14.

CAPÍTULO CATORZE:
A amizade surge de uma empatia, mas sobrevive de reciprocidade.

"É uma hipocrisia esforçarmo-nos para ser bons; temos de nascer bons ou então não vale a pena metermo-nos nisso."


































Após a partida do príncipe, Lagertha entrou em uma série de devaneios consigo mesma. Fazia amarrações em lanças, que futuramente seriam usadas no embate futuro que aconteceria próximo aos campos. Suspirou ao dar um dó forte, uma das suas companheiras regressou ao seu lado e tocou em seus ombros tensos.

— A visita daquele garoto te frustrou, não foi?

— Um pouco. – Ergueu o corpo para cima. — Não tenho tempo e nem respiração suficiente para perder com isso... e mesmo assim não paro de pensar em suas palavras.

— Se te consola, tenho novidades sobre o número de homens em campo.

— Me diga.

— São pelo menos quinze mil deles em terra firme, sem contar os quase cinco mil em cavalos.

A mulher de fios dourados grunhiu em raiva.

— Isso é muito mais do que eu imaginava.

— Mas seu irmão garantiu que conseguiria apoio.

— Eu não sei se dá para levar as palavras dele ao pé da letra. – Massageou as têmporas. — Mas ele não faria tal coisa conosco. Sei que conseguiu e que irão chegar no momento necessário.

— Tem certeza, Lagertha? – Desconfiou cruzando os braços. — Não acha melhor recuarmos? Temos mulheres com crianças.

— Ele me deu a sua palavra. – Disse tentando convencê-la, ao mesmo tempos que também queria se convencer dos próprios dizeres. — Meu irmão é um cafajeste. Mas não um assassino. Ele não nos mandaria sem ter certeza que teríamos apoio e chances de vencer. Ele não faria uma chacina em seu próprio bando.

A mulher suspirou. As palavras saindo a seco e a garganta se fechando, como se um mau presságio estivesse invadindo seu corpo. A contrária apenas fez um gesto como se concordasse.

Lagertha acreditava no que falava, mesmo que tivesse suas controvérsias.

A confiança cega é um ato doloroso.

A confiança de um irmão ou uma irmã é mil vezes mais acirrada.

O que era uma lástima para Lagertha.

Porque Aario não havia mandado nenhuma carta para nenhum lorde em preces de ajuda.





























O sol começava a ficar mais frio, quase como se quisesse sumir ao longe, mas nunca saindo da visão. Lucerys tinha as costas apoiadas nas asas de Andrômeda, a respiração do dragão era lenta e em uma calmaria tão reconfortante que aquecia o coração tempestuoso do príncipe. Ele murmurava as vezes, e recebia um bufado da besta azulada.

— Eu não sabia que seria tão difícil assim. – Resmungou. — Se as coisas fossem mais fáceis... eu apenas diria: "Cortem a cabeça deles!" – Exclamou levantando os dedos tal qual um Lorde faria ao dar suas ordens. — Mas a Corte é tão burocrática.

Uma ventania agraciou seus fios que voaram em sua direção.

— Mas... eu acho que o tempo está ao meu favor, de certa forma. Conheci Lagertha na véspera de uma batalha contra seus maiores rivais. – Tentou rir. — Conquistar a confiança de alguém é muito difícil. E se não der certo, vou me consolar dizendo que tentei ao menos.

Massageou um dos ombros com os dedos, levou a mão até as escamas de Andrômeda. Ao redor havia uma mancha grande de sangue, no pequeno morro que estavam, então ele pensou que o animal se alimentou enquanto estava fora. Lucerys se levantou e ficou de pé, o vento mais uma vez balançou suas vestimentas e seu cabelo, o sol cada vez mais frio.

Os livros, de fato, são as relíquias que ele mais preza e gosta de ter ao seu redor. Foi graças a eles que teve uma pouca ideia das indiferenças entre os Sothaki e os Viorianos. Antigamente, eles brigavam por uma terra específica, onde a agricultura era promissora por conta do grande número de rios e a terra fértil. Ficava em uma posição boa pelo sol, ainda mais em campo aberto, o que é algo raro de achar. Na época, obviamente os Sothraki obtiveram a vitória. O que feriu o ego, não apenas dos Vitorianos, mas de várias outras tribos por ser grupos de guerreiros especialmente comandados e batalhados por mulheres.

Elas são o grande símbolo dos Sothraki. Seu número de homens é promissor, mas são as mulheres que se destacam. Suas lanças firmes, tem uma beleza divina, e ao mesmo tempo, uma arma afiada. Elas são inspiradoras. Os Vitorianos possuem esse nome pela ganância óbvia dos homens. Foi o que o príncipe Velaryon pensou. Eles se denominaram assim por serem vitoriosos. Por ser a forte figura masculina, por assim dizer.

As bocas dos fofoqueiros corriam dizendo que uma nova batalha entre eles foi afirmada por um acerto de contas do passado. Aos mais modestos, vingança. Eles queriam seu orgulho de volta. Queriam as suas terras. E ainda mais, queriam a cabeça de Lagertha Thorged imposta em suas lanças. Pois foi ela que estivera na chamada: Batalha do sol queimado. Foi ela quem matou sozinha mais de cem homens. E talvez teria matado mais se não houvessem recuado.

Como um sinal, Lucerys viu a ventania aumentar, as nuvens se afastarem é um exército ao longe. Forçou os olhos para ver o que era um conjunto enorme de soldados com armaduras em vermelho cobre e detalhes de ferro. Andrômeda pareceu sentir sua agitação e bufou, levantou o corpo pesado, como se estivesse querendo proteger sua montaria. O Velaryon levou sua mão até as escamas do dragão e a massageou levemente.

Um sorriso pintou seus lábios, ao mesmo tempo que um certo sentimento de nervosismo. Engoliu a seco no instante que retirava a areia de suas vestes. Caminhou até a traseira do dragão, firmou seus dedos nas costas dele e subiu com precisão. Reforçou a segurança das mãos nas escamas e em seus espinhos grossos, o animal gélido levantou voo para trás de uma colina, começando a sobrevoar acima dos céus e se camuflando entre as nuvens para que não fosse visto.

