11.

CAPÍTULO ONZE:
O Matador de parentes

Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o ironico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.





























Um novo dia se levanta no norte frio de Winterfell. O céu cinza e o vento cortante são testemunhas de seu poder, assim como são as grandes muralhas de pedra e o castelo majestoso que parece dominar a paisagem à sua volta. O castelo de Winterfell, a residência da Casa Stark, está rodeado por um vasto parque, onde as árvores são velhas e grandiosas.


O sol esgueirava-se através das cortinas entreabertas, espalhando suaves raios dourados pelos aposentos ricamente decorados em Winterfell. O ambiente estava impregnado com o silêncio matinal, interrompido apenas pelo leve farfalhar do tecido pesado das cortinas ao vento.


O Príncipe Lucerys Velaryon despertou lentamente, sentindo-se desorientado, com a mente ainda turva após uma noite de celebração e vinho na companhia do Lorde Cregan Stark. Os detalhes da noite anterior eram nebulosos, as risadas e conversas ecoavam como fragmentos distantes em sua memória. O quarto, decorado com móveis robustos de madeira escura e tapeçarias com os símbolos da Casa Stark, era estranhamente familiar e reconfortante. Lucerys se ergueu com cautela, sentindo uma pontada de dor de cabeça, e notou as peles de lobo do Norte cobrindo a cama, emanando um calor agradável.


Sua figura sonolenta e quase sumida entre os emaranhados de lençóis cinzentos, abriu os olhos e sentiu uma pontada na cabeça. Ele começou a ter deslumbres pequenos da noite anterior. Lucerys e Cregan Stark haviam bebido juntos, e agora ele tinha uma dor de cabeça terrível. Por um instante, imaginou que tudo havia sido um sonho, mas os pensamentos se dissiparam quando olhou para o lado e na janela robusta posta ao lado da cama, viu Andrômeda sobrevoando as margens do Norte. Um calor se instalou em seu peito e seus lábios foram agraciados com um sorriso singelo.


Enquanto tentava relembrar os eventos da noite anterior, os flashes de uma conversa animada com o Lorde Stark vinham à tona. Lembranças de risadas compartilhadas e brindes em honra aos seus feitos.



Lembrava de braços o acolhendo de forma calorosa, era protetor e instintivamente muito bom. No entanto, ele não se recordava completamente quem o segurava com destreza e o guiava em direção ao quarto.



Vestindo roupas de dormir simples e descalço, Lucerys levantou-se, movendo-se cautelosamente pelo cômodo enquanto procurava por alguma de suas vestes anteriores, ele não sabia como entrou dentro das roupas levianas e frescas no meio da madrugada, talvez tivesse sido ele mesmo em momentos de divagação do seu sono. Suas botas de couro fino estavam jogadas pelo chão e o restante das roupas de couro tinham o mesmo destino.



Lá fora, nos céus gélidos, avistou um vislumbre de escamas negras e azuis que capturou seu olhar. Era Andrômeda, deslizando graciosamente pelos céus.




O coração de Lucerys acelerou mais uma vez diante da visão. As escamas iridescentes de Andrômeda cintilavam com tons de azul e negro, reluzindo à luz do sol. As asas imensas e poderosas cortavam o ar com elegância, deixando um rastro de aura gélida no céu nublado. O dragão exibia sua imponência enquanto sobrevoava Winterfell. Seu voo era uma sinfonia de graça e poder, uma visão rara e magnífica para os habitantes do Norte, acostumados com os ventos gelados, mas não com a majestuosidade de um dragão.



Lucerys sentiu um misto de orgulho e admiração ao observar sua criatura alada. Andrômeda parecia contente por compartilhar de uma estação do seu agrado, o Velaryon até mesmo sentiu seu peito latejar ao imaginar o dragão se desfazendo do seu costumeiro hábitat apenas para o seguir. Porém, ele entrou em consenso consigo mesmo que sempre que pudesse, tomaria voo com Andrômeda para deixá-lo mais acomodado e acostumado com os ares de Porto Real.


Uma sensação de maravilha misturava-se em seu âmago enquanto ele continuava a observar o voo majestoso do seu vínculo.


Suspirou satisfeito.


Escutou passos do lado de fora, o piso era esmagado com força. Uma mistura de curiosidade e inquietação invadiu seu corpo, o príncipe avançou em direção à porta do quarto com intuito de abri-la, em instantes vislumbrou as janelas das grandes salas do castelo revelando a luz do dia, o brilho da lareira ainda acesa no centro das salas e o calor que se espalha através das paredes. O grande salão, onde os senhores e as damas se reúnem, está escuro e quieto, mas não por muito tempo. Os servidores estão acordando nas suas camas, fazendo a lareira nas salas e se preparando para servir o desjejum ao Lorde Cregan Stark e o recente hóspede, o Príncipe de Driftmark.



A sua preparação não era igualitária a que tinha em Porto Real, então ele se virou sozinho como podia. Mas durou por pouco tempo visto que algumas jovens estavam na porta de seus aposentos. Uma moça de cabelos escuros prontamente deu um passo à frente.



— Meu príncipe. – Fez uma reverência em respeito. — Lorde Cregan Stark nos enviou para cuidar de Vossa Alteza.



O de fios castanhos ficou um pouco surpreso, mas imensamente agradecido. Ele sorriu contente com a menção.



— Oh... eu devo agradecer depois. – Disse consigo mesmo. — Podem entrar.



(...)


Um manto de seda grossa vermelho-bordô, ornado com linhas douradas tecidas em padrões delicados, repousava sobre os ombros do príncipe. O tecido, macio emitia um brilho sutil à luz das velas.


As vestimentas do Príncipe Lucerys eram adornadas com detalhes simbólicos: bordados finamente trabalhados com lacunas paralelas e um cinto de couro cintilava em torno da cintura do mais jovem. As moças que o ajudavam pediram sua permissão para saírem, elas se desfizeram do cômodo enquanto o de sangue Targaryen se observava no reflexo da vidraça.


Seus dedos passando gentilmente ao redor do tecido esbelto. Ele recolheu as últimas coisas que havia trago consigo, dando uma última olhada no quarto, ele saiu. O caminho até o salão foi um pouco estranho, Lucerys nunca se acostumaria com toda essa atenção voltada para si, – e ele estava se referindo a vários pares de olhos observando seu caminhar de encontro com o Lorde da casa Stark.


Ao chegar no seu destino, a atmosfera era permeada pela cortesia da casa anfitriã, onde um farto desjejum já estava preparado. Sentou-se à mesa, desfrutando dos aromas dos alimentos frescos. Os olhos castanhos do príncipe brilharam, seu estômago estava vazio então ver uma mesa tão cheia o deixou emocionado. Colocou um dos dedos no queixo, se perguntando por qual alimento começaria primeiro.



