𖣔▮𝗜𝗡𝗧𝗥𝗢𝗗𝗨𝗖𝗧𝗜𝗢𝗡.

THE HEIR'S DELIGHT | PROLOGUE
jacaerys velaryon × naerys targaryen
BY ROMANOVAKEZWOF © 2025


i wanna be king in your story, i wanna know who you are, i want your heart to beat for me, i want you to sing to me softly, 'cause then I'm outrunning the dark, that's all that love ever taught me

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DRIFTMARK
📍 122 d.c.

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O sol estava alto, afundando Driftmark em sua luz dourada, fazendo o mar ao redor brilhar como um espelho de cristal. As ondas batiam com suavidade contra as pedras escuras e gastas do litoral, criando um som rítmico que ecoava por toda a ilha. O ar carregava o cheiro salgado do oceano, misturado ao aroma mais pungente de algas que se enroscavam nas rochas.

A costa parecia silenciosa, como se até o mar respeitasse o luto. Mas, apesar da beleza do cenário, a atmosfera era pesada, carregada de tristeza e tensão.

No centro, diante das sepulturas ancestrais da Casa Velaryon, estava o caixão de pedra de Lady Laena Velaryon. O rosto esculpido na pedra capturava sua beleza, agora imortalizada na frieza do mármore. Cavaleiros da Casa Velaryon, de armaduras brilhantes, ajustavam as cordas ao redor da tumba, preparando-se para lançá-la às profundezas do mar, conforme a antiga tradição. A expectativa pairava no ar, e todos os olhos estavam voltados para o tio da falecida, Vaemond Velaryon, que se posicionava à frente da multidão.

Tubī Velario Lentro Abrazme Laene iēdrarta mōrqiitot, mazīlarē Elēdrion ziry umīsilzaluo dariot, hannagon Embrurliot gierūlti. Solion tolijot zijosy pradarose, Abrazma Laena raeniot hen eglio ilvot lanto taloti hembis. Pōja muna hen zyhō solio amazilus daor, yn anagrosa gierī ozletaksi humbilza... (Estamos aqui reunidos na Sede do Mar para entregar Lady Laena da Casa Velaryon às águas eternas, o domínio do Rei Bacalhau, onde ele a guardará por todos os dias que virão. Conforme adentra o mar para sua última viagem, Lady Laena deixa duas filhas legítimas na costa. Embora a mãe não retornará desta viagem, elas permanecerão unidas pelo sangue...) ─ Vaemond, com suas vestes ricamente bordadas em tons de azul e prata, erguia o queixo, seu olhar fixo no caixão. Ele falava no Antigo Valiriano, sua voz ressoando com uma gravidade que parecia puxar o sol mais para baixo no céu. Suas palavras eram fluidas, cheias de tradição, mas havia uma ponta de amargura nelas, algo que a maioria dos presentes não conseguia ignorar.

A algumas fileiras de distância, o rei Viserys I Targaryen estava com sua esposa, Alicent Hightower, e seus filhos, todos vestidos em verde escuro. A diferença no luto, o verde contra o negro, era mais que simbólica.

Era uma declaração silenciosa da cisão entre as duas facções.

Aegon, agora com dezesseis dias do nome, estava de pé, os braços cruzados, o semblante entediado enquanto seus olhos vagavam por tudo, menos pela cerimônia. Helaena, ao lado dele, com suas feições serenas e os cabelos prateados caindo sobre os ombros, olhava para o mar, distraída, como se estivesse em outro mundo. Ao lado dela, Aemond e Naerys permaneciam quietos, observando com olhares intensos, absorvendo a tensão à sua volta.

Naerys, com o semblante fechado, mantinha os olhos fixos em Laenor Velaryon, que estava chorando desamparadamente ao lado de sua esposa, a princesa Rhaenyra, e seus filhos. Seu filho mais jovem, Lucerys, tentava segurar a mão de Laenor, num gesto inocente de conforto, seus pequenos dedos mal tocando o homem que parecia se afogar em tristeza. A cena apertava o coração de quem via, mas Naerys, de semblante pálido, parecia ser uma das poucas que olhava diretamente, absorvendo aquele momento com um entendimento muito além de sua idade.

A poucos metros de Laenor, as filhas de Laena, Rhaena e Baela, choravam abraçadas à avó, a princesa Rhaenys, cujos olhos brilhavam de tristeza, mas também de uma raiva silenciosa, como uma tempestade prestes a romper sobre o horizonte calmo.

O recente viúvo, o Príncipe Daemon, estava imóvel, uma estátua de gelo em meio ao calor do dia, seu rosto inexpressivo, mas seus olhos, se alguém ousasse olhar de perto, estavam vazios, como se sua alma estivesse perdida no mesmo lugar para onde sua esposa estava sendo enviada.

Velario anogrō ry lopor ojaris. (O sal corre pelo sangue dos Velaryon.) ─ Sua voz crescendo em intensidade, começou a falar de forma mais direta, ainda que velada, sobre o legado de Laena e das filhas que ela deixara para trás. ─ Īlvo qumblī iaris. Īlvo drējī iaris, se dōrī vajinagon īlvo bēvilis. (Pelo grosso sangue. Pelo sangue verdadeiro, que nunca se diluirá...) ─ Vaemond não mencionava nomes, mas as palavras vinham carregadas de insinuações, sobre linhagens e sangue verdadeiro, sobre a honra da Casa Velaryon e como ela deveria ser mantida pura e incontestável.

A menção causou um burburinho baixo entre os presentes.

Alicent lançou um olhar discreto, mas satisfeito, para Rhaenyra, cujos lábios apertaram-se numa linha fina, os olhos cheios de vergonha mal contida. Viserys, velho e cansado, apenas lançou um olhar preocupado para sua herdeira. O peso da perda de Laena parecia menor diante da sombra das suspeitas e desconfianças que cresciam entre as duas casas.

Enquanto o discurso de Vaemond terminava, Rhaenyra, ainda segurando os braços de seus filhos, sentiu a pressão dos olhares sobre si. Era como se as palavras insidiosas de Vaemond tivessem liberado uma corrente silenciosa de julgamentos que, uma a uma, as cabeças se voltavam em sua direção. Ela sentiu o calor nos rostos de Viserys, Alicent e até alguns senhores Velaryon, seus olhares pesados com o fardo de uma dúvida que já estava lá, mas que agora se agitava como uma serpente à espreita.

A Rainha Consorte, em particular, parecia observá-la com uma satisfação velada, um brilho frio em seus olhos que Rhaenyra conhecia muito bem.

O desconforto crescia no peito de Rhaenyra, que manteve seu semblante firme, recusando-se a permitir que qualquer traço de vulnerabilidade surgisse em seu rosto. Ainda assim, seus dedos apertaram um pouco mais forte o ombro de Lucerys, que estava a seu lado, e ela sentiu os olhos curiosos e incertos de Jacaerys voltados para ela, buscando orientação, segurança.

E então, como se a tensão no ar estivesse prestes a estourar, o som repentino de uma risada ecoou pela praia, cortando o ambiente pesado como um golpe de faca. A risada não era alta, mas clara o suficiente para capturar a atenção de todos.

Daemon Targaryen.

O viúvo, ainda parado diante do mar, com os braços cruzados e o semblante anteriormente impassível, agora exibia um sorriso amargo, os olhos escuros cintilando com uma mistura de cinismo e desdém.

A risada de Daemon, deslocada e imprópria para o momento, causou uma onda de choque entre os presentes. As cabeças se voltaram imediatamente em sua direção, os olhares variando entre surpresa, reprovação e confusão. Rhaenys, a mãe de Laena, olhou para Daemon com puro desgosto, seus olhos faiscando com a indignação de uma mãe que via o luto pelo corpo da filha ser profanado com leviandade. Corlys, ao seu lado, mantinha o semblante rígido, mas seus olhos escureceram ao fitar o príncipe Targaryen.

Daemon, no entanto, não parecia se importar.

Seus lábios ainda curvados em um sorriso malicioso, ele ergueu o queixo com arrogância, como se estivesse acima do luto, acima das formalidades e, de certo modo, acima da própria dor.

Rhaenyra, observando-o de onde estava, soube de imediato que aquela risada, aquela exibição desconcertante, não era uma provocação ao luto. Era, na verdade, um gesto calculado - um escudo improvisado, algo para desviar a atenção dela e de seus filhos, afastando os olhares inquisitivos e maliciosos que pesavam sobre sua família.

O príncipe conhecia muito bem o desconforto que Rhaenyra sentia, e aquela risada deslocada era sua maneira de tirar o foco dela e atrair para si mesmo. Mesmo viúvo, mesmo em um momento de tamanha perda, ele preferia carregar a chama da controvérsia do que permitir que sua sobrinha suportasse sozinha o peso das suspeitas que se acumulavam como nuvens escuras ao redor dos seus filhos.

Talus mandus nuhus. Inkoso kostōbapis aōhos jelmīs sagon, gīso lykapas aōhas embos, se prūmysa lēpadas aōhas manengīs. (Minha gentil sobrinha, que seus ventos sejam tão fortes quanto suas costas, que seu mar seja tão calmo quanto seu espírito, e suas redes sejam tão cheias quanto seu coração.) ─ Os murmúrios entre os presentes aumentaram, mas logo foram silenciados quando os guardas, seguindo o comando silencioso de Vaemond, começaram a puxar as cordas que prendiam o caixão de pedra de Laena. ─ Hen embar masti, a embrot amazīli... (Do mar viemos, e para o mar retornaremos...)