Pois a forma mais estraçalhante de atacar um inimigo, é o surpreendendo.























Joffrey piscava os olhos lentamente, um pouco de baba escorria pela sua boca e ele quase caiu da cama. Mas se alertou ao ver sua postura se desfazer. A princesa contava-o animadamente das aventuras que tinha com Daemon Targaryen, seu atual padrasto. De vez em quando ela sorria e ria consigo mesma. O menor amava, – não, de verdade, Joffrey amava ouvir a voz da sua mãe. Mas toda vez que ela contava como gostava de quando Daemon roubava beijos dela, deixava um embrulho em sua barriga.

Ele era bem ciumento também. Apesar de gostar do outro príncipe e o considerar parte fiel de sua família, era esquisito na sua cabeça que a progenitora amasse outro homem além dele.

— Oh, querido, estou te enchendo com essas histórias bobas, não é? – Ela perguntou rindo, logo aproveitou para passar os dedos carinhosos nos cachos do mesmo. — Afinal... seus irmãos sumiram de repente.

Olhou ao redor do quarto e Joffrey rapidamente se alertou.

— Mãe, vamos dar um passeio pelo pátio! Ver as flores...

— Joff... você ao menos gosta de flores.

Fez um beicinho carrancudo, então, um sorriso se fez presente. Aquele sorriso mais adorável que ele poderia distribuir no campo de visão da mais velha.

— Assim elas verão que a senhora é a flor mais linda.

— Querido...

E como imaginou, o coração de Rhaenyra derreteu igual uma manteiga. Ela segurou em sua mão e ambos caminharam para fora dos aposentos. Joffrey desfez o sorriso e bateu a mão na testa.

— O que eu acabei de dizer...

Não estava sendo tão ruim. Mas Joffrey nunca esquecia um favor, mesmo que ele fosse apenas uma criança. Seus olhos viram rapidamente a Rainha-Viúva conversando com Aegon, ele mantinha o olhar opaco, o Velaryon podia perceber facilmente. Ela falava palavras que eram duramente jogadas no rosto dele, não sabia ao certo o que era.

E, novamente, Joffrey era uma criança.

Então ele constantemente se perguntava do porquê que era tudo tão diferente entre sua família. Todos eles do castelo tinham parentescos em comum, mas parecia que apenas alguns deles eram parentes, de fato. Joffrey pensava que toda criança merecia ter o amor dos pais. Assim como ele teve dos seus. Bom, ele tem dois pais em seu histórico, e o amor que Rhaenyra o dá é quase equivalente a um amor familiar inteiro.

Ele podia não gostar de algumas pessoas desse meio.

Mas os parentes deveriam amar o seu sangue, assim como os dele amam ele, certo? Todo mundo deveria ter o direito de ter alguém para cuidar de seus cabelos quando estivesse com sono, assim como Baela e Rhaena fazem. Poder aprender valiriano com Jacaerys e ganhar biscoitos dele quando consegue traduzir pequenos textos. Ou poder escutar as palavras de conforto de Lucerys. Receber abraços e beijos aconchegantes de Rhaenyra quando estivesse com medo de um monstro debaixo da cama ou ser protegido por Daemon por causa do mesmo monstro debaixo da cama. E escutar histórias de Corlys e Rhaenys sobre as expedições que o Serpente Marinha teve ao longo de sua vida.

Os parentes deveriam olhar com amor para os seus. Com um olhar singelo, puro e sem obrigações.

Então porque Alicent e Otto olhavam para eles com apenas um olhar?

O olhar que grita dever.

Honra e dever.

Se isso parecia desgastante para quem estava fora, imagine quem estava dentro.




— Você continua próximo daquele garoto. Desde quando isso acontece? Vocês nunca se falaram! Eu não quero você perto dele, está me ouvindo?

— Por que isso é tão importante? Eu não posso nem me aproximar de uma criança? Eu não estou arranjando problemas.

— Você não entender, Aegon? Sabe muito bem os motivos pela qual quero vocês todos longe de Rhaenyra e seus filhos.

O jovem não respondeu nada, ele apenas olhou para a progenitora rapidamente e a viu dissipar a voz no instante em que a Targaryen mais velha se aproximou deles. Alicent se pôs ao seu lado e apertou momentaneamente a barra do vestido esverdeado com detalhes dourados.

O comprimento delas foi algo rápido, apenas um abanar singelo com suas cabeças.

A Hightower deu um passo à frente.

— Como... você está? – Perguntou com a voz fraca. — Estava muito agitada em nossa pequena estadia em Rochedo, está melhor?

A platinada suspirou enquanto levava a mão direita até sua pequena barriga, as memórias do dia anterior não deixava-a contente ou mais calma, apenas aflita. Porém, era reconfortante saber que foi tudo resolvido rapidamente.

— Eu estou bem. Tudo o que houve deixou-me bem alerta.

— Eu fico feliz.

A princesa apenas sorriu como um agradecimento. Um sorriso pequeno e quase passado por despercebido.

— Rhaenyra, eu genuinamente... fico feliz que está bem.

E como se suas palavras anteriores fossem grãos de areias sendo levados pelo vento, Alicent complementou sua sentença com um olhar calmo. Viveu dizendo para seus filhos se afastarem da irmã, falando os piores absurdos por suas costas. A distância, era ela o que a mulher de fios ruivos falava explicitamente para eles. Mas então, quando chegava em seu momento para concluir as próprias ordens, era em vão. As memórias assombravam-a constantemente.

Alicent apenas não saberia dizer ao certo se eram assombrações ou uma boa recordação dos tempos na qual ela já foi meramente feliz.

— Você sumiu hoje cedo.

