07 | feelings?
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── ATO UM
A novata continuava desacordada, e a preocupação começava a se infiltrar como uma sombra crescente. Ninguém jamais havia chegado nesse estado, e o silêncio que pairava ao redor dela parecia intensificar a inquietação que se espalhava entre nós. Sem Alby consciente para oferecer seu habitual apoio, um desconforto começou a me invadir. O desespero, embora pequeno, surgia em ondas, enquanto eu tentava disfarçar a sensação de que algo estava terrivelmente errado.
No momento, éramos apenas eu, Minho, Thomas e Newt, todos imóveis, com os olhos fixos na figura da morena que repousava à nossa frente. Ela respirava tranquilamente, imersa em um sono que parecia profundo, alheia ao mundo ao seu redor. Deitada em uma cama improvisada, sua presença silenciosa nos enchia de curiosidade.
Olhei discretamente para Thomas, que estava a uma certa distância de mim. Um desconforto sutil começou a se formar ao ver como ele fixava o olhar na garota, um olhar que eu nunca tinha visto antes. Era uma expressão carregada de uma intensidade quase possessiva, que me fez sentir um desconforto inesperado.
Newt, que estava ao meu lado, percebeu meu olhar e, ao me ver desviar rapidamente, direcionou um olhar furtivo para Thomas. Seus olhos se fixaram ligeiramente, e ele arqueou as sobrancelhas em um sinal de estranhamento. A expressão de Newt espelhava minha própria dúvida, revelando a mesma inquietação diante do olhar intenso de Thomas.
— Reconhece ela? — perguntou o loiro, a voz carregada de uma tensão que soava quase como uma acusação.
Thomas pareceu sair de um transe, piscando algumas vezes enquanto seu olhar vagava de um rosto para outro, até finalmente se fixar em Newt. Seu semblante, que antes estava imerso em uma contemplação, começou a clarear enquanto ele parecia organizar os pensamentos e encontrar uma resposta para a pergunta.
— Não. — Foi a única palavra que ele pronunciou, balançando a cabeça em uma negativa.
— Sério? Parecia que ela te reconheceu. — As palavras escaparam antes que eu pudesse pensar, o tom cortante traindo uma emoção que eu tentava esconder. No momento seguinte, o arrependimento me atingiu, sentindo os olhares dos garotos se voltando para mim.
Ele ficou em silêncio, e a ausência de resposta só aumentou minha inquietação. Não conseguia entender a razão de seu silêncio, mas havia algo em sua postura que deixava claro que ele estava escondendo algo.
— E o bilhete? — ele mudou de assunto de forma abrupta, forçando uma distração. Isso me fez revirar os olhos e soltar uma risada seca, sem humor, enquanto meus olhos se fixavam novamente na garota.
— A gente se preocupa com o bilhete depois.— respondi com seriedade, sem ao menos olhar para ele.
— Acho que deveríamos nos preocupar agora. — ele respondeu com um tom autoritário, fazendo meu sangue ferver ainda mais.
— Já temos muita preocupação. — Newt se intrometeu, e eu o encarei, notando o olhar repreendedor que ele me lançou. Isso me fez franzir a testa, confusa e irritada, sem saber exatamente como reagir à sua intervenção.
Jeff, que estava de pé atrás do corpo da garota, se levantou com um movimento brusco, seu rosto carregado de desconforto. Ele parecia incomodado com a fala de Newt e, ao se aproximar, suas feições endureceram em uma expressão de frustração.
— Ele está certo, Newt. Se a caixa não vai voltar a subir... Quanto tempo vamos durar? — A pergunta de Jeff cortou o silêncio, sua voz carregada de uma preocupação palpável. Seus olhos se fixaram em cada um de nós, e a pergunta reverberou no ambiente, trazendo uma nova urgência à situação. Eu senti um frio gelado se espalhar pela minha barriga, enquanto as palavras de Jeff faziam o desespero começar a crescer dentro de mim.
— Ninguém disse isso... Só vamos esperar ela acordar para ver o que ela sabe. — Newt rebateu, a voz falhando ligeiramente, revelando uma insegurança que não conseguiu ocultar. — Alguém deve ter uma resposta por aqui. — A última frase parecia mais uma súplica, um apelo para que alguém, qualquer um, encontrasse uma solução.
Passando minhas mãos pelo cabelo em um gesto de frustração, comecei a andar em direção à saída. Se aquela garota foi a última a chegar e estava desacordada, havia algo crucial nela que precisávamos entender. Não permitiria que continuássemos presos em um lugar sem saída, sem buscar uma maneira de escapar.
No momento em que comecei a me afastar, senti uma mão forte agarrar meu pulso. Olhei para trás e vi Thomas, seu rosto revelando uma mistura de preocupação e confusão. Revirando os olhos, tentei me desvencilhar, puxando meu pulso com firmeza. Mas ele não cedeu, segurando meu pulso com uma força persistente, bufando em frustração e mostrando que não estava disposto a me deixar ir sem um confronto.
— Por que está mancando? — Thomas perguntou, sua voz tingida de preocupação genuína. Ele franziu o cenho, o olhar fixo em meu pé machucado, como se tentasse encontrar uma solução ali mesmo, naquele instante.
Virei-me lentamente para ele, puxando meu pulso com firmeza, mas desta vez, ao invés de me afastar, permaneci imóvel o encarando.
— Não se preocupe, não é nada demais. Pode voltar lá pra dentro. — Menti, a voz carregada de impaciência. Mas assim que as palavras saíram, senti uma ponta de arrependimento; ele só queria me ajudar, afinal.
— O quê? Venha, tire o sapato e me deixe ver. — Thomas rebateu sem hesitar, sua voz firme e decidida, enquanto estendia a mão, tentando me puxar para um lugar mais próximo. Mas me afastei, esquivando-me de seu toque.
