15.

CAPÍTULO QUINZE:

A lealdade é oferecida, não barganhada.

"Sempre questione onde sua lealdade está. As pessoas que você confia irão esperar por isso, seus maiores inimigos vão desejar isso, e aqueles que você mais estima, vão, sem falhar, abusar disso."

O sol da manhã estava apenas começando a despontar sobre os campos verdes de Westeros, banhando a Fortaleza Vermelha em um brilho dourado. No quarto espaçoso e decorado com tapeçarias ricas e cortinas pesadas de veludo, o príncipe Lucerys acordava lentamente de seu sono, as memórias da noite anterior batiam em sua cabeça como as batucadas de um tambor, tão dolorosamente que era insuportável. As mãos se encostaram no colchão macio, o farfalhar das cobertas soavam por seus ouvidos, a ponta de seus dedos foram até as orelhas, ao mesmo passo que sentia um mal gosto na ponta da língua. O ar fresco da manhã entrava pelas janelas, fazendo alguns fios do cabelo castanho se mexer de seu rosto.

Lucerys espreguiçou-se sob os lençóis de linho finamente bordados com o brasão da casa Velaryon, um cavalo-marinho. Suas pálpebras ainda pesadas abriram-se para revelar olhos castanhos. Ele permaneceu deitado por um momento, ouvindo os sons suaves da manhã: o distante canto dos pássaros, o sussurro das tochas de fogo e os primeiros movimentos dos criados nos corredores do castelo.

O silêncio foi interrompido por uma leve batida na porta, seguida pela entrada cuidadosa de uma das criadas. — Bom dia, Vossa Alteza, - disse uma das três criadas, inclinando-se respeitosamente. — O dia já começou, e a sua mãe deseja vê-lo após o desjejum.

Lucerys assentiu, afastando os lençóis e levantando-se da cama. O quarto era espaçoso, com móveis de madeira escura e pesada, polidos até brilharem. Um grande espelho de corpo inteiro, emoldurado em ouro, refletia sua figura jovem e esguia. A criada trouxe uma bacia de prata cheia de água morna e uma toalha bordada, e Lucerys lavou o rosto, sentindo a água fresca despertar seus sentidos. Primeiro ele colocou uma de suas pernas dentro da bacia, sentindo o contato da água contra a pele, o príncipe suspirou e se reencostou ali, fechando os olhos e sentindo o pano úmido sendo esfregado em seus braços.

— Estou cansado...

Murmurou remexendo os lábios e suspirando, ainda se sentia frustrado por tudo que aconteceu na noite anterior, no entanto, achou melhor ocupar a cabeça com o som da água se remexendo ao redor do corpo.

— Príncipe Lucerys, se me permite... - A criada iniciou a fala suavemente enquanto recolhia um dos panos úmidos para si mesma, o mais jovem abriu os olhos com uma feição curiosa e piscou sutilmente, dando-a sinais para continuar. — Vossa Alteza está amadurecendo, pelo o que percebo. Desde que voltou, seu corpo parece mais maduro. Quer dizer, Vossa Alteza tinha feições mais infantis.

Uma risada suave escapou dos lábios dela, as outras duas se espalhavam pelo aposento, trazendo as vestimentas do príncipe. Lucerys levou um dos dedos até o queixo, pensando por um breve período de tempo. Isso havia o intrigado agora.

— Oh, mas eu juro por minha vida que não foi uma ofensa a Vossa Alteza!

— Ah, não, não... - Ele gesticulou rapidamente com as mão no mesmo instante em que levantava da bacia e a criada passava um manto azul por seus ombros, as outras duas guiaram o príncipe até o espelho, prontas para vesti-lo. — Agora que mencionou isso, eu também posso perceber...

Um beicinho se formou em seus lábios, de fato, seu rosto parecia um pouco diferente, nada muio bruto, apenas algumas feições. Sem contar que o cabelo parecia mais ondulado e cheio.

Lembranças de como ele conseguiu retornar vivo começaram a ficar frescas em sua cabeça mais uma vez, estava tão perdido nos próprios pensamentos que quase não percebia as roupas sendo colocadas em seu corpo.

— Eu li uma vez que... usuários de magia tendem a envelhecer rapidamente ou costumam ter mudanças no corpo. - O príncipe olhou para as próprias mãos e subiu o olhar para o reflexo no espelho, observando a criada posicionar ombreiras acima de suas roupas. — Isso é verdade?

— Eu não saberia o confirmar isso porque não sou usuária de magia, Vossa Alteza. - Lucerys murchou os ombros, mas voltou a postura com a ajuda de uma das mãos que ajustava as roupas. — Contudo, nos becos, é muito comum as pessoas falarem sobre e, meus ouvidos são bons, eu admito.

O Velaryon a olhou curioso, ao mesmo tempo que sentiu a cintura ser apertada por um cinto de couro preto.

— Eu não sei se vou ser boa com minha explicação, porque tudo o que escutei foi muito vago e, cheio de furos, mas farei o melhor para satisfazer suas dúvidas.

Ela pontuou na medida que vestia a capa com revestimento vermelho nos ombros de Lucerys.

— Ah, por favor, continue!

— É tudo uma questão do quanto o corpo pode suportar, é claro que existem bruxas que podem passar anos, até mesmo séculos com a mesma aparência. Mas as pessoas que não tem costume de mexer com magia, perdem parte de sua vitalidade facilmente.

Enquanto uma das criadas de cabelos pretos arrumava o cabelo castanho do príncipe, trançando-o em um estilo simples, mas elegante, Lucerys observava o movimento das criadas enquanto ouvia com atenção. O sol estava agora mais alto, iluminando o castelo com uma luz radiante.

— A situação é simples, imaginemos um recipiente de vidro, no momento em que esse recipiente está cheio, ele transborda. - Ela gesticulou suavemente com as mãos, terminando de ajustar as pequenas jóias de ouro no tecido da capa. — Em termos simples... são pequenas mudanças, se não for algo frequente, não vai influenciar nada relevante como a saúde.

Com o cabelo arrumado e as vestes impecáveis, Lucerys calçou botas de couro macio, decoradas com bordados que imitavam as escamas de um dragão. A criada deu um passo para trás, observando o príncipe com um olhar crítico e, finalmente, satisfeita, disse: — Está pronto, Vossa Alteza.

Lucerys sorriu agradecido.

Mas... aquela explicação ainda o deixava receoso e muito pensativo. Talvez... fosse isso, talvez fosse o resultado de tudo o que ele viu.

— Por que a pergunta, Vossa Alteza?

— Mmh... nada muito importante, é apenas curiosidade.

Levou os dedos até as têmporas e massageou suavemente, sentindo a cabeça doer mais uma vez. As criadas recolhiam as coisas e formavam uma fileira ao sair, Lucerys virou rapidamente.

— Ah! Eu quase me esqueci... qual o seu nome?

A criada sorriu suave e retornou a cabeça na direção do príncipe.

— Eu me chamo Meli, Vossa Alteza.

Meli, a criada, saiu logo depois com as demais, deixando Lucerys sozinho mais uma vez. O de fios castanhos se olhou uma última vez no espelho, traçando os dedos pelas roupas bem ajustadas no corpo.

— Será que Andrômeda já comeu?

Se perguntou levando o dedo indicador até o queixo com uma expressão pensativa, caminhou até a porta e bateu de frente com Sor Erryk, sua testa trombou de repente com a armadura de ferro dele. Rapidamente, o manto branco ergueu as mãos para examinar o rosto do príncipe, Lucerys remexeu o nariz incomodado pela batida e com os olhos apertados.

— Céus! Príncipe, me perdoe. Eu sinto muito.