— Eu estava... quebrando o galho para os meus irmãos. – Respondeu simplista. — Sentiu minha falta, não foi? – Perguntou com seus olhos refletindo pelo pouco sol, tocando seus dedos instantaneamente nos braços do tio.

Ele resmungou e tirou os dedos da direção de sua pele.

— Me perguntei por que o tempo parecia tão calmo. Talvez é isso que acontece no inferno quando o diabo está dormindo.

O sorriso do Velaryon caiu e então, mostrou a língua para Aegon, ele riu balançando a cabeça em negação.

— O tempo está muito bom hoje.

— É. Pois é. Tenho que concordar.

— Que tal voarmos?

— Você ainda está com essa ideia na cabeça? – Cruzou os braços e suspirou logo em seguida. — Não vai dar.

— Por que não?

— Simplesmente não vai dar.

— Vou pedir para a minha mãe. – Virou na direção contrária, e Aegon estava pronto para o parar. — Falando nela... – O mais jovem sorriu ao ver a princesa caminhar na direção deles.

Alicent se afastou aos poucos mantendo um olhar severo para Aegon, apenas um respiro longo e duradouro escapou da sua boca. Rhaenyra estava perto de ambos, o que era estranho aquela aproximação. Não aquela em específico, mas a julgar pelo fato de que Aegon e Rhaenyra nunca tiveram uma conversa. Nenhuma troca de palavras.

Era como se fossem estranhos vivendo em um mesmo lugar.

Eles apenas tinham o sangue em comum. Mas família? Não. Eles não eram família.

Nenhum deles.

— Mãe... posso pedir uma coisa?

A mesma sorriu um pouco receosa.

— Joffrey... – O de fios platinados elevou o olhar suplicante até o menor, e ele o respondeu com o chamado: ignorar. — Não...

— Posso voar com o tio Aegon?

Aquela pergunta pegou a mais velha de surpresa, Rhaenyra franziu as sobrancelhas e tombou a cabeça para o lado. Seu olhar foi até o irmão que olhava ao redor, como se não tivesse escutado ou entendendo qualquer coisa que a criança havia dito.

— Apenas vocês dois? – Questionou quase em um suspiro. — Claro que não.

— Poxa...

— Eu falei.

Quando o Velaryon iria responder mais uma vez mostrando sua língua, a princesa ergueu a postura e continuou.

— Não sozinhos.

Dessa vez, os dois viraram para olhá-la.

— Eu irei junto.

Rhaenyra não queria decepcionar o filho, por mais longe que estivesse em parte, ela percebia nas penumbras o quanto Joffrey perseguia seu irmão, igual uma criatura curiosa. Ela não confiava em Aegon, assim como Aegon não confiava nela. Não deixaria Joffrey, que apesar de ter uma língua afiada fazendo jus a um de seus sobrenomes, ainda era uma criança inocente aos perigos que o cerca.

— Vamos, Joff. Temos que colocar nossas roupas de montaria.

Ele piscou os olhos genuinamente, logo um sorriso preencheu seu rosto e ele correu para debaixo dos braços da princesa, ela o acolheu enquanto massageava seus cachos.

Aegon se sentia um pouco deslocado.

— É melhor você ir andando.

O irmão murmurou em questionamento. Ela estava falando com ele?

— Eu odeio atrasos.

Apesar da feição séria, havia um olhar singelo no rosto. Quando viu, ambos estavam caminhando a sua frente. Um pouco atordoado, o Targaryen ficou instantes imóvel onde estava, e se perguntando se deveria ir ou não. Ao mesmo tempo que ele sentia algo esquisito com essa ideia, parecia gostar da aproximação repentina. Mesmo que tivesse crescido com a idealização de que Rhaenyra não quisesse ao menos que tivesse nascido.

E pensar que, se o destino tivesse permanecido o que era, Aegon morreria sem saber que a separação era totalmente construída a partir da ganância de sua mãe e seu avô.

E da sua própria.































Os vastos campos de Westeros estendiam-se como um manto dourado sob o sol poente enquanto os três dragões pingavam majestosamente o céu. Joffrey não poderia estar mais feliz, as asas de Tyraxes batiam em perfeita sincronia com os movimentos graciosos de Syrax. Ao seu lado, Aegon montava seu próprio dragão, o belíssimo Sunfyre. As asas douradas refletiam as colinas, banhando os animais com as luzes.

A brisa fresca acariciava os rostos dos três enquanto eles voavam em formação, Syrax seguia Tyraxes por instinto, Rhaenyra sorria com o vento batendo seus fios, o sentimento confortável invadindo seu peito. Os dragões cortando as nuvens como lâminas afiadas. Aegon observava a princesa um pouco mais adiante, a quem, de alguma forma, sempre considerara mais uma pessoa comum do que uma irmã.

O loiro sentia uma alegria sutil florescer dentro de si, um calor que contrastava com o vento frio que cortava os céus. No entanto, o orgulho e a insegurança impediam-no de admitir abertamente tal emoção. Seu olhar, por vezes, desviava-se para Rhaenyra à Joffrey.

Desde que tiveram uma considerável aproximação, não haviam mais insultos aparecendo de imediato em seus pensamentos. Nem mesmo se quisesse, agora, apenas uma sensação estranha o invadia no momento em que pensava em citar tais palavras arrogantes ao sobrinho. O seu maior medo era se sentir tão vulnerável a isso, de tudo ser uma ilusão que fosse desaparecer. Porém, Joffrey o disse, – indiretamente – que se quisesse mudar, teria de vir de si mesmo, e não esperar que as pessoas façam por ele.

Mas ainda resta tempo para isso.

Não são dias que os separam.

É uma vida inteira.

Embora não admitisse plenamente a felicidade que aquela experiência lhe proporcionava, o simples fato de estar ali, ao lado Rhaenyra, já era uma quebra das barreiras que haviam existido por tanto tempo. Enquanto os dragões deslizavam pelo céu em perfeita sintonia, ele se permitiu apreciar a rara oportunidade de compartilhar esse momento único. Porque talvez nunca mais fosse acontecer.