— Vou voltar para o labirinto. Não tenho tempo para ficar analisando meu pé. Se consigo andar, então está perfeito, não acha? — Respondi, um sorriso debochado se formando enquanto tentava esconder a dor e a teimosia que queimavam em igual medida.
Ele parecia estar à beira de perder a paciência, mas antes que qualquer palavra saísse de sua boca, Minho se adiantou, me olhando como se eu tivesse perdido a sanidade.
— O que que deu em você? Quer morrer? Acabou de sair e agora quer voltar? Sabe muito bem o que aconteceu da última vez! — Ele quase rosnou, cada palavra carregada de fúria, mas também de preocupação. Afinal, a última vez deixou marcas que nem o tempo conseguiu apagar.
— Durante três anos vivemos presos nesse lugar, Minho. E há dois anos, eu me arrisquei e consegui o que queria. Hoje, fiz de novo, matei dois deles. — Minha voz era firme, quase desafiadora. — Posso estar errada, mas tenho certeza de que eles estão ali para impedir que a gente encontre a saída. Então, isso só pode significar que há um jeito de sair daqui! Vai me dizer que nenhum de vocês está, no mínimo, curioso?
— Na verdade, não.
— Pra ser sincero, eu estou um pouco sim.
As respostas vieram em uníssono, e não resisti a oportunidade de apontar para Thomas com um sorriso debochado, como se dissesse "Eu te disse!." Minho rapidamente balançou a cabeça em negativa, parecendo ainda mais frustrado. Bufei, já farta daquele ciclo, e dei mais um passo. Mas, como se fosse uma coreografia ensaiada, me barraram de novo. Continuassem assim, e a próxima conversa seria sobre quem sairia com um olho roxo.
— Então, qual é o plano? — Minho perguntou, os olhos semicerrados em uma expressão de ceticismo, como se já soubesse a resposta e estivesse apenas esperando para contestá-la. — Vai até lá dissecar aquela coisa sozinha?
— Se for necessário, vou. Não seria a primeira vez. — Respondi, dando de ombros como se a ideia fosse trivial, quase rotineira, mesmo sabendo que o perigo ali era real.
Minho estreitou ainda mais o olhar, como se estivesse tentando decidir se eu era corajosa ou simplesmente imprudente. Mas antes que ele pudesse dizer algo, uma tosse alta e obviamente falsa rompeu o silêncio. Eu me virei de imediato, encontrando Thomas com o rosto tenso, como se algo estivesse corroendo sua calma por dentro. Ele se mexia inquieto, incapaz de disfarçar o desconforto que quase transbordava em sua expressão.
— Os corredores já foram? — Ele perguntou, a voz soando firme, mas os olhos denunciando a batalha interna. Ele oscilava o olhar entre mim e Minho, analisando cada detalhe da nossa proximidade, como se estivesse tentando montar um quebra-cabeça complexo.
— Os outros corredores desistiram hoje. Depois que Alby foi picado, eles não têm pressa pra voltar pra lá. — Minho respondeu, apontando discretamente com a cabeça para onde os corredores se reuniam. — Por que vocês dois têm? — Minho voltou seu olhar afiado para Thomas, claramente curioso, talvez até desconfiado.
— Acho que está na hora de descobrirmos o que estamos enfrentando. — Thomas respondeu, a determinação em sua voz deixando claro que ele não recuaria. Eu apenas assenti, rápida e silenciosamente, concordando com ele.
Minho ponderou por um momento, seu olhar perdido no chão enquanto processava a situação. Quando finalmente nos encarou novamente, seu rosto tinha uma expressão resignada.
— Legal. Mas vocês não vão voltar sozinhos. Me encontrem no bosque daqui meia hora. — Ele cedeu, e pude sentir o ódio que vinha acumulando se dissolver, substituído por um sorriso que não consegui conter.
— Você é o melhor, lembre-se disso. — Falei com uma entonação provocativa, quase forçada. Minho me lançou um olhar desconfiado, mas não conseguiu evitar o sorriso que puxava os cantos de seus lábios.
— Oh, claro, como se eu já não soubesse disso. — Ele retrucou com um sorriso brincalhão, entrando na brincadeira.
Enquanto observava Minho se afastar e sair completamente do meu campo de visão, virei-me lentamente para Thomas. Antes mesmo de encará-lo, eu já podia sentir sua presença próxima. Quando nossos olhares se encontraram, percebi que ele já estava me observando, com a mesma expressão desconfortável de antes ainda estampada em seu rosto.
— O que foi? — Perguntei, com a confusão se infiltrando na minha voz, enquanto seu comportamento começava a me parecer cada vez mais estranho.
— Nada. — Ele respondeu rápido demais, como se a pergunta fosse desnecessária, e desviou o olhar, ligeiramente estressado. Mas não antes de eu perceber o leve aperto em sua mandíbula, um sinal claro de que havia algo mais por trás de suas palavras.
Dei de ombros, soltando um suspiro fundo, e me virei, começando a caminhar com dificuldade em direção ao bosque. No entanto, fui abruptamente interrompida pela voz de Thomas, que me fez parar no meio do caminho. Ao me virar, percebi que ele estava mais próximo do que antes, o olhar fixo em meus pés.
— Deixa eu ver. — Pediu, apontando para os meus pés, mas o tom firme deixou claro que não era exatamente uma escolha. Hesitante, mas sem querer discutir, caminhei até ele e me sentei em um tronco próximo.
Thomas se agachou diante de mim, e antes que eu pudesse sequer começar a tirar os coturnos, ele já estava cuidando disso. O mesmo começou a desamarrar as botas com uma delicadeza quase surpreendente, fazendo eu ficar imóvel apenas o encarando.
Quando ele finalmente tirou o primeiro coturno, seus olhos encontraram os meus, como se estivesse perguntando silenciosamente se eu estava bem. Não disse nada, só o deixei continuar. Ele repetiu o processo no outro pé, tão cuidadoso como se estivesse lidando com algo muito mais frágil.