Enquanto saboreava o desjejum, uma figura nortenha aproximou-se do jovem príncipe. Com um sorriso contido, saudou Lucerys de maneira cordial, vendo-o se deliciar com o banquete.


— Príncipe Lucerys, permita-me dizer que o vinho parece ter tornado vossa língua mais solta que o normal.


Cregan disse de forma ácida, mas com um tom amigável, relembrando alguns momentos em que o príncipe estava particularmente falante devido à bebida. E suas atirações no meio da noite.


O rosto de Lucerys corou fortemente, uma expressão de constrangimento e embaraço se espalhando por seus traços. Ele pediu ao Lorde Cregan com uma voz tímida:


— Por favor, meu Lorde, poupai-me dessas recordações. Estou envergonhado o suficiente.


Ele choramingou e o Stark tentou não rir com aquele ato. Mas acabou soltando uma risada amistosa.


— Não há razão para tal constrangimento. Vosso entusiasmo sob o efeito do vinho foi uma boa contribuição para meu divertimento. – Continuou com sua gozação. — Ainda é jovem, meu príncipe. Ter atrações em pessoas mais velhas não há mal algum.


— Sim... mas é melhor não contar para ninguém, não posso destruir minha reputação.


Se divertiu com as próprias palavras soando como uma brincadeira a parte.


— Ninguém precisa saber, afinal.


Como se não bastasse sua fala anterior ter deixado o rosto de Lucerys igualitário ao de um pimentão, aquela pareceu fervê-lo igual uma chaleira. Mas havia uma subcorrente de tensão palpável, uma troca de palavras que carregava significados mais profundos do que as meras formalidades. As frases eram medidas, os olhares prolongados continham mensagens ocultas, os gestos eram calculados. Cada palavra trocada era um jogo de xadrez cortês, uma dança de cortesia, porém, sob a superfície polida, residia uma interação carregada de interesse mútuo. O ambiente estava impregnado com essa tensão sutil, que acrescentava uma dimensão intrigante mas também que fugia de ser desconfortável, era envolvente e cheia de uma expectativa promissora.


Lucerys não conseguiu formular uma resposta. No entanto, ele riu genuinamente e olhou de soslaio para o homem de olhos acizentados.



— Tem certeza que está em condições de voltar para Porto Real ainda esta manhã? Notei algumas machucados em seu rosto e sua pele.


O príncipe suspirou deixando o pedaço de pão em cima da mesa.


— Eu compreendo. Mas eu conheço minha mãe e suas preocupações. Preciso retornar para tranquilizá-la. – Explicou Lucerys. — Acredite, não há alguém no mundo que consiga acalmá-la quando um de seus filhos está longe, e a última coisa que ela necessita é estresse em seus últimos estágios de gravidez.


O homem apenas confirmou lentamente.


— Termine de se alimentar. – Ele levantou tendo os olhos alheios seguindo-o no processo. — Estarei ao redor.


— Não vai comer? – Perguntou diante a mesa cheia de adereços — É muito para apenas uma pessoa comer sozinha, eu ficaria grato por sua companhia, meu Lorde.



Cregan sorriu. Seu sorriso era bonito. Definitivamente atrativo, o príncipe pensou.


— Já me alimentei, tenho coisas a tratar. O espero.


Lucerys assentiu minimamente, quando ele se foi, viu-se sozinho na imensa mesa. Os criados andando para lá e para cá. Um tempo depois, decidiu que chegou sua hora de partir. Não poderia perder tempo, nem um mínimo segundo sequer.















À entrada majestosa de Winterfell, o Príncipe Lucerys Velaryon e o Lorde Cregan Stark trocaram palavras enquanto se preparavam para se despedir. Cregan, observando atentamente o jovem, expressou sua cordialidade.


— Tenha uma boa viagem, Lucerys. – Disse diretamente, mas com um sorriso disfarçado em seus lábios. — O Norte espera que tenha um bom caminho de volta ao reino.


Com um entendimento mútuo, os dois deram uma trocada singela de olhares, ambos se agraciando por seu breve encontro. Um encontro improvável causado pela doutrina do dragão alheio, mas para ser sincero, Cregan Stark não pareceu estar incomodado com a chegada do irmão de Jacaerys. Enquanto Lucerys se preparava para partir, Andrômeda, pousou imponentemente próximo à entrada de Winterfell, causando um leve alvoroço entre os nortenhos, que ficaram admirados e um tanto assustados com a imensidão da criatura alada.


Lucerys, ciente da vaidade de seu dragão e aproveitando o momento para demonstrar sua habilidade, montou Andrômeda com uma destreza, forçando seus dedos nas rédeas da criatura, a pele começando a ficar vermelha pela pressão forte. Friccionou suas pernas nas costas de Andromeda, firmando sua posição. O homem de fios quase beirando ao preto, admirava abaixo, os olhos cinzentos presos na imagem da figura real montada na besta de escamas escuras e azuis. O Velaryon sorria em sua direção, o cabelo começando a correr contra o vento pela sensação gelada.


Uma voz ao longe, que parecia de um homem velho, gritava de forma descontente.


— Onde estão as minhas ovelhas?! – Chegou avoado perto da pequena cabana de sua família. — Fui no pasto e tudo o que encontrei foram restos!


O príncipe sentiu o dragão se aquiescer abaixo de si, tombou sua cabeça levemente para o lado.


— Você parece estar com a barriga cheia, hein? – Acariciou o corpo escamado e ligou os ponto em sua cabeça. Abriu a boca levemente. — Oh...


Observou o velho segurar uma lança, saindo de sua cabana e provavelmente para ir atrás do meliante que roubou suas ovelhas.



Ou... comeu.



— Está tarde, não é? Melhor irmos! Sōves, Andrômeda!



Comandou em alto Valiriano para que o dragão alçasse voo. Assim, com Andromeda elevando-se no céu, o príncipe Velaryon se despediu de Winterfell, deixando para trás o castelo do Norte enquanto partia em direção aos ares pronto para retornar a Westeros.


Aquela queimação cortante tomou conta de seu âmago mais uma vez, o sentimento de liberdade culminando todo seu ser. As asas de Andrômeda cortavam os céus ao meio como uma belíssima faca pontiaguda faria. Os dedos dos pés formigando, seu estômago com sensações indescritíveis... ah, sim, voar era uma liberdade.



Voar era se desprender das suas preocupações.



Voar era lembrar de Arrax.



Voar era tão libertador.



Em momentos do caminho, Andrômeda fazia certas brincadeiras com seu montador, Lucerys tinha o riso solto com a criatura dando voltas rápidas pelos campos abertos, fazendo vacas e cavalos correrem. Seu peito antes escurecido, ganhava vida com as travessuras que o dragão lhe permitia.