A primeira a pousar foi Syrax, sendo seguida pelos outros dois.

Era uma situação um pouco constrangedora, quer dizer... ele não sabia muito bem o que falar. Desceu de Sunfyre de forma desengonçada, Joffrey riu de si e apenas respondeu com uma carranca. Se desfazendo das amarrações, o Velaryon abriu os braços e chamou a mais velha, Rhaenyra o pegou e colocou no chão logo depois.

Os dragões se estranharam de imediato, mas seus montadores não estavam em conflito, o que foi fácil de acalmar.

— Isso foi muito divertido! – Sorriu contente. — A gente tem que fazer de novo!

— Claro. Eu sempre estarei disposta a voar. – Seu olhar foi até o irmão, Rhaenyra retirou suas luvas observando os Guardiões levarem os dragões até o Fosso. — O seu dragão é bonito, Aegon.

— O mais lindo. – Sorriu ao escutar o elogio para Sunfyre, mesmo que ainda fosse estranho, qualquer elogio para seu dragão era bem vindo por ele. — Você também é bonita. Quero dizer... Syrax é bonita! Tyraxes também! Eles são lindos.

As palavras saíram confusas, seu raciocínio não foi dos melhores. Joffrey fez uma careta.

— Pirou total.

Rhaenyra deu um beliscão no filho e ele massageou o local, mesmo com dor, jurou ver Aegon sorrindo de um jeito maléfico para si.

— Princesa! – Um dos guardas vinha afoito na direção da mesma, Rhaenyra o olhou de canto. — Chegou um pergaminho encaminhado à Vossa Alteza.

— Deuses... o que houve dessa vez... – Suspirou cansada, começando a sentir os ombros pesarem. — Vamos entrando também, está começando a entardecer.

Seu caminho foi mais à frente. Joffrey ia atrás com o Targaryen mais velho, que permanecia perdido em seus próprios devaneios confusos sobre o que acabou de acontecer. Ainda era muito estranho.

E a única coisa que conseguiu perguntar foi:

— A sua mãe pode voar estando grávida?

A criança bateu na testa com a palma da mão.

— Eu tenho que te levar para a biblioteca e fazer você ler sobre as mulheres Targaryens.

























Os corredores de pedra escura ecoavam com o som suave das botas de couro que Rhaenyra trajava, indicando sua chegada à presença de seu tio.

— Roupas de montaria?

— Longa história. – Se aproximou da mesa, o mais velho chegou perto com o pedaço do papel amarelado em mãos. — O que houve?

— Melhor ler por si mesma.

A princesa quebrou o lacre e desdobrou o pergaminho, os olhos escaneando as palavras com rapidez. Seu coração pulsava com uma mistura de ansiedade e nervosismo. O conteúdo do papel parecia transcender a formalidade costumeira das mensagens.

"Princesa Rhaenyra", lia ela em voz alta, "informo-lhe que seu filho, Lucerys Velaryon, voou com seu recém-domado dragão até os campos de batalha. Lá, ele travou uma luta contra os Vitorianos, abatendo um exército com mais de vinte mil homens."

Um silêncio tenso pairou no salão, interrompido apenas pelo farfalhar das vestes de Rhaenyra enquanto ela processava as palavras. A notícia era tanto impressionante quanto inesperada. Em que momento Lucerys havia saído do castelo?

E por que parecia uma coincidência absurda o fato de Joffrey a encher de perguntas sobre seu passado logo horas atrás?

— Lucerys.... – Sussurou sentindo uma mistura de emoções, preocupação, nervosismo e uma pitada grande de orgulho, apesar de não saber o que houve de fato. Seus olhos se ergueram para encontrar os de Daemon, que observava a reação da sobrinha com um misto de diversão. — Você adorou saber disso, não foi?

— Cada segundo.

Ele riu e Rhaenyra apertou o pergaminho com força. Seu coração se enchia de uma mistura de preocupação maternal, ao mesmo tempo que sabia que consciências os eventos nos campos de batalha poderiam moldar o destino de uma pessoa.

— Não fique assim. Não sabemos os motivos na qual ele foi para esse lugar e o que foi fazer lá. – Segurou em seus ombros e acariciou com a ponta dos dedos. — Se ele está fazendo isso, é porque sabe o que faz. De quem mais ele seria filho? Ele tem sangue Targaryen em suas veias.

— Vocês tem palavras semelhantes para me acalmar. E isso me assusta. – Riu baixo. — Desde que ele voltou... não sei, parece ser outra pessoa.

— Ele encarou a morte, vamos dá-lo um desconto.

— Eu tenho medo, Daemon. Medo que ele se perca demais.

— Ele se perderia se estivesse sozinho. E ele não está. Lucerys sempre nos terá por perto. E eu tenho certeza que a mãe dele sempre estará lá por ele.
















































Sob o ardente sol de verão, a vasta planície estendia-se como um manto dourado, testemunhando o conflito entre Lagertha, e seus acérrimos rivais, os Vitorianos. As espadas refletiam os raios solares, e o calor escaldante aumentava a intensidade da batalha que se era eminente. Lagertha, liderava seu exército com a dignidade de uma guerreira. Apesar da desvantagem numérica, mantinha a postura ereta, a espada firme em mãos, refletindo a coragem que apenas os Sothraki poderiam reconhecer.

Seus nervos estavam a flor da pele, Myria se aproximou de si, cansada e com sangue por suas roupas.

— Lagertha... onde está Aario? Ele disse que ajudaria! Que tinha reforços.

A mulher não respondeu nada, sua respiração era tensa e desregulada. Os corpos mortos no chão a deixavam tonta porque boa parte eram os corpos de seu povo. As pessoas na qual morreram lutando por seu nome.

Seu irmão não vinha.

E nenhum maldito exército vinha.