Assim que os dois coturnos estavam fora, senti suas mãos passarem levemente pelos meus tornozelos, quase como se estivessem verificando se havia algum sinal de inchaço ou machucado. A maneira como ele tocava minha pele, com tanta delicadeza, quase me fez esquecer a dor que estava sentindo. Era estranho como, por um breve momento, senti uma espécie de segurança em seus gestos.
Ele ergueu o olhar para mim, a preocupação ainda estampada em seu rosto.
— Está doendo muito? — Ele perguntou, com a voz baixa e gentil. Balancei a cabeça, tentando parecer indiferente, mas a verdade é que aquele cuidado todo estava derretendo qualquer resistência que eu pudesse ter.
Thomas continuou a examinar meus pés, certificando-se de que nada estava fora do lugar. Quando terminou, ele olhou para mim novamente, como se quisesse ter certeza de que eu estava bem de verdade.
— Eu até sugeriria que descansasse um pouco, mas com essa sua teimosia, sei que não vai adiantar nada. — Ele disse, num sussurro brincalhão, um sorriso suave se formando em seus lábios. Eu tentei manter a seriedade, mas não consegui evitar o sorriso que escapou.
— Que bom que você sabe disso. — Respondi, com um sorriso travesso ainda nos lábios. Ele assentiu com um sorriso afetuoso e manteve o olhar fixo no meu, como se estivesse me observando com um carinho especial.
Por um breve momento, continuamos a nos encarar. O silêncio entre nós era carregado de uma tensão palpável, até que desviei o olhar, sentindo uma leve ruborizada subir pelo meu rosto. Limpando a garganta com um som abafado, comecei a recolocar o coturno com cuidado. Cada movimento era feito com precisão, mas não pude evitar um gemido de dor quando o sapato pressionou meu tornozelo machucado.
Thomas, que havia ficado à distância, imediatamente se aproximou novamente, seus olhos fixos em meu pé com uma preocupação renovada. Ele se inclinou um pouco mais para observar, mas eu ergui uma mão para deter seu avanço, tentando mostrar que estava no controle da situação.
— Estou bem. — Minha voz saiu um pouco mais firme do que eu pretendia, mas o tom não conseguiu esconder totalmente a dor persistente.
Ele hesitou por um momento, claramente lutando contra o desejo de intervir mais uma vez. Sua expressão de preocupação não vacilou, e ele finalmente decidiu agir com a mesma delicadeza que demonstrara antes. Com movimentos suaves e meticulosos, ajustou o coturno ao redor do meu tornozelo, tentando aliviar a pressão.
— Desculpe, não queria causar mais problemas. — Eu murmurei, a voz um pouco trêmula enquanto tentava usar um humor desajeitado para suavizar a tensão. O sorriso forçado que tentei exibir parecia mais uma careta, mas era meu jeito de enfrentar a situação.
— Não se desculpe. — Thomas respondeu com uma voz suave, a calma na sua entonação revelando a paciência e o cuidado que ele tinha. — É para isso que estou aqui. Para ajudar, não importa o que.
Finalmente, terminei de amarrar o coturno, e o alívio foi quase imediato. A dor no meu tornozelo tinha diminuído consideravelmente, e a sensação de conforto ao ajustar o sapato fez com que eu respirasse um pouco mais aliviada. Levantei-me com mais facilidade, o movimento agora menos doloroso, e passei a mão pelo cabelo, tentando recompor minha postura.
Dando um último olhar de gratidão para Thomas, que me observava com uma expressão carregada de satisfação e preocupação, comecei a me dirigir para o ponto onde Minho nos aguardava. Thomas seguiu em silêncio, nossos passos reverberando no chão do bosque. Havia algo de confortante e inquietante na quietude entre nós; era como se cada passo trocado carregasse um peso, uma comunicação silenciosa, repleta de significados que ambos evitávamos discutir.
Quando finalmente chegamos ao ponto de encontro, notei que ainda estávamos sozinhos. A clareira onde nos encontrávamos era envolta por árvores altas e imponentes, formando uma barreira natural que nos isolava. Thomas se encostou em uma parede improvisada feita de troncos, cruzando os braços e mantendo-se em uma postura rígida. Seu olhar vagava pelas árvores, mas de vez em quando eu sentia seus olhos em mim, como se estivesse tentando decifrar algo que nem ele próprio compreendia.
Inquieta, comecei a balançar levemente o corpo para frente e para trás, uma tentativa de dissipar o desconforto crescente que o silêncio nos impunha. O vento sussurrava entre as folhas, e o som parecia amplificar a tensão que pairava no ar. A cada poucos segundos, eu lançava olhares furtivos ao redor, esperando que Minho e os outros surgissem a qualquer momento, na esperança de que a chegada deles dissipasse o constrangimento que pairava sobre nós.
Foi quase como se meus pensamentos o tivessem convocado, pois, de repente, Minho apareceu, emergindo de uma curva no caminho. Seus passos eram seguros, e logo atrás dele vinham os outros membros do grupo: Caçarola, Winston, e Zart. Todos pareciam determinados, mas havia uma tensão sutil em seus olhares, uma incerteza que não conseguiam esconder completamente.
Thomas e eu imediatamente ajustamos nossas posturas, endireitando-nos para encarar o grupo que se aproximava. O bosque ao redor parecia mais fechado do que nunca, as sombras das árvores alongando-se no chão, criando um cenário quase opressivo.
— É o suficiente? — Minho perguntou, o tom de sua voz carregado com um leve sarcasmo, que parecia quase forçado. Ele estava tentando manter o clima leve, mas eu podia sentir a gravidade da situação nas entrelinhas.