As torres de Porto Real se erguiam majestosas à medida que o Príncipe Lucerys Velaryon e Andrômeda, se reuniam nos céus, sobrepujando o horizonte da cidade. A presença imponente do dragão de escamas negras e azuis era uma visão magnífica, enquanto as asas gigantescas cortavam o ar, criando uma brisa suave que fazia tremular as bandeiras com os emblemas reais.


As nuvens pairavam baixas sobre a imponente cidade de Porto Real quando o Príncipe Lucerys Velaryon, montado no primeiro dragão de gelo avistado em séculos, seu majestoso dragão de escamas azuis e negras, rompeu os céus. O sol, tingindo o horizonte de matrizes douradas, lançava seus raios sobre a magnificência alada que pairava acima da capital.



Com uma elegância imponente, Andromeda cortava os ventos, suas asas imensas se movendo em um balé perfeito que desafiava a gravidade. Seu voo era uma sinfonia de graciosidade e poder, sua figura majestosa contrastando com o céu enfeitado por tonalidades alaranjadas.



À medida que se aproximavam, os habitantes da cidade paravam suas atividades cotidianas para admirar o espetáculo aéreo. O povo de Porto Real, acostumado com os ritmos frenéticos dos Targaryens, admiravam a chegada do príncipe herdeiro de Driftmark, filho da princesa Rhaenyra.



Lucerys, com sua postura real e trajes forjados pela ajuda das damas de companhia do Norte, controlava Andrômeda com uma harmonia peculiar. Seus gestos eram sutis, transmitindo um elo de confiança e respeito mútuo entre cavaleiro e montaria. O dragão, por sua vez, resplandecia com escamas reluzentes, refletindo as últimas nuances do sol poente.



O pouso de Andromeda era uma dança celestial. Com movimentos precisos e a graça de um ser superior, o dragão alçou-se ao céu e, num espetáculo de destreza, pousou em uma área designada, seu impacto suave reverberando pelo solo como um sussurro. A terra tremeu sob suas garras, a finesse de seu aterramento era notável, agarrando-as na grama verde, ele rugiu tão alto que dava-se de escutar por toda a capital.



Exibia seus dentes ao ver figuras desconhecidas por si se aproximarem. Temendo que fizessem algo com seu montador, bufou enraivado com guardiões de dragão segurando seus cajados tentando chegar mais perto.



Lucerys sentiu uma certa dificuldade ao descer, Andrômeda mexia suas costas com destreza, como se fosse um aviso para o príncipe não o fazer. O que acarretou no tecido da roupa sendo rasgado pela fricção contra as escamas espinhais da criatura. Os guardas da cidade, alinhados para recebê-lo, mantinham uma postura rígida enquanto observavam a majestosa figura do príncipe desembarcar.


A notícia da chegada iminente do príncipe e de seu dragão havia se espalhado como fogo rápido pelos corredores do castelo. Os membros da família real, aflitos pela ausência repentina e sem notícias tão recentes do paradeiro de Lucerys, estavam reunidos no pátio externo, ansiosos e inquietos, aguardando seu retorno.


A princesa Rhaenyra estava preocupada ao longe, mas sabia que chegar perto de um dragão em estado defensivo era praticamente estar assinando sua morte. Os irmãos de Lucerys, todos reunidos em uma mistura de alívio e apreensão, aguardavam com expectativa o retorno do príncipe. Joffrey, por um lado, tinha os olhos brilhantes como um diamante lapidado. Estava um pouco longe enquanto segurava as mãozinhas de Jaehaera e Jaehaerys, – A princesa não saberia dizer quando seu filho ficou tão próximo dos primos, para dizer a verdade.


O príncipe finalmente desmontou do dragão com destreza, revelando um misto de determinação e exaustão em seu semblante.


Os membros da família real correram para encontrá-lo, expressões de alívio pintadas em seus rostos. Daemon avançou rapidamente, uma mescla de preocupação e autoridade refletida em seu olhar, enquanto Rhaenyra, com lágrimas de alívio nos olhos, se aproximou calorosamente o filho.


— Luke!


Andrômeda emergiu para frente, rosnando de forma leviana na medida que o casal se aproximava, o dragão demonstrou uma inquietação discreta, envolvendo-o sutilmente com uma aura de proteção, sua natureza protetora e instintiva emergindo visivelmente. O olhar dele era uma mistura de afeição e apreensão, seu vínculo com o príncipe transcendendo simples obediência. Lucerys deu alguns passos até estar de frente para a criatura, trouxe seu focinho para mais perto e sussurrou palavras baixas. Suas palavras eram um sussurro reconfortante e afetuoso, transmitindo uma mensagem silenciosa de que tudo estava bem, de que ele retornaria. A família, observando essa cena, testemunhava não apenas o retorno do príncipe, mas também a conexão profunda laçada entre Lucerys e seu mais recente dragão.


Algo que preocupava certas pessoas em volta.


E, mesmo que o instinto protetor não sumisse, o dragão se acalmou ao sentir seu montador confortável com o ambiente que acercava-os. Com essa troca de afeto e a promessa implícita de reencontro, Lucerys se afastou, dirigindo-se para o círculo real que o aguardava. Andrômeda permaneceu onde estava, suas escamas reluzentes refletindo os raios de sol, testemunhando silenciosamente a chegada do príncipe ao convívio da família real. Ele chegou perto da progenitora, que rapidamente abraçou o filho.


— Deuses... – Fungou abafada. Se afastou do jovem e segurou em seu rosto. — Meu doce garoto... que aflição que eu estava sem você por perto, mais uma vez...


Lucerys respirou fundo, buscando reunir suas palavras enquanto explicava sucintamente sua rápida estadia em Winterfell e os motivos de seu sumiço. A preocupação se dissipava gradualmente à medida que ele compartilhava os detalhes. Joffrey mais uma vez demonstrava uma fascinação genuína por Andrômeda, seus grandes olhos castanhos brilhando com uma admiração incontida. O pequeno observava o majestoso dragão com uma inocência encantadora, maravilhado pela presença da criatura lendária, pensando em como sua obsessão, de fato, estava correta.


Ele provavelmente se gabaria daquilo com a família.


Mas algo parecia incomodar o dragão de gelo, que sentiu uma inquietação desconfortável. O olhar agudo de Andrômeda capturava as interações carinhosas entre a família, notando uma vibração hostil ou, no mínimo, distante daqueles que representavam o outro ramo da linhagem real. Embora não expressasse diretamente seu desagrado, o dragão de gelo mantinha sua postura e reserva distando alguns deles cobertos com a cor verde, preferindo a companhia calorosa e acolhedora oferecida pela mulher de fios dourados.