A batalha começou como uma sinfonia caótica de aço contra aço, o calor do sol intensificando a exaustão dos guerreiros. O som estridente das armas colidindo ecoava pela planície, misturando-se ao rugir das chamas que queimavam nas imediações. Lagertha e seus guerreiros, envolvidos pela poeira dourada levantada pelos cascos dos cavalos, resistiam tenazmente contra os Vitorianos, cujo exército parecia interminável. Eles tinham arqueiros, homens em cavalos e um comandante cheio de orgulho, barganha e arrogância.

O calor sufocante ameaçava minar a resistência de Lagertha, que, mesmo diante da adversidade, permanecia determinada a lutar até seu último suspiro. O suor escorria por seu rosto, mas sua vontade inquebrantável não se curvava ao calor do meio-dia e muito menos aos homens vestidos com o manto vermelho.

— Minha divina Lagertha... sua hora chegou. Tardou mas chegou.

O líder dos Vitorianos sorriu. Um sorriso sem escrúpulos e com a raiva da vingança intrincada nas suas veias.

Ela não tinha mais esperanças, havia tido uma matança, das grandes. O campo fedia a sangue fresco, os corpos esparramados pela grama que um dia já fora verde, Lagertha não recuou, ela iria continuar. Mesmo que restassem apenas cem, cinquenta, dez de seus guerreiros, ela não recuaria.

Ela nunca recuou.

Ela sentia que iria morrer. Ela sabia.

Quando empunhou sua espada, todos do recinto escutaram um rugir alto dos céus, apenas aquilo foi capaz de fazer todos pararem de lutar. Ergueram os olhos cansados para cima, não encontrando nada além das nuvens.

Um segundo estrondo foi ouvido.

Quando o destino parecia selado pelo sol impiedoso, um som distinto ecoou nos céus. Um rugido majestoso, diferente de qualquer coisa terrena, cortou o ar quente. Os olhos de Lagertha se ergueram para testemunhar um espetáculo que transcendia a própria realidade: o Príncipe Lucerys Velaryon, montado em Andrômeda, seu dragão de asas reluzentes, descia dos céus como um presente divino dos deuses.

O mesmo garoto na qual ela recusou confiança.

Agora, era o único que trouxe reforços para si.

Em questão de segundos, o dragão cortou o campo com suas asas, cuspindo chamas azuis nos vitorianos e em seus fortes. Não era um dragão comum, suas chamas não eram quentes, não era fogo. A besta tinha chamas azuis que congelavam tudo à sua volta. Ao longe, o comandante que tinha um sorriso zombeteiro, sentiu a expressão murchar por ver a fera voando na direção de seu exército e, mesmo que não houvesse escutado, alguém gritou ao fundo com a voz firme e sem medo:

— Dracarys.

As chamas geladas de Andrômeda varreram os Vitorianos, que agora enfrentavam não apenas os guerreiros, mas a fúria gélida do dragão. O exército inimigo recuou, atônito diante da chegada espetacular do aliado improvável. Lucerys sorriu virando seu torço para trás, vendo a barreira gelada construída pelo animal, deu uma batidinha das costas dele e puxou os espinhos para cima, sobrevoando as nuvens e cortando o vento.

A mulher de fios dourados sorriu de ladino, ao ver o líder dos Vitorianos abismado pela graciosidade do animal, ela correu em sua direção e encravou a espada direto em seu coração.

— Por isso dizem para nunca virar as costas para o inimigo.

O corpo sem vida caiu no chão como um sopro quando a mulher retirou a lâmina grossa da pele ensanguentada.

Ao longe, o general de combate estava aflito e nervoso ao ver seus fortes destruídos e completamente quebrados.

— PORRA! Onde estão os escorpiões?

— Não trouxemos nenhum, senhor. Não sabíamos que um dragão apareceria.

— ZARPEM AS LANÇAS.

Enquanto o sol continuava a derramar sua luz dourada sobre o campo de batalha, a euforia da vitória momentânea foi interrompida por uma súbita interrupção. O nervosismo caiu sobre o corpo de Luke no momento em que Andrômeda perdeu força de voo. Segurou nas suas espinhas grossas, contendo-o. Uma lança, lançada com precisão mortal, perfurou a imaculada asa dele, provocando um rugido de dor do dragão de gelo.

O Velaryon guiou Andromeda a um pouso rápido e controlado. O dragão, com sua asa ferida, aterrissou com uma mistura de graciosidade e dor. Lucerys desmontou com agilidade, seus olhos refletindo preocupação enquanto observava a lança cravada na asa escamada.

Forçando seus braços, Lucerys começou a retirar a lança da asa. Cada movimento, meticulosamente calculado, visava minimizar o sofrimento de Andrômeda. Apesar da ferida, permanecia relativamente calmo, sua respiração pesada indicando o desconforto. Enquanto Lucerys cuidava da besta em terra, um grupo de guerreiros Vitorianos, percebendo a vulnerabilidade do príncipe, avançou com rapidez em sua direção. O brilho das lanças e espadas reluzia à medida que se aproximavam, determinados a aproveitar a oportunidade de atacar o garoto.

Lagertha ajudou-o de imediato, pegou um bastão afiado intricado no chão e o jogou com precisão na direção de pelo menos dois deles, acertou três.

Mas restaram quatro deles..

Andrômeda, mesmo ferido, detectou a ameaça iminente. Seus olhos gélidos focaram no grupo de guerreiros que se aproximava. Sem esperar por comandos, uma rajada de chamas geladas jorrou de sua boca, congelando instantaneamente os inimigos em suas trilhas. O calor do verão converteu-se em frio glacial quando os guerreiros, agora transformados em estátuas de gelo, quedaram-se imóveis no campo de batalha.

Lucerys, ao observar o poder intuitivo de Andrômeda, sentiu uma mistura de surpresa e fascínio. Uma conexão profunda tornou-se evidente. Os laços que os uniam, queimavam não apenas no fogo da batalha, mas também nas veias do príncipe. Algo marcado por um entendimento mútuo que vai além das palavras.

