não é exatamente a sua história HAHA.

ALIÁS!!! A segunda fase de apa está chegandooo, mais uma vez, lembram quando o conselho decidiu que a nyra apenas seria coroada depois dela ter a Visenya? Gostaria de lembrá-los novamente que o Luke teve MUITO envolvimento com magia por motivos óbvios, ele não voltou no tempo e sim foi ressuscitado (o que é proibido, – mas não vou entrar em detalhes pois é spoiler hehe 🤓) antigamente, pelo menos em alguns casos, quando pessoas se envolviam com magia / pessoas da antiguidade costumavam envelhecer mais rápido por motivos óbvios, então a quebra de tempo vai ser apenas de alguns meses, o Luke vai crescer horrores nesse pouco tempo. Mini explicaçãozinha porque eu sei que a maioria deve ter esquecido a lore da história KKKKK e tudo bem! Estou aqui para sempre relembrá-los e tirar dúvidas. <3

É isso! Nos vemos no próximo capitulo!!

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