Andrômeda, manteve os olhos azuis penetrantes como um caco de vidro, com uma guarda feroz e protetora em relação ao seu montador quando aqueles cobertos pelo manto verde se aproximaram. O corpo se estreitava com uma expressão desconfiada e vigilante. As escamas iridescentes pareciam arrepiar-se sutilmente, como se reagissem ao desconforto que a presença daqueles causava no dragão.


Aemond, que estava ao lado de sua mãe, se aproximou gradualmente a Rainha-Viúva. O príncipe não houvera percebido a fixação da criatura, até sentir suas costas sendo observadas, virou a cabeça de lado e viu com seu único olho o olhar gelado do dragão para si, que era uma mensagem clara de que sua presença não era bem-vinda na proximidade do príncipe Lucerys. Manteve a postura, mas de fato, aquela criatura o olhando era desconcertante, desconfortável e o deixava temeroso. Andrômeda reagiu de forma visceral à presença indesejada. O rosnado profundo ecoou de sua garganta, ecoando uma ameaça latente enquanto as escamas ao longo de seu corpo se eriçavam, refletindo sua crescente agitação. Suas narinas expeliam fumaça gélida, e suas íris azuis brilhavam intensamente, revelando uma expressão de fúria e desconfiança. Andrômeda, pronto para mostrar sua boca repleta de dentes afiados e liberar um rugido ameaçador, estava à beira do descontrole diante da presença desconcertante dos de sangue esverdeado.


Contudo, antes que a situação pudesse se agravar, Lucerys reagiu com destreza e rapidez. Virou até ele, o príncipe empregou palavras suaves e tranquilizadoras em alto valiriano. Seu tom era reconfortante, ressoando com uma melodia suave e reconhecível para o dragão. As palavras do príncipe agiram como um bálsamo sobre o dragão agitado. Em resposta às palavras reconfortantes de seu montador, diminuiu a hostilidade visível, relaxando as escamas eriçadas e abaixando a cabeça com um grunhido suave. A presença serena e familiar de Lucerys acalmou a besta majestosa, restaurando a ordem e a tranquilidade.


Daemon observava a situação com uma expressão divertida, Rhaenyra tinha o orgulho crescente e Joffrey estava ansioso.


— E me pergunta o porquê de eu preferir a companhia de um dragão a de uma pessoa, minha esposa. – O mais velho fala rindo, Rhaenyra quase o acompanhou. — Não é fascinante eles terem laço tão forte mesmo que Andrômeda seja um dragão selvagem?


Rhaenyra observou de longe. Seu peito sendo coberto por uma sensação de alívio e carinho.


— Essa foi a melhor coisa que deveria ter acontecido com Luke desde sua volta. – Ela suspirou cansada. — Ele merece mais do que ninguém.


A herdeira obtinha um brilho no olhar ao vislumbrar a imagem do mais jovem acariciando de forma tão sútil as escamas da criatura escamosa. O sorriso não poderia fugir de seus lábios, era impressionante e ao membro tempo, acolhedor.


— Jace. – Chamou o mais velho que prontamente se aproximou. — Avise seu irmão para se juntar a nós na reunião do pequeno conselho quando adentrarem, é importante.


O filho assentiu observando-a voltar para o castelo com Daemon. Alicent e os filhos faziam o mesmo, Otto Hightower observava de longe, não tendo uma expressão satisfatória ao ver a paisagem. Torcia os lábios desgostoso, logo, entrou para dentro do cômodo.


O de fios castanhos teve uma troca rápida de olhares com a mulher de cabelos brancos. Ele sorriu genuinamente em sua direção, recebendo um par de bochechas rosadas em troca. Jacaerys baixou a cabeça envergonhado, porém sentindo seu coração palpitar.


E aquele era um sinal perigoso.


Joffrey, por outro lado, rondava Andrômeda como um pequeno coelho curioso. Lucerys olhou de canto para o irmão e sorriu. O dragão sentiu a movimentação minúscula perto de suas garras, bufou em divertimento ao perceber aquele humano menor lhe exaltar com admiração, e mais outros dois ao seu lado lhe olhando da mesma forma.


— Você é vaidoso. – O Velaryon revirou os olhos. — Eu sei que você quer fazer um show, então faça.


Bateu de levinho na pele impermeável da criatura gelada, Andrômeda subiu a cabeça a gosto. Levantou sua calda para mostrar a grandiosidade das escamas azuis reluzentes contra o sol, sua boca abriu e soltou uma rajada de vento gélido contra um pequeno morro, criando uma barreira cortante.


Como um espetáculo, Joffrey e os gêmeos bateram as mãos inertes com a apresentação do dragão, freneticamente Joffrey batia as palmas com a boca levemente entreaberta. Depois, colocou a mão na cintura e olhou para os gêmeos.


— Eu avisei para vocês, gêmea um e gêmeo dois. – Ambos assentiram freneticamente. — Sempre acreditem nas palavras do primo Joffrey! Ele sempre está certo.


Piscou um dos olhos para eles.


— Podemos brincar com ele, Luke? Por favor!


Juntou as mãozinhas olhando para o irmão mais velho.


— Não sei se...


Avistou a imagem de Andrômeda logo atrás, o olhando intensamente com as íris azuis, como se pedisse o mesmo que o príncipe menor. Lucerys suspirou e sorriu.


— Tudo bem. Mas fique por aqui, você ainda é novo demais para ser babá.


— Eu sou o melhor babá que essas crianças podem ter!


— Você também é uma criança, Joff.


Respondeu rindo.


— Ah... sim. É verdade.


Tombou a cabeça. Mas esqueceu quando Jaehaera puxou seu manto devagar o chamando para correrem pelo campo, ele aceitou. As três crianças ficaram correndo ao redor do corpo grande de Andrômeda, divertindo o dragão de gelo com seu tamanho. Ele balançou a cabeça e se deitou ali, observando os menores gastarem suas energias. Podia ser uma criatura selvagem, – que nunca teve contato com humanos depois de tanto tempo. Mas até mesmo esses tem buracos em seus corações, e Andrômeda sempre foi uma besta sozinha, e agora, compartilhando laços com Lucerys, ele percebeu que estava rodeado de pessoas boas que o faziam bem, então se faziam seu montador feliz, ele não poderia se sentir mais acolhido possível.











— A questão a ser debatida aqui é o fato de que não irei tolerar um assassino de parentes em minha corte. – Rhaenyra se apoiou na mesa e olhou para os demais. — A coisa que mais desprezo nessa vida é alguém que mata ou tenta assassinar seu próprio sangue.


Otto, olhando de ladino, arrumou a postura e continuou:


— Ser Edric Stone é considerado o melhor lutador corpo a corpo de sua roda. Ele provou seu valor mesmo fazendo parte de uma relação indigna!