Virei-me para ele, permitindo que um sorriso sincero se formasse em meu rosto. Não era apenas para Minho, mas para todos ali presentes. Sabia que, apesar da aparência firme, eles estavam se esforçando ao máximo, enfrentando seus próprios medos e incertezas para estarem ali comigo.
— Está ótimo. Obrigada, pessoal. — Minhas palavras saíram carregadas de gratidão genuína, consciente do sacrifício que cada um estava fazendo.
Nós corríamos rapidamente pelos corredores estreitos e acinzentados do labirinto, o som das nossas botas batendo contra a pedra fria ecoando de forma inquietante. A iluminação natural, filtrada através das fissuras e rachaduras nas paredes, revelava detalhes que antes eram ocultos nas sombras. O clarão esmaecido da luz do dia criava um efeito ilusório, oferecendo um alívio temporário à tensão crescente em nossos corpos e à sensação de claustrofobia que nos envolvia.
Meu pé, antes tão debilitado, começava a mostrar sinais de recuperação. Forçando-o a correr repetidamente, percebi que, de forma inesperada, a dor diminuía a cada passo. O que antes parecia um incômodo persistente, agora dava lugar a uma súbita melhora, como se o movimento contínuo estivesse curando a lesão.
Minho e eu liderávamos o grupo, mantendo um ritmo intenso e constante que os outros lutavam para acompanhar. Eles, ainda não acostumados ao ritmo frenético e extenuante das corridas pelo labirinto, ofegavam e suavam copiosamente, seus rostos pálidos refletindo a exaustão e o esforço. Apesar do esforço visível, mantinham o silêncio, sua determinação sendo alimentada pelo medo e pela adrenalina, que funcionavam como um combustível implacável, forçando-os a continuar avançando.
À medida que estávamos prestes a contornar uma curva, algo chamou minha atenção com uma clareza aguda. Instintivamente, parei bruscamente, os pés grudando no chão enquanto meu corpo reagia ao alerta. Meus olhos se fixaram na garra de um verdugo, parcialmente visível através de uma abertura na parede, que estava apenas um pouco aberta. A garra, um resíduo da criatura que eu havia abatido anteriormente, estava ainda parcialmente visível, como um lembrete ameaçador da sua presença. O choque da minha parada abrupta causou um efeito dominó nos outros, que não conseguiram parar a tempo, esbarrando uns nos outros com a desordem de uma pilha de tijolos caindo.
Não consegui conter uma risada que escapuliu dos meus lábios antes que pudesse me recompor.
— Gente, acho que vocês estão precisando de um pouco mais de prática nesse negócio de correr. Mas tudo bem, hoje a aula é grátis! — Brinquei, meus olhos ainda fixos na garra como se fosse um troféu zombeteiro, uma expressão de ironia e alívio misturados.
Minho, sempre prático, foi o primeiro a se recompor. Ele olhou para mim com uma expressão que misturava admiração e um pouco de irritação.
— Você para assim de repente e espera o quê? Que a gente faça uma fila certinha?
Revirei os olhos, mas não pude deixar de soltar uma risada. A garra do verdugo era um lembrete do que já tínhamos superado, e me enchia de uma sensação de poder. Eu sabia que estávamos à beira de algo grande, e agora, mais do que nunca, me sentia pronta para o que viesse a seguir.
Então comecei a me aproximar da abertura, e o que se revelava diante de mim era simplesmente repugnante. O chão estava coberto por uma poça viscosa de líquido vermelho, o sangue escorrendo em grossas camadas e formando poças espessas. O líquido não se limitava ao chão; ele salpicava também nas paredes, criando manchas escuras que pareciam ter sido desenhadas com uma brocha imunda. Órgãos internos do animal estavam espalhados de maneira grotesca, alguns ainda pulsando levemente, como se a vida se recusasse a se apagar completamente.
Minha face se contorceu involuntariamente em um gesto de nojo profundo, mas, apesar do desejo de recuar, mantive-me firme e continuei a me aproximar. A visão era perturbadora, e o esforço para lidar com a situação requeria um controle absoluto.
— Isso é nojento! — Zart exclamou, a primeira voz a romper o silêncio, seu tom revelando a repulsa que todos sentíamos. Seu grito de desgosto ecoou pela sala, refletindo a sensação de nojo coletivo.
— Tem algo ali dentro — declarei, meus olhos fixando um sinal vermelho intermitente que piscava na abertura na carcaça do verdugo. O brilho da luz indicava que havia algum componente eletrônico ainda ativo, um resíduo do sistema interno da criatura.
— Quer dizer dentro da panqueca do verdugo? — Caçarola fez uma observação sarcástica, sua voz carregada de ironia. Sua piada despretensiosa fez com que eu esboçasse um sorriso, achando um certo alívio na forma bem-humorada de lidar com a situação.
Respirei fundo, tentando reunir coragem e esperando que alguém assumisse a responsabilidade. Eu sabia exatamente o que precisava ser feito, mas preferia que outra pessoa tomasse a frente. Lancei um olhar esperançoso para o grupo, esperando que alguém tomasse a iniciativa, mas minha esperança foi em vão. Bufei e revirei os olhos, frustrada com a falta de ação.
— Vocês homens são um bando de inúteis! — exclamei com impaciência, começando a caminhar em direção à abertura com determinação resoluta. Estava pronta para colocar meu plano em prática e resolver a situação.
— Ou, ou, ou, vai fazer o quê? — Zart tentou me deter, sua voz misturando preocupação e ceticismo. Sua tentativa de impedir minha ação foi em vão, pois minha determinação era firme.
Sem mais hesitações, fechei os olhos e enfiei meu braço na pequena abertura que ainda restava na carcaça, uma fenda deixada pelo metal do verdugo que impedia o fechamento completo. A sensação de tocar a textura viscosa e pegajosa dentro da abertura foi quase insuportável; era uma mistura de fluidos e resíduos que fez com que eu apertasse os dentes com força, lutando contra a ânsia de vomitar.
