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Reino de Lumaria - 1520

Castelo dos Lancaster - Século XVI

Agnes atravessou os portões do palácio, já se preparando mentalmente para o que estava por vir. Assim que entrou, o aroma familiar das flores ornamentais a envolveu, mas o conforto que aquele lugar geralmente proporcionava foi substituído por um nó no estômago. Ela sabia que teria que enfrentar seu pai e as consequências de sua escapada.

Antes que pudesse dar um passo adiante, Hilda apareceu à sua frente. A madrasta estava encostada em uma coluna, seu sorriso era tão falso quanto as joias que adornavam seu pescoço. Ao seu lado, Cornelia observava com um olhar de desdém, a expressão de satisfação no rosto.

- Oh, minha querida Agnes! - Hilda exclamou, com um tom de voz meloso que contrastava com sua verdadeira natureza. - Onde você esteve? Estávamos tão preocupadas!

Agnes revirou os olhos, um pensamento rápido cruzando sua mente: Como ela pode ser tão falsa? A hipocrisia de Hilda a incomodava profundamente, mas ela se forçou a manter o silêncio.

Hilda avançou, abraçando Agnes de maneira quase possessiva. A princesa se manteve rígida, não retribuindo o gesto, apenas sentindo desconforto com o afeto forçado. Como se ela realmente se importasse, pensou Agnes.

- Oh, querida, você não pode imaginar o quanto seu pai ficou preocupado! Ele está esperando por você no salão oval. Espero que você tenha aprendido a lição - Hilda continuou, seu olhar insinuante.

Agnes tentou se desvencilhar do abraço, seus pensamentos fervilhando. Aprender a lição? A única lição que aprendi é que não posso confiar em você ou na sua filha.

Cornelia se aproximou, um sorriso sarcástico nos lábios.

- Você deveria ter mais cuidado, princesa. Não é todo dia que você desaparece, e o rei não é conhecido pela sua paciência - disse Cornelia, maliciosa.

E você, com certeza, está se divertindo com isso, Agnes pensou, tentando ignorar a provocação.

Cordelia se aproximou, inclinando-se para sussurrar em seu ouvido:

- Espero que você encontre seu destino nas sombras, querida princesa. - O tom de voz da loira era doce, mas suas palavras eram venenosas, como uma cobra escondida na grama.

Agnes sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas manteve a compostura. Ela realmente acredita que pode me afetar com isso, pensou. Cordelia se afastou, um sorriso satisfeito nos lábios, como se tivesse cumprido uma missão.

Com isso, Agnes se virou, determinada a ignorar a provocação, e seguiu em direção ao salão oval, onde o olhar severo de seu pai a aguardava.

Assim que Agnes entrou no salão oval, o olhar do rei estava fixo nela, um misto de furor e preocupação. Ele estava sentado em seu trono, mas se levantou rapidamente, avançando em direção à filha com passos pesados. O coração de Agnes disparou ao ver a mão do pai levantada, e ela, instintivamente, abaixou a cabeça, pronta para levar o corretivo que achava que merecia.

Mas o que aconteceu a seguir a surpreendeu. Em vez de castigá-la, o rei a puxou para perto, envolvendo-a em um abraço apertado. Agnes ficou paralisada por um momento, atônita com a súbita mudança de atitude.

- Eu não posso perder você, como perdi sua mãe... - disse ele, a voz trêmula, enquanto a segurava firmemente. - A rainha Miranda... eu não suportaria outra perda.

As palavras do rei cortaram o coração de Agnes. O peso da responsabilidade e da dor que ele carregava se tornou palpável. Ela levantou a cabeça lentamente, os olhos cheios de lágrimas.

- Eu sinto muito, pai - ela murmurou, a bravura dando lugar à vulnerabilidade. - Eu não queria preocupá-lo.

O rei a olhou nos olhos, e por um momento, todo o rancor e frustração desapareceram, deixando apenas a essência do amor entre pai e filha.