Os dedos de Erryk quase tocaram o rosto de Lucerys, para analisar se havia algum machucado, mas também mantinha uma distância segura, mesmo que ele quisesse.

— Eu estou bem, por favor, não se preocupe comigo. – Levou os próprios dedos até o nariz, estava tudo certo, foi apenas um choque inicial e ele abriu os olhos suavemente, as íris castanhas encontrando as íris azuis do guarda. — Bom dia, Sor Erryk. – Ajustou a postura e sorriu pequeno, levantando a mão gentilmente.

— Bom dia, Vossa Alteza.

Erryk se curvou sutilmente e segurou na bainha da espada.

— O que faz por aqui tão cedo?

— Agora é a troca de guarda, eu vim ver se estava tudo certo por esse lado do castelo. Novamente, me desculpe por machucá-lo, Vossa Alteza.

Ele abaixa a cabeça, claramente envergonhado. Lucerys apenas esconde o sorriso atrás de uma das mãos.

— Não se preocupe com isso realmente. – Lucerys tombou a cabeça para o lado. — Que tal se redimir me acompanhando até onde a minha mãe está?

O cavalheiro sorriu contido.

— Acho uma ótima ideia, Vossa Alteza.

E assim eles seguiram pelos corredores de pedra, se agraciando com a companhia um do outro.

Quando chegaram mais perto de uma das salas bem postas na Fortaleza Vermelha, Sor Erryk se despediu do príncipe e Lucerys entrou, as vozes antes soando como um sussurro, estavam audíveis. Daemon parecia um pouco estressado e Rhaenyra remexia em uma bola de cristal, Joffrey estava remexendo no cabelo de Viserys. Jacaerys e Aegon estavam no jardim do castelo, Lucerys os viu no caminho dos corredores.

— Ah, mas isso é estressante.

— Já é a quarta vez que você diz isso. – Rhaenyra cantarola enquanto passa os dedos pelos ombros do marido, Daemon apenas revira os olhos. — Eu não acho que é tão ruim, honestamente, precisamos de um pouco de distração.

— Eu gostaria que você me consolasse dizendo que eu estou certo. – Resmungou apoiando o rosto em uma das mãos, Rhaenyra deu uma risada arrastada e se afastou de Daemon assim que viu Lucerys no pé da porta. — Não acho que estou sendo levado a sério.

Rhaenyra o ignorou e se aproximou do filho, segurando no rosto dele e deixando um beijo suave em sua têmpora.

— Bom dia, querido.

— Bom dia. – Lucerys respondeu suave. — O que está acontecendo?

— Nada demais...

— Eu digo!

Daemon levantou de repente, gesticulando com os dedos e indo de um lado para o outro, Lucerys cantarolou e sentou em uma das cadeiras de madeira.

A questão em si do motivo na qual Daemon estava estressado, era porque aparentemente o pequeno conselho queria realizar um torneio, igual os muitos que eram feitos no reinado do Rei Viserys. Basicamente, era um torneio para se agraciarem da volta do príncipe Lucerys.

— Eu?

— Não é um absurdo?!

Rhaenyra estalou a língua no céu da boca, – pensativa.

— Eu sei que eu deveria estar tão furiosa quanto, mas olhe bem, já passamos por muito estresse esses dias. Não seria bom dar um descanso? Visenya está agitada e eu estou cansada.

Um suspiro fugiu de seus lábios e ela sentou próxima do filho.

— Além do mais, eu adoraria exibir um pouco do meu filho. Lindo e vivo.

Levou as mãos até o cabelo do príncipe, bagunçando suavemente. Lucerys deu uma risadinha macia.

— Honestamente, parece suspeito. – O príncipe levou os dedos até o queixo e Daemon concordou freneticamente com a cabeça. — Mas... vamos ver os resultados, não parece ruim.

Daemon suspirou derrotado e sentou novamente.

— Tudo bem então.

— Você realmente está bem com isso?

Rhaenyra perguntou com um sorriso enquanto passava a mão acima da barriga.

— Se eu não estivesse, iria fazer alguma diferença?

Lucerys e a Targaryen balançaram a cabeça negativamente, Daemon apenas suspirou pela milésima vez no dia.

— Nos torneios, sempre há doces bem gostosos, isso parece muito divertido. – A princesa comentou enquanto sorria e acariciava a barriga. — Ah, e homens amostrados matando uns aos outros, é claro.

— Nem me lembre.

— Ah, para, você era o primeiro a ir com o peito estufado para o meio da arena, não seja modesto, querido.

— São situações diferentes.

— Não tente me enrolar.

A princesa cantarolou e Lucerys riu baixo.

— Mudando de assunto. Luke, eu escutei... uns barulhos ontem pela noite, logo depois que você chegou. – Daemon ajustou a postura na cadeira. — Aconteceu algo?

O de fios castanhos fixou o olhar no padrasto e logo depois na visão da janela aberta, sorriu pequeno e apertou os próprios dedos um no outro, Rhaenyra o olhou preocupada.

— O que houve, Luke?

— Não foi... nada importante. – Murmurou suavemente e encostou a cabeça na cadeira, enrolando os dedos na bainha da capa. — Confiem em mim, tudo bem?

— Se você diz, não irei tocar mais no assunto. – O príncipe mais velho balançou a cabeça sutilmente. — Mas não preocupe sua mãe.

Ele elevou o olhar até a marca roxa que Lucerys tinha no pescoço, – mesmo escondido abaixo do colarinho da roupa, Daemon tinha os olhos e a intuição muito boa para deixar passar, Lucerys no entanto, ao menos havia percebido até ele o sinalizar sutilmente.

— Estou bem.

O mais jovem confirmou mais uma vez, olhando para a mãe em específico. Rhaenyra parecia um pouco desconfiada, mas preferiu não adicionar nada.

— Bom, eu confio em você. – Ela respondeu suavemente logo depois de um tempo em silêncio, levando os dedos acima de uma das mãos do filho. — Joffrey, pare de enroscar os dragões de madeira no cabelo de seu irmão.

O filho menor citado arregalou sutilmente os olhos enquanto parou onde estava, segurando o pequeno dragão de brinquedo dentro do cabelo branco de Viserys, – este que estava sentado com as pernas juntas acima do tapete, apenas deixando o irmão mais velho fazer o que quisesse em seu cabelo.

— Poxa, seja mais cuidadoso, Vis... – Ele balançou a cabeça enquanto tirava o brinquedo do cabelo do irmão. — As vezes os brinquedos ganham vida e entram no nosso cabelo! – Cantarolou entre uma risadinha e levantou rapidamente, pronto para correr, até sentir a parte de trás do colarinho da roupa ser segurado.

— Por que você não vem comigo?































— Joff, você quer voar em Andrômeda um dia?

— Sim, sim! – Ele juntou ambas as mãos e seus olhos castanhos brilharam. — Por falar nisso, ontem eu e a mamãe voamos enquanto você estava fora! Aliás, onde você estava? Por que saiu? Eu tive que escutar horas de história romântica! – Um biquinho emburrado apareceu em seus lábios e Lucerys fez uma careta.

— Desculpa... – Riu suave, um pouco envergonhado. — Mas foi por uma boa causa. – Piscou na direção de Joffrey. — Que bom que vocês voaram juntos, ainda me lembro da primeira vez que voei com a mãe.

— Ah! Com o tio Aegon também.

Lucerys instantaneamente parou de andar e virou para o irmão menor.

— C-com quem?

— Aegon! O nosso tio desleixado, bêbado, sem noção, cafajeste...

Joffrey continuava citando os diversos adjetivos do Targaryen.

— Para ficar mais fácil de lembrar, o que tem dois olhos!

— Eu sei quem é o Aegon, Joff...