Vendo a derrota iminente, os guerreiros recuaram. Correram e tropeçaram com medo do dragão jogar suas chamas. Não restava mais nada. Lucerys suspirou fundo, mesmo que não tivesse participado fisicamente da guerra, o medo tomou conta de seu peito como uma faca encravada. Medo de que algo acontecesse com Andrômeda.

— Obrigada.

Sussurou quase que para si mesmo, encostando a testa no focinho alheio. Os restantes pareciam abismados, tinham medo de se aproximar,as o fascínio era nítido em seus rostos. O dragão era imenso, ocupava um espaço considerável do campo, sua calda relaxava no chão. Por mais que compartilhasse do mesmo tipo de sentimento, Lagertha se aproximou. Andrômeda rugiu baixo, como se fosse um aviso para se afastar. Lucerys acariciou sua pele como um aviso prévio de que estava tudo bem.

— Eu ao menos sei o que dizer.

— Não precisa.

A mulher suspirou.

— Não. Precisa sim. – Pegou sua espada e a enfiou na grama suja. — Eu tenho que agradecê-lo, não são palavras rasas que irão refletir toda gratidão que eu sinto, mas saiba, príncipe Lucerys, que eu estou grata por ter nos salvo. Mas eu realmente não entendo... por que ir tão longe por alguém que você não conhece?

— Eu faria coisas inimagináveis se isso significasse trazer mais força para minha mãe. E eu não me importo de invadir algumas terras e entrar em discursões que não são minhas. – Ambos deram uma risada sem graça. — Eu tenho que voltar.

Olhou para seu corpo um pouco sujo pela poeira.

— Não ache que eu fiz isso especificamente para conseguir algo em troca. Eu fiz por fazer. Porque é o certo. E porque eu acredito que você será mais forte se for aquela pessoa que segue seu povo. Lagertha, não nos conhecemos, mas quem foi que lutou incansavelmente ao lado de suas pessoas? O líder em questão não foi. O que quero dizer... é que você tem uma escolha. E se quiser lutar ao lado de minha mãe, sabe onde me encontrar. Não aceite as palavras sem significado de Otto Hightower. Se matar você ou sua tribo fosse sinônimo de conseguir o que quer, ele faria sem pensar. Isso não é recompensa, é carcaça.

Caminhou até Andrômeda, ele remexia a asa. Estava melhor, não era tão doloroso por ser de uma simples lança. Subiu nas costas do dragão e segurou fortemente, deu uma última olhada para a mulher de fios dourados antes de levantar voo.

Astrid correu perto dela com um semblante preocupado.

— O que faremos?

— O que eu já deveria ter feito.

Sua feição mudou drasticamente. Agora, um puro sentimento de ódio esvaia em seu peito. A raiva por Aario era crescente.

Nada mais seria como antes.



















O retorno até Porto Real foi bem calmeiro, a cabeça de Lucerys doía, e ele esperava não receber tantos questionamentos. O sol começava a se esconder no horizonte, ao avistar o morro, pousou com maestria mas de forma mais desajeitada. Desceu tropeçando nos próprios pés, quando sentiu a terra abaixo se segurou nos joelhos. A direção subiu até Andrômeda, passou as mãos na lateral de sua asa machucada.

E bastou apenas um olhar para que o dragão virasse para voar aos arredores de Porto Real, ele dormiria por perto e procuraria comida. Então o mais jovem não se preocupou com aquilo. Dois guardas e dois guardiões se aproximaram.

Mas apenas um dos mantos brancos lhe chamou a atenção.

Era Erryk.

Se sentiu calmo e ao mesmo tempo, aflito.

— Alteza. – Fez uma reverência como respeito. — Não acha perigoso o dragão ficar solto? Pode acontecer algo.

Lucerys suspirou retirando as luvas enquanto olhava a criatura se afastar.

— Ele vai estar por perto. E eu não quero Andrômeda preso no Fosso... – Uma lembrança veio à tona nos seus pensamentos. — Não existem memórias boas de lá.

— O que disse, príncipe?

— Nada demais. Me acompanha?

— Estou à sua disposição.

Caminharam em silêncio, o Velaryon viu um dos guardas mais à frente.

— Você está bem? Aconteceu algo em minha ausência?

— Não ocorreu nada. – Travou a fala por um instante. — Mas tenho algo para contar.

Lucerys apenas o olhou para que continuasse.

— Eu já resolvi... tudo.

O de fios castanhos arregalou os olhos momentaneamente.

— Por que?! Eu disse que o ajudaria. Você tem noção do que pode ocorrer se descobrirem? Eu poderia ter ajudado você, Sor!

Apesar da voz exaltada, não se atreveria a falar alto o suficiente ao ponto dos demais escutarem. O sentimento de impotência corria por si igual o sangue nas suas veias.

— Meu dever é proteger o reino. – Seus olhos azuis pararam rente aos olhos castanhos que observavam-no. — E eu farei. Não importa se custará minha cabeça por isso.

Lucerys engoliu a seco, eles ficaram um tempo calados, se olhando. Perdidos na imensidão dos próprios olhos.

— Luke! – A voz atônita de Rhaenyra fora ouvida pelos corredores iluminados por tochas. — Finalmente está aqui.

— Mãe, eu...

Sua voz foi cortada por um abraço caloroso da princesa, o príncipe respirou aliviado, como se um peso houvesse caído dos ombros. Retribuiu e Erryk achou congruente se afastar. A herdeira desfez o abraço e levou as mãos até o rosto do filho, examinando as haviam machucado, e não era mais nada que um pequeno arranhão na bochecha. Outro suspiro foi escutado, e era mais um de alívio.

— Não sei onde foi, ou com que propósito o fez. Mas eu confio em você. O que fez... acredito que teve suas razões. Não sei se houve vitória ou derrota no que procurava, mas não precisa me dizer nada. Vamos apenas descansar e jantar juntos. É tudo o que eu quero e preciso. Meu filho ao meu lado.