- Prometa-me que você não fará mais isso. - Sua voz era firme, mas havia uma preocupação profunda nas suas palavras. - Você é tudo que eu tenho, Agnes.

O clima no salão oval começou a mudar novamente quando o rei, mantendo a mão ainda nos ombros de Agnes, deixou escapar um suspiro pesado.

- Foi uma vergonha que todos os pretendentes tenham sido mandados embora esta manhã - ele disse, a voz repleta de desapontamento. - Você precisa entender que sua posição exige isso.

Agnes franziu o cenho, rebatendo com firmeza:

- Eu já disse que não vou me casar!

O rei afastou-se um pouco, olhando para ela com incredulidade, como se suas palavras fossem um soco no estômago.

- Agnes, você precisa de herdeiros quando assumir o trono! É assim que as coisas funcionam.

Ela respirou fundo, lutando contra as emoções que fervilhavam dentro de si.

- O senhor não pensa em mim como a minha mãe pensava! Ela sempre dizia que eu deveria fazer as minhas próprias escolhas! - A indignação crescia em sua voz.

O rei, tomado pela frustração, perdeu a compostura. Ele se virou para a filha, os olhos flamejantes de raiva.

- Não venha me falar sobre sua mãe! Ela não está aqui para tomar essas decisões por você! - A grita ecoou pelo salão, fazendo Agnes recuar.

Com a mesma intensidade, Agnes gritou de volta, a raiva transbordando:

- Então talvez eu devesse ter outro pai! Um que me deixe viver minha vida como eu quiser!

O silêncio que se seguiu foi pesado e tenso. O rei e Agnes se encararam, ambos respirando pesadamente, as palavras trocadas pesadas como pedras entre eles.

O semblante do rei escureceu, como se uma sombra pesada tivesse sido lançada sobre ele. Ele respirou fundo, como se estivesse preparando o terreno para uma tempestade.

- Agnes, eu tomei uma decisão - ele disse, a voz grave e solene. - Eu e Hilda encontramos um pretendente para você. O príncipe de Eldoria, do reino de Valestia. As alianças entre nossos reinos são fortes, e isso ajudará Lumaria a crescer.

A indignação subiu como uma chama dentro de Agnes, e ela sentiu o calor do constrangimento percorrendo seu rosto.

- O que você disse? - Ela não conseguia acreditar no que acabara de ouvir. - Você tomou essa decisão sem me consultar? Sem pensar em mim?

O rei, visivelmente magoado, tentou manter a calma.

- Eu fiz isso pelo bem do reino, Agnes. Você precisa entender que suas escolhas também impactam o futuro de Lumaria.

- O futuro de Lumaria? - ela gritou, o sarcasmo transbordando em sua voz. - Isso é sobre mim! Você está fazendo isso às minhas custas!

Nesse instante, Hilda entrou no salão, como uma serpente que desliza silenciosamente. Ela tinha um sorriso satisfeito no rosto, mas Agnes não podia ver além de sua fachada falsa.

- Oh, querida Agnes! - Hilda disse, fingindo preocupação. - O que está acontecendo?

Agnes se virou para a madrasta, o dedo apontado em sua direção como se estivesse prestes a lançar um feitiço.

- Você! - ela exclamou. - Isso é tudo uma armação sua, não é? Você quer me tirar de Lumaria para deixar o reino nas mãos daquela peste da Cordelia!

Hilda, tomando um passo à frente, tentou manter a compostura, mas a provocação de Agnes a incomodava.

- Estou apenas pensando no que é melhor para todos nós, minha querida. O príncipe é uma oportunidade para você, e Lumaria precisa de alianças.

- Você só quer me usar como uma peça no seu jogo! - Agnes gritou, a frustração e a dor transbordando de seu ser.

O rei, visivelmente dividido, levantou as mãos.

- Chega! Isso já foi decidido. O príncipe chegará na sexta-feira para o jantar. Você deve se preparar.