Lucerys disse em um suspiro, – ainda meio confuso. Não é como se ele estivesse completamente surpreso, no entanto, ainda era estranho. Muito estranho e agonizante saber que o irmão mais jovem estava se aproximando de Aegon.

Logo... de Aegon.

— Joff... hm... por favor, tenha cuidado com ele. – Tocou suavemente nos ombros do menor. — Eu não vou pedir para você se afastar porque... você não vai me escutar e vai ser teimoso como sempre, mas sempre tenha os dois olhos bem abertos em relação ao príncipe Aegon, tudo bem? Pode me prometer isso?

Joffrey o olhou por um instante e balançou a cabeça.

— Luke, vocês sempre vem em primeiro lugar para mim. – Ele começou com a voz suave. — Então vou ser sincero com você, eu não acho que ele seja alguém ruim... só acho que... cresceu em um ambiente repressivo, quer dizer, você se torna o que vê ao redor, ele apenas nunca teve uma chance de poder mudar as próprias atitudes. Mas claro, é apenas o que eu acho.

Lucerys ficou um tempo em silêncio mas suavizou a expressão, levando os dedos até o cabelo macio do irmão.

— Por que você tem um cérebro mais avançado que muitas pessoas por aqui?

— As crianças costumam ser mais inteligentes de qualquer maneira. – Tocou a ponta do dedo no queixo e sorriu. — Eu vou brincar no jardim, Luke, nos vemos mais tarde!

— Tudo bem. – Riu suave. — Mas não vá sozinho! – Gritou ao longe, vendo o mais jovem correr, Joffrey apenas riu enquanto corria mais à frente.

Lucerys suspirou, observando alguns criados passando de corredor a corredor, provavelmente indo arrumar as coisas do torneio, – tudo iria acontecer amanhã pela manhã, ele tinha um estranho pressentimento bom sobre aquilo. Ele começou a passar pelos corredores, observando o batente da varanda que dava uma boa visão do pátio abaixo, seus dedos passando pelas rochas e suspiros baixos, quase sussurros escapando de seus lábios.

Ele tinha tantas coisas que precisava resolver, ao mesmo tempo que queria estudar mais, não tinha tempo o suficiente para se afogar nos livros, ao mesmo tempo que queria treinar até que sua respiração falhasse, não podia se forçar ao extremo.

Ele estalou a língua no céu da boca mais uma vez e parou perto do batente da varanda, observando os guardas embaixo.

— Quero voar.

Murmurou consigo mesmo, pensando em certas escamas azuladas. Seus pensamentos eram firmes, mas a memória da noite anterior estava gravada em sua mente como um incêndio. O pequeno confronto anterior, marcado por insultos, apertos e faíscas de desavenças passadas, ainda fazia seu sangue ferver. Ele podia sentir as marcas em seu corpo, a mancha que testemunhava a pouca paciência de seu tio. Ele deveria ficar surpreso, honestamente?

Enquanto mantinha seu olhar em algum lugar aleatório da parte debaixo do castelo, a tensão em seu peito se intensificava. O ar estava carregado de uma eletricidade palpável, como se o próprio castelo estivesse ciente do que havia ocorrido. Ao virar a cabeça, seus olhos captaram uma figura conhecida. Aemond Targaryen, o príncipe de um olho só, estava parado junto a uma das janelas altas, a luz do sol matutino delineando suas feições angulosas e o contorno de seu corpo esguio, mas musculoso.

O tapa-olho de couro negro contrastava com a brancura de seus cabelos platinados. Ele parecia um predador em repouso, um dragão à espera do momento certo para atacar. Os olhos dos dois príncipes se encontraram, íris lilás e o azul intenso quase refletindo o castanho comum dos olhos de Lucerys, e por um momento, o tempo pareceu parar.

A tensão entre eles era quase tangível, uma corrente invisível que os unia e os repelia ao mesmo tempo. Havia uma carga naquele silêncio, as palavras da noite anterior ressurgindo como cinzas nas mentes dos dois príncipes. Lucerys não reagiu muito, ele apenas deu um longo suspiro, virando seu corpo por completo.

Aemond deu um passo à frente, seu olhar fixo nos olhos de Lucerys. O corredor parecia encolher, as paredes de pedra antiga testemunhando o confronto infernalmente silencioso. Lucerys, sem desviar o olhar, ergueu a cabeça apenas para observar os próximos passos do tio.

— Lucerys, – Aemond murmurou, sua voz baixa e carregada de algo indefinido. — achei que estivesse escondido, lambendo suas feridas.

A voz saiu como um corte limpo, o citado só conseguiu mover o lábio em um sorriso sem muito esforço ou real felicidade.

— Eu não me escondo. – Lucerys respondeu, a voz morna. — Não mais.

Os passos dos dois príncipes ecoavam pelo corredor vazio, cada um medindo o outro, buscando uma fraqueza, uma abertura.

Havia uma intensidade quase sufocante no ar, uma mistura de hostilidade e algo mais profundo, mais primal. Os braços de Lucerys estavam cruzados perto do peito, seu coração batendo descontroladamente, – ressentimento? Talvez. Aemond se aproximou ainda mais, a apenas um braço de distância agora.

— Não mais? – Ele sussurrou, aquele sorriso surgindo em seus lábios. — Isso é muita arrogância para alguém tão... pequeno.

Lucerys realmente precisou respirar fundo antes de pensar em algo para responder. As vezes ele gostaria de sair correndo pelo castelo enquanto fala palavras de baixo calão para todos, – apenas os específicos, o quanto gostaria que eles fossem para o inferno.

Infelizmente, ele é um príncipe e qualquer coisinha que ele faça, as pessoas vão abrir a boca e falar. Porque é isso que fazem de melhor. Então ele põe um sorriso macio nos lábios e remexe o nariz.

— Eu sou corajoso.

Falou com um tom zombeteiro. E funcionou, Aemond riu. Talvez eles não estivessem cientes, mas a distância que os separavam era mínima, se o Targaryen quisesse, ele facilmente poderia segurar o pescoço do sobrinho, da mesma forma que fez noite anterior. Sentir a pele estranhamente macia dele entre os dedos mais uma vez, ele não deveria notar esses detalhes tão triviais, tão inúteis, certo? Mas mesmo assim, na caída da noite, após voltar para seus aposentos, Aemond se perguntou o porquê diabos a pele de Lucerys parecia tão frágil quanto uma porcelana.

Tão fácil de quebrar.

Talvez ele quisesse quebrar aquela porcelana, – mas ele não pensou exatamente nisso, ele só pensou que os próprios dedos ásperos encontraram uma superfície tão macia para agarrar quanto lençóis de seda.

— A coragem pode ser sua ruína.

Seu hálito quente quase bateu contra o rosto de Lucerys. O mais jovem sentiu um arrepio percorrer sua espinha, no entanto, ele começou a esconder muito bem suas próprias reações.

— E a sua arrogância será a sua.

Ele rebateu, sua voz apenas um sussurro. Por um momento que pareceu durar uma eternidade, ficaram assim, presos em um jogo de olhares intensos, onde a raiva e a ambiguidade se misturavam de maneira perigosa. O corredor de pedra, com suas tapeçarias antigas e candelabros de ferro, parecia fechar-se ao redor deles.

Então, com um último olhar carregado de ameaças não ditas, Lucerys se afastou em um passo.

— Quer dizer, – A voz macia do Velaryon ressoou pelos ouvidos de Aemond, como o som das ondas batendo no oceano, mas era tão ardente quanto água salgada nos olhos. — não sou eu quem ameaço e não mordo. – Ele se referiu ao que aconteceu ontem, quando o tio tentou estrangulá-lo.