O som das cordas rangendo contra as roldanas de metal, misturado ao som distante das ondas, voltou a preencher o silêncio, e todos os olhares se voltaram mais uma vez para o caixão. O corpo de Lady Laena, agora envolto pela pedra esculpida, foi inclinado lentamente para a borda do penhasco, onde o mar cristalino esperava pacientemente.

Quando o caixão de pedra finalmente afundou nas águas do mar, um silêncio reverente se estabeleceu, as ondas respeitando o momento de transição entre a vida e a morte.

As águas, salgadas e claras, acolheram o corpo da Velaryon, envolvendo-a como haviam feito com seus ancestrais. Por um momento, o silêncio foi absoluto.

Aquele era o fim de Lady Laena Velaryon, unida ao mar e ao legado de sua casa para sempre.

As pessoas começaram a se dispersar aos poucos, deixando o local sagrado da cerimônia para que o velório continuasse em outro ponto, onde aguardavam bebidas e comida para os que compareceram à despedida. O clima, embora ainda pesado, começou a mudar sutilmente. Murmúrios baixos surgiam entre os presentes, e passos lentos sobre o solo rochoso ecoavam conforme os convidados, em silêncio respeitoso, se moviam na direção das mesas de banquetes.

Naerys permaneceu ao lado de seus irmãos, os olhos vigilantes, parecendo absorver tudo ao seu redor com uma intensidade peculiar.

Ela os acompanhava em silêncio, mantendo-se próxima a Aegon, Helaena e Aemond, como se temesse se distanciar demais deles.

Seu comportamento destacava-se, não por ser inadequado, mas por sua quietude ser tão incomum para uma criança da sua idade. Não era o comum de Naerys, ela era uma criança que adorava ser o centro das atenções. Mas, naquele momento, sabia que deveria apenas prestar respeito aos Velaryon.

Ainda assim, em um momento de sensibilidade, Naerys se afastou brevemente, seus pés ligeiros a levaram até onde Rhaena e Baela ainda estavam, de mãos dadas, abraçadas à sua avó, Rhaenys. As duas meninas choravam em silêncio, as faces manchadas por lágrimas, o luto ainda fresco e quase incompreensível.

─ Lamento pela sua mãe, primas... ─ Disse Naerys, sua voz baixa, mas firme, ao se aproximar delas. Suas palavras carregavam um peso de empatia incomum para alguém tão jovem.

Baela, os olhos inchados de tanto chorar, olhou para Naerys e apenas assentiu, enquanto Rhaena apertava mais forte a mão da irmã, sem conseguir responder. Rhaenys, por sua vez, ergueu os olhos para a menina Targaryen e acenou em agradecimento, embora seu olhar permanecesse endurecido, um reflexo da tempestade interna que lutava para controlar.

Sem esperar mais, Naerys retornou rapidamente ao lado de seus irmãos, reassumindo seu lugar com uma naturalidade surpreendente.

Não havia pressa em seus movimentos, apenas a necessidade de estar junto deles.

Aegon, por sua vez, já começava a se entregar ao álcool.

Ele aceitava cada taça de vinho que os serviçais lhe ofereciam, erguendo os copos sem hesitação, como se o luto e a solenidade do momento fossem uma desculpa perfeita para seu desejo de se embriagar. Sua expressão já estava ligeiramente relaxada, os traços suaves do rosto marcados por um início de embriaguez precoce.

Helaena e Naerys, alheias à exibição de Aegon, sentaram-se no chão de pedra fria, ambas focadas em algo aparentemente muito mais interessante para suas mentes jovens: uma aranha que Helaena havia encontrado no chão. Seus dedos delicados brincavam com a criatura, movendo-a de um lado para o outro, enquanto Naerys observava com uma curiosidade distante, ocasionalmente dando um pequeno sorriso para sua irmã. A simplicidade da cena contrastava com a seriedade do ambiente ao redor, mas ali, naquele pequeno espaço, as duas meninas pareciam isoladas do resto do mundo.

A alguns metros de distância, Aemond e Aegon estavam engajados em uma conversa mais adulta. Aemond, sempre observador, mantinha o olhar no irmão mais velho enquanto falavam, como se tentasse entender as complexidades do comportamento de Aegon, que oscilava entre despreocupação e uma crescente embriaguez.

Aegon, no entanto, gesticulava com a taça na mão, falando algo sobre a cerimônia e o quão "desolador" tudo parecia, embora houvesse uma indiferença em suas palavras.

Aemond escutava, mas seus olhos frequentemente se voltavam para o mar, perdidos em pensamentos que ele não compartilhava.

Do outro lado do pátio, Alicent estava parada ao lado de Sor Criston Cole, os dois observando em silêncio os convidados que ainda se dispersavam. Seus olhos, porém, estavam fixos em Rhaenyra e seu filho mais velho, o Príncipe Jacaerys. Alicent observava a interação entre mãe e filho com atenção, como se cada gesto, cada palavra, estivesse sendo minuciosamente avaliado. Ela permanecia estoica, os dedos entrelaçados em frente ao corpo, enquanto seus olhos seguiam cada movimento de Rhaenyra.

Rhaenyra, por sua vez, estava inclinada para falar algo a Jacaerys.

Seus olhos suavizaram por um momento enquanto se dirigia ao filho, sua voz baixa, mas carinhosa, o tom de uma mãe que busca dar conforto e orientação em um momento de perda.

Jacaerys assentiu, os olhos sérios enquanto olhava para sua mãe. Sem dizer mais nada, ele se afastou lentamente, seus passos seguros enquanto cruzava o pátio em direção a Rhaena e Baela. Rhaenyra o observou até que ele estivesse a uma distância segura, e então ajeitou sua postura, como se só naquele momento tivesse percebido que estava sendo observada.

Ela ergueu os olhos e encontrou o olhar de Alicent.

A Rainha a fitava com uma expressão calculada, sem traços de emoção aparente.

Ao lado dela, Sor Criston também observava com seus olhos penetrantes, como se esperasse um deslize, algo que ele pudesse usar contra ela. Rhaenyra sorriu, um sorriso pequeno, quase formal, mas suficientemente controlado para não demonstrar nenhuma fraqueza. Ela sabia que cada movimento, cada palavra, estava sendo cuidadosamente dissecada, mas se recusava a deixar transparecer qualquer desconforto.

Alicent não sorriu de volta. Seus olhos, embora atentos, eram frios como gelo, e a tensão entre as duas mulheres era palpável, mesmo à distância.

Um olhar que dizia mais do que qualquer palavra dita entre elas naquele dia...

Jacaerys se aproximou cautelosamente das primas, observando com pesar o estado fragilizado das meninas. Ele queria dizer algo, qualquer palavra de conforto que pudesse aliviar minimamente a dor delas, mas ao encarar os rostos devastados de Rhaena e Baela, Jace percebeu que nenhuma palavra seria suficiente para preencher o vazio que sentiam. Um nó se formou em sua garganta; a sensação de impotência o paralisou. Ele apenas assentiu, respeitoso, e se afastou em silêncio, recuando até um parapeito próximo, com a vista ampla para o mar, onde o sol ainda reluzia sobre as águas.

Ali, Jacaerys ficou em silêncio, o olhar perdido no horizonte, onde o mar se estendia até se fundir com o céu.

Mas o que se via em seu rosto era um vazio sombrio.

Não apenas pela perda recente de sua tia, mas por uma tristeza mais profunda, como se carregasse um luto que nem sempre podia externalizar.

O jovem Velaryon estava ali sozinho, imerso em uma melancolia silenciosa, e foi então que Naerys percebeu a expressão nos olhos dele - um peso invisível, como se o próprio mar carregasse a dor que ele reprimia. Aquela visão despertou nela uma compaixão profunda.

Perto dali, os irmãos de Naerys estavam em uma conversa baixa e trocavam olhares entre si.

─ Olhe para ele... Parece que perdeu o mundo inteiro. ─ Aegon, ligeiramente embriagado, inclinou-se para Aemond e sussurrou com um toque de escárnio. O mais jovem lançou um olhar furtivo a Jacaerys, os lábios esboçando um sorriso seco.

─ Talvez tenha perdido... afinal, dizem que Sor Harwin Strong era mais que só o protetor de sua mãe... ─ Murmurou ele, em um tom cruel. Para Aemond, a perda de Harwin representava uma espécie de justiça - uma limpeza, aos olhos de sua mãe, de um sangue que não deveria estar entrelaçado com o dos Targaryen.

Mas o olhar de Naerys se endureceu ao ouvir isso.

Ela se lembrava dos momentos que passara na Fortaleza Vermelha, das tardes em que, com a permissão de suas amas e do rei, pôde brincar e conversar com os filhos de Rhaenyra.

Naerys nunca fora próxima dos sobrinhos a ponto de chamá-los de melhores amigos, mas o tempo compartilhado os tornava familiares de uma maneira genuína. E, mesmo que as suspeitas sobre a linhagem dos filhos de Rhaenyra fossem intensamente debatidas em sussurros pelos corredores, Naerys nunca se sentira à vontade com a crueldade com que o assunto era abordado por sua mãe e irmãos. Embora fosse jovem, ela sabia distinguir o certo do errado. Para ela, era evidente que Jacaerys, Lucerys e Joffrey possuíam uma inocência que transcendia qualquer suspeita de bastardia.

Por trás da fachada de sangue e linhagem, eram apenas crianças.

A lembrança de tardes alegres na Fortaleza Vermelha, quando ela e Jacaerys conversavam sem o peso das hostilidades familiares, aqueceu seu peito e despertou uma coragem inesperada.