Agnes sentiu uma onda de desespero a invadir.

- Eu não vou a lugar nenhum - declarou, a determinação em sua voz inabalável.

O rei fixou o olhar na filha, sua expressão endurecendo.

- Agnes, você está proibida de sair do castelo e muito menos de se encontrar com Beaufort. A reputação da princesa em ser vista com um homem solteiro pode causar um escândalo para o reino - ele disse, sua voz implacável.

A indignação cresceu dentro de Agnes como uma tempestade prestes a se desfazer.

- Você não pode me proibir de ver um amigo! - ela exclamou, a fúria moldando suas palavras. - Ryder é um dos poucos que se importa comigo, e você quer afastá-lo de mim?

O rei endureceu ainda mais o semblante.

- Para deixar ainda mais claro o noivado, convido o duque e seu tio para o jantar. Além de outros convidados, incluindo a família do príncipe, que já foi avisada com bastante antecedência.

Agnes mal podia acreditar no que estava ouvindo.

- Isso é absurdo! Você já estava planejando tudo isso sem me contar? - sua voz estava elevada, a dor e a traição cortando seu coração.

- A decisão foi tomada, Agnes. É para o bem do reino, e você precisa entender isso - o rei disse, mas a preocupação em seus olhos era clara.

Desesperada, Agnes sentiu as lágrimas escorrem pelo seu rosto.

- Eu te odeio! - gritou, a voz quebrada pela emoção. - Você está destruindo a minha vida!

E, sem esperar uma resposta, ela se virou e saiu correndo em direção aos seus aposentos, os ecos de seus passos ressoando pelos corredores do palácio. O desespero e a raiva a acompanhavam, enquanto o peso das expectativas e dos planos de seu pai a sufocavam.

Sozinha em seu quarto, Agnes deixou as lágrimas caírem livremente, sentindo que estava presa em uma armadilha da qual não conseguia escapar.

Os dias passaram, e Agnes encontrou um escape em treinos clandestinos, aliviando a raiva e a frustração que borbulhavam dentro dela. Com a espada em mãos, ela se movia com graça e determinação, cada golpe sendo um reflexo de sua luta interna contra o noivado imposto e as expectativas de seu pai.

Um dia, enquanto executava um movimento de espada com precisão, a porta do local secreto se abriu silenciosamente, e Orion apareceu, sua presença imponente fazendo Agnes congelar por um momento. Os cabelos negros e os olhos verdes cintilantes da princesa brilharam com surpresa.

- O que você está fazendo aqui? - ela perguntou, tentando esconder rapidamente a espada atrás das costas, mas não conseguiu enganar o chefe da guarda real. Ele já conhecia o seu segredo.

- Você realmente acha que pode esconder isso de mim? - disse Orion, com um meio sorriso. - Você é o Cavaleiro de Prata, o maior guerreiro do reino. Não sou cego.

Agnes suspirou, aliviada, mas também preocupada.

- Por favor, não conte ao meu pai. Isso o mataria de desgosto - ela implorou, seus olhos suplicantes fixos nos dele.

Orion hesitou, avaliando a situação.

- Não direi nada, mas você precisa prometer que não tentará ir para a guerra escondida - ele advertiu. - Mesmo sendo a melhor, você ainda é uma mulher, e a morte de uma princesa seria um golpe devastador para Lumaria.

Agnes baixou a cabeça, reconhecendo a verdade em suas palavras.

- Eu sei... mas a ideia de ser obrigada a me casar e me tornar uma peça em um tabuleiro de xadrez me revolta. Sinto que não tenho controle sobre minha vida.

Orion observou enquanto ela olhava para a bela estátua de Miranda no roseiral, uma versão menor da imponente escultura que se erguia no centro da cidade de Lumaria. A estatua representava não apenas a memória da mãe de Agnes, mas também a força e a bravura que ela sempre desejou ter.