Dito isso, o de fios castanhos passou pelo Targaryen em passos curtos, firmes e preguiçosos, deixando Aemond com a respiração entrecortada e a cabeça dolorida. O de fios platinados riu sem graça, passando os dedos esguios pela bainha da espada na cintura.

— Bastardo desgraçado.

Ele brandiu baixo, nunca admitindo, nem mesmo para si mesmo que havia ficado um pouco desconexo com o odor suave que sentiu do cabelo do sobrinho.


































Alicent estava sentada em uma das poltronas de madeira com travesseiros apoiando suas costas, segurava o pingente da estrela de sete pontas entre os dedos enquanto olhava para o céu limpo da janela um pouco distante. Seu pai, Otto Hightower se aproximou de soslaio, sentando em frente a filha.

— Então... alguma notícia de Larys?

— Até o momento, nenhuma. – A ruiva respondeu francamente. — Os guardas pareceram não vê-lo, nenhuma pista, nada. Ele sumiu.

Otto resmungou, passando os dedos nas têmporas.

— Como... – Ele controlou o tom de voz nervoso em uma mordida na língua e suspirou, apertando os punhos. — Como alguém pode simplesmente sumir na fortaleza vermelha, em um castelo infestado de guardas?

Alicent não respondeu, ela permaneceu pensativa. Realmente não se importando se Larys estava sumido ou não.

Otto pareceu perceber seu comportamento alheio.

— Temo que isto não lhe preocupa, filha.

A citada rapidamente o olha com as íris alertas e se ajusta na cadeira.

— Ele deve estar resolvendo assuntos, não sei, meu pai. O que adianta nos preocuparmos com ele? Talvez Larys esteja fazendo novas estratégias.

— Bem, talvez. – Otto decidiu deixar isso de escanteio e um sorriso presunçoso apareceu em seu rosto. — Trago notícias de minha última partida.

— Sim?

— Eu consegui apoio de homens do sul. Homens guerreiros, digamos que um exército. Apenas por via das dúvidas, é claro.

— Isso... é bom.

A expressão contente do Hightower mais velho pareceu murchar para uma severa.

— Sua felicidade me comove.

Alicent sorriu dessa vez.

— É realmente bom, meu pai. Eu agradeço que você sempre seja tão prestativo e esteja caminhando Aegon para uma linha de aliados. Me deixa feliz, não duvide disso.

Otto parecia insatisfeito com a resposta, no entanto, ele não deu continuidade a esse debate e aceitou. Acariciou com a ponta do dedo o anel de seu dedo indicador e seus olhos astutos se traçavam pelo reflexo da esmeralda. Os pensamentos indo longe, – na vitória.

— Teremos aliados. praticamente tudo está ao nosso favor. – Sorriu consigo mesmo. — Farei de Aegon um rei.

Alicent apoiou o cotovelo no braço do cômodo de madeira, passando os dedos pelos lábios trêmulos.

— Sem sombra de dúvidas.

(...)

— Mas você realmente acha que eles tem algum tipo de relação?

Aegon perguntou enquanto tinha a feição confusa ao mesmo tempo que segurava os joelhos do sobrinho, Joffrey, que estava em suas costas balançando os pés e apontando para cada lugar do jardim, teoricamente usando o tio como burro de carga.

— Sério, você é muito alheio, tio! Ela olha para ele como se ele fosse o único homem do mundo.

O assunto que eles falavam era bem trivial e bobo, aparentemente sobre uma criada com alguma paixão em um dos cozinheiros do castelo.

— Se uma mulher olha com tanto carinho para um homem que está diariamente suado e mal vestido, é paixão! – Afirmou firmemente enquanto apoiava o queixo acima do topo da cabeça de Aegon. — As amas que cuidam de mim estão sempre tão bem vestidas e cheirosas... então não é difícil não se apaixonar por alguém com uma boa aparência, mas e quando a pessoa não tem nem o mínimo? Não tenho nada contra os cozinheiros! Mas eles sempre estão bem acabadinhos...

Aegon não aguentou a risada que escapou de seus lábios e até mesmo parou um instante para segurar no estômago.

— Nossa, você é mesmo uma peste.

Joffrey o deu uma cotovelada atrás da nuca e balançou as perninhas menores, sinalizando que queria descer. Aegon o coloca no chão e ele iria falar algo, mas então uma das criadas chegou com Jaehaera e Jaehaerys, as duas crianças estavam segurando as mãos e pareciam tímidas quando viram o pai, mas assim que viram Joffrey, correram até o primo com sorrisos contentes no rosto.

— Oh, Vossas Altezas! – A criada rapidamente se curvou e se aproximou das crianças. — Me perdoe, príncipe Aegon, eles quiseram vir até o jardim brincar um pouco, não sabia que estaria aqui.

Joffrey subiu o olhar para Aegon, porque claramente a criada estava falando com o tio.

— E qual o problema deles estarem no mesmo lugar que meu tio?

Joffrey perguntou assim que pegou na mão das duas crianças menores.

— Ah, bem... – A moça engoliu a seco. — O príncipe Aegon... me pede para não coincidir o cronograma das crianças com o dele.

— Ele faz o que? – O pequeno Velaryon ergueu uma das sobrancelhas e olhou para o tio, Aegon estranhamente parecia fingir não escutar e olhar ao redor. — A senhorita pode sair, eles vão ficar com a gente.

— Oh, mas...

— Está tudo bem. – Dessa vez foi Aegon quem disse. — Está dispensada.

A criada assentiu um pouco alheia, segurou no vestido e saiu. Joffrey caminhou com as crianças até uma parte da grama com várias flores e eles começaram a brincar, – ou melhor, Jaehaera começou a fazer uma espécie de trança bem desleixada no cabelo castanho e macio de Joffrey e Jaehaerys estava com a cabeça nas pernas curtas do primo, brincando com seu próprio dragão de madeira.

— Eu sempre soube que você negligenciava seus filhos, mas isso é demais! Eu consigo ser mais pai que você.

As vezes Aegon esquecia que Joffreu, de fato, não tinha papas na língua.

— Você passa mais tempo comigo do que com eles! O que é isso? Quer que eles cresçam achando que eu sou um empecilho para o pai não querer falar com os próprios filhos?

Aegon realmente não conseguia levar tão a sério as palavras por causa da imagem das crianças de um jeito adorável, – muito fofo até para ele.

— Presta atenção, tio. – Joffrey revirou os olhos e levou os dedinhos até o cabelo de Jaehaerys, bagunçando sutilmente e a criança deu uma risadinha enquanto remexia o nariz. — Vem aqui.

O Targaryen se remexeu meio deslocado, no entanto, se aproximou e sentou ao lado deles.

Haera, – Cantarolou suave, a garotinha o olhou com os olhos lilases gentis. — por que você não tenta fazer um dos seus penteados no cabelo do seu pai? O cabelo dele é maior que o meu, com certeza vai ficar muito bonito!

A menor piscou os olhos e olhou para Aegon, – eles nunca tiveram tantas conversas. Na maior parte das vezes, o pai era bem distante.

Jaehaera gostava de fazer penteados no cabelo da mãe e brincar com o cabelo de cores diversas das criadas. Mas ela sempre quis pegar no cabelo do pai, sempre parecia tão desgrenhado. Ela gostaria de arrumar igual fazia com Helaena.

A filha mais jovem o olhou como se pedisse, Aegon suavizou os olhos na direção dela e balançou a cabeça, afirmando.

Os dedos menores de Jaehaera foram até o cabelo de Aegon, começando a arrumar os fios rebeldes.

Jaehaerys, no entanto, parecia bem confortável com a cabeça no colo de Joffrey, mas suas perninhas levantaram até as pernas do pai.

— Mas que aproveitador.

— Nossa, de quem será que ele puxou...

Joffrey fez uma careta pensativa com o dedo no queixo, Aegon pigarreou divertido.