Seus lábios tremeram, mas ele se recusou a deixar derramar uma gota de lágrima. Segurou fortemente e confirmou com a cabeça.

— Sim, mãe.

Antes de saírem juntos, Lucerys deu uma última olhada para o homem que havia capturado sei olhar abaixo das tochas acesas, sorriu minimamente.

E aquilo foi o necessário para o Cargyll saber que ele estava grato.










































































































































Os corredores começaram a ficar menores, um suspiro da ventania correndo pelas janelas de vidro e a penumbra da noite caída se esvaindo e refletindo no vidro. Um arrepio percorreu pela espinha, mas não sairia de lá sem antes conseguir o livro que queria. Foi recebido com compreensão pelos outros, mesmo que Jacaerys tivesse ficado em suas costas para saber o que fez e onde estava. Joffrey, por outro lado, o contou sobre ter voado mais cedo com a mãe e o tio, e seria eufemismo se Lucerys dissesse que não ficou preocupado.

Ele ficou muito preocupado.

Não queria que nenhum deles se envolvessem com os tios. E desde que voltou, o rumo das coisas tomaram proporções muito distintas e mudanças eram aparentes.

Em nenhum momento imaginava que pudesse ser possível.

Gostava de imaginar que era um sinal bom e não um mau presságio.

A porta foi aberta com dificuldade, era pesada e espessa. As botas de couro pisaram uma última vez no piso, o corpo parou no instante que viu a figura dele.

Ele estava lá.

Sentado em um dos acolchoados, com apenas a luz de duas velas principais iluminando o cômodo e a lareira acesa.

Aemond tinha um livro em mãos. Mas a única coisa que se passava nos pensamentos de Lucerys, era a enxurrada de memórias batucando sua cabeça e brincando com sua sanidade. Toda vez que o via, ou pensava, tudo o que tivera visto diante seus olhos, se repetia. E repetia.

Como um disco arranhado.

Engoliu a seco. O lábio inferior tremeu. Mas não era de medo. Era de rancor.

Virou os calcanhares, o corpo e caminhou de volta até a ponta da porta.

Mas o Targaryen parecia ter outros planos.

— Espere.

Ele não queria parar.

Mas parou.

Os olhos caminharam até o topo do cômodo em questão, pensando em como poderia apenas aceitar os pensamentos intrusivos e sair correndo. Mas não o fez, infelizmente.

Entretanto, uma hora ou outra isso seria inevitável. Não tem como fugir das consequências do destino.

Ou das consequências da mera sorte.

Lucerys virou em lentidão, o olhar oscilando em um semblante vazio para a sensação de nervosismo. Sua mão esquerda tremeu instantaneamente, ele a parou com o aperto da direita em seu pulso.

— O que você quer?

Perguntou de forma ríspida. Aemond, por outro lado, deixou o livro esquecido por cima da mesa. Levantou e deu uns cinco passos à frente, sendo o suficiente para estarem próximos. Uma troca de olhares foi instalada, apesar de não querer estar ali, Lucerys não iria ser o primeiro a desviar.

— Sem rodeios. Só me diga o que quer.

Ele abriu a boca por instante, as palavras sufocando a garganta, como se quisessem sair mas não sendo permitidas a terem lugar. Aemond sentiu um repúdio repentino, as palavras de Alicent ecoando sua cabeça.

Desculpas.

Desculpas?

Pedir desculpas?

Isso era patético. Por que ele teria? Ele odiava aquilo. Odiava se forçar a olhar para o rosto de Lucerys.

Odiava ter que ser lembrado do que fez.

E odiava ainda mais não por serem as pessoas o lembrando e o rodeando. E sim sua própria mente, sua própria prisão mental o fazendo repetir aquela tarde. Fazê-lo se sentir vulnerável toda vez que tentava montar seu próprio dragão.

Ele odiava imensamente Lucerys por tirá-lo não apenas uma parte de si, mas a vontade e o prazer que ele tinha ao se sentir tão grande quando montava em Vhagar. Até isso ele se sentia no direito de arrancar dele.

Mas seria tão fácil.

Ali, naquele lugar afastado dos aposentos de todos, levar seus dedos até a pele exposta dele e apertar seu pescoço até que as bochechas ficassem roxas e o ar fosse embora.

Por que ele não fazia?

Porque não conseguia.

É bem fácil imaginar fazer algo. Se ele quer tanto, ele poderia. Mas não faria.

Por outro lado, o Velaryon observou as feições do mais velho, a tensão em seus ombros era nítida e a boca tentando cuspir palavras desconhecidas por ele em murmúrios não passava despercebido. Lucerys riu por um momento.

— Deuses... você quer pedir desculpas? Desculpas?

Não houve uma resposta imediata.

— Isso é patético.

Aemond inala, lento e controlado. Ele engole tudo que passou despercebido por suas cordas vocais, – o insulto, o orgulho e a prepotência. Ele engole tudo porque é o que se espera dele. O que sempre foi esperado dele.

— Acha que eu sou tão ruim assim? Eu reconheço um erro quando o cometo, não posso dizer o mesmo de você.

— Se forem desculpas rasas, nem perca sua saliva.

— Melhor serem rasas do que não existirem.

— Seria melhor se elas nem fossem cogitadas.

Virou instantaneamente para sair. Mas Aemond não parecia ter terminado.

Não. Ele não iria engolir mais uma situação fajuta.

— Eu também era uma criança. Não apenas você, seu irmão ou Baela e Rhaena. Eu também era! – Exclamou sentindo os nervos atingirem sua pele. — Eu também tenho o direito de me sentir frustrado. De me sentir roubado. Você tirou uma parte minha.

— E VOCÊ TAMBÉM TIROU.

Sua voz correu por todo salão silencioso. Os olhos expressivos de forma raivosa eram novidade para Aemond. Logo os olhos na qual explodiam o medo ao vê-lo, pareciam furiosos apenas em olhá-lo.

