02 | secrets.

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── ATO UM

Os garotos conversavam e brincavam entre si animadamente, como se estivessem celebrando a descoberta de um tesouro escondido. Era uma tradição: toda chegada de um novato era motivo de festa, não só pela pessoa nova, mas também pelos mantimentos que vinham enviados junto com ele.

A fogueira crepitava, lançando sombras dançantes nas faces animadas ao redor. E então havia a famosa bebida que Gally insistia em preparar em todas essas noites. Ninguém sabia ao certo o que ele colocava naquele líquido amargo e amarelado, mas com o tempo, todos se acostumaram com o gosto estranho e com a leve sensação de tontura que ele proporcionava.

Eu estaria mentindo se dissesse que hoje era um dia comum. Porque absolutamente não era.

Aquele garoto. Cabelos castanhos, olhos cor de mel, pintinhas espalhadas pelo rosto.
Seu nome era Stephen, mas em todos os meus sonhos ele insistia em dizer que eu o chamasse de Thomas. Cada vez que eu fechava os olhos, lá estava ele, sua voz doce e calma me acompanhando, noite após noite, como um fantasma confortador.

Vê-lo hoje, de verdade, com seu sorriso tímido e os olhos curiosos, foi um choque. Era como se o meu mundo onírico tivesse invadido a realidade de uma forma que eu não podia ignorar. Algo dentro de mim gritava que isso não era coincidência. Apertar sua mão e sentir o calor do seu toque fez meu coração disparar, como se estivesse tentando me alertar de algo importante. Você não sente seu corpo reagir de forma tão intensa com qualquer pessoa.

— Por que está tão quieta, ruiva? — A voz familiar de Minho interrompeu meu transe. Eu estava olhando fixamente para Thomas – ou Stephen –, que estava sentado ao lado de Newt, de costas para mim.

— Não estou quieta. — Repreendi, virando para encarar Minho com os olhos semicerrados. Ele tombou a cabeça para o lado, um sorriso de deboche se formando em seus lábios.

— Você é sempre a mais animada nessas comemorações. Acho que é a primeira vez que te vejo sentada, e... sóbria. — Ele riu ao concluir a frase, e eu abri a boca fingindo que sua observação havia me afetado profundamente, colocando a mão no peito dramaticamente.

Antes que eu pudesse respondê-lo, notei Newt e o novato passando em minha frente, atraindo minha atenção quando Newt começou a nos apresentar.

— Bom, esses são alguns dos nossos corredores. Presumo que já conheceu a ruiva, Mavie, e esse aqui é o Minho. Tem também o Ben, mas não faço ideia de onde ele está. De qualquer forma, Mavie é quem decide quem se torna um corredor. Então, se quer o cargo, é melhor impressionar a líder. Boa sorte com isso. — O loiro disse, com um sorriso irônico. Ele deu um tapinha no ombro do novato e me lançou um olhar divertido, enquanto eu sentia meu rosto corar de leve.

— Costumamos dizer que ela tem um coração de gelo. — Minho sussurrou, achando que eu não ouviria. Eu revirei os olhos e dei uma cotovelada leve em seu braço, fazendo-o levantar as mãos em rendição e soltar um sorriso divertido.

— Não sou tão cruel quanto eles estão tentando me fazer parecer. — Defendi-me, lançando um olhar severo para os dois que estavam claramente achando graça na situação, incluindo Thomas, que parecia se esforçar para não sorrir.

Foi quando o moreno começou a falar que Gally foi abruptamente lançado contra ele, quase caindo de rosto no chão devido à força do impacto. Ambos se ergueram rapidamente, seus olhares se cruzando com intensidade: Gally exibia um sorriso desafiador, enquanto Thomas, com o rosto fechado, parecia carregar uma mistura de raiva e confusão.

— Ah... Olha só, novato. Vamos ver do que você é capaz? — Gally zombou, e eu rolei os olhos com desdém.

Thomas olhava ao redor, visivelmente confuso, enquanto o círculo de garotos começava a se formar em torno deles, seus olhares brilhando com curiosidade e diversão.

Não demorou para que os gritos de "novato" ecoassem, incentivando-o a aceitar o desafio. Eu não concordava com aquilo, mas sabia que não podia impedi-lo; afinal, éramos apenas desconhecidos.

Vi-o se aproximar do círculo, e meu coração acelerou involuntariamente. Não era apenas um pressentimento ruim, mas uma preocupação genuína em vê-lo se machucar.

— Muito bem... As regras são simples, calouro. — Gally interrompeu o coro de gritos, sua voz carregada de um tom desdenhoso, provavelmente desconfortável com a torcida. — Vou tentar te empurrar para fora do círculo, e você tem que ficar dentro por 5 segundos. — Sua provocação arrancou risadas de todos, exceto de mim.

Antes mesmo que o novato pudesse se preparar ou respondê-lo, Gally lançou-se contra ele com uma força implacável, quase o arremessando para fora do círculo. Sendo impedido pelos outros garotos que o seguraram e o empurraram de volta para dentro.