Minha mão se movia rapidamente, desejando retirar o que estava preso o mais rápido possível. O desconforto era intenso, e a urgência em minha ação era palpável.
De repente, a garra que antes estava imóvel começou a se mover de forma ameaçadora, fazendo meu coração disparar freneticamente. Recuei com rapidez, sendo puxada para trás pelos garotos, minha respiração estava ofegante e descontrolada pelo susto repentino.
— Você não disse que estava morto? — Caçarola perguntou, surpreso e um tanto acusatório, sua preocupação clara em seus olhos. Ele me observava, aguardando uma explicação.
— Foi um reflexo? — Zart perguntou, sua voz carregada de ceticismo, tentando se convencer de que a movimentação era apenas um efeito passageiro.
— Tomara — Winston concordou, sua expressão carregada de esperança e um toque de nervosismo. Eu suspirei, aliviada por encontrar um mínimo de apoio entre os colegas.
Ficamos em silêncio por um momento, tentando recuperar o equilíbrio após o susto. A tensão ainda era palpável, mas logo Thomas chamou nossa atenção, aproximando-se da garra com uma determinação renovada.
— Está bem, vamos lá. Precisamos tentar arrastar isso — disse ele, com uma firmeza que transmitia confiança e liderança. Fui a primeira a ir até ele, ajudando a puxar a garra com força concentrada. Os outros meninos rapidamente se juntaram a nós, suas expressões de esforço e determinação refletindo a urgência da situação.
Após iniciarmos a contagem regressiva, todos concentramos nossos esforços e usamos a força total que tínhamos em nossos corpos. Cada um de nós estava com os músculos tensionados, os rostos franzidos pela concentração e o suor escorrendo pelas testas. Finalmente, com um esforço combinado e um último impulso, a garra começou a se descolar do corpo do verdugo. A resistência da criatura era palpável, e o som metálico de suas garras raspando contra os ossos era quase ensurdecedor. Com um estrondo final, a garra se desprendeu completamente, e eu e os garotos fomos abruptamente projetados para trás, caindo pesadamente no chão em um emaranhado de corpos e respiração ofegante.
Levantei-me rapidamente, minhas pernas um pouco bambas pela queda, e sacudi a poeira e a sujeira que cobriam minhas roupas. Caminhei em direção ao local onde o interior do verdugo estava agora visivelmente exposto. A garra da criatura estava mutilado, revelando órgãos internos que estavam espalhados de forma grotesca. O cheiro nauseante do sangue misturado com o odor metálico dos órgãos era quase sufocante, mas a necessidade de concluir a tarefa me impulsionava para frente.
Meus olhos se fixaram no objeto eletrônico que antes emitia um sinal vermelho intermitente. Agora, o dispositivo estava visivelmente caído entre os restos carnudos e viscosos do verdugo. A luz piscante que antes indicava a presença do objeto estava agora apagada, e o dispositivo estava parcialmente enterrado na carnificina. Andei rapidamente até ele, desviando cuidadosamente dos pedaços grotescos ao redor, tentando não encostar em nada mais do que estragasse ainda mais a situação. A visão do objeto parcialmente coberto pela substância viscosa e pela carnificina me fez acelerar o passo.
Agachei-me e mergulhei a mão na massa pegajosa e gelada do órgão exposto. A textura era repulsiva, uma mistura de fluidos grossos e resíduos nojentos. A sensação de minhas mãos afundando na substância era desconfortável e quase intolerável. Com um esforço concentrado, comecei a puxar o objeto, sentindo a resistência do material viscoso que parecia se agarrar ao dispositivo. Cada movimento era uma batalha, e a sensação de estar mergulhada em algo tão nojento fazia com que meu estômago se contorcesse.
Finalmente, após um esforço extenuante e um puxão final, consegui retirar o objeto de dentro do órgão. Segurei-o firmemente nas minhas mãos, aliviada por finalmente ter conseguido o que procurávamos. O dispositivo metálico brilhava fracamente sob a luz, uma pequena conquista em meio ao caos e à sujeira. A sensação de vitória era reconfortante, contrastando fortemente com a cena grotesca ao nosso redor.
O objeto era feito de metal frio e sólido, pesando mais do que eu esperava, e nele havia uma pequena seção onde a mesma luz vermelha que piscava anteriormente agora estava gravada de forma fixa, junto com o número "07" inscrito de maneira precisa. Esse detalhe imediatamente chamou minha atenção, fazendo meu coração bater mais rápido enquanto eu refletia sobre o possível significado.
— Estamos no setor 07, deve estar mostrando a área em que estamos. — Murmurei em voz alta, minha mente totalmente focada no mistério que o objeto representava. A ideia de que aquilo pudesse ser um tipo de indicador ou até mesmo uma armadilha me deixava inquieta.
Caçarola, que até então observava com uma mistura de curiosidade e cautela, interrompeu meus pensamentos com uma observação prática: — Tá bem, o que quer que seja, podemos levar isso pra clareira? Não quero encontrar com os amigos dessa coisa.
Ele tinha razão, e essa constatação me atingiu com força. O céu começava a mudar de cor, anunciando que o anoitecer estava próximo, e a ideia de ficarmos presos no labirinto durante a noite era insuportável. Eu sabia que não poderia aceitar colocá-los em risco, não quando a escuridão estava prestes a tomar conta.
— Ele tá certo. Tá ficando tarde, vamos. — Declarei, com um tom que não deixava espaço para discussões. Com o objeto firmemente em minhas mãos, começamos a correr novamente, nossos corpos se movendo em perfeita sincronia, formando quase que fileiras enquanto avançávamos pelo labirinto.
O silêncio entre nós era quase absoluto, quebrado apenas pelo som rítmico de nossas respirações pesadas e o eco de nossos passos que ressoavam nas paredes frias e opressivas ao nosso redor.