Decidida, Naerys se levantou do chão de pedra, ignorando o olhar intrigado de Helaena, que ainda brincava com a aranha, e deu alguns passos firmes na direção de Jacaerys. Porém, antes que pudesse se afastar o suficiente, sentiu uma mão segurar seu braço.

Seu irmão, o príncipe Aemond.

─ Naerys, a mãe disse que não devemos nos aproximar deles. Eles... eles têm sangue impuro... ─ Aemond sussurrava com um tom que misturava preocupação e obediência cega às palavras de Alicent. Ele parecia quase incomodado com a disposição da irmã, como se a ideia de vê-la interagindo com Jacaerys fosse uma afronta pessoal. Seus olhos a encaravam com seriedade, buscando convencê-la a desistir.

─ E o que o sangue dele tem a ver comigo? ─ Retrucou Naerys, afastando o braço da mão de Aemond com um movimento resoluto. ─ Ele não escolheu nada disso. Só perdeu alguém que ama. ─ Sua voz era firme, e pela primeira vez, Aemond ficou sem palavras. Ela o olhou diretamente nos olhos, desafiando as palavras que vinham sendo repetidas em sua casa.

Sem mais discussões, Naerys virou-se e continuou em direção a Jacaerys silenciosamente. Ela movia-se como uma sombra, os passos leves mal ressoando contra o chão de pedra.

Não queria assustá-lo, mas tampouco desejava ficar em silêncio sem fazer nada.

Quando finalmente estava ao lado dele, ela o observou por um instante. Jacaerys não se virou, perdido demais em seus pensamentos para notar sua presença imediata. O vento soprava entre eles, bagunçando os cabelos dos dois e trazendo o cheiro salgado do mar. Naerys sentiu uma pontada no peito ao ver os olhos de Jacaerys tão distantes, brilhando com uma tristeza que ela reconhecia, mas ainda era jovem demais para compreender completamente. Não sabia como aliviar a dor dele, mas sabia que, às vezes, a solidão era insuportável.

E, naquele momento, ela decidiu que Jacaerys não ficaria sozinho.

Lentamente, ela ergueu a mão, hesitando por um breve segundo antes de deixá-la repousar sobre a mão de Jacaerys, que estava parada ao lado de seu corpo. Seu toque foi delicado, quase tímido, mas firme o suficiente para que ele percebesse sua presença.

Jacaerys sobressaltou-se ligeiramente com o gesto inesperado e olhou para a mão dela antes de erguer os olhos para encontrar os de Naerys.

Por um instante, o silêncio entre eles pareceu durar uma eternidade. Ele parecia surpreso, e talvez um pouco confuso, mas não afastou a mão. Em vez disso, seus lábios se curvaram em um sorriso quase imperceptível, um gesto tão pequeno que parecia mais uma sombra de alegria do que um sorriso completo. No entanto, para Naerys, foi suficiente.

Ela não disse nada, mas seu olhar carregava toda a mensagem que desejava transmitir.

Estou aqui. Era o que ela queria que ele soubesse. Você não está sozinho. E, por um momento, parecia que ele entendia.

A cena não passou despercebida.

Mais afastada, a Rainha Alicent observava tudo com os lábios cerrados em uma linha rígida. Seus olhos castanhos estavam fixos na filha, e seu semblante era uma mistura de desaprovação e desapontamento. Ao seu lado, seu escudeiro pessoal trocou um olhar preocupado com ela. Alicent havia deixado claro que Naerys deveria manter distância dos filhos de Rhaenyra, mas ali estava sua filha mais nova, ignorando suas instruções.

Enquanto isso, Jacaerys relaxou minimamente sob o toque de Naerys.

Ele ainda estava triste, ainda sentia o peso da perda e das expectativas que o cercavam, mas a presença dela, tão inesperada quanto reconfortante, parecia aliviar parte da carga que carregava. Ele não sabia o que dizer, mas, naquele momento, percebeu que não precisava dizer nada.

Naerys continuou segurando sua mão, firme, mas sem pressioná-lo a falar. Ela entendia que, às vezes, a presença silenciosa de alguém era tudo o que se precisava para suportar a dor. E, assim, os dois ficaram ali, lado a lado, compartilhando um momento de ternura e compreensão que transcendia as divisões que suas famílias tentavam impor.

Mais atrás, Aemond observava tudo com uma expressão neutra, mas seus olhos brilharam brevemente com algo que poderia ser descrito como inveja.

Ele não entendia por que sua irmã desafiava tanto os ensinamentos de sua mãe, nem por que parecia tão disposta a oferecer conforto a alguém que, segundo Alicent, não merecia. Mas, no fundo, havia uma parte dele que desejava ter essa mesma liberdade - de agir sem o peso das expectativas e da lealdade cega.

Naerys e Jacaerys permaneceram juntos por mais alguns minutos, sem trocar uma única palavra. Para eles, aquele instante era suficiente.

As ondas batiam contra as pedras abaixo, o sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu de laranja e dourado, e o vento carregava o aroma salgado do mar.

─ Obrigado, Naerys... ─ Finalmente, Jacaerys falou, sua voz baixa e hesitante.

Ela apenas assentiu, apertando levemente a mão dele antes de soltá-la.

Alicent, vendo a cena chegar ao fim, deu um passo à frente, pronta para repreender a filha, mas parou quando viu Naerys se afastar lentamente, voltando para onde estava antes, sem dizer uma palavra.

Era como se ela soubesse que já havia feito o suficiente.

Jacaerys permaneceu onde estava, observando-a se afastar, e, pela primeira vez naquele dia, sentiu-se um pouco menos sozinho.

A rainha sabia que teria que confrontar Naerys mais tarde, mas, por ora, decidiu que era melhor manter-se em silêncio. Havia algo no olhar da filha que a fazia hesitar - uma determinação que lembrava alguém que ela preferia esquecer.

Naerys voltou para onde Aemond estava, seus passos leves, quase inaudíveis contra o chão úmido e frio. O irmão a olhou de soslaio, os olhos estreitos observando-a com um misto de curiosidade e reprovação contida. Ele sabia que Alicent não deixaria o gesto passar despercebido, e ele mesmo não conseguia entender o que motivara Naerys a desafiar as ordens de sua mãe.

─ Você não deveria ter feito isso. ─ Aemond murmurou baixo, mas com firmeza. Seu tom era quase um sussurro, rouco e cortante como lâmina fria. ─ Sabe o que a mamãe dirá.

Naerys, contudo, não se deixou intimidar. Seu olhar encontrou o dele, os olhos violetas brilhando à luz trêmula do sol que ameaçavase pôr.

─ Ela pode falar. ─ Sua voz era calma, quase desafiante, mas carregada de uma tristeza suave. ─ Se eu for repreendida por mostrar compaixão a alguém que perdeu seu pai, então mamãe pode me castigar.

Aemond franziu o cenho, claramente frustrado, mas havia algo na resposta da irmã que o deixou sem palavras. Ele não conseguia compreender aquele impulso, aquela vontade de quebrar barreiras que pareciam intransponíveis. Para Aemond, o mundo era uma disputa constante de poder, lealdade e dever. Demonstrar afeto, ainda mais para alguém como Jacaerys Velaryon, era uma fraqueza - uma fraqueza que ele não podia aceitar em si mesmo, mas que, de alguma forma, invejava em Naerys.

Aproximando-se dela, Aemond baixou a voz, quase como se temesse ser ouvido.

─ Eles não são como nós, Naerys. Você sabe disso. ─ Ele insistiu, embora seu tom soasse menos rígido agora, quase como uma súplica disfarçada de advertência. ─ Não importa o que você viu ou o que pensa saber... eles não são nossos amigos.

Naerys respirou fundo, desviando o olhar para o horizonte, onde o mar parecia se fundir ao céu tingido de diversos tons. Por um instante, ela não respondeu. O vento bagunçou seus cabelos prateados, e suas mãos se fecharam levemente ao redor das mangas de seu vestido verde escuro.

─ O mundo não é tão simples, irmão. ─ Sua voz era quase um murmúrio, mas firme. ─ Não é preto ou verde, puro ou impuro... É mais do que isso!

Aemond permaneceu em silêncio, os olhos fixos no perfil de sua irmã. Havia algo nela, uma centelha de algo que ele não conseguia nomear, mas que parecia destoar de tudo o que lhe haviam ensinado desde sempre.

Uma parte dele a admirava por isso, mesmo que não pudesse admitir em voz alta.

O sol afundava lentamente no mar distante, refletindo sobre as ondas suaves que, naquela altura do dia, murmuravam baixinho ao bater contra as rochas da costa. Lá embaixo, a maré subia preguiçosa, tingindo o contorno de Driftmark com um halo prateado. O cheiro de sal e algas flutuava pelo ar como um véu invisível, misturando-se ao odor distante das tochas acesas ao redor da fortaleza.

Na esplanada de pedra onde a cerimônia ainda se desenrolava, os convidados remanescentes estavam espalhados em pequenos grupos, falando em sussurros ou em silêncio.

Muitos já haviam deixado o local: o Rei Viserys, que precisara de ajuda para se erguer, amparado por seus homens mais leais; a Rainha Alicent, acompanhada de Helaena, que andava distraída com uma pequena aranha que se movia entre seus dedos delicados.

Otto, no entanto, permanecia atento, pairando como uma sombra controladora ao redor de seu neto mais velho, Aegon, que afundara em uma escadaria de pedra próxima, seu corpo quase desmoronando sob o peso do vinho.

A cena era patética à luz do crepúsculo.

Aegon jazia como um homem derrotado, as vestes desalinhadas e sujas de areia, a taça caída ao seu lado.