— A situação, de fato, não é sobre isso. Uma pessoa que matou sua mãe e irmãos... quem garante que não fará o mesmo com pessoas que ao menos conhece? Isso é ridiculo.


O comodo pairou em silencio. Os dois filhos mais velhos da princesa entraram, Lucerys se aproximou de Daemon, este na qual estava apoiado com a sua espada.


— O que está acontecendo?


— O Hightower plantando suas sementes, como sempre. – O mais velho riu sem fé. — Me pergunto se apenas nós achamos isso um absurdo.


— A Princesa está certa, meus senhores, como podemos passar a confiança da coroa para alguém que mata sua própria família?

A voz do mestre dos sussurros se fez presente, o restante pareceu comprar o falatório, o príncipe Lucerys deu um passo à frente passando os dedos pela textura amadeirada das mesas até estar perto o suficiente de sua mãe, deu um sorriso na sua direção e encarou-o.

— De fato, senhor Strong, um assassino de parentes é a pior escória do mundo, não acha? Eu gostaria muito que toda essa escória pudesse ser desmembrada, até não restar nem mesmo o seu cérebro para que alguém pudesse cantar canções com seus nomes.

Todos da sala viraram seu olhar ao príncipe, o Velaryon baixou os ombros e torceu os lábios, Daemon Targaryen era o única que apesar de estar surpreso pela ousadia do enteado no meio dos membros do pequeno conselho, sorria em sua direção. Os demais estavam atordoados o suficiente para refutarem o garoto mais novo.

— Sim... claro, meu Príncipe. Com vossas licenças...

Larys Strong levantou, caminhando com pesar até a porta sentindo uma agonia no peito e um nó se formar na garganta. Como se uma faca atravessasse seu tornozelo e torcesse suas pernas. Alicent olhava para o homem debilitado sentindo uma queimação de satisfação transcender por suas entranhas, ela quase se sentiu mal por aquilo. E queria se iludir que sentiu compaixão por aquele homem, mas nada veio, nada além do prazeroso sentimento satisfatório.

No entanto, Lucerys não parecia satisfeito. A movimentação no pequeno conselho foi ficando escassa, Otto Hightower se levantou e seguiu Larys, mesmo que os demais não houvessem percebido. Aproveitando a oportunidade de disperssão dos demais, o príncipe mais jovem se retirou sutilmente vendo os outros conversarem entre si, ele se desfez da sala do pequeno conselho com algo em sua mente e seu coração batendo como se estivesse o mandando seguí-los. Assim o fez.


Os corredores do palácio eram extensos e cobertos pelas sombras esguias, poucas tochas luminavam os cômodos estreitos, Lucerys avistou Otto trocando palavras fixas com Larys, que estava apoiando em sua bengala de madeira. Apesar de escondido por uma distancia sutilmente ábdita, conseguia escutar o ressoar de suas vozes carregadas de veneno.


— Irei partir esta manhã para os campo ressalvar o que havíamos combinado.


O Velaryon não compreendia o que o homem mais velho ditava, porém parecia um assunto já comentado por ambos. Ele viu o Strong afirmar com sua cabeça, apoiando o queixo entre os dedos.


— Aquela criança será um obstáculo para nós. O príncipe Lucerys, pós sua volta aos mortos, incrivelmente teve a língua liberta. Há algo em minha mente sobre isso.


O Hightower o incentivou a continuar.


— Já pensou que talvez... o príncipe estivesse em volto com bruxaria, Lorde mão?


Otto pareceu ficar inquieto com suas palavras, Lucerys engoliu a seco e mordeu os lábios. O nervosismo tomou conta do seu corpo repentinamente, respirou fundo. Talvez... ele devesse buscar mais sobre. Lembrava que alguns aposentos do castelo eram distantes e escondidos pelos escombros, e como se uma lampada tivesse sido acesa por cima da sua cabeça, se foi dali. Não imaginando que pares de olhos castanhos o seguiam e um sorriso surgia entre os lábios cortados.


Nas profundezas do castelo real, o Príncipe movia-se silenciosamente pelos corredores, envolto na penumbra da manhã. O jovem tinha seu coração pulsando com uma mistura de curiosidade e apreensão. Mas também, com uma decisão incansável nos olhos. O silêncio reinava nos comodos vazios, que normalmente estariam repletos de serviçais e guardas a postos. Mas, naquele instante, as sombras acolhiam o herdeiro de Driftmark, mantendo sua presença discreta enquanto se aproximava dos aposentos de Larys Strong.


As paredes de pedra maciça testemunhavam cada passo do príncipe, cujos movimentos eram sutis e calculados, evitando qualquer ruído que pudesse denunciar sua presença. Os raios pálidos do sol filtravam-se pelas janelas altas, lançando reflexos alaranjados nos corredores e criando um jogo de luz e sombra ao redor do jovem herdeiro. Finalmente, ao alcançar a entrada dos aposentos, Lucerys pausou por um momento, seu coração batendo mais forte que o normal. Uma mistura de incerteza e determinação tomava conta dele enquanto sua mão hesitava antes de tocar suavemente a maçaneta da porta.


Ela rangeu ligeiramente ao abrir, mas o príncipe entrou com cuidado, fechando-a silenciosamente atrás de si. O interior era iluminado apenas por uma fraca luz proveniente de uma única vela, lançando sombras dançantes sobre os móveis e objetos dispersos.


Os aposentos de Larys eram suntuosos, refletindo a posição do mestre dos sussurros. Tapetes cobriam o chão, enquanto tapeçarias ornamentadas decoravam as paredes, retratando cenas de batalhas e glórias passadas. Móveis de madeira, poltronas estofadas e uma mesa de trabalho imponente preenchiam o ambiente. Com passos leves, Lucerys explorou o espaço, seus olhos vasculhando meticulosamente cada detalhe em busca de pistas ou segredos que pudessem elucidar os mistérios que envolviam a façanha e artimanha que cobria a honra tão comentada. Documentos perfeitamente empilhados na escrivaninha, pergaminhos lacrados e livros antigos eram examinados rapidamente por suas íris castanhas, em busca de alguma revelação oculta.


Enquanto o tempo parecia deslizar lentamente, Lucerys permanecia absorto, ciente do risco que corria ao adentrar os aposentos sem segurança ou suporte algum. Mas sua determinação não vacilava, impulsionando-o a continuar a busca por verdades ocultas que pudessem afetar o destino da coroa. Os dedos caminharam até os papéis soltos, ergueu um em específico e colocou rente ao feiche de luz mínima, a caligrafia bem moldada e a tinta velha denunciava que aquele pergaminho em específico era anoso. Seus olhos se arregalaram conforme absorvia as palavras que preenchiam as lacunas do papel.