Já estávamos todos postos na sede, porém desta vez sem todos os garotos, apenas os que entraram no labirinto conosco e Newt e Gally. Era notório que Gally não aceitava aquilo, sua cara emburrada já dizia muita coisa.
Pelo contrário de Minho, que tinha agora o objeto encontrado em suas mãos, seu olhar vago e curioso, olhando cada mísero detalhe do material.
— Encontramos isso, estava dentro de um verdugo. — Thomas vociferou firme.
— Olhe. — Andei até Newt — São as mesmas letras que vem no suprimentos, WCKD. — Apontei mais uma de minhas observações fazendo os garotos olharem com atenção.
— É quem nos colocou aqui também fez os verdugos, e essa é a primeira pista, primeira informação em três anos, não é, Minho? — Thomas dizia totalmente firme, encarando Gally na maior parte do tempo.
— Exato. — Minho concordou rapidamente.
— Newt, nós vamos voltar lá, quem sabe onde isso nos leva? — Sua pergunta foi retórica, mas aquilo de alguma forma fez com que eu começasse a me perguntar a mesma coisa.
Todos ficaram em silêncio, apenas assimilando a fala do moreno, alguns aceitando e outros, pra ser mais exata, um, negando.
— Viu o que ele tá tentando fazer né? — Gally começou, e automaticamente bufei. — Primeiro ele quebra as nossas regras, depois tenta nos convencer a abandoná-los de vez, o que? As regras são a única coisa que nos mantém juntos! Porque começar a questionar isso? Se Alby estivesse aqui ele concordaria comigo. Esse trolho merece ser punido. — Ele me encarava fixamente, sua voz autoritária fazendo com que eu perdesse a paciência novamente.
— Alby iria concordar comigo primeiramente, ele tem noção da gravidade que é crianças e adolescentes presos em um lugar como esse! Você tem razão, ele quebrou as regras, mas já te disse foi por uma justa causa, então uma noite no amansador e sem comida. — Disse seria, parecendo não transparecer o ódio que estava me consumindo.
— Ah! Qual é May? Uma noite no amansador? Acha que isso vai impedi-los de entrar no labirinto? — Gally respondeu prontamente e quase desesperado, apontando para Thomas várias vezes como se estivesse enfatizando suas palavras.
— Não! Não, corredores não podem entrar no labirinto sempre que tiverem vontade, então vamos oficializar. — Virei meu corpo para Thomas, que estava com a cabeça baixa, parecendo pronto para uma bronca. — A partir de amanhã, será um corredor. — Vociferei e Thomas levantou seu pescoço rapidamente para me encarar, um olhar confuso.
O silêncio voltou a dominar a sala, denso e carregado, antes que Gally erguesse as sobrancelhas em um gesto de incredulidade. Ele balançou a cabeça devagar, como se não conseguisse acreditar no que estava acontecendo, e começou a caminhar para fora da sede, seus passos pesados ressoando com a frustração contida.
— Nossa... — murmurou, sua voz baixa, quase imperceptível, mas repleta de uma decepção que me atingiu profundamente. Um suspiro escapou dos meus lábios, enquanto uma sensação de impotência se instalava em mim. Eu entendia que, por trás daquela dureza, Gally só queria nos proteger, mas às vezes, sua obstinação o fazia cruzar limites que não devia.
— Gally... — chamei, estendendo a mão para segurar seu braço, mas ele se afastou rapidamente, como se o meu toque fosse uma ferida aberta. Ele continuou a caminhar, determinado a se afastar, e a dor em seu olhar me fez perceber que não podia deixá-lo ir assim.
Saí apressada, quase correndo atrás de Gally, meus passos reverberando na terra dura. Ele avançava rapidamente, com passos largos e apressados, como se quisesse, a cada movimento, escapar de mim.
— Gally! Para! — gritei, minha voz reverberando no ar. Alguns dos garotos que estavam por perto se viraram, curiosos. Gally finalmente parou, mas em vez de continuar a se afastar, ele girou nos calcanhares e começou a andar em minha direção, seus olhos ardendo com uma mistura de raiva e desespero.
— Eu estou aqui com você há três anos, Mavie, três anos! — Ele levantou a mão, os três dedos quase tocando meu rosto, como se quisesse que eu sentisse o peso de cada um desses anos. Sua voz era alta, cheia de frustração. — E você continua defendendo uma pessoa que chegou há menos de quatro dias! — Ele parou, seus olhos fixos nos meus, esperando que eu compreendesse o que ele estava dizendo. Senti meu coração apertar. Será que estava errada em discordar dele? — Você mesma impôs a regra de não entrarem no labirinto, e agora que Thomas a quebra, você simplesmente deixa passar. Eu não te entendo, Mavie. O que mudou?
Sua voz, agora mais baixa, carregava uma intensidade que exigia uma resposta. Ele me encarava com um olhar carregado de dor e dúvida, como se estivesse desesperado para entender o que estava acontecendo. E naquele momento, as palavras pareciam fugir de mim, deixando apenas um silêncio que pesava como chumbo.
Gally soltou uma risada amarga, e começou a se virar novamente. Mas antes que ele pudesse se afastar de vez, as palavras escaparam de mim, carregadas de uma urgência que eu não conseguia controlar.
— Durante três anos, estivemos lado a lado, apoiando um ao outro em cada decisão, em cada risco. Você me apoiou até mesmo quando eu quase perdi minha vida, Gally. Agora, tudo o que peço é que você me apoie novamente. — Minha voz estava trêmula, mas firme. — Eu não sei o que Thomas tem de diferente, mas há algo nele que eu sinto que vai nos levar para fora daqui. Por isso estou aceitando as atitudes dele, porque querendo ou não, ele está assim como todos nós, querendo sair desse lugar. — Olhei para ele com uma intensidade que eu esperava que ele pudesse entender. — Eu nunca vou estar contra você, Gally. Nunca.