- Sua mãe foi uma mulher forte - disse Orion, seguindo seu olhar. - Você herdou essa força, vossa alteza. Mas a luta não precisa ser física. Às vezes, a verdadeira batalha é aquela que lutamos dentro de nós mesmos.

Agnes respirou fundo, absorvendo as palavras do amigo.

- Eu só quero ser livre - ela disse finalmente, a determinação voltando a brilhar em seus olhos.

- Então lute por sua liberdade, mas com sabedoria - Orion aconselhou, sua voz firme. - Você precisa pensar mais antes de agir, lutar contra o rei nem sempre é a solução. Bem, vamos fingir que essa conversa não aconteceu, afinal sirvo ao rei e dizer isso a filha dele certamente não é algo que ele gostaria de ouvir.

- Um segredo por outro. Obrigada Orion, você é até que legal. Mas ainda tenho muito a fazer. Até breve.

Com um novo senso de esperança, Agnes acenou para ele, sentindo que, mesmo em meio a toda a confusão, ainda havia espaço para a luta e a liberdade.

A jovem princesa Agnes retornou ao palácio, sentindo o peso da raiva e da frustração ainda fervendo em seu interior. Assim que entrou, encontrou Yanna à sua espera, pronta para dar-lhe um banho relaxante e prepará-la para a noite que se aproximava. A criada, com seu olhar gentil e mãos habilidosas, começou a encher a banheira com água morna, aromatizada com ervas delicadas.

Enquanto se despia, Agnes começou a falar sobre a conversa horrível que teve com seu pai, a revelação do noivado que ela não aprovava, a manipulação de Hilda e sua filha, e a breve interação com Orion que, embora reconfortante, só a deixava mais confusa.

- E o pior de tudo é que o pai não parece entender o que estou passando! - Agnes exclamou, imersa em seus pensamentos enquanto mergulhava na água. - Ele só pensa no que é melhor para o reino, sem se importar se eu sou feliz ou não!

Yanna começou a ensaboar os cabelos de Agnes, ouvindo atentamente.

- Você merece ser feliz, princesa Agnes. Ninguém deveria ser forçado a se casar apenas para formar alianças.

Agnes suspirou, sentindo-se aliviada por ter alguém com quem compartilhar seus sentimentos.

- Sabe que pode me chamar de Agnes. E aquela Hilda! Sempre com aquele sorriso falso, como se realmente se importasse comigo. Não consigo suportar isso!

Yanna riu suavemente, quebrando um pouco da tensão no ar

- Verdade! Mas e quanto ao chefe da guarda, Orion? - perguntou Yanna, com um sorriso malicioso. - Você não parece ter mencionado o quanto ele é encantador.

Agnes revirou os olhos, mas não conseguiu esconder um sorriso involuntário.

- Ah, Orion... ele é apenas um amigo distante. Uma conversa rápida que tivemos.

Yanna suspirou, seus olhos brilhando.

- Apenas um amigo? Ele é tão... bem, você sabe, forte e destemido. - Yanna deu um sorriso sonhador, fazendo Agnes levantar uma sobrancelha.

- Parece que você está gostando dele! - Agnes provocou, piscando para a amiga. - Está pensando em se tornar a dama do chefe da guarda?

Yanna corou, balançando a cabeça rapidamente.

- Não, não! É só que... ele é incrível. E se preocupa com você, Agnes. Isso diz muito sobre ele.

Agnes sorriu, apreciando a paixão da amiga.

- Então, quem sabe um pouco de amor poderia ajudar a enfrentar o meu pai e esse noivado? - disse Agnes, com um ar brincalhão.

Yanna riu, tentando esconder o rosto na toalha enquanto pensava em Orion.

- Você sabe que ele é apenas um amigo, certo? - Agnes continuou a provocá-la.

- Claro! Mas isso não significa que eu não possa sonhar! - respondeu Yanna, agora com um sorriso envergonhado.