O conteúdo era uma revelação perturbadora. Detalhes meticulosos dos feitos de Larys, seus planos arquitetados com precisão cirúrgica, urdidos nas sombras da intriga. Lucerys tremia levemente ao ler as palavras que descreviam os planos sinistros do homem: o assassinato planejado de Harwin Strong e Lyonel Strong, busca de aliados em potencial e as maquinações para a usurpação do direito ao trono de sua mãe, Rhaenyra. Os olhos do príncipe fixaram-se nas linhas que delineavam uma trama sombria, um labirinto de conspirações alinhavam com precisão calculada. As palavras ecoavam uma ameaça iminente à recém estabilidade dos Sete Reinos. Lucerys sentiu um turbilhão de emoções - choque, raiva, preocupação - colidindo em seu peito. Sua mente racionalizava a gravidade do que havia descoberto, a importância de agir com cautela e discernimento diante de tais verdades.


Aquele papel era uma chave perigosa que poderia abalar as estruturas do reino. As informações ali contidas poderiam significar não apenas a queda de um membro cortês, mas também a proteção do legado de sua família. E, lendo os detalhes de cada um dos feitos, sentia a água salgada se acumulando nos olhos, ele se negava. Negava tão fortemente a chorar que balançava a cabeça com força, tentando impedir os pensamentos intrusivos de machucarem suas paredes mentais.


O peito batia com força, tumultando-o dentro de suas vestes. Com sua mente fervilhando, ele deu passos contidos para trás, sem esperar que a mesa caísse com força no chão e espalhasse todos os papéis contidos. Suas pernas trêmulas eram provas de seu cansaço, o coração dolorido e a falta de crença em si mesmo começava a surgir. Travou por um instante ao escutar a porta rugindo novamente, o jovem sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ver a figura na ponta da porta, seu coração batendo com tamanha intensidade que parecia ecoar pelos corredores vazios do castelo.


Antes que Lucerys pudesse reagir, uma expressão calculada de Larys se revelou, coberta por um véu de serenidade que ocultava suas verdadeiras intenções. O conselheiro fechou a porta dos aposentos com um movimento preciso e calmo, prenunciando um confronto iminente. Os olhos de Lucerys encontraram os de Larys, uma troca de olhares carregada de tensão e desconfiança mútua. O silêncio pesado pairava entre eles, como se o próprio ar no recinto tivesse se tornado denso e carregado de significados não ditos.


— Vejo que decidiu investigar assuntos que não lhe dizem respeito, Príncipe Lucerys.


Proferiu Larys com uma voz suave, mas tingida por uma sutileza ameaçadora. Lucerys sentiu sua garganta secar, seu porte permanecia caído e as lágrimas pareciam se tornar um apelo enraizado.


— O que descobri é de interesse de toda a Coroa e do reino.


Respondeu com firmeza, tentando ocultar o nervosismo e a voz falha. O Mestre dos sussuros sorriu de maneira enigmática, como se estivesse se deliciando com a situação.


— Talvez esteja se precipitando em suas conclusões, meu jovem príncipe. O que vê pode não ser o que parece ser.


Retrucou Larys, mantendo um tom de voz controlado e misterioso. Lucerys lutava para manter a compostura diante do homem, consciente do perigo iminente que se apresentava diante dele. Cada fibra de seu ser instintivamente lhe dizia que sua descoberta não era apenas uma simples coincidência, mas sim um indício alarmante de traição e perigo. Algo que ele já imaginava, mas que não fosse de forma ridiculamente escancarada e diante dos olhos de todos que viviam na Fortaleza Vermelha.


O jogo de gato e rato entre Lucerys e Larys estava apenas no inicio, e as sombras da intriga política e da traição pingava perigosamente sobre eles.



Lucerys sentia uma torrente de emoções, sua indignação crescendo diante das palavras do Strong. Arfava com a intensidade de suas convicções, sua expressão revelando uma mistura de determinação e revolta diante das manipulações alheias.


— Não tente obscurecer a verdade com suas mentiras e enganos! – Exclamou o príncipe, sua voz ecoando no espaço dos aposentos com uma fúria iminente nos olhos. — O que encontrei é uma traição!


Larys mantinha um semblante impassível, mas havia um brilho de satisfação nos olhos dele.


— O futuro do reino é um quebra-cabeça complexo, e é necessário discernimento e diplomacia para tecer as peças juntas.


— Isso é patético! – Ele urgiu com força. — Honra? Diplomacia? Acredite ou não, esse jogo de tentar enganar a próprio não funciona comigo.


O Príncipe sentiu a amargura tomar conta de sua garganta enquanto fitava Larys com olhos penetrantes. A tensão no ambiente era palpável, carregada com a gravidade do momento e a turbulência emocional que fervilhava em seu interior.


— Como pode olhar nos meus olhos e não sentir o peso de suas ações? – Questionou-o, sua voz carregada de descrença e desgosto. — Foi você quem arquitetou a morte de seu próprio irmão, seu próprio pai! Não há remorso em sua consciência? – Sua voz falhou por um instante.


O misto de sentimentos afetando sua cabeça e seu coração.


Larys Strong, com uma expressão imperturbável e olhos frios, pareceu ignorar a provocação direta do Príncipe Lucerys.


— Meu Príncipe... você compreende muito pouco sobre os meandros da política e das alianças necessárias para manter a estabilidade dos Sete Reinos. – Disse Larys com um tom quase condescendente. — As circunstâncias da morte de meu irmão e meu pai foram um desdobramento inevitável, uma consequência de escolhas que se fazem para proteger interesses maiores.


O príncipe engoliu em seco, mal acreditando nas palavras arrogantes e sem vida. A ideia de que uma morte pudesse ser justificada por conveniência política era algo que contrariava profundamente seus valores e princípios, e principalmente... era como se ele estivesse jogando laminas contra seu corpo.


— Seus jogos de poder e sua vaidade não justificam a perda de vidas inocentes.



Retrucou Lucerys, sua voz trêmula de raiva contida.



Larys manteve sua compostura, porém uma faísca de orgulho se insinuou em seu olhar. As mão apoiadas na bengala, como se demonstrasse uma figura invencível.


— A história é escrita pelos vencedores, Príncipe Lucerys. – Respondeu ele com um sorriso sutil. — O que para alguns pode parecer traição, para outros é a habilidade de tomar decisões difíceis em prol do reino.



O mais jovem lutava para conter a avalanche de emoções que tomava conta de seu ser. Seus lábios se torceram em descrença diante das palavras, a expressão marcada por uma mistura de incredulidade e raiva contida. A pressão do momento era avassaladora, seus punhos cerrados e sua postura tensa refletiam a luta interna entre a cortesia e a vontade de estraçalhá-lo.


— Como você consegue... você é um verme. O pior de todos. – Exclamou com a voz oscilando entre a raiva e frustração. — Não há justificativa para os seus atos vis e traiçoeiros. É apenas cruel.