— Você mesmo disse que era um olho por um dragão. – Se aproximou novamente. — Você disse com tanto orgulho que parecia um arrogante. Você tirou o meu dragão... meu dragão de mim. E acha que tem o direito de se sentir oprimido por isso? Eu tenho novidades para você, no entanto. Não tem. Você não tem direito algum de se sentir frustrado. O ÚNICO QUE TEM SOU EU.

Os dedos de Aemond começaram a ferver, ele os fechou em um punho sentindo a adrenalina nas veias. Assim como o ódio.

O puro ódio de ressentimento.

— Eu faria tudo de novo. Eu protegeria meu irmão de novo, e de novo. E quanto mais fosse necessário.

— Uma pena que seu irmão não fará o mesmo.

Tudo foi bem rápido, o mais velho se aproximou como um sopro, agarrou os pulsos de Lucerys e os dois foram ao chão. Especificamente, Aemond subiu em cima do sobrinho e segurou com força sua pele contra o carpete, a machucando instantaneamente. Lucerys soltou um grunhir de dor no quadril e nas mãos, ele se revirava e tentava se desfazer dos braços do Targaryen. Eles falavam insultos um ao outro.

Os rostos ficando avermelhados pela temperatura e toda a queimação que sentiam dentro de si. Os olhos refletiam as velas acesas, com o ódio, mais uma vez tomando conta de seus peitos.

— ME DÊ O SEU OLHO!

Exclamou com força. Cada vez mais próximos, era como se pudessem sentir suas respirações turbulentas se misturando.

— TIRE! Não é o que você quer? ENTÃO PEGA A PORRA DA SUA ADAGA E TIRA.

Aemond não o respondeu.

Tirou o objeto afiado da amarração mas sequer fez o que ele disse. Apenas a ergueu em sua direção.

Por que?

Arranque dele!

Sua mente interior gritou.

Por que parecia errado, ridículo e tumultuante pensar na ideia de machucá-lo? Isso o pegou tão de repente que o deixou atordoado e com... medo.

— Arranque...

Falou como um suspiro. Quase para si mesmo. Lucerys riu desacreditando, poucas lágrimas se formando no canto do olho.

— Você não consegue? Você quer tanto isso, por que não consegue?

O fogo crepitava nas lareiras, mas o calor da discussão tornava-se quase palpável.

— Você é tão hipócrita, Aemond! – Proclamou com uma voz ressonante, ecoando pelos salões. — Você traz à tona meus atos do passado como se eu fosse o maior problema de sua vida! Não me use como escapatória para todas as coisas ruins que você causou a tantas pessoas. Então me diga, eu estou errado? – Indagou, seus olhos faiscando de desafio, os lábios tremulos sentindo a pressão das mãos do tio em seu peito.

Aemond, inicialmente perplexo com a intensidade das palavras proferidas, o cenho franziu por um momento pela confusão, respondeu com um sorriso sutil, como se estivesse decifrando um enigma.

— Eu era apenas uma criança. – Repetiu mais uma vez, sua voz calma contrastando com a raiva que emanava de Lucerys, ao mesmo tempo que oscilava com sua própria tempestade interior. — E vocês riam de mim como se eu fosse uma atração feita por um bobo da corte qualquer! Não se vanglorie, Lucerys. Você também não se tornaria um monstro no futuro se fosse por isso?

A resposta de Aemond não diminuiu a fúria do príncipe. Com o corpo ardendo em ódio, Lucerys repreendeu.

— Eu não perguntei a você se eu me tornaria um monstro no futuro, eu perguntei se eu estava errado!

Sua voz ecoou entre as paredes como um trovão ameaçador. O silêncio não pairou, as palavras ecoaram na mente do mais velho como fantasmas do passado. Lucerys ergueu sua cabeça e a levou em direção na do próprio Aemond. Ele grunhiu em dor, se afastando rapidamente do sobrinho. A pequena lágrima escorreu no canto de seu olho em resposta ao que segurava, levantou com dificuldade segurando na própria cintura.

— Hoje... – Suspirou com a voz cansada. — Hoje eu vejo que foi errado insinuar que você roubou. Não... não foi assim. Se Vhagar deixou você montar, é porque era para ser. Eu não vou pedir perdão por ter tirado seu olho, porque isso significaria me arrepender do que fiz para proteger Jacaerys. Assim como minhas desculpas não trariam seu olho de volta, as suas rasas nunca me devolveriam Arrax.

O príncipe levantou atordoado, o gosto metálico invadindo sua boca como um vinho caro.

— Eu odeio você. Odeio tanto que poderia te matar.

— Você já fez isso, não foi? – Sorriu tristemente. — Não se sinta sozinho, é bem recíproco.

Dito isso, Lucerys saiu sem olhar para trás. Aemond ficou. Com os pensamentos frustrados e errantes, jogou a lâmina contra uma parede, ficando ela encravada contra a madeira.

Mas o mais questionável era o porquê de não ter concluído o que tanto desejava por anos.

Tendo a oportunidade perfeita. O momento perfeito.

Quis acreditar que foi por sempre seguir o que se era esperado dele.

Mas nem mesmo Aemond acreditava naquela sentença.









































〘 01 〙 ↳  FINALMENTE o primeiro encontro dos Lucemond aconteceu (🎉🎉🎉🎉🎉) nossa eu estava tão ansiosa, eles são tão caóticos né? O Aemond pensando em matar ele mas não conseguindo porque é um frouxo é tão ele. 💗💗💗

〘 02 〙 ↳  Adendo muito importante! Eu sei que demoro muito para atualizar, mas me deem um desconto 😭 eu quero trazer capítulos grandes e cheios de informações para vocês. Prometo que vale a pena.

〘 03 〙 ↳ Nossa mãe Lagertha já abriu os olhos e vai pra cima do Aario com tudo! Nós nem ama 🎉 obrigada Deus pelo pão de cada dia.

Até o próximo capítulo <3

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