A conversa continuou, e, enquanto Yanna finalizava o banho de Agnes, a jovem princesa não pôde deixar de pensar sobre a luta que se aproximava. A batalha por sua liberdade, o peso do trono e as possíveis conexões que estavam se formando ao seu redor deixavam-na inquieta.

Yanna e as outras criadas se movimentavam rapidamente, trabalhando em perfeita harmonia para preparar Agnes para a noite que se aproximava. Elas vestiram a princesa com um magnífico vestido preto, que acentuava suas curvas de maneira deslumbrante. O tecido suave caía delicadamente ao longo de seu corpo, e a saia se espalhava como sombras dançantes ao redor dela. O decote elegante e as mangas esvoaçantes conferiam um ar de dignidade, enquanto detalhes sutis de renda davam um toque de sofisticação.

Assim que Agnes se viu no espelho, não pôde deixar de admirar a beleza refletida. A combinação da cor escura com seu cabelo negro e os olhos verdes fazia dela uma visão deslumbrante e intrigante. Era a imagem perfeita da rebeldia, um contraste ao papel que a esperava naquela noite.

Yanna não conseguiu conter sua empolgação e exclamou:

- Você está deslumbrante, Agnes! Esse vestido é absolutamente perfeito para irritar um rei!

Agnes soltou uma risada leve, balançando a cabeça em descrença.

- A última coisa que quero é impressioná-lo, mas, se causar um pequeno escândalo, já será um bom começo.

Yanna sorriu, admirando a confiança da amiga. As criadas terminaram os últimos retoques, ajustando os detalhes do vestido e arrumando o cabelo de Agnes em um elegante coque, com algumas mechas soltas emoldurando seu rosto.

- Você está pronta para causar uma boa impressão, mesmo que seja apenas para deixar claro que não aceita esse noivado - disse uma das criadas, com um olhar cúmplice.

- E que o príncipe saiba que não sou uma peça de xadrez para ser movida a bel-prazer - Agnes respondeu, seu olhar firme refletindo determinação.

Enquanto elas se preparavam para a noite, Agnes sentia uma mistura de ansiedade e excitação. Era a primeira vez que ela realmente se sentia no controle da situação, e estava decidida a mostrar a todos que não seria apenas uma princesa em um casamento arranjado.

- Vamos dar um espetáculo, Yanna! - disse Agnes, um sorriso travesso surgindo em seu rosto. - Que comece a noite!

Os convidados começaram a chegar ao palácio, e a atmosfera estava carregada de expectativa. Entre eles, Ryder entrou com uma cortesã que chamava a atenção de todos. A jovem que o acompanhava exibia um decote ousado, atraindo olhares de admiração e reprovação. Seu tio, que o seguia de perto, observava com desaprovação, a frustração clara em seu rosto.

- Ryder, por favor, tenha um pouco de decoro - sussurrou o tio, desesperado para que o sobrinho não arruinasse a noite. Mas Ryder apenas sorriu, seu olhar fixo na sala, determinado a causar impacto.

- Estou apenas me divertindo, tio - respondeu ele, com um brilho travesso nos olhos. - Afinal, o que é uma festa sem um pouco de emoção?

As trombetas ressoaram pelo salão, anunciando a chegada do príncipe. Os murmúrios se intensificaram, e todos se voltaram para a porta, prontos para receber o visitante ilustre. Ryder, no entanto, franziu a testa ao ver o príncipe Edwin Brasalt entrar, sua expressão de desprezo não disfarçada.

O príncipe era um homem de presença marcante, com cabelos escuros e um sorriso confiante. Ele cumprimentou os convidados com um aceno elegante, mas Ryder sabia que havia mais do que apenas superficialidade em seu charme. Uma longa história os unia, cheia de rivalidades e desentendimentos que não seriam abordados naquele momento.