Eles ficaram em silêncio por um instante.

— Joffrey.

O chamou com a voz baixa, olhando para a paisagem da frente.

— Mmh?

— Quando eu peço para as criadas não me deixarem cruzar com Jaehaera e Jaehaerys, é porque eu não quero que eles me vejam bebendo.

Um silêncio pairou entre os dois.

Joffrey fez um beicinho, sem saber o que responder na verdade.

— Então pare de beber, seu alcoólatra.

A criança respondeu depois de um tempo. Aegon apenas riu.

— É, talvez seja melhor.

E assim eles passaram o resto da tarde. Sem saber que de longe, um par de olhos lilases admirava-os, Helaena apertava a manga do vestido esverdeado entre os dedos, seu coração cheio de amor e carinho ao ver os filhos tão felizes. Depois que Joffrey se aproximou deles, não... melhor dizendo, depois que a família de sua irmã mais velha passou a permanecer a estadia em Porto Real, as coisas começaram a mudar.

Helaena voltava dos aposentos de Maelor e então acabou tendo o vislumbre da cena bonita diante dos olhos.

— O azul combina com você.

A Targaryen virou com os olhos arregalados pela segunda voz.

— Oh, me perdoe, não queria assustar você.

— Tudo bem. – Helaena respondeu suave, ajustando a postura. — Como foi a passagem até Driftmark, Lady Baela?

A citada sorriu pequeno e se aproximou da outra Targaryen, ficando ao seu lado.

— Normal, sem conflitos. – Ela pontuou sutilmente. — Como eu estava dizendo, o azul combina muito com você. Me perdoe se parecer indelicado, mas acho que realça mais que o verde.

O vestido que Helaena usava era verde, mas a saia tinha nítidos detalhes em azul. Ela pediu para fazerem algumas mudanças em algumas roupas de seu vestuário, – claro que era porque a cor era tão bonita quanto o verde e não por causa de certos elogios.

Com esses detalhes, pensamentos correram por sua cabeça de repente, as bochechas coraram e Helaena mudou o olhar de direção. Baela deu uma risadinha, porque talvez... ela soubesse o motivo.

Mas só talvez.

— Uhm... m-muito obrigada. – Agradeceu genuinamente, com um sorriso pequeno se formando nos lábios. — A cor da casa de seus avós é muito bonita.

— Eu agradeço. – Baela estalou a língua no céu da boca, como se tivesse acabado de ter uma ideia. — Princesa Helaena, gostaria de comer alguns doces que eu trouxe de Driftmark?

— Isso... parece bom.

Os olhos lilases de Helaena brilharam e Baela tombou a cabeça devagar para o lado, a dando espaço para andar na frente.

No resto do caminho, elas conversaram sobre assuntos passageiros, Helaena falava de alguns animais que costumava salvar quando era criança e Baela escutava cada uma das histórias com prazer.







































A noite havia caído sobre Porto Real, e a Fortaleza Vermelha  estava envolto em um manto de sombras e silêncio. O príncipe Aemond, ainda um pouco ofegante da emoção de ter voado com Vhagar mais uma vez, caminhava lentamente de volta para seus aposentos. O vento noturno, carregado com o cheiro do mar, acariciava seu rosto enquanto ele se lembrava da sensação de liberdade e poder que experimentava ao voar nos céus.

As tochas ao longo dos corredores de pedra lançavam sombras dançantes nas paredes, criando uma atmosfera quase sobrenatural. Aemond empurrou as grandes portas de madeira esculpida e entrou no quarto silencioso, no caminho de entrar, retirava as luvas de couro das mãos calejadas, as veias saltando da pele esbranquiçada sem nenhum esforço.

O ambiente estava iluminado apenas por algumas velas espalhadas estrategicamente, suas chamas tremeluzentes lançando uma luz suave e dourada. O Targaryen se aproximou da janela aberta, permitindo que a brisa fresca da noite entrasse e esfriasse sua pele ainda quente do voo. Ele apoiou as mãos no parapeito de pedra e olhou para a vastidão escura das estruturas quase montanhosas do castelo, as luzes distantes da cidade refletindo.

Sua mente, porém, estava longe dali. Ele tentou afastar os pensamentos, mas a imagem de certas ondulações castanhas insistia em invadir sua mente turbulenta. Lembrava-se do olhar desafiador, a mistura de raiva e fogo que parecia incitar algo profundo dentro dele. Era uma sensação confusa, uma mistura de ressentimento, fascinação e algo mais que ele não queria admitir.

Aemond fechou os olhos por um momento, tentando focar em outra coisa. Pensar nele era perigoso, um desvio de disciplina, de caráter.

— Que patético.

Ele estalou a língua no céu da boca, sentindo o gosto amargo.

Se lembrava das lições de seu avô sobre força e controle, sobre como um príncipe deve sempre estar acima de suas emoções. No entanto, havia algo em toda essa situação que o perturbava, uma chama que ele não conseguia apagar. Ele deveria simplesmente esquecer. Se afastou da janela e caminhou até uma mesa de madeira maciça, seus dedos percorreram até o fecho do tapa olho, abrindo e retirando o pedaço de couro. Engoliu a seco quando seu dedo triscou sutilmente na própria pele, – na cicatriz que chegava perto de sua bochecha, quase como se ele pudesse lembrar da dor, da dor infernal que sentiu naquela noite.

E mesmo assim, mesmo com os demônios do passado o perseguindo, ele não conseguia dissipar os pensamentos que pareciam se atrair completamente àquele com os olhos comuns.

Aqueles fatídicos olhos comuns. Aqueles olhos nada especiais. Com uma cor comum.

Ele sempre se perguntou por que Lucerys o afetava tanto. Por que? Porque... porque aquele sentimento de angústia cresceu, quase, por um triz, em seu peito.

Aquele sentimento de... arrependimento?

"Arrependimento?"

Ele moveu as sobrancelhas enquanto tirava a capa de couro a força, logo depois deslaçando o fecho da camisa branca, como se estivesse com raiva.

— Arrependimento? Tsk.

Sentou-se em uma cadeira de espaldar alto, decorada com entalhes de dragões, e esfregou a têmpora com os dedos. Ele não podia permitir que esses pensamentos fúteis o distraíssem. Amanhã teria um torneio.... nem ele entendeu o motivo daquela festança, no entanto, talvez se ficasse quieto, poderia simplesmente sair sem que ninguém percebesse e não iria ter de ser obrigado a escutar falações boas ao sobrinho.

Mas, mesmo enquanto sua mente tentava se focar em coisas importantes, tais como estratégias e alianças, a imagem de Lucerys continuava a pairar, uma sombra persistente no fundo de sua consciência. Finalmente, levantou-se de novo, – sem conseguir permanecer quieto, decidindo que precisava de mais do que apenas reflexões solitárias para afastar esses pensamentos. Caminhou até um baú próximo e abriu a tampa, revelando uma coleção de armas cuidadosamente dispostas. Escolheu uma espada curta, seu peso familiar e equilíbrio proporcionando uma sensação de controle e propósito.

Ele começou a praticar movimentos no centro de seus aposentos, a lâmina cortando o ar com precisão e força. Cada golpe era um esforço consciente para dissipar os pensamentos indesejados, uma tentativa de reafirmar seu domínio sobre suas emoções, – que jovem tolo.

E enquanto o aço brilhava sob a luz das velas, Aemond sentia um momento de clareza, ainda que breve. Mas no fundo, ele sabia que a sombra de Lucerys não se dissiparia tão facilmente. Como uma chama que não podia ser extinta, ela continuaria a arder, desafiando sua vontade e perturbando seu sono. E, talvez, era essa incerteza, essa faísca incontrolável, que o mantinha alerta e, de certa forma, vivo.