O Lorde Mão aproximou-se com passos firmes e impacientes, os olhos estreitos examinando a cena com uma mistura de desgosto e resignação. Sem qualquer delicadeza, ele chutou a perna do neto com um movimento rápido, fazendo com que Aegon despertasse com um sobressalto.

─ Levante-se, seu estorvo! ─ Sibilou Otto em tom baixo, mas repleto de veneno. Suas mãos, nodosas pela idade, agarraram a gola do príncipe, puxando-o para cima como um pai cansado faria com um filho indesejado.

A cena, embora breve, chamou a atenção de Naerys e Aemond. Sentados em uma pedra próxima, o vento agitando suas capas escuras, os dois compartilharam um olhar conspiratório antes que uma risada baixa e contida escapasse de seus lábios. Naerys cobriu a boca com a mão, mas Aemond não se incomodou em esconder o sorriso malicioso que esboçava, os olhos violetas cintilando com satisfação ao observar o irmão mais velho sendo repreendido.

─ Ele nunca aprende. ─ Murmurou Aemond, um tanto divertido, sem desviar o olhar.

Os minutos se arrastavam enquanto ambos permaneciam lado a lado, sob a imensidão do céu noturno, observando em silêncio enquanto os últimos convidados se retiravam.

A noite avançava, e o silêncio do pátio, antes preenchido pelo burburinho dos convidados, tornava-se mais denso. O ar estava carregado de umidade, como se o próprio mar tivesse decidido pairar sobre eles, envolvendo-os em uma manta invisível de maresia.

Naerys apertou os braços ao redor de si, não apenas para afastar o frio, mas como um gesto instintivo, buscando conforto diante da vastidão ao seu redor.

Sua capa oscilava com o vento, as bordas dançando como uma chama em meio à penumbra.

A luz vacilante das tochas projetava sombras alongadas nas pedras do chão, contorcendo-se como se guardassem segredos que preferiam manter ocultos.

Aemond, imóvel ao seu lado, parecia esculpido na própria pedra. O vento agitava seus cabelos prateados, mas ele não reagia, os olhos fixos no horizonte, onde o céu se fundia com o mar em uma linha indistinta de tons escuros.

Então, um rugido quebrou o silêncio.

Grave, poderoso, e carregado de uma melancolia ancestral, o som ecoou como um trovão vindo das profundezas do mar. Naerys sentiu o impacto vibrar em seus ossos, como se o dragão tivesse gritado diretamente para ela. Um arrepio percorreu sua espinha, e seu coração disparou em resposta.

Era um som familiar, mas ao mesmo tempo terrível, evocando memórias e sentimentos.

O rugido de Vhagar era inconfundível, tão inconfundível quanto uma tempestade que se aproxima. Era um som que parecia carregar o peso dos séculos que aquela criatura imensa vivera, mas agora havia algo diferente, algo sombrio e melancólico em sua voz. Não era mais o rugido imponente que antes anunciava a presença de Laena Velaryon, sua cavaleira destemida. A majestade que outrora acompanhava seu chamado estava ausente, substituída por uma nota de desespero, como se até mesmo o coração da maior dragão viva tivesse se partido. Vhagar sabia que Laena não retornaria.

Seu grito cortava o céu como um lamento, ecoando pelos penhascos e sobre as águas, um chamado vazio, uma súplica para um silêncio imutável. Ela estava sozinha agora, despojada da conexão que a fazia mais do que uma arma de guerra, mais do que uma fera temida.

Aemond reagiu imediatamente, o corpo enrijecendo como se cada fibra de seus músculos fosse ativada de uma só vez.

Ele inclinou levemente a cabeça, os olhos estreitados em concentração, antes de dar um passo à frente, como se atraído por uma força invisível.

Naerys o observou com uma mistura de fascínio e apreensão. Ele parecia distante, tomado por um desejo que ela não conseguia compreender completamente. Ela queria detê-lo, impedir que ele seguisse em direção àquilo que a fazia estremecer. Mas as palavras ficaram presas em sua garganta, e tudo o que conseguiu fazer foi alcançá-lo quando ele começou a descer pela escadaria que levava à praia.

A escadaria era traiçoeira.

Estreita, irregular, e com pedras soltas que ameaçavam cada passo, parecia testar sua determinação a cada instante. A lua crescente lançava um brilho fraco, insuficiente para iluminar o caminho com clareza, mas o reflexo prateado das ondas à distância fornecia um guia tênue. O som das ondas ficava mais alto conforme desciam, um lembrete constante do poder implacável do mar.

Aemond seguia à frente, movendo-se com uma confiança quase sobrenatural.

Ele não hesitava, os passos firmes mesmo sobre o terreno incerto, como se estivesse sendo guiado por algo além de si mesmo. Naerys, por outro lado, sentia-se insegura, cada passo uma batalha contra a gravidade e a escuridão.

Ela puxou o capuz para cobrir mais do rosto, ciente de que não deveria estar ali, mas incapaz de ignorar a necessidade de acompanhá-lo.

Quando chegaram à praia, o som das ondas tornou-se ensurdecedor. O vento soprava mais forte ali, chicoteando a areia que se movia em redemoinhos ao redor de seus pés. O mar se estendia diante deles, uma vastidão negra pontilhada pelo brilho esporádico da luz lunar. Aemond parou, e Naerys, alguns passos atrás, fez o mesmo. Ela observou enquanto ele inclinava a cabeça levemente, os olhos presos na escuridão além das ondas, como se esperasse que algo surgisse delas.

O tempo parecia desacelerar.

Cada momento se estendia, carregado de uma tensão que pairava entre eles como uma corrente invisível. Naerys sentia o coração martelar no peito, não pelo esforço da caminhada, mas pela sensação inquietante que aquela noite carregava.

─ Você pensa demais. ─ Aemond falou alto, tentando tranquilizar a irmã que, até o momento, parecia extremamente nervosa com tal aventura.

─ E você pensa de menos. ─ A princesa respondeu rápido, seu tom curto e rude. Ela estava inquieta com aquele silêncio opressivo, com medo do que aconteceria se encontrassem Vhagar naquela noite.

Eles continuaram a caminhar ao longo da praia, os passos marcando um ritmo suave sobre a areia molhada.

Naerys encontrou-se relaxando, mesmo contra sua vontade, permitindo-se desfrutar da companhia de Aemond, algo que fazia com frequência.

O príncipe, por sua vez, parecia igualmente diferente - menos rígido, menos dominado pela intensidade que costumava defini-lo. Ele apontou para as estrelas, indicando constelações que brilhavam acima deles, suas mãos fazendo gestos que capturavam a atenção de Naerys. Ela seguiu seus movimentos com os olhos, sentindo uma curiosidade infantil despertar dentro de si. Era um lado de Aemond que raramente via, e ela sabia que momentos como aquele eram tão fugazes quanto as estrelas cadentes.

Mas, por mais que aquele instante carregasse uma estranha serenidade, havia algo de inquietante que permanecia sob a superfície - uma tensão que nunca os abandonava completamente.

O silêncio da praia era quebrado apenas pelo som rítmico das ondas, que pareciam sussurrar histórias antigas à areia enquanto os dois caminhavam lado a lado. A lua, alta no céu, lançava uma luz pálida e fria sobre o cenário, tornando a paisagem ainda mais surreal. Cada passo parecia pesar mais, como se o destino que os aguardava à frente estivesse se aproximando com uma inevitabilidade sombria.

Naerys sentia o coração martelar no peito.

O rugido de Vhagar, que ouvira momentos antes, não havia se repetido, mas a sensação de estar sendo observada, mesmo que por algo distante, a deixava inquieta. O olhar de Aemond, no entanto, parecia fixo no horizonte, como se ele fosse incapaz de hesitar. Havia uma determinação quase assustadora em sua postura, os ombros erguidos, a cabeça levemente inclinada, como se cada parte de seu ser estivesse preparada para o que estava por vir.

Eles chegaram a uma elevação na areia, um pequeno morro que se formava onde a praia encontrava as dunas mais altas.

A grama baixa e seca que crescia ali dançava sob o vento, lançando sombras trêmulas sobre o terreno. Aemond foi o primeiro a subir, seus passos firmes marcando o chão, enquanto Naerys o seguia, relutante. O vento ali era mais forte, chicoteando seus cabelos e fazendo com que a capa se enrolasse ao redor de seu corpo.

Quando chegaram ao topo, a visão à frente fez o coração de Naerys parar por um instante.

Lá estava ela: Vhagar.

A gigantesca dragão repousava na areia mais adiante, parcialmente oculta pelas sombras da noite. Seu corpo era um colosso que parecia fundir-se com o próprio cenário, uma extensão do mundo ao seu redor. Suas escamas antigas brilhavam fracamente sob a luz prateada, como se carregassem o brilho de uma forja há muito apagada. As asas, dobradas contra os flancos massivos, eram tão vastas que pareciam poder engolir o céu. A cabeça monstruosa descansava sobre a areia gelada, os olhos fechados em um profundo descanso.

Naerys mal conseguiu respirar.

Ela agarrou o braço de Aemond, puxando-o para baixo com urgência, e os dois se deitaram contra o chão, pressionando os corpos na grama e na areia. O vento soprava na direção contrária à de Vhagar, e por isso, por ora, estavam seguros de serem detectados. Mas isso não aliviava o pavor que Naerys sentia, que parecia irradiar de seu peito como um calor sufocante.

Ela se virou para Aemond, o rosto tenso, e sussurrou, mal se atrevendo a falar:

─ Não faça isso. Pelo amor de todos os deuses, não se aproxime dela.