- Que coincidência vê-lo aqui, príncipe - Ryder comentou, seu tom sarcástico. Edwin lançou um olhar afiado para Ryder, reconhecendo o desafio implícito nas palavras do duque.

- O prazer é meu, duque - respondeu Edwin, com um sorriso que não chegava aos olhos. - Espero que esta noite seja... memorável.

A tensão entre os dois era palpável, mas antes que algo mais pudesse acontecer, o rei entrou no salão, chamando a atenção de todos. Com uma expressão de autoridade, ele se dirigiu aos convidados, prontos para dar início ao jantar.

Agnes, observando de longe, sentiu o coração disparar ao ver Ryder e Edwin juntos. A combinação do príncipe e do duque em uma única sala prometia um espetáculo que ninguém esqueceria tão cedo. Com determinação, ela decidiu que sua presença ali não passaria despercebida.

- Que comece o jogo - murmurou Agnes para si mesma, um sorriso desafiador nos lábios.

O anúncio dos monarcas fez todos os olhos se voltarem para as escadas. O rei, com uma expressão autoritária, desceu os degraus, seguido pela rainha Hilda, que exibia um sorriso de satisfação. Todos reverenciaram o monarca e sua esposa, enquanto Cordelia, em um vestido amarelo brilhante, se destacava em meio aos convidados.

Mas a verdadeira atenção estava em Agnes, que descia logo atrás, com um vestido preto que moldava perfeitamente sua figura e contrastava com a cor vibrante de Cordelia. Ryder, que a observava de longe, sentiu uma pontada estranha no peito ao vê-la. Algo na forma como ela caminhava e como seu olhar desafiador se encontrava com o dele o deixou intrigado. A cortesã ao seu lado notou a mudança em seu semblante.

- Você está bem? - perguntou a jovem, com um olhar curioso.

Ryder assentiu, embora uma inquietação crescesse dentro dele. Ele estava mais ciente de Agnes do que nunca, e isso o deixava desconfortável.

Logo, o príncipe Edwin se aproximou das escadas, seus olhos fixos em Agnes. A intensidade do olhar dele a deixou um pouco nervosa, mas ela se manteve firme, não permitindo que isso a abalasse. Edwin, com um charme inegável, alcançou a mão de Agnes, segurando-a delicadamente enquanto a beijava.

- Vossa alteza, você está encantadora, é um prazer finalmente conhece-la - disse ele, o sorriso largo e a voz suave, mas com um tom possessivo que não passou despercebido por Ryder.

Agnes forçou um sorriso, embora a raiva e a frustração fervessem dentro dela. A última coisa que desejava era ser vista como uma propriedade a ser conquistada.

- O prazer é todo meu, príncipe - respondeu Agnes, tentando manter a compostura. - Espero que sua visita a Lumaria seja tão interessante quanto esperava.

Ryder, observando a cena, sentiu uma onda esquisita em seu peito que o deixou inquieto. Edwin parecia devorar Agnes com os olhos, e a maneira como a segurava a deixava ainda mais irritada. Hilda e Cordelia trocavam olhares satisfeitos, contentes em ver a princesa recebendo a atenção do príncipe.

O jantar começou, mas a tensão no ar era palpável. Enquanto os pratos eram servidos, Ryder não conseguia desviar o olhar de Agnes e Edwin, lutando contra a confusão de sentimentos que o dominava. Ele queria gritar, intervir, mas sabia que deveria se comportar, não apenas como um duque, mas também como um amigo.

- Esse maldito, espero que seja esperta com ele Agnes - murmurou Ryder para si mesmo, embora soubesse que não podia dizer isso em voz alta.

Agnes, por sua vez, estava determinada a não deixar que aquela noite a dominasse. Ela olhou para Ryder, buscando um olhar que a fizesse sentir que ainda havia alguém do seu lado. E quando os olhos deles se encontraram, um breve instante de compreensão passou entre eles, como se ambos soubessem que a verdadeira batalha estava apenas começando.

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