Minha voz se transformou em um sussurro carregado de sinceridade, o mesmo suspirou, olhando envolta parecendo pensar sobre o que falaria.
— Não vou me intrometer mais. Mas se você se machucar, ou algum dos meninos, não vou ficar calado. — Gally cedeu, com a voz baixa, quase em um sussurro. Antes que eu pudesse responder, ele acrescentou, de maneira firme: — Estou fazendo isso por você, não por ele.
Um sorriso suave surgiu em meu rosto ao ouvir suas palavras, mas logo se desfez quando gritos distantes cortaram o ar, ecoando pela clareira. Instintivamente, desviei o olhar para além de Gally, observando a confusão que se formava. Vários garotos estavam amontoados abaixo do ponto mais alto da clareira, onde tínhamos uma visão privilegiada do local. De lá de cima, alguém arremessava pedras, mas o brilho intenso do sol impedia-me de identificar o responsável.
Com o coração acelerado, comecei a correr em direção ao tumulto.
— O que está acontecendo? — Gritei, tentando fazer minha voz ser ouvida acima da algazarra, mas parecia que ninguém prestava atenção. Exceto Chuck, que me lançou um olhar divertido, sua risada ecoando enquanto ele segurava a barriga, dobrado de tanto rir. A cena era, no mínimo, desconcertante.
— Porque as garotas não são como você? Não tão malucas? — Ele comentou entre gargalhadas, desviando das pedras que continuavam a voar em nossa direção. Suas palavras me deixaram intrigada, até que finalmente ergui o olhar e avistei a responsável pelo caos.
A garota, que antes estava desacordada, agora se erguia em cima do ponto elevado, com pedras e alguns de nossos pertences nas mãos, lançando-os em nós sem hesitar. A visão era tão absurda que por um instante fiquei sem reação.
Gally, sempre ágil, correu até um pedaço de madeira grande e o ergueu acima de nossas cabeças, tentando nos proteger da chuva de pedras. Ela estava agindo como uma criança travessa, atirando pedras e pertences em nós, o que só tornava a situação mais engraçada do que realmente perigosa.
— Que menina irritante! O que ela acha que vai conseguir jogando essas coisas em nós? — Exclamei, olhando para Gally, que logo abriu um sorriso, compartilhando da mesma ironia. E, antes que pudesse me conter, comecei a rir diante a situação.
De longe, vi Thomas e Minho correndo em nossa direção, suas silhuetas ofegantes se destacando contra o céu que começava a tingir-se de tons alaranjados. Eles pararam ao nosso lado, ainda recuperando o fôlego, seus olhos movendo-se rapidamente, capturando cada detalhe do caos que se desenrolava diante deles. Eu, por outro lado, não conseguia conter o sorriso que insistia em se formar em meus lábios, enquanto a risada de Chuck, tão leve e contagiante, dominava o ambiente.
— Chuck, o que está acontecendo aqui? — Thomas foi o primeiro a romper o silêncio, sua voz carregada de perplexidade. Ele olhou para o garoto, que lutava para falar em meio à sua risada descontrolada, como se o que estava acontecendo fosse a coisa mais divertida do mundo.
— Garotas são incríveis! — Chuck conseguiu responder, entre risos, apontando para o alto com a mão ainda trêmula. Seus olhos brilhavam de um jeito que eu não via há tempos, e aquilo fez com que Thomas e Minho direcionassem seus olhares para o topo da construção.
— Se você jogar mais uma pedra... — Gally começou a dizer, sua voz soando como uma advertência, mas antes que pudesse completar a frase, um galho de árvore, grosso e pesado, voou e o atingiu em cheio na cabeça. A cena, tão inesperada e cômica, me fez dobrar de rir, sentindo o ar fugir dos meus pulmões enquanto me debruçava, tentando inutilmente conter a gargalhada que escapava sem controle.
— Acho que ela não gosta muito da gente! — Newt comentou ao meu lado, seu tom leve e irônico. Eu assenti, ainda sorrindo, enquanto observava Thomas e Minho desviando habilmente dos objetos que a garota, lá no alto, continuava a arremessar com uma teimosia quase infantil.
— Olha, só queremos conversar! — Thomas tentou, levantando a voz na esperança de alcançar a garota, mas parecia que suas palavras se perdiam no vento.
— Sabe, jogar essas pedras só prova que você é tão inútil quanto elas. Quer fazer o favor de parar ou vai continuar bancando a idiota aí em cima? — Gritei, minha paciência se esgotando rapidamente. Bufei, sentindo a frustração aumentar dentro de mim, quando percebi que ela apenas intensificava suas ações, como se estivesse provocando deliberadamente.
Determinada a acabar com aquela tolice, avancei com a intenção de subir e enfrentá-la, mas senti uma mão firme agarrar meu pulso. Olhei para trás, surpresa, e vi Thomas me segurando, seus olhos fixos nos meus, transmitindo uma autoridade silenciosa, como se já soubesse o que fazer para resolver aquilo.
— Ei! Sou eu, Thomas! — Ele gritou, sua voz reverberando pelo espaço entre nós. Automaticamente, meus olhos seguiram os dele, e lá em cima, vi a garota pausar, sua expressão momentaneamente suavizada pela surpresa. Ela inclinou a cabeça para fora, como se quisesse confirmar que era realmente ele.
O silêncio que se seguiu foi como uma pausa inesperada em meio ao caos, carregado de uma tensão quase palpável, como se todos nós estivéssemos esperando para ver o que aconteceria a seguir.
— Olha, eu vou subir, tá bom? — Thomas disse, sua voz calma, mas cheia de determinação. Encarei-o com descrença, revirando os olhos diante a ideia. — Só eu. — Ele acrescentou, me lançando um olhar que pedia confiança. Foi então que percebi que sua mão, antes segurando meu pulso, agora envolvia minha mão de um jeito quase protetor. Aquele toque inesperado fez uma onda de emoções conflitantes surgir em mim, e rapidamente, desvencilhei-me dele, sentindo uma pontada de raiva que não conseguia explicar.