Aemond permaneceu imóvel, os olhos fixos no dragão. Havia algo em seu rosto que Naerys não reconhecia completamente. Era mais do que coragem; era obsessão. Como se aquela criatura gigantesca e assustadora fosse a resposta para algo que ele procurava desesperadamente. Ele ergueu uma mão, sinalizando que ela ficasse em silêncio, mas Naerys não conseguia conter o desespero que crescia em seu peito.

─ Você vai morrer, seu tolo! ─ Sussurrou ela novamente, os olhos brilhando com um misto de medo e raiva. ─ Ela vai devorá-lo antes mesmo de você chegar perto.

Aemond finalmente olhou para ela.

Seus olhos brilhavam com uma intensidade que parecia cortar a escuridão ao redor. Ele não disse nada, mas a determinação em sua expressão era uma resposta por si só. Lentamente, ele afastou a mão dela de seu braço e começou a levantar-se, os movimentos precisos e cuidadosos, como se temesse quebrar o frágil silêncio da noite.

Naerys sentiu uma onda de pânico. Ela tentou alcançá-lo novamente, mas Aemond já havia dado o primeiro passo na direção de Vhagar.

─ Aemond! ─ Naerys chamou em um sussurro mais alto, mas ele não respondeu.

Enquanto ele caminhava, a areia cedia sob seus pés, mas seus movimentos eram incrivelmente controlados. Naerys observava, incapaz de desviar os olhos, como se testemunhasse o prelúdio de uma tragédia inevitável.

Mas Aemond era teimoso quando se tratava de dragões, e sua determinação o tornava quase impenetrável à razão.

A proximidade de Vhagar era esmagadora. Naerys podia sentir o calor do corpo do dragão, mesmo à distância. A respiração pesada da criatura fazia a areia vibrar levemente, como se o próprio chão tremesse sob seu poder. Quando o príncipe chegou a poucos passos da fera, Naerys segurou a respiração.

Aemond estava lá, uma figura pequena, quase insignificante, mas terrivelmente determinada diante da montanha viva que era Vhagar. Sua silhueta contrastava contra a vastidão da dragão, um menino que parecia feito de aço forjado na própria determinação. Ele parou a poucos metros de distância, os pés afundando levemente na areia fria, e ergueu a mão com a solenidade de um sacerdote diante de uma divindade. A luz da lua capturava o brilho de seu cabelo prateado e a intensidade sombria de seus olhos violetas tão intensos.

Naerys, deitada e paralisada pelo terror, mal ousava piscar, temendo que qualquer movimento pudesse quebrar o frágil equilíbrio daquele momento.

Vhagar, adormecida até então, era uma força silenciosa, sua presença tão imensa que parecia engolir o próprio céu.

O som do vento sussurrando entre as escamas dela era baixo, mas constante, como o murmúrio de um trovão distante.

Quando o olho gigantesco da dragão se abriu, o mundo inteiro pareceu parar. Naerys sentiu o tempo congelar, cada batida do coração ressoando como um tambor descompassado em seus ouvidos. O âmbar reluzente daquele olhar, profundo como fogo líquido, fixou-se em Aemond, e a conexão entre os dois era quase tangível, uma corrente invisível que parecia pulsar entre o homem e a besta.

Por um instante aterrorizante, tudo o que Vhagar fez foi observar. Seus músculos estavam tensos sob as escamas que refletiam a luz lunar, e o ar ao redor dela parecia vibrar com uma energia que ameaçava explodir a qualquer momento. A areia ao redor do imenso corpo da dragão tremulava levemente, um lembrete silencioso da força contida naquele ser. A pupila negra no centro do olho dourado contraiu-se levemente, focando no príncipe como se estivesse pesando sua existência.

E então, sem aviso, o som grave de um rosnado profundo reverberou da garganta de Vhagar, tão baixo e poderoso que parecia vir das próprias entranhas da terra.

Naerys apertou os punhos contra a areia, sentindo os grãos frios e ásperos escorrerem entre seus dedos trêmulos. O medo pulsava em suas veias como um veneno quente, mas ela não conseguia desviar o olhar, seus olhos marejados fixos na figura de Aemond.

Ele era louco, ela pensou.

Ou talvez fosse algo ainda mais assustador: ele era um Targaryen, nascido do sangue e moldado pelo fogo. O fato de ele não recuar, mesmo diante da ameaça explícita, era uma prova de uma coragem - ou de uma arrogância - que só alguém com sangue de dragão poderia possuir.

Por longos segundos, a tensão parecia palpável, como se o próprio ar estivesse à beira de se rasgar sob o peso do momento.

Então, em um movimento lento e deliberado, ela desviou o olhar, uma ação que pareceu tão monumental quanto o giro de uma montanha. Sua imensa cabeça, adornada por cicatrizes de eras passadas, desceu com uma calma esmagadora, repousando novamente sobre a areia da praia com um impacto que fez o chão estremecer sob Naerys. O peso colossal do dragão levantou uma nuvem de areia que subiu no ar como uma tempestade dourada à luz da lua. O rugido baixo de um suspiro escapou das narinas de Vhagar, quente e carregado de desdém, enquanto seu corpo gigantesco relaxava, ignorando completamente o jovem príncipe.

Aemond, contudo, não cedeu. Ele deu mais um passo à frente, contra toda lógica, sua postura imponente contrastando com o terror evidente de Naerys.

A areia cedeu sob seus pés, mas ele manteve o equilíbrio, a mão ainda erguida em um gesto de calma. Seu rosto estava pálido, mas o olhar, ardendo com a determinação de um jovem que não conhecia o significado de desistir.

Vhagar reagiu. Ela ergueu a cabeça em um movimento lento, mas ameaçador, o pescoço imenso arqueando-se como o de uma serpente pronta para atacar. A areia ao redor de suas garras colossais foi lançada ao ar, e Naerys não pôde conter um soluço abafado quando viu o brilho alaranjado começar a pulsar na garganta da dragão. O fogo estava vindo. Era uma luz terrível, quente e incandescente, que transformava a escuridão da noite em um espetáculo de poder destrutivo.

Aemond estava tão perto que qualquer outro já teria fugido, mas não ele.

─ Dohaerās, Vhagar! ─ Seus braços levantaram-se levemente, como se ele quisesse envolver Vhagar em um manto de comando e reverência. ─ Lykirī! Lykirī!

O rugido que ela soltou fez o coração de Naerys quase parar, um som tão imenso e primitivo que parecia desafiar a própria existência.

E então, como se decidisse naquele instante que aquele jovem era mais do que um simples humano, Vhagar fechou a boca, o brilho desaparecendo, e abaixou a cabeça em um gesto que parecia carregar tanto curiosidade quanto respeito.

Naerys deixou escapar um suspiro trêmulo, mas seu corpo ainda estava rígido.

Ela não sabia se o que havia acabado de testemunhar era um milagre ou um prenúncio de algo terrível. A conexão entre Aemond e Vhagar parecia sólida agora, mas ela sabia que o perigo nunca estava longe quando se tratava de dragões. A tensão ainda pairava no ar, mas, por enquanto, o príncipe havia conquistado algo que poucos poderiam sequer sonhar: a atenção - e talvez, a obediência - do maior dragão vivo.

Aemond continuou sua aproximação, seus passos lentos, porém deliberados, esmagando a areia com firmeza. O manto verde que usava flutuava atrás dele como asas de uma criatura das sombras. Naerys percebeu que ele falava, mas sua voz não era mais que um murmúrio contra o rugido distante das ondas e a respiração cavernosa de Vhagar. No entanto, ela podia sentir a intensidade de suas palavras, o comando que ele invocava, o poder de sua determinação tentando alcançar algo dentro da alma da dragão.

E então ele tocou as cordas. Os cabos robustos pendiam do flanco de Vhagar, cobertos de sal e areia, sinais de batalhas e viagens que ela havia enfrentado ao longo de séculos. Aemond agarrou-os com as duas mãos, seus dedos apertando o couro com força, os músculos de seus braços tremendo sob o esforço de sustentar seu próprio peso. Era uma visão fascinante e aterrorizante.

O príncipe parecia uma figura diminuta diante do tamanho colossal do dragão, uma formiga tentando escalar uma montanha.

A subida foi lenta, cada puxada nas cordas um desafio.

O vento parecia zombar dele, açoitando seu rosto e quase desequilibrando-o. Havia momentos em que ele parecia escorregar, e suas mãos apertavam ainda mais as cordas, enquanto Vhagar permanecia imóvel, apenas seus olhos se movendo para acompanhar o progresso do rapaz.

Quando finalmente alcançou a sela, Aemond parecia uma sombra contra o corpo maciço da dragão. Ele se acomodou, prendendo-se com firmeza e segurando as rédeas que pendiam como serpentes adormecidas.

─ Sōvēs! Dohaerās, Vhagar! Sōvēs! ─ Sua voz ecoou pela noite, firme e clara, carregada de autoridade e de algo mais - uma conexão nascente, algo primordial que se formava entre ele e Vhagar.

O príncipe segurava as rédeas com firmeza, o olhar fixo e determinado, os cabelos prateados brilhando. Ele parecia mais vivo do que nunca, cada fibra de seu ser pulsando com uma excitação que só poderia vir do triunfo sobre o impossível.

Naerys sentiu o coração apertar no peito quando Vhagar começou a se mover.

O som de seu corpo titânico se erguendo da areia foi quase apocalíptico. Cada movimento da dragão parecia desestabilizar o mundo ao seu redor. A areia escorria de suas patas como pequenas cascatas douradas, e o som das escamas raspando umas contra as outras era semelhante ao eco distante de trovões. Era impossível não sentir a terra vibrar sob seus pés, como se Vhagar fosse uma força primordial que despertava para reclamar o domínio que sempre fora seu.