Não demorou muito para que o novato estatelasse no chão novamente, e um gemido coletivo de dor percorreu o grupo. Minha perna balançava freneticamente, a inquietação crescendo com cada segundo que passava.

— Vamos lá, calouro, não acabou ainda. — Zombou Gally, observando o novato se levantar com uma fúria visível.

— Para de me chamar de novato. — Exigiu Thomas, a voz rouca e seca, enquanto limpava a areia das suas roupas.

— É pra parar? Como você quer ser chamado? Trolho? — A provocação afiada foi recebida com uma onda de risadas, e ele então se voltou para o grupo. — O que acham, garotos? — Fez uma pausa e olhou para mim. — Ruiva, acha que ele tem cara de trolho?

Antes que Gally pudesse voltar seu olhar para Thomas, o moreno avançou com uma rapidez brutal, agarrando a cintura do loiro e o empurrando com força. Gally conseguiu reagir e o empurrou de volta, fazendo-o cair no chão novamente. O novato bufava furiosamente, o rosto vermelho de raiva.

— Acho que você vai passar a ser chamado de trolho. — Gally zombou, provocando mais risadas dos garotos a nossa volta.

Então, em um movimento rápido, agarrou o quadril de Thomas, empurrando-o com força. Em um movimento impressionante e inesperado, o novato passou por baixo do braço de Gally e, com um impulso, o empurrou fazendo o loiro cair de cara no chão, a borda do círculo batendo contra seu nariz, ameacando a sair da linha demarcada.

O ódio estampado no rosto de Gally foi palpável quando ele, em um ato de raiva, passou o pé pelo corpo do novato já erguido, lançando-o ao chão com um impacto tão forte que fez um estrondo ecoar, silenciando os gritos dos garotos.

Nem percebi quando corri até o loiro, que se aproximava novamente de Thomas. Meu coração batia acelerado e lancei um olhar firme, fazendo-o parar instantaneamente.

— Já chega, agora. — Minha voz ecoou com firmeza, rompendo o silêncio com autoridade. Os murmúrios foram silenciados instantaneamente, e Gally, bufando em sinal de descontentamento, se afastou.

Caminhei rapidamente em direção ao moreno que estava estendido no chão, com a expressão contorcida pela dor. No entanto, parei imediatamente ao vê-lo levantar a cabeça e arquear as sobrancelhas, como se uma lembrança súbita tivesse surgido.

— Thomas... — O novato sussurrou, como se tivesse feito uma descoberta transcendente. Eu não compreendi imediatamente.

Ele me fitava intensamente, como se estivesse em transe.

— Thomas. — Repetiu, sua voz carregada de uma emoção crescente, antes de se levantar com uma rapidez inesperada. — Ai! Thomas! Lembrei do meu nome! Meu nome é Thomas! — Ele gritou, o sorriso explodindo em seu rosto, e um silêncio eletrizante tomou conta do ambiente.

— Thomas! — Alby gritou, sua voz cheia de entusiasmo, enquanto se dirigia ao novato e o abraçava com força.

Em instantes, todos se aglomeraram ao redor do garoto, envoltos em uma onda de congratulações e alegria contagiante. Eu observava, um sorriso se espalhando pelo meu rosto. A revelação do nome era sempre um dos meus momentos favoritos.

Enquanto esperava minha vez de parabenizá-lo, mantive-me afastada do tumulto dos garotos ao redor, mas não tanto que minha presença fosse invisível. Depois que ele cumprimentou cada um, percebi seu olhar vagando pelo espaço em busca de algo e, finalmente, fixando-se em mim.

Abri um sorriso, cujo ele retribuiu rapidamente começando a caminhar na minha direção. A antecipação fez meu coração bater mais rápido, e senti um gelo na barriga.

— Acho que agora consigo me apresentar de uma forma adequada. — Disse ele com um toque de ironia, enquanto estendia a mão. Soltei uma risada curta e aceitei o gesto, apertando sua mão com um toque de calor.

— Sou Thomas, prazer. — Sua voz era suave, e eu notei um leve rubor nas suas bochechas.

— O prazer é todo meu, Thomas. — Sussurrei seu nome com um tom suave. As cores em suas bochechas se intensificaram e, ao ver isso, um sorriso natural surgiu em meu rosto.

Achava adorável o seu jeito, e uma parte de mim sentia como se conhecesse essa maneira de ser há muito tempo. Sabia que não era mera coincidência esse sentimento, muito menos os sonhos constantes com ele ao meu lado. E isso era o suficiente para me motivar a descobrir o motivo por trás dessas sensações, não importava o que fosse.

Eu já conhecia o nome dele antes mesmo que sua memória pudesse alcançá-lo. Isso tinha que significar algo, e eu estava determinada a descobrir o porquê.

Se puderem votar e comentar irei ficar muito feliz, isso ajuda a me motivar a continuar escrevendo!

Um beijo gigante,
Liss.

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