Os olhos do príncipe faiscavam com uma mistura de indignação e angústia, sua mente inquieta tentando processar as implicações da conversa. A sensação de impotência diante das manipulações e mentiras que permeavam o lugar, estava o consumindo.


— Você deveria morrer.


Os olhos que um dia carregaram inocência e timidez, tinham um forte brilho intenso. Quase soando como um vermelho desgastante do fervor enraivado que consumia sua alma. A frustração de Lucerys não era palpável. A realidade cruel o atingiu com força, desafiando sua noção de justiça e expondo a brutalidade dos bastidores da sua mentalidade. Larys quase deu o braço a torcer quando escutou as palavras do mais jovem, ele caminhou em lentidão até ficar frente a frente com o mesmo.


— E o que fará, meu principe?


Ele perguntou com aquele sorriso presunçoso. Lucerys não respondeu nada, ele levou os pergaminhos consigo até a porta. E iria deixar o lugar sombrio, assim como esqueceria o que escutou, se não fosse pela voz incessante do homem soando pelo cômodo escuro.


— Deve me matar assim como eu fiz com meu irmão? – Brincou com os papéis caídos. — Como eu fiz com seu pai?


Seu coração parou com a menção. Cada batida ecoava como um tambor ressoante, uma melodia dolorosa que o deixava envolto em um vendaval emocional. A tristeza dominava sua alma, uma sensação de desamparo diante da perturbação. A perda de confiança no seu próprio eu.


A fúria, por sua vez, ardia como brasas incandescentes em seu íntimo. Era a chama alimentada pela injustiça, a raiva contra aqueles que manipulavam o destino de sua família e do reino para satisfazer seus próprios interesses. A sensação de impotência diante de uma teia de mentiras e intrigas incitava uma tempestade de fúria, um manto de emoções que ameaçava consumir sua racionalidade. Seus olhos castanhos, normalmente límpidos como um campo de árvores florescidas, refletiam agora uma tempestade de emoções. Uma melancolia sombria pairava em seu olhar, mesclada com o brilho de uma chama intensa de determinação. Os sentimentos entrelaçados de tristeza e fúria colidiam dentro de seu peito, criando um turbilhão emocional que ameaçava romper suas barreiras internas.


Em meio a essa tormenta de emoções, o príncipe buscava a clareza para navegar pelas águas turbulentas da confusão que queimava seu peito. Os olhos, cegos por sua balança temperamental, avistaram um emaranhado de pedregulhos ao lado da escrivaninha, Larys continuava a falar, e ele tinha seus ouvidos tampados pelas vozes da cabeça. Caminhou em passos rápido até uma das pedras. Segurou-a com tanta força que sentiu o dedo cortar.



Ela era pontiaguda e áspera. Se virou sem pastejar, Larys o olhava com descrença, como se desafiasse-o, mas sua expressão se tornou de prepotência quando sentiu o corpo debilitado ser empurrado com força por Lucerys, que subiu em cima dele, o travando no chão espesso.


E não foram palavras ditas, nada foi falado.


Lucerys encravou a pedra pontuda no rosto de Larys uma, duas, três, quatro, cinco... vezes. Uma série de golpes foram desferidos em seu rosto, tantas vezes que tudo o que restou foi um saco irreconhecivel de sangue. Sangue.. muito sangue jorrado ao redor. Seu corpo estava vermelho, as mãos, os braços... tudo; vermelho.


A mente nublada o assombrou, ele subiu rapidamente, tombando nos próprios pés, Lucerys desabou entre as próprias pernas. Com um suspiro cansado e desacreditado, ele se encostou na parede, a pele tremula, os lábios tão ressecados e as lágrimas descendo pelas bochechas. Ele via o corpo dilasserado a sua frente, coberto com uma poça imensa de vermelho. Ele só via vermelho.


Apenas vermelho.
































Sor Erryk Cargyll avançava pelos corredores majestosos do castelo real, seus passos ressoando na penumbra do ambiente. Trajava o uniforme dos Guardas Reais, adornado com os símbolos da coroa, seu porte ereto e olhar vigilante denotavam a determinação e a missão dita pela Princesa Rhaenyra.


O salão, adornado com tapeçarias antigas e luminárias douradas, emanava um ar de grandiosidade dignos da realeza. À medida que Erryk se aproximava do objetivo de encontrar o Príncipe Lucerys, deparou-se com Sir Reynard, membro respeitado da guarda real da Rainha-Viúva.


— Sor Erryk, à procura do Príncipe Lucerys? – Idagou Sir Reynard com um ar de cortesia, revelando um conhecimento nítido dos movimentos alheios. — Ele partiu em direção aos aposentos do Lorde Strong.


O Cargyll arqueou a sobrancelha em um gesto de surpresa e preocupação, absorvendo a informação com seriedade.


— Os aposentos de Larys Strong? – Repetiu Erryk, sua voz soando preocupada. — Agradeço pela informação, Sir.


A urgência se refletia nos olhos do sor Cargyll, e o senso de dever pesava em seus ombros. Algo não estava certo, era como se sentisse a tensão pairando no ar. Com passos firmes e resolutos, Erryk se dirigiu apressadamente em direção aos aposentos citados, a mente alerta para os perigos ocultos nos intrincados corredores da corte. A aura de mistério e perigo estando presentes, e como se suas intuições estivessem certas, bem ao longe, avistou o cômodo afastado com a luz das velas fugindo pela aresta da porta. Bateu levemente... mas não obteve respostas ou resultados. Em um senso forte, abriu-a com rapidez e agilidade, notando o trinco estourando entre os dedos das mãos.


A luz da tarde filtrava-se pela janela minúscula do quarto escondido pelas paredes do castelo, pintando o espaço com tons dourados e sombras alongadas. Lucerys estava visivelmente abatido com as costas apoiadas na parede de pedregulhos ariscos, seus olhos tinham uma coloração vermelha, e o rosto estava molhado pelas lágrimas que teimosamente escapavam de suas orbes.


As palavras cruéis e insinuações infundadas haviam empurrado Lucerys para um limite emocional. Tão fortemente que ele não sentia suas pernas se moverem. O rosto assustado e sujo por resquícios de areia e sangue eram iminentes, Sor Erryk arregalou os olhos assustados ao ver a cena do que parecia ser o Lorde Strong, completamente ensanguentado e caído. Mas não gastou seu senso de preocupação com aquela cena em específico. No ambiente suntuoso, avistou o Príncipe Lucerys Velaryon, cuja figura certeira agora parecia encolhida em um canto escuro, envolta em um manto de desolação e perturbação. E, agachando ao seu lado, percebeu o rosto abatido e aparência desgrenhada.


— Alteza. – Chamou-o em um tom sereno, estendendo a mão para ajudar o jovem a se reerguer. — Precisamos sair daqui. Agora.