E então, ela correu.

Os passos pesados de Vhagar sacudiam o solo, enviando ondas de impacto que reverberavam pela praia. O som era ensurdecedor, uma mistura de trovões e o rugido do vento cortado pelo movimento feroz de sua cauda. Cada passo esmagava a areia e deixava crateras profundas, uma marca de sua passagem indelével no mundo. O ritmo de seus movimentos aumentava rapidamente, um crescendo de pura força e poder que culminava em um salto que parecia desafiar a gravidade.

Suas asas imensas se abriram, cobrindo o céu como um manto de escuridão, e com um único bater, ela ascendeu.

O ar explodiu ao redor de Naerys, arrancando suspiros de surpresa e medo de seus lábios. A areia foi arremessada em todas as direções, e ela instintivamente ergueu o braço para proteger o rosto.

O vento chicoteava contra sua pele, carregando consigo o cheiro de sal, de terra e algo mais - algo antigo e selvagem, como se Vhagar carregasse consigo o aroma do próprio caos. O som das asas cortando o ar era como trovões, reverberando pelo espaço e fazendo o céu noturno parecer vivo com o eco de sua presença.

Vhagar ergueu-se cada vez mais alto, sua silhueta imensa destacando-se contra as estrelas, uma sombra colossal emoldurada pela luz da lua. A cada batida de suas asas, ela escalava os céus com uma graça surpreendente para algo tão vasto.

Naerys não conseguia desviar o olhar, fascinada pela combinação de brutalidade e elegância que Vhagar representava.

Era uma visão que desafiava qualquer descrição, algo tão grandioso que parecia impossível ser contido pelos limites do mundo.

Aemond, montado sobre ela, parecia agora uma extensão de sua imensidão. Ele não era mais apenas um príncipe. Naquele momento, ele era algo mais, algo maior. Enquanto Vhagar subia mais alto, Naerys sentiu uma estranha sensação de orgulho tomando conta de si.

Os olhos de Naerys seguiram o dragão enquanto ele desaparecia no horizonte, seu tamanho colossal encolhendo gradualmente até se tornar um ponto indistinto contra a imensidão do céu.

O som de suas asas ainda ecoava em seus ouvidos, e o vento ainda carregava vestígios de sua presença.

Por um momento, ela sentiu como se o tempo tivesse parado, como se o mundo estivesse suspenso naquele instante de transição.

A vastidão da noite parecia um oceano sem fim, um véu de ébano pontilhado por estrelas cintilantes que pareciam mais brilhantes após o espetáculo grandioso de Vhagar. Naerys permanecia parada, ainda ofegante pela emoção, seus pés tocando a areia fria e úmida, como se aquela conexão com o chão pudesse ajudá-la a compreender a imensidão do que havia acabado de presenciar. Mas o silêncio ao seu redor era opressor, quase sufocante, e a escuridão parecia crescer, como se a ausência do dragão deixasse um vazio que nem mesmo as estrelas poderiam preencher.

A jovem princesa olhou novamente para o horizonte, esperando, talvez, ver a silhueta de Vhagar retornando. Mas tudo o que encontrou foi a vastidão infinita, a quietude de uma noite que parecia zombar de sua pequenez.

Uma sensação de isolamento começou a crescer em seu peito. Ela era, afinal, uma criança sob a capa de responsabilidades que vinham com seu nome.

E ali, sozinha, com apenas o som das ondas e o suspiro do vento como companhia, Naerys decidiu que não permaneceria naquele lugar.

Reunindo sua capa ao redor do corpo para se proteger do frio crescente, ela começou a caminhar de volta ao castelo. Seus passos eram leves, quase hesitantes, como se temesse quebrar o silêncio que a envolvia. Cada movimento parecia ecoar na imensidão da praia, o som de suas botas misturando-se ao murmúrio das ondas. A noite, apesar de clara, parecia esconder segredos, e Naerys sentia como se olhos invisíveis a observassem entre as sombras das rochas e das dunas.

Ela se manteve no caminho conhecido, seus olhos fixos adiante, mas não podia evitar olhar por sobre o ombro de tempos em tempos, uma precaução instintiva. O dragão e seu irmão haviam desaparecido nos céus, mas a sensação de que algo maior estava em movimento permanecia, um presságio inquietante que ela não conseguia explicar.

O caminho era longo, mas familiar, e cada passo a levava mais perto do castelo que agora parecia um refúgio contra a vastidão da noite.

Quando finalmente alcançou a trilha que levava à escadaria, Naerys parou por um momento, deixando seu olhar vagar mais uma vez para o horizonte. As ondas brilhavam sob a luz da lua, e a água parecia prateada, cintilando como vidro líquido. Ali, naquele instante, ela sentiu algo que não sabia nomear - uma mistura de admiração, medo e um senso de pertencimento ao mesmo tempo.

Era como se a grandiosidade daquela noite, a realização de Aemond, fossee também parte dela.

Subindo os degraus com cuidado, suas mãos tocando ocasionalmente a pedra fria para manter o equilíbrio, Naerys não pôde evitar pensar no que aquela noite significava. Aemond era agora um cavaleiro de dragão. Ele havia conquistado algo que o elevava acima de muitos, um feito que poucos poderiam igualar e que muitos desejavam.

Ao chegar ao pátio de High Tide, a sensação de segurança começou a se infiltrar em seus pensamentos.

Mas, ao levantar os olhos, Naerys congelou.

Uma sombra colossal havia surgido no céu, bloqueando a luz da lua e mergulhando o pátio em uma escuridão súbita e assustadora. Por um instante, ela não conseguiu se mover, seus olhos arregalados fixos na figura imensa que descia dos céus com um rugido ensurdecedor.

Vhagar e Aemond.

O dragão estava de volta, mas desta vez não era a visão majestosa que Naerys admirara momentos antes. Havia algo de selvagem em seus movimentos, uma fúria descontrolada que fazia o ar vibrar ao seu redor. As asas da criatura eram tão vastas que pareciam cobrir o mundo, e cada batida era como um trovão que fazia o chão tremer.

Naerys não pensou; ela apenas correu, seus pés movendo-se automaticamente enquanto o pátio se transformava em um caos.

A terra parecia vibrar com a força do impacto quando Vhagar pousou, as pedras sob suas garras rachando e se despedaçando como vidro.

Fragmentos de pedra voavam em todas as direções enquanto as garras imensas de Vhagar esmagavam o solo.

Naerys tropeçou ao tentar se desviar, seu coração batendo descontroladamente enquanto o som das pedras se despedaçando ressoava em seus ouvidos. Ela sentiu o impacto do corpo no chão frio e duro, a aspereza das pedras raspando contra suas mãos enquanto tentava se levantar. O rugido de Vhagar, próximo e ensurdecedor, parecia tomar conta de tudo, um som tão profundo que parecia reverberar em seus ossos.

Por um instante, Naerys teve a impressão de que o dragão a encarava, seus olhos imensos e brilhantes como tochas ardentes fixos nela. A criatura abriu as mandíbulas, soltando outro rugido que parecia encher o ar com uma vibração.

Naerys prendeu a respiração, incapaz de desviar o olhar, o pânico travando seus músculos.

Então, Aemond.

O príncipe desceu da sela com uma agilidade que contrastava com o tamanho descomunal de sua montaria. Seu sorriso era visível mesmo à distância, uma expressão de triunfo que parecia brilhar em meio à escuridão do momento. Para ele, aquilo era um feito grandioso, uma conquista inigualável, mas para Naerys, que ainda se sentia à beira de ser esmagada, tudo era um caos aterrador.

Naerys, finalmente conseguindo se mover, tropeçou mais uma vez ao tentar se afastar, seu corpo inteiro tremendo. Ela caiu novamente, desta vez longe de Vhagar, sentindo a respiração descompassada e o sangue pulsando em seus ouvidos.

─ Naerys! ─ A voz de Aemond cortou o caos como uma lâmina. Ele viu a figura de sua irmã caída e correu em sua direção, sua expressão mudando de exultação para preocupação em um instante.

Mas antes que ele pudesse alcançá-la, Naerys se levantou, suas mãos sujas e os cabelos desalinhados emoldurando um rosto que oscilava entre a raiva e o alívio.

Ela avançou, sem hesitar, e desferiu um soco no braço dele.

─ Você é um completo idiota! ─ Naerys gritou, sua voz embargada pelo pânico que ainda não tinha abandonado seu peito.─ Você quase me esmagou com essa coisa imensa! Estava tão ocupado se exibindo que nem percebeu que eu estava no caminho, não é?

Aemond ficou parado, um pouco surpreso com a reação dela, mas sem perder o ar de superioridade que parecia inerente a ele.

─ Acalme-se, Naerys. Você está bem, não está? ─ Sua voz estava repleta de uma calma que só a irritou mais.

─ Bem? Você acha que estou bem depois de quase virar um- um pe- pedaço de carne sob as patas de Vhagar? ─ Naerys continuou, gesticulando furiosamente, mas a intensidade de sua raiva começou a diminuir quando olhou mais uma vez para ele.

Aemond ainda tinha aquele sorriso nos lábios, não de zombaria, mas de um orgulho genuíno, como se esperasse que ela compartilhasse daquela alegria.

E, contra sua vontade, Naerys sentiu um sorriso surgir nos próprios lábios. Ela balançou a cabeça, rindo suavemente.