Sem dizer mais nada, cruzei os braços e me afastei, caminhando até onde Minho estava. Meus olhos, entretanto, permaneciam fixos em Thomas, observando cada movimento enquanto ele começava a subir, avançando com cuidado.
Assim que Thomas desapareceu do nosso campo de visão ao alcançar o topo, um desconforto sutil começou a crescer em mim. A ausência dele, a falta de qualquer indício do que estava acontecendo lá em cima, fazia meu coração bater mais rápido, como se algo estivesse fora do lugar. Minho, ao meu lado, parecia perceber minha inquietação; seus olhos atentos captaram o movimento nervoso da minha mão, que se agitava involuntariamente. Ele a segurou com uma firmeza gentil, seus dedos entrelaçando-se aos meus com a intenção de trazer algum conforto. Quando olhei para ele, fui recebida por um sorriso sereno, um gesto que dizia muito mais do que qualquer palavra.
O tempo parecia ter desacelerado, e cada segundo se arrastava com uma lentidão torturante. Todos nós estávamos tensos, os olhares fixos no ponto em que Thomas havia desaparecido, como se esperássemos uma revelação iminente. Minha mente fervilhava com perguntas não respondidas: o que eles estavam conversavam m lá em cima? Por que tanto silêncio?
Finalmente, a impaciência venceu, e eu soltei um suspiro frustrado antes de gritar, minha voz ecoando pela clareira.
— O que está acontecendo aí em cima? — Minha tentativa de manter a calma foi em vão, e o tom elevado da minha voz traiu a tempestade interna que eu tentava esconder. Todos ao meu redor pareceram igualmente curiosos, seus olhares acompanhando o meu em direção ao topo da estrutura, esperando por uma resposta.
Houve uma pausa, carregada de expectativa, antes que Thomas finalmente aparecesse, sua figura se destacando contra o céu. Ele parecia distraído, os olhos voltados para a novata ao seu lado, mas logo começou a procurar alguém entre nós. Quando seus olhos encontraram os meus, vi a confusão em seu rosto enquanto ele notava minha mão entrelaçada à de Minho. Algo em sua expressão fez meu coração dar um salto, mas rapidamente ele desviou o olhar, tentando formular uma resposta.
— E aí, ela vai descer? — Newt perguntou, sua voz carregada de uma impaciência que refletia a minha própria. Todos estávamos aguardando, presos naquele momento, enquanto Thomas continuava em silêncio, observando a novata como se procurasse por uma resposta que não vinha facilmente. Aquele silêncio se estendeu, tornando-se quase insuportável, até que uma risada amarga escapou dos meus lábios. Chacoalhei a cabeça negativamente, incapaz de conter a ironia que borbulhava dentro de mim.
— Escuta, dá um tempinho pra gente, tá? — Thomas gritou lá de cima, e o som de sua voz fez Gally soltar um suspiro, enquanto os outros garotos não demoraram a fazer comentários maliciosos. Aquele coro de vozes envenenadas só serviu para alimentar a raiva que crescia dentro de mim, como uma chama prestes a escapar do controle.
— Quanto tempo quiser. — Gritei de volta, minha voz firme e carregada de uma frieza que escondia a tempestade emocional dentro de mim. Sem esperar por uma resposta, virei as costas e saí dali, me afastando daquela cena que começava a me sufocar. Talvez minhas ações fossem transparentes, talvez todos ali entendessem o porquê da minha atitude, mas eu me recusava a admitir isso, especialmente para mim mesma. Afinal, o que eu sabia sobre Thomas, além do que havia visto nesses poucos dias? Nada, e era assim que eu deveria continuar.
Caminhei até a área da cozinha, buscando refúgio nas tarefas cotidianas. Passei o resto do dia lá, ajudando Caçarola a preparar as refeições. Estar ali, ao lado dele, sempre me trazia uma paz que eu não encontrava em nenhum outro lugar. Compartilhávamos pensamentos semelhantes, e nosso humor leve fazia com que o trabalho se transformasse em algo quase terapêutico. Ríamos das pequenas coisas, e por um breve momento, consegui esquecer a agitação que havia deixado para trás.
Mas por mais que eu tentasse, meus pensamentos insistiam em voltar à garota e a Thomas, àquele tempo prolongado que passaram juntos lá em cima, longe dos olhos de todos. Eu lutei para afastar essas imagens, tentando enterrá-las no fundo da minha mente, mas sabia que aquilo era um sinal de algo que eu não estava pronta para admitir. Sentimentos complicados começavam a se formar, e eu me recusava a deixá-los crescer. Não podia me dar ao luxo de alimentar algo assim, não ali, não agora, naquele lugar onde as emoções podiam ser tão perigosas quanto qualquer verdugo.
MUDEI A ESTÉTICA DA HISTÓRIA!!
Estou simplesmente apaixonada por toda a estética nova! Se puderem voltar no capítulo de gráficos para dar uma olhadinha e comentarem lá, eu agradeceria demais, pois o apoio de vocês é maravilhoso!!
O que acharam desse capítulo? Mavie e Thomas obviamente morrendo de ciúmes um do outro praticamente em todo momentoo 🤭
E, por favor, não esqueçam de votar e comentar! Estou vendo muitos leitores fantasmas por aqui, e o que eu mais amo, depois de postar os capítulos, é ler os comentários de vocês e saber que estão gostando da minha obra! Vocês não fazem ideia do quanto isso me deixa feliz! 💛
Outra coisa: Estou super disposta a aderir ideias de vocês! Comentem aqui o que querem que eu faça mais pra frente, mas lembrem-se de que já tenho vários planos, então não vou acatar ideias que modifiquem esses planos!
Um beijo gigante,
Liss. ♥
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