Por mais que ele não fosse admitir nem em seu pior pesadelo.
























O torneio em comemoração ao príncipe Lucerys Velaryon estava para começar, e um dos pátios de Porto Real era um espetáculo de cores, sons e vida. Bandeiras e estandartes com os brasões das casas nobres de Westeros balançavam ao vento, seus tecidos ricos em vermelhos, dourados, azuis e verdes reluzindo sob o sol radiante. Arquibancadas de madeira, decoradas com tapeçarias luxuosas, estavam repletas de lordes e ladies, todos vestidos em suas melhores roupas, suas joias cintilando como estrelas.

— Que lindo!

Jaehaera bateu as mãozinhas, encantada com tamanha beleza, Joffrey estava sentado ao lado dela com um pote imenso de uvas em cima de seu colo, que certamente não deveria estar ali.

O príncipe mais jovem roubou da cozinha como um ratinho sorrateiro e passou pelos guardas com as mãos cheias, a comida seria servida apenas após o torneio, e segundo Joffrey:

"Não posso deixar meus primos com fome!"

Por isso mesmo que de vez em quando ele colocava algumas uvas na boca de Jaehaerys, que estava muito ocupado prestando atenção nos cavalos brancos, no entanto, a criança de cabelos platinados abria a boca e aceitava a fruta oferecida. Maelor chorava nos braços de uma criada e Jaehaera segurava com uma mão menor o vestido verde de Helaena, Aegon estava ao lado deles, mexendo no cabelo do filho.

No assento de honra, situado em um estrado elevado adornado com escudos e lanças cruzadas, sentava-se o príncipe Lucerys. Sua presença jovem irradiava uma mistura de nervosismo. Vestido com um traje de veludo azul profundo, bordado com fios de prata que refletiam a luz do sol, ele parecia um verdadeiro príncipe de sangue nobre. Ao seu lado, Rhaenyra descansava a mão em seu ombro, o dando vibrações boas, como se quisesse o mostrar tranquilidade, afinal, era a primeira vez que o povo de Porto Real o veria com tanta nitidez.

Algo no âmago de Lucerys se apertou, era estranho. Como se várias adagas ao mesmo tempo perfurassem sua carne, porque... ele lembrava muito bem dos eventos que viu quando estava morto.

Do Fosso dos Dragões sendo atacado. Massacrado. Dragões e pessoas mortas. E agora, ele tinha mais um dragão. Mais uma ligação importante para ele, isso o deixou tão aflito que ele queria poder sair dali.

Mas a própria força de vontade permaneceu em seu peito com vigor, ele ergueu a cabeça suavemente, os olhos castanhos percorrendo o pátio aberto, o falatório das pessoas misturado.

Ele respirou fundo e encontrou forças consigo mesmo, ele não tinha muita escolha de qualquer maneira.

Os cavaleiros participantes, em suas armaduras brilhantes, estavam montados em cavalos adornados com mantos coloridos e plumas extravagantes. As lanças nas mãos, longas e mortais, aguardavam o sinal para a justa.

— Em anos distantes, era eu quem estava lá, lutando por orgulho. – Daemon disse de repente, Rhaenyra riu suave, com a mão no ventre como hábito. — Eu até recebi uma prenda de sorte da Rainha Alicent.

A voz dele saiu afiada, a mãe de Lucerys olhou para o príncipe desonesto como um dragão olharia sua presa, o Velaryon mudou o olhar para ele em uma feição surpresa, mas divertida.

— A Rainha Alicent?

— Provavelmente foi por isso que Sor Criston o derrubou.

Rhaenyra zombou enquanto ajustava o vestido vermelho e sentava ao lado do filho, com uma postura invejável. Daemon a olhou desafiador, quase sem palavras.

— Mas que malvadez com seu marido, minha futura rainha.

Ele disse baixo, segurando a mão dela gentilmente e deixando um beijo macio no dedo em que havia a aliança de casamento.

Joffrey, de longe, fez uma careta.

Eww, ele está bajulando a mamãe de novo! Jaehaera, cubra os meus olhos!

A citada levou os dedinhos até os olhos do primo, não entendendo a situação, mas achando divertido. Joffrey também cobriu os olhos dela e os de Jaehaerys.

— Quando os adultos fizerem isso na frente de vocês, joguem tomate neles e vaiem!

Lucerys também fez uma careta, quase instantaneamente, no entanto, ele apenas riu baixinho e sentou também.

— Luke, me diga um motivo para não jogar seu padrasto dessa arquibancada.

Rhaenyra cantarolou e Lucerys deu de ombros, muito entretido.

— Acho que seria uma boa prenda de torneio.

Daemon revirou os olhos para ambos e sentou perto da esposa, ainda segurando em sua mão.

A família estava separada como usual, no entanto, estava diferente dessa vez. Agora, cachos castanhos estavam misturados com o platinado pouco ondulado dos filhos de Helaena e Aegon, Alicent parecia mais confortável, – principalmente após o sumiço de Larys, talvez ela se sentisse muito feliz com o provável rumor do mestre dos sussurros ter voltado para Harrenhal.

O arauto, vestido com um gibão de cores vivas, avançou para o centro do campo e ergueu sua trombeta, o som claro e potente ressoando por todo o pátio. — "Senhoras e senhores, lordes e cavaleiros, damos início ao grande torneio em honra de seu amado príncipe Lucerys Velaryon!"

A multidão explodiu em aplausos e gritos de entusiasmo, o som ecoando pelas muralhas de pedra do castelo.

Oh, era estranho. Todos eles eram estranhos, Lucerys não se sentia amado por nenhum deles. Nenhum.

E não quer ser amado por nenhum deles. Eles dilaceraram seu irmão, seu pequeno Joffrey.

Era egoísta odiá-los agora? Ele não saberia dizer.

Mas ele certamente não era familiarizado com nenhum deles.

O primeiro par de cavaleiros tomou posição nas extremidades opostas do campo. O som dos cascos batendo contra o chão reverberava como um trovão distante, enquanto os cavaleiros se preparavam para a investida. Com um sinal do arauto, os cavaleiros partiram, suas lanças prontas para o impacto. O choque foi feroz, as lanças estilhaçando-se em fragmentos de madeira e faíscas de metal. A multidão prendeu a respiração enquanto um dos cavaleiros era desarmado e jogado ao chão.

— Por quê as pessoas sentem prazer em ver outros homens sendo machucados, Joff?

Jaehaerys perguntou com a voz baixinha, um pouco surpreso pela violência, ele não gostou quando o primeiro sangue espirrou na quadra. Joffrey deixou o pote de uvas um pouco longe das mãozinhas.

Jace aproveitou para pegar sorrateiramente do irmão e trazer para os bancos de trás, iniciando uma pequena degustação com Baela e Helaena.

"Não sabia que a princesa Helaena era próxima do príncipe Jacaerys e da princesa Baela." Uma das criadas sussurrou para a outra, nas sombras das arquibancadas, prontas para servir os membros reais quando fossem chamadas.

"Oh, isso também é uma surpresa para mim. Mas que bom que a princesa Helaena está com companhia agora, não é? Ela era tão sozinha, fico feliz que tenha amigos agora." Ambas balançaram a cabeça em concordância.

— Haerys, – Joffrey cantarolou e levantou do pequeno banco com os gêmeos, ele gostaria que Viserys e Aegon estivessem lá também, mas os irmãos eram tão preguiçosos que estavam dormindo de novo. — vamos brincar no jardim, que tal? Acho que vocês combinam mais com flores do que com sangue.

Riu baixinho e os dois com cabelos brancos concordaram rapidamente, quando eles levantaram para sair, Otto parou na frente das crianças.

