━ 042.

🏹 - pablo gavi's point of view

Eu observava Olivia, deitada na cama, seu olhar perdido no teto. Eu sabia que ela estava se forçando a ser forte, mas o peso da perda de Jade era algo que nenhuma palavra ou gesto poderia aliviar completamente. Ela tinha sempre sido a mais forte entre nós, mas ver a dor em seus olhos, ver o vazio que a consumia, me quebrava por dentro.

Não importava o quanto tentássemos seguir em frente, Jade ainda estava ali, em cada pensamento, em cada gesto. A perda de uma filha, de uma vida que ainda não teve chance de respirar, de crescer... Isso era insuportável. Eu só queria poder tirar a dor de Olivia, fazer com que ela acreditasse que tudo ficaria bem, mesmo sabendo que algumas feridas jamais cicatrizariam por completo.

Ela olhou para mim, os olhos um pouco marejados, mas tentando ser forte.

— Eu sei — ela murmurou, sua voz baixa, quase inaudível. — Quero ser forte por você e pela Mavie.

Eu segurei a mão dela, apertando com força, como se o simples gesto pudesse transferir toda a minha força para ela.

— Você é mais forte do que pensa, amor. E Mavie vai precisar de você — disse, tentando manter a calma, mesmo que meu coração estivesse partido. O medo de perder nossa outra filha, a única que restava, não me deixava em paz.

Mas, por mais que tentasse, as palavras não pareciam ter o peso que eu queria. Eu a vi se fechar, como sempre fazia quando estava com medo, quando as emoções estavam altas demais para serem expressas. Ela tentava segurar as lágrimas, mas eu sabia que a dor estava ali, bem visível, mesmo que ela tentasse disfarçar.

— Eu sinto tanto, Pablo — ela sussurrou, a voz embargada. — Não sei como vou seguir em frente sem Jade... e me sinto tão culpada, por não ter sido forte o suficiente.

Eu sabia o que ela queria dizer. A culpa era uma companheira constante para os dois. Mas eu não podia deixá-la acreditar que isso era verdade.

— Não é sua culpa, Olivia. Nada disso é culpa sua. — Eu toquei seu rosto suavemente, sentindo a pele fria sob os meus dedos. — Às vezes, a vida é cruel, mas nós vamos passar por isso. Jade estará sempre com a gente, em nosso coração.

Ela fechou os olhos, mas não respondeu. Eu sabia que estava tentando acreditar, mas a dor de perder Jade era grande demais para ser curada com palavras. E, apesar de tudo, eu tinha que ser o pilar dela. Eu sabia que, se ela caísse, eu também cairia. Mas, se eu permanecesse firme, talvez pudéssemos superar isso juntos.

Passaram-se horas, mas o clima na casa não mudava. Cada canto parecia ecoar a ausência de Jade. Olivia tentava, com muito esforço, fazer as coisas simples: tomar banho, comer, conversar. Mas, no fundo, eu sabia que ela estava apenas esperando que a dor desaparecesse. E eu, por minha vez, também esperava o mesmo.

Foi quando, à noite, depois de um dia inteiro em silêncio, uma ideia surgiu em minha mente. Algo que, eu sabia, poderia ajudar.

— Vamos fazer algo para Jade — eu disse, a voz suave, mas firme. Queria dar a Olivia algo para se apegar, algo que fosse nosso, algo que simbolizasse nossa filha e o que ela significava para nós.

Ela me olhou com curiosidade, uma expressão frágil no rosto.

— O que você tem em mente?

— Que tal plantarmos uma árvore? — perguntei.

Eu sabia que não havia muito o que eu pudesse fazer para aliviar sua dor, mas aquela árvore poderia ser um gesto simbólico. Algo que crescesse com a gente, algo que nos lembrasse de nossa filha, mas também nos lembrasse de nossa capacidade de seguir em frente.

— Algo que nos lembre de nossa filha, de como ela foi importante, mesmo que tenha sido tão breve.

Olivia permaneceu em silêncio por um momento, e então, algo nas suas expressões mudou. Era como se a ideia tivesse tocado alguma parte dela que ainda estava ali, ainda disponível para a esperança.

— Eu adoraria fazer isso — ela respondeu, com um pequeno sorriso triste.

No dia seguinte, fomos até o viveiro e escolhemos uma pequena árvore de cerejeira. As flores delicadas, quase frágeis, pareciam representar nossa filha. Uma vida que não teve tempo de se desenvolver completamente, mas que agora ficaria conosco de outra forma.

— Ela vai crescer e florescer, assim como nossa família — disse, tentando buscar algo de bom no meio do caos.

Quando chegamos em casa, fomos direto para o quintal, e começamos a cavar o buraco para a árvore. Eu sabia que este momento era importante para ambos, um ritual silencioso de despedida e, ao mesmo tempo, de aceitação. Não seria fácil, mas era necessário. Olivia parecia mais serena enquanto colocávamos a terra ao redor da árvore, mas eu sabia que sua mente estava, novamente, cheia de pensamentos difíceis.

— Para Jade — ela sussurrou, as lágrimas caindo silenciosamente. Eu a abracei por trás, minha mão suavemente repousando sobre seu ombro. — Nunca vamos esquecer de você, pequena.

— Para Jade — eu repeti, e então, uma pausa. — E para Mavie. — Eu sabia que o futuro, de alguma forma, ainda nos pertencia. Mavie estava conosco, e tínhamos que ser fortes por ela, por nós mesmos. — Vamos continuar lutando, por elas.

Olivia olhou para a árvore e, por um momento, senti que algo em seu coração se acalmava. A dor da perda ainda estava lá, mas havia algo ali, naquele pequeno símbolo, que nos lembrava que a vida, mesmo quando parece impossível, continua a crescer, a florescer, a resistir. E, juntos, talvez pudéssemos fazer o mesmo.

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Quem é vivo, sempre aparece! 😜

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