Antes que pudesse pensar duas vezes, ela o abraçou.

Foi um gesto impulsivo, mas sincero. Seus braços envolveram o corpo dele com força, como se quisesse ter certeza de que ele estava ali, real e intacto, após ter feito algo tão arriscado. Aemond parecia congelar por um instante, talvez pego de surpresa pela mudança repentina de atitude, mas logo seus braços envolveram Naerys em resposta, mais firmes do que ela esperava.

─ Você conseguiu, Aemond. ─ Naerys murmurou contra o peito dele, sua voz carregada de emoção, quase abafada pelo tecido da capa que ele usava. Seus dedos apertavam os ombros do príncipe com força. ─ Você realmente conseguiu. Clamou Vhagar, um dragão da Conquista!

Aemond ergueu o queixo, uma expressão soberba evidente tomando conta de suas feições. Seus olhos lilases, mais brilhantes que o usual, cintilavam cheios de orgulho enquanto ele inclinava a cabeça para encará-la.

O sorriso que curvou seus lábios era tão raro quanto perigoso, uma combinação de triunfo e autoconfiança que parecia maior do que ele próprio.

─ Eu disse que conseguiria! ─ Ele respondeu, a voz baixa, mas carregada de uma determinação que fazia ecoar a força de suas palavras.

Naerys se afastou levemente, apenas o suficiente para que seus olhos percorressem o rosto.

─ Mas não se esqueça... ─ Ela disse, rompendo o silêncio e erguendo o dedo em sua direção, uma expressão de advertência adornando seu rosto. ─ Se você me colocar em perigo de novo, eu juro que farei você se arrepender! ─ Embora suas palavras fossem sérias, o sorriso suave que brincava em seus lábios diminuía a severidade do aviso.

─ Vou tentar lembrar disso. ─ Aemond arqueou uma sobrancelha, o sorriso em seus lábios ampliando-se com diversão.

Eles começaram a caminhar juntos, deixando para trás o caos e a agitação do pátio, onde os ecos de gritos e a poeira ainda pairavam no ar.

Naerys lançou um último olhar para trás, seus olhos recaindo sobre Vhagar, que agora repousava. A imponente criatura parecia diferente - não menos poderosa, mas mais serena. Suas escamas reluziam sob a luz da lua, cada uma parecendo contar histórias de tempos antigos, e seus olhos semicerrados indicavam um descanso merecido, como se o dragão soubesse que sua nova montaria já havia provado ser digna.

Aemond e Naerys começaram a procurar a entrada mais próxima do castelo, para refúgio em seus aposentos do castelo após suportarem horas na longa cerimônia de despedida de Lady Laena. No entanto, o momento de serenidade foi rapidamente roubado.

O som de passos e vozes ao longe interrompeu a quietude, como um prenúncio de confronto.

Aemond parou abruptamente, os músculos sob a capa tensionando-se como os de um predador prestes a atacar. Naerys, ao seu lado, hesitou por um momento, o vestido de seda esverdeada ondulando suavemente ao redor de suas pernas. Seus olhos escanearam o caminho à frente, e sua respiração ficou presa no peito ao reconhecer as figuras que surgiam à luz das tochas.

A primeira a ser iluminada pela fraca claridade foi Baela. Ela tinha o queixo erguido, os olhos estreitados em desafio enquanto se posicionava à esquerda de Jacaerys, que assumia o centro do grupo. O primogênito de Rhaenyra usava vestes negras, enquanto sua mão repousava sobre o ombro de seu irmão mais jovem. Lucery, que estava ao lado direito, com o semblante jovem marcado pela hesitação. Rhaena completava o quarteto, o rosto tenso e descontrolado, não conseguindo esconder a sua frustração e sua ira ao perceber que Aemond havia clamado Vhagar.

A jovem princesa Naerys sentiu um frio percorrer sua espinha ao perceber a hostilidade nos olhos de seus sobrinhos e primas. Aemond, por outro lado, parecia quase se deleitar com o confronto iminente, um sorriso frio curvando seus lábios.

─ São eles! ─ A voz de Baela cortou o silêncio como o estalo de um chicote, carregada de uma indignação que incendiava o ar ao redor.

Naerys, sentindo o peso do tom acusatório, ajustou-se instintivamente onde estava, os dedos finos apertando a bainha de seu vestido com tanta força que os nós de seus dedos começaram a branquear. Sua mente girava, os pensamentos emaranhados entre o dever, a lealdade e o orgulho, mas, ao seu lado, Aemond permaneceu imperturbável. A aura gélida que o rodeava parecia absorver o calor da raiva ao redor, deixando-o ainda mais frio.

─ Sim, somos nós. ─ Sua voz soou com uma tranquilidade calculada, um contraste quase cruel à tempestade que se formava diante dele.

─ A Vhagar é o dragão da minha mãe! ─ A voz de Rhaena quebrou-se ao ser erguida, os olhos marejados refletindo um mar de emoções conflitantes. Sua postura, antes firme e determinada, vacilou por um instante, como uma árvore enfrentando ventos fortes, mas sua determinação cresceu novamente.

Ela deu um passo à frente, os punhos cerrados tremendo, enquanto cada palavra era cuspida como brasas vivas.

Aemond observou-a com a calma de quem segura uma lâmina afiada em mãos. Seu olhar parecia penetrar a alma da prima, desarmando-a antes mesmo que suas palavras cortassem mais fundo.

─ Sua mãe está morta. ─ Sua voz era um açoite, cortante e cruel. ─ Vhagar tem um novo montador agora. ─ Ele inclinou a cabeça levemente, como se estivesse ponderando as palavras de Rhaena com um ar quase debochado. A frieza em seu tom era como gelo descendo pela espinha de todos os presentes.

─ Ela era minha por direito! ─ Rhaena explodiu, a frustração tingindo sua voz com um fervor desesperado. Ela ergueu um dedo trêmulo, apontando-o para Aemond com o peso de sua acusação.

Seus olhos brilhavam como chamas vivas, e seu corpo inteiro tremia, não de medo, mas de uma fúria tão intensa que parecia consumir cada parte dela.

─ Um dragão não possui um dono, Rhaena. ─ A voz de Naerys cortou o momento, trazendo uma firmeza inesperada que reverberou pelo pátio. Seus olhos buscaram os da prima, tentando atravessar a barreira de sua raiva com uma verdade incômoda. ─ Não é porque Vhagar era de sua mãe que você tem direito a ela. Um dragão não é uma herança, muito menos um cachorro para atender seu chamado.

A tensão estava presente, como se o mundo tivesse parado para ouvir as palavras de Naerys. O silêncio que se seguiu foi preenchido apenas pela respiração pesada de Rhaena, cuja raiva vacilava entre explodir e ceder. Mas Aemond, como se movido por um instinto cruel, deu um passo à frente.

─ Talvez seus primos lhe arrumem um porco. ─ O sorriso gélido em seus lábios alargou-se, carregado de sarcasmo venenoso. Ele ergueu o queixo, a confiança quase insultante em sua postura tornando cada palavra ainda mais cortante. ─ Combina com você.

O insulto de Aemond atingiu Rhaena como um dardo venenoso, cravando-se fundo em seu orgulho. Sem hesitar, ela avançou, o rosto tomado pela raiva, os olhos brilhando como brasa acesa. Sua mão se ergueu, pronta para empurrá-lo, mas ele era rápido demais. Com um movimento brutal e calculado, Aemond agarrou o braço dela, girando o corpo com uma força que parecia desproporcional à sua figura magra. Ele a lançou para o lado como se ela fosse feita de vento, e Rhaena cambaleou, o peso da investida a derrubando na areia.

Mas antes que Aemond pudesse sequer saborear sua vantagem, Baela explodiu em ação.

Como uma fera saída das histórias antigas, ela avançou, os punhos cerrados e os olhos faiscando com fúria. Seu soco encontrou o rosto de Aemond com um som seco e impactante, o tipo de som que fazia o sangue gelar. Ele cambaleou um passo para trás, mas não caiu. Seus olhos violetas, brilhando com uma mistura de dor e prazer, encontraram os dela, e ele limpou o canto da boca onde o sangue começava a escorrer.

Baela não recuou, mas a retaliação veio rápida.

O golpe de Aemond foi como o golpe de um martelo, acertando-a com precisão. Ela tropeçou para trás, a força da pancada derrubando-a na areia dura.

O impacto ecoou pela local como um trovão abafado, e Naerys recuou instintivamente, um grito sufocado escapando de seus lábios enquanto erguia uma mão trêmula à boca.

─ Me ataque novamente, e eu darei você como alimento para o meu dragão! ─ Rugiu Aemond, a voz reverberando na noite. Seu grito foi o estopim para Jacaerys, que observava à distância, dividido entre a hesitação e o ímpeto de proteger sua prima.

Com um grito de frustração, ele se lançou sobre Aemond, o impacto de seus corpos colidindo reverberando na praia. As mãos de Jacaerys agarraram o torso de Aemond, os dedos tentando encontrar pontos de equilíbrio para derrubá-lo. Por um breve momento, o príncipe mais jovem parecia ter vantagem. Mas Aemond era ágil. Ele novamente girou seu corpo, usando a própria força de Jacaerys contra ele, e o lançou para o lado com uma facilidade quase cruel.

Lucerys, pálido como a lua que iluminava a praia, hesitou apenas por um instante. Mas o medo que lhe apertava o peito foi rapidamente sobrepujado pelo amor ao irmão.