Lucerys, angustiado e com a consciência pesada, tremulou os lábios, negando com a cabeça freneticamente.


— Não consigo... não consigo... – Disse entre suspiros. — Eu não sei o que está acontecendo.



Escutou atentamente, percebendo a tormenta emocional que assolava o mais jovem. Com um gesto reconfortante, segurou em seus ombros carinhosamente, com uma sutileza que nem ele mesmo conhecia.


— Eu o matei...


Erryk não disse nada. Ele levantou e se apressou a puxar as cobertas da cama de Larys. Lucerys, com um semblante confuso, observou-o envolver o cadáver entre os mantos reais. Fazendo com que estivesse completamente lacrado, assim o sangue havia parado de jorrar.


— Vou tirá-lo daqui. – Ofereceu sua mão agora suja com o pouco sangue de Larys Strong. — Não os deixarei vê-lo dessa maneira, por favor... aceite, meu príncipe.


As palavras do Sor foram como um bálsamo para o coração atormentado do príncipe. A presença solidária e compassiva de Erryk oferecia um conforto em meio ao caos, uma luz de esperança em um momento desesperador. Ele ergueu sua destra e deixou que Erryk o escoltasse para fora dos cômodos, em passos apressados, ele distanciou o príncipe dali.


— Há uma saída para os fundos escondidos do castelo logo ali, dará em um pequeno fosso de rios. – Puxou uma capa preta de seus ombros. — Tudo vai se resolver.


Fez uma reverência em respeito pronto para sair. Mas sentiu a mão receosa puxar seu manto branco.


— Você vai voltar?



O homem de fios claros virou com devoção, observando as orbes assustadas do príncipe, e um crescente sentimento de compaixão adentrando seu peito.


— Não vou deixá-lo sozinho.



Dito isso, eles seguiram os caminhos separados.


Sentia o peso da preocupação e responsabilidade enquanto observava o Príncipe Lucerys se afastar. Seus olhos castanhos, normalmente radiantes, refletiam agora uma tempestade de emoções, um turbilhão de tristeza e agonia que ameaçava consumí-lo.


A angústia estampada no rosto de Lucerys era como um eco nas profundezas da alma de Erryk. Ele compreendia a magnitude e a gravidade das circunstâncias que envolviam a corte real. A lealdade e o compromisso com a proteção do príncipe eram pilares inabaláveis de sua missão como Guarda Real, mas, naquele momento, havia uma preocupação genuína com o bem-estar emocional do mesmo.


A inquietude crescente de Erryk era um reflexo do cenário conturbado que se desenrolava diante deles. A incerteza sobre os próximos passos, a necessidade de proteger o príncipe de perigos iminentes e a compaixão pelo tumulto emocional de Lucerys convergiam em um turbilhão de preocupações.



E em seus passos, avistava os corredores reais, que eram um labirinto de grandiosidade e majestosidade, adornados por tapeçarias finamente tecidas com o dragão de três cabeças e iluminados por candelabros de ouro reluzente. Era neste cenário que Sir Reynard Darsen, guarda real de porte imponente, fazia patrulha pelos corredores.


Em um instante, enquanto se aproximava de uma encruzilhada, Sir Reynard avistou Sor Erryk Cargyll, cujo olhar expressava uma seriedade. O manto branco se aproximou, o rosto austero carregando uma tensão sutil.

— Sor Erryk. – Cumprimentou o Darsen com uma reverência rápida e formal. — Obteve sucesso na procura do príncipe?

O cotado respondeu com a mesma seriedade.

— Sim, claro. E...

Um breve instante de silêncio pairou entre os dois homens, que compartilhavam o peso das responsabilidades e lealdades que juraram à coroa.

— Agradeço-lhe por sua dedicação à coroa, Sir Reynard.

Disse com uma voz firme, porém suave.

Reynard, prestes a oferecer um modesto agradecimento em resposta à deferência, notou a expressão nos olhos de Erryk. Antes que pudesse entender o motivo por trás da atitude do outro guardião, Sor Erryk agiu rapidamente.

Com uma destreza e velocidade surpreendentes, Erryk proferiu um gesto rápido e habilidoso, impunhando seu elmo de ferro puro feito pelos melhores ferreiros do reino, o Cargyll levantou o punho e fez encontro parte de sua armadura com a cabeça desprotegida de Reynard. O guarda real cambaleou tonto, o sangue escapando de sua boca, nariz e ouvido. O corpo caindo no chão fazendo pouco barulho.

Certificando-se de que ninguém testemunhara o incidente, arrastou o corpo até que Sir Reynard sumisse dos corredores, deixando-o no vazio entre os sacos insalubres do palácio. O membro da guarda real sabia onde o príncipe estivera, sendo capaz de ligar os pontos quando o falecimento do Mestre dos Sussurros viesse a calhar.

Sir Reynard era um obstáculo para o príncipe Lucerys, uma ameaça apenas ao saber onde ele estava. E o dever do manto real era eliminar quaisquer inutilidade a sua Alteza. Enquanto a figura de Sir Reynard jazia inerte, Sor Erryk ia de encontro ao jovem de fios castanhos.

Sir Reynard poderia acordar, mas quando o fizesse, estaria sendo dilacerado entre as sujeiras da corte.


Pois todo inimigo provável do príncipe, era seu mais novo inimigo.




































✶ 𝐀𝐍𝐄𝐗𝐎S 𝐈𝐌𝐏𝐎𝐑𝐓𝐀𝐍𝐓𝐄S ✶


〘 01 〙 ↳  Por favor, não apressem quanto o primeiro confronto de Lucerys e Aemond pós Ponta Tempestade, a história envolve um pouco de slowburn – ou seja, demora um pouco por requerimento de detalhes com o máximo possível de acontecimentos, – por isso que até o momento, os dois não tiveram uma conversa adequada. Mas acreditem, a primeira conversa deles vai valer a pena a espera; então não me apressem quanto a isso, é meu único pedido!



〘 02 〙 ↳  Eu realmente quero mostrar para vocês o desenvolvimento de Lucerys com DETALHES. Eu gosto de detalhar e não deixa tudo solto sem mais nem menos, compreendam isso poooor favor!


〘 03 〙 ↳ Fiz algumas mudanças para ficar coerente com a cronologia da história. (me refiro a alguns trechos das postagens que fiz no tiktok.)


〘 04 〙 ↳ Viram as nuances entre o título do capítulo + o desenvolvimento dele? 😋 Menções como o Aemond sendo intimado pelo dragão do Luke + possível novo guarda real sendo um matador de patentes + Larys falando sobre matador de parentes quando ele é o culpado pela morte do irmão e do pai + Lucerys matando o Larys, que é tio dele. 🤸

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