— O que está fazendo, príncipe Joffrey?

— Andando....

Os gêmeos quase, quase riram com a resposta do primo. O de sangue verde apenas balançou a cabeça, não querendo se importar com a resposta do insolente filho de Rhaenyra.

— Deixe-me reformular, príncipe Joffrey... o que pensa que está fazendo ao querer se retirar do torneio sem permissão?

Joffrey achava aquele homem velho muito chato. O pequeno murmurou e soltou as mãos dos gêmeos, caminhou até a progenitora e segurou no vestido vermelho de Rhaenyra e deu um toque no joelho de Daemon, seus olhos de repente brilharam e ele juntou as mãozinhas.

— Mamãe, Daemon... – Falou com a voz tão suave que o príncipe desonesto teve que ajustar a postura e erguer uma sobrancelha de tanta surpresa. — Eu posso, poooor favor brincar com meus primos no jardim? Eu acredito que eles não gostam de sangue.

Daemon riu alto e se reencostou na cadeia de madeira novamente, cruzando os braços e entendendo o que o pirralho queria de fato.

— Por que você está pedindo? Você sempre faz o que quer de qualquer maneira.

O Targaryen mais velho respondeu com desdém mas logo depois bagunçou o cabelo macio da criança, como um concordar silencioso. Joffrey resmungou e afastou a mão esbranquiçada dele. Rhaenyra sorriu em sua direção e deixou um beijinho na testa do filho.

— Sor Harrold. – Chamou o manto branco, este que se aproximou e curvou a cabeça pata a princesa. — Por favor, leve meu filho e meus sobrinhos para o jardim, não tire os olhos deles, tudo bem?

— Como quiser, Vossa Alteza.

Joffrey pulou de animação e voltou para perto dos primos, que já estavam com a expressão murcha, – aparentemente aquele velho falou alguma coisa para eles.

Joffrey pensou.

— Já pedi.

— Isso são modos, príncipe?

Joffrey pigarreou e empinou o nariz.

— Oh, perdoe-me, Vossa Senhoria. Eu já fiz minhas preces a minha mãe, esta na qual é a sua princesa. – Ele engrossou a voz em zombaria. — E herdeira do trono...

Ele sussurrou, mas audível o suficiente para chegar nos ouvidos da antiga mão do Rei. Aegon se aproximou de repente, com um copo de bebida na mão e passou os dedos suavemente na cabeça da filha.

— Qual o problema por aqui?

— Queremos brincar! – Jaehaerys disse de repente, com o rosto meio emburrado e braços cruzados, Joffrey sorriu orgulho e levantou um dedão para ele. — Mas... o s-senhor não está deixando... – Se referiu ao Hightower.

Aegon estreitou os olhos para o avô.

— Não vejo problemas nisso, eu já imaginava que você iria querer fugir daqui e levar meus filhos de refém.

Bateu com a ponta do dedo na testa do sobrinho e Joffrey resmungou uma risada.

— Mas há um problema. – Otto pontuou com a voz firme. — Jaehaerys precisa prestar atenção na realidade dos homens em batalha ou ele irá ficar estagnado em um mundo fantasioso. O sangue é o de menos, e futuramente, Jaehaera estará aqui, observando homens para um casamento.

Joffrey quis, realmente, chutar a canela dele. Igual fazia com Daemon nos treinamentos.

Assim que a língua afiada da criança iria se fazer presente, Aegon jogou o resto da bebida que estava na taça de ouro pela arquibancada, – provavelmente caiu na cabeça de algum plebeu, – e deixou o objeto na mesa atrás dos assentos principais.

— Meus filhos querem brincar, então eles vão.

— Aegon. – Otto disse como se quisesse revirar os olhos, sempre farto do filho mais velho de Alicent. — Realmente...

Meus filhos, vô.

Ele continuou, pouco interessado, mas pela primeira vez, com o olhar firme. Otto engoliu a seco e remexeu os dedos, sorrindo pequeno e gesticulando com a cabeça, – se afastando logo em seguida.

Joffrey olhou para Aegon e fez um sinal com os dedos em círculo e tentou piscar um dos olhos, falhando como usual.

— Vamos caçar algumas borboletas, subordinado!

Ele ergueu o punho para a as duas crianças como um comandante de guerra, os gêmeos fizeram o mesmo e correram atrás do garotinho de cabelos castanhos, o manto branco logo atrás dos pequenos, – com uma risada presa nos lábios.

Aegon se encostou na mesa e sorriu.

Sorriu genuinamente feliz.

Os aplausos e gritos de aprovação não tardaram a surgir, enchendo o ar com uma energia elétrica. Dançarinas, com suas vestes esvoaçantes e coloridas, executavam passos graciosos, suas danças complementando a atmosfera festiva. O torneio em nome do príncipe Lucerys foi um sucesso retumbante, um dia de glória e celebração que seria lembrado por muitos anos. O Velaryon suspirou, batendo as palmas.

Mas honestamente, ele estava quase dormindo. Ele passou a ser mais forte com sangue depois de vez a cabeça de... como era o nome mesmo? Ele pensou por um instante. Ah, sim! Vaemond Velaryon, – depois de vez a cabeça dele ser cortada no meio da sala do trono por Daemon.

Ele respirou um pouco desconfortável, quase como se sentisse o cheiro de sangue entrando em suas narinas. Seu coração se agitou de repente, ele apertou o peito, olhando para acima como um instinto.

Um rugido de dragão foi escutado, fortemente por todos. Os plebeus tremeram em seus bancos, os nobres não ficavam muito atrás. Daemon olhou para Rhaenyra, não era Caraxes e muito menos Syrax. Sunfyre dormia da última vez que Aegon o viu, Dreamfyre compartilhava o mesmo destino.

Aemond, sentado distante, calado o tempo todo, com uma fadiga crescente na cabeça e a raiva por suas veias, sabia que não era Vhagar. O velho dragão também dormia, por isso o Targaryen não deu escape para voar, não iria incomodá-la, ainda mais depois de terem voado praticamente a tarde inteira no dia anterior.

Andrômeda.

A mente de Lucerys gritou, ele levantou da cadeira.

— Peçam para todos os convidados evacuarem, agora!

Ele brandiu alto, Rhaenyra levantou rapidamente e fez um comando com os dedos, Alicent logo atrás com os outros guardas. Os plebeus correram dos acentos, assim como os nobres de suas tendas.

Estava silencioso, Helaena apertava os dedos entre si, Jacaerys silenciosamente olhou para Baela, esta que afagava as costas da Targaryen suavemente. Aegon achava que estava bêbado, mesmo não tendo bebido quase nada naquele dia, – surpreendentemente.

Os céus, antes silenciosos, brandiram de repente com a sombra de um dragão largo, tão grande que quase cobria o pátio da festança. Escamas azuis, tão frias quanto o gelo cortaram o vento e asas fortes pousaram no chão de areia, um rugido feroz saindo dos dentes avermelhados, estava com raiva, procurando por seu montador, com os olhos azuis gritando perigo.

Lucerys saiu como um raio, seus passos quase errantes, acabou esbarrando em Aemond no processo de sua pouca corrida até as escadas de pedra, ultrapassou os limites da arena se apoiando nos batentes e entrando em um pulo.

Gīda, Andrômeda! – "Calma." — Nyke'm kesīr. – "Eu estou aqui." O príncipe disse, a voz suave enquanto ele se aproximava devagar, mostrando bem suas feições para o dragão, Andrômeda rosnou, quase um ronronar. — Nyke'm kesīr...

A voz do montador agiu como um bálsamo, Andrômeda ronronou, – na cabeça de Lucerys ele parecia apenas um gatinho, mesmo que tivesse acabado de evacuar uma arena inteira apenas para vê-lo. Não era adorável?

Mas Lucerys sabia que não era apenas aquilo, enquanto ele levava os dedos macios enfaixados por luvas de couro até o focinho do dragão, que balançava sua calda maior animadamente, fazendo ondas de terra na pista, os demais da arquibancada ainda estavam um pouco... surpresos pelo fato do príncipe possuir um dragão selvagem como aquele.

— Céus! Imagine se as crianças estivessem aqui. – Alicent disse exarcebada, segurando na manga do próprio vestido. — Que perigo. – Felizmente Maelor também havia saído com a criada.

— Mas eles não estão.

Jacaerys pontuou entediado.

— Mas que ultraje, com todo respeito, é um perigo este dragão... selvagem querer invadir os locais como bem quer. – Otto disse com a voz desgastada. — Foi um erro deixá-lo fora do Fosso.

Rhaenyra o olhou de escanteio e virou o corpo em sua direção, o vestido vermelho brilhando pelo pouco sol, as jóias de ouro e pedras preciosas reluzentes em seu pescoço e pulso.

— Se o dragão de Lucerys ficasse preso, especialmente com sua natureza selvagem, os dragões do Fosso iriam sofrer as consequências.

— Isso é algo óbvio, não é difícil pensar, Otto.

Daemon disse em um suspiro pouco vantajoso enquanto mordiscava uma uva que pegou do pote de Jacaerys.

O Hightower iria responder, alguma reclamação novamente.

Foi então que a chegada de uma inesperada delegação trouxe um novo fervor aos demais, os guardas postos e subindo as espadas. Andrômeda moveu o focinho na direção de Lucerys, como se o avisasse para subir em suas costas, o Velaryon moveu as mãos pelas escamas dele, – o dragão estava impaciente. Lucerys sabia que Andrômeda queria que ele subisse e dissesse o comando para alguma ameaça, provável ameaça.

Os olhos de Lucerys passaram pela queda vazia, apenas com os guardas nas pontas, Criston Cole estava praticamente pronto para matar alguém, apenas não se aproximava mais por causa do dragão de Lucerys.

O Velaryon agradeceu mentalmente por essa distância.

No horizonte, um grupo distinto de guerreiros avançava, suas silhuetas recortadas contra o céu. À frente, estava Lagertha, – sim, Lucerys a reconheceu facilmente, as tranças com presilhas pequenas de jóias em seu cabelo dourado, ela marchava com a cabeça erguida, apenas quatro mulheres e dois homens de confiança ao seu lado, o de fios castanhos sabia que era apenas uma parte de seu exército.

De longe, Otto tremeu. Pela primeira vez em alguns anos.

— Não pode ser...

Falou tão baixo que ninguém escutou, Rhaenyra se alarmou, Sor Erryk disposto ao seu lado, pronto para escoltar a princesa. Daemon segurava na irmã sombria, entortando os olhos.

— Eles não ousariam, ousariam?

Se perguntou, incrivelmente Aemond pensou o mesmo.

Invasão ao castelo? Com um grupo minúsculo daquele? Impossível.

Otto Hightower, no entanto, sabia exatamente o que aquilo significava. Porque ele conhecia aquela mulher.

Seus cabelos loiros trançados balançavam ao vento, e sua armadura de couro e metal reluzia à luz do sol. Ao seu redor, homens e mulheres de aparência feroz, marchava em perfeita sincronia, suas armas brilhando com uma intensidade ameaçadora.Os olhos de todos se voltaram para o grupo à medida que se aproximavam do campo de torneio.

— Sor Arryk, escolte meus filhos daqui imediatamente!

— Sor Erryk, escolte meus filhos daqui imediatamente!

Alicent e Rhaenyra falaram em sincronia.

Lucerys quase formou um sorriso. Ele massageou uma das escamas duras de Andrômeda, um carinho sútil, se aproximando do dragão e encostando o corpo menor ali cimos braços cruzados, como se fosse uma parede.

Raqirossa. – "Amigos," ele disse. O dragão macho bufou, jogando o focinho no chão, preguiçosamente e Lucerys riu. — Mãe! Não é necessário... confie em mim.

Ele falou em um tom mais alto na direção da progenitora, a Targaryen remexeu o nariz e subiu o vestido, pronta para descer. Daemon bufou, quase como Andrômeda, ele gostaria de uma briga injusta.

— Querida, você vai se sujar.

— Eu tenho vários vestidos, deuses.

Resmugou e Daemon riu, a oferecendo o antebraço, a princesa pegou e eles desceram. Os demais não acharam necessidade em descer, mesmo com o pequeno susto, Jacaerys se apoiou no batente e deu um olhar confortante na direção de Helaena.

Foi o suficiente para a princesa suspira suave e Baela também sorriu, brincando com o cabelo de Jacaerys.

Murmúrios de curiosidade e espanto percorriam as arquibancadas por parte dos criados que restaram. Lagertha caminhou com passos firmes em direção ao estrado de areia onde a princesa Rhaenyra e o príncipe Lucerys estavam, Daemon atrás deles juntamente com Andrômeda, o príncipe desonesto segurava na bainha da espada como uma águia. Ou melhor, um dragão.

Princesa Rhaenyra Targaryen? Bem... oh, ela é bonita.

Foi seu primeiro pensamento ao se aproximar.

Lagertha parou diante de Rhaenyra, seus olhos azuis fixos nos da princesa.

Ela se ajoelhou, e seus guerreiros seguiram seu exemplo, ajoelhando-se em uníssono. Rhaenyra arregalou os cílios de repente, confusa. Os demais também, menos Lucerys.

Aemond lançou um olhar distante para o avô.

Ele sabia que o mais velho era... sorrateiro. Os ouros podiam não notar, mas Aemond conhecia cada membro de sua família.

Ele sabia que o avô estava praticamente suando frio.

— Princesa Rhaenyra Targaryen. – Lagertha começou, sua voz firme ecoando pelo campo. — Eu sou Lagertha, escudo de meu povo, e venho de terras distantes para oferecer a você a minha lealdade. Reconhecemos você como a herdeira legítima do Trono de Ferro e juramos nossa fidelidade a você. — A guerreira ergueu seu olhar para Lucerys, encravando sua espada de aço firme no chão. — Minha espada é sua, príncipe Lucerys Velaryon. Minha espada pertence a casa Velaryon e a casa Targaryen. Meus irmãos agora são seus irmãos de guerra. Você me tem, e ao meu exército também.

Ela sobrou os joelhos para o bastardo.

Para... Rhaenyra.

O pensamento do homem mais velho era apenas um.

Os olhos lilases de Rhaenyra brilharam com o pouco sol, Lagertha ergueu a cabeça, olhos azuis encontrando íris lilases, – tão diferentes, uma prova que a casa Targaryen era mesmo... diferente dos demais. A de fios dourados sempre achou exarcebada as histórias que contavam dos Targaryens, de sua beleza. Deuses, ela achava história para criança dormir.

No entanto, talvez agora ela entendeu o porquê a princesa herdeira era chamada de "Deleite do reino."

Lucerys sorriu genuinamente para si mesmo.

As engrenagens estavam começando a mexer.

Ele estava começando a se mover.

Sua mãe seria a rainha nesta linha do tempo.

Custe o que custar.

























































— • —

AEEEEE VOLTEI!! ><

Quase 10K para compensar o tempo perdido, espero que tenha valido a pena. <3

oi meus amores, desculpem pelo sumiço!! eu estava esperando ficar de férias para poder atualizar e FINALMENTE estou! boas notícias, provavelmente todo sábado terá capítulo novo em horários distintos, sem confirmar totalmente, mas vou fazer de tudo para que isso seja possível! beijinhos 💋💋💋

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