Ele avançou com um grito agudo, lançando-se sobre Aemond como uma marionete movida pela emoção. Contudo, Aemond estava pronto. Ele desferiu um golpe certeiro, um soco que acertou Lucerys no nariz com uma força brutal. O som do osso quebrando foi ensurdecedor, e o garoto caiu na areia com um grito estridente, sangue jorrando em fios espessos.

Enquanto Lucerys se debatia, segurando o rosto em uma tentativa fútil de conter o fluxo de sangue, Jacaerys voltou à carga. Ele rugiu como um dragão furioso, lançando-se contra Aemond com toda a força que possuía. O impacto foi suficiente para derrubar o príncipe mais velho no chão.

Antes que Aemond pudesse se levantar, Baela e Rhaena aproveitaram a abertura.

Elas avançaram juntas, como duas tempestades, os punhos e tapas caindo sobre ele em uma sequência desordenada, mas feroz.

Naerys, que até então observava com o coração martelando no peito, sentiu uma fúria primordial crescer dentro dela. O caos à sua frente era um turbilhão de violência, os sons de golpes e gritos misturando-se ao vento que soprava da baía.

Quando seus olhos encontraram Aemond, caído, sendo atacado pelas primas, algo dentro dela se quebrou.

Com um grito que soou mais como o rosnado de uma besta, Naerys avançou. Seus pés descalços afundaram na areia enquanto ela agarrava Baela pelos cabelos, puxando-a com uma força surpreendente. O movimento arrancou um grito de surpresa e dor da prima, que foi jogada para o lado com violência.

Ambas caíram na areia, mas Naerys era mais rápida.

Antes que Baela pudesse se levantar, Naerys estava sobre ela, os punhos desferindo golpes descoordenados, mas brutais. A areia misturava-se ao sangue que começava a escorrer do rosto de Baela, e as unhas da prima arranhavam os braços de Naerys, rasgando a pele em linhas vermelhas. A dor era como fogo, mas Naerys a ignorou, o sangue fervendo em suas veias.

Enquanto isso, Aemond recuperava o controle. Com um chute certeiro, ele atingiu Jacaerys no abdômen, a força suficiente para derrubar o sobrinho. Rhaena tentou segurá-lo pelos ombros, mas ele a rodopiou rapidamente, empurrando-a com tanta força que ela caiu, a cabeça batendo na areia com um som seco.

Lucerys, ainda sangrando, levantou-se cambaleante e avançou novamente.

Mas, outra vez, Aemond estava pronto.

Ele o agarrou pelo pescoço, os dedos apertando com uma força que arrancou um som engasgado do sobrinho.

Lucerys se debatia, mas ele era apenas uma criança tentando lutar contra o tio, o qual se dedicava muito mais às aulas dadas por Sor Criston.

Aemond, com os olhos brilhando com uma luz insana, abaixou-se, os dedos encontrando algo perdido na areia. Ele a segurou com firmeza, os músculos do braço tensionados enquanto erguia a arma improvisada: uma pedra que encontrou jogada próxima de onde ele havia sido derrubado.

A cena congelou por um instante, o silêncio pesado, quebrado apenas pelos sons ofegantes e os soluços abafados de Lucerys. Naerys, ao ver o brilho mortal nos olhos do irmão, sentiu o coração apertar como se fosse partido ao meio. Suas mãos tremiam enquanto ela observava, dividida entre o desejo de protegê-lo e a necessidade de impedir um desastre que jamais poderia ser desfeito. O turbilhão de emoção à praia era um reflexo da tempestade interna que consumia todos os presentes.

─ Vocês vão morrer gritando no fogo como o pai de vocês... ─ A voz de Aemond era um sussurro cortante, como o aço deslizando em um afiador, carregada de um ódio profundo. Ele fez uma breve pausa, seus olhos fixos em Lucerys, antes de se voltarem lentamente para Jacaerys. ─ Seus bastardos!

─ Aemond, já chega! ─ Naerys esbravejou, sua voz saiu ofegante quase rouca, carregada de uma urgência que traiu o pânico que a dominava.

Lucerys tremia como uma folha ao vento. Lágrimas se misturavam ao sangue que escorria de seu nariz deformado, formando uma trilha rubra que escorria até seus lábios trêmulos.

─ Meu pai está vivo! ─ Ele gritou entre soluços, a declaração saindo abafada, engasgada, enquanto o gosto metálico do sangue se espalhava por sua boca.

Aemond inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, como se considerasse a afirmação do menino com a mesma indiferença de alguém avaliando uma espada antes de ergue-lá. Um sorriso frio e cruel se formou em seus lábios, mas seus olhos estavam fixos em Jacaerys agora, como um arqueiro que encontra o alvo perfeito.

─ Ele não sabe, não é? ─ O tom de Aemond era uma lâmina coberta de veneno, cada palavra impregnada de um desprezo cruel. Seus passos foram lentos, quase preguiçosos, enquanto ele se aproximava de Jacaerys. ─ Lorde Strong...

A acusação pairou no ar, um golpe invisível que fez Jacaerys dar um passo involuntário para frente. Ele cerrou a mandíbula mas o tremor em suas mãos denunciava a mistura de raiva e humilhação que queimava em suas veias.

Naerys sentiu o sangue gelar em suas veias, e por um breve momento, teve certeza de que o mundo inteiro estava prestes a se partir ao meio.

Em um movimento rápido e determinado, Jacaerys sacou uma faca curta que havia escondido em suas vestes, a lâmina brilhando sob a luz das tochas flamejantes presas às paredes de pedra gelada. O príncipe, com os olhos ardendo de raiva, segurava a faca como se fosse uma extensão de sua própria mão. Ele não pensava em nada além de Aemond, cujo sorriso arrogante provocava ainda mais a tempestade dentro de si. Aemond, por sua vez, parecia inabalável. Seu rosto magro e esculpido carregava uma expressão quase divertida, mas seus olhos violetas cintilavam com algo mais perigoso. Ele observava o sobrinho como um dragão observa sua presa, preparado para o momento exato de atacar.

Seu corpo estava tenso, mas não recuava.

Ele via a raiva de Jacaerys e a alimentava com seu próprio desprezo, como se quisesse ver até onde o garoto ousaria ir.

Lucerys, que havia tropeçado após ser empurrado, tentava se reerguer. Seu rosto pálido estava marcado pela confusão e pelo medo, mas havia uma determinação nascente em seus olhos.

Naerys, que havia permanecido próxima ao caos crescente, observava tudo com o coração disparado. A faca nas mãos de Jacaerys parecia mais ameaçadora do que qualquer dragão, e a tensão entre os dois homens era tão densa que era quase palpável. A respiração ofegante de todos misturava-se ao som do vento, criando uma melodia caótica que parecia anunciar um fim trágico.

Jacaerys avançou.

Cada passo era firme, carregado de propósito. A areia cedia sob seus pés, mas ele não hesitava. Sua raiva era um fogo incontrolável, e a faca em sua mão tremia apenas pela intensidade de seu aperto. Ele ergueu a lâmina, preparando-se para o golpe que mudaria tudo, mas então, como um raio cortando o céu, Naerys se colocou entre eles.

Seus olhos encontraram os de Jacaerys, implorando por razão. Mas não havia tempo suficiente. O movimento de Jacaerys já estava em andamento, e a faca cortou o ar com velocidade letal. Naerys gritou, mas sua voz foi engolida pelo som do impacto quando a lâmina atravessou o tecido de seu vestido e encontrou sua carne.

O mundo parou.

A faca deslizou para fora do ferimento, e por um momento, o silêncio absoluto tomou conta do local. Era como se até mesmo as ondas e o vento tivessem ficado em suspenso, horrorizados pelo que havia acontecido. O olhar de Jacaerys se encheu de terror ao perceber o que havia feito.

A faca caiu de sua mão como se queimasse, e ele deu um passo para trás, os lábios tremendo enquanto olhava para Naerys.

Ela cambaleou, a mão pressionando contra a carne macia de seu quadril enquanto o sangue quente escorria entre seus dedos. O vermelho manchava o tecido verde de seu vestido e gotejava na areia, criando pequenas manchas escuras que pareciam engolir a luz ao seu redor. Seus olhos encontraram os de Jacaerys por um instante, carregados de dor e descrença, antes que suas pernas cedessem e ela caísse.

Aemond estava ao lado dela em um piscar de olhos. Sua arrogância habitual havia desaparecido, substituída por uma expressão de puro terror.

Ele encarou a irmã ferida na areia, suas mãos tremendo conforme as vestes Naerys se tornavam mais macabras. Mas a visão do sangue e o som de sua respiração fraca alimentaram algo mais profundo dentro dele.

Quando ele se virou, a mudança era palpável.

A raiva que queimava em seus olhos agora era como um inferno descontrolado. Ele virou-se para Jacaerys, que permanecia imóvel, atordoado pelo horror do que havia feito. Mas o choque não salvou Jacaerys do primeiro golpe. Aemond avançou como uma tempestade, sua mão agarrando uma pedra próxima antes de esmagá-la contra a têmpora de seu sobrinho. Jacaerys tropeçou para trás, cambaleando enquanto levava a mão à cabeça. O sangue escorreu pelo rosto de Jacaerys, um fluxo quente e viscoso que manchou sua camisa e pingou no chão, cada gota um lembrete cruel de sua vulnerabilidade.

Mas Aemond não parou. Não podia parar. Seus passos eram firmes, o ritmo implacável de alguém movido pela ira. Ele não era mais um menino; era uma tempestade em forma de carne, o ódio pulsando como um tambor em suas veias.

Naerys estava caída no chão, sua respiração pesada enquanto sua visão oscilava entre a clareza e o escuro. A dor irradiava do quadril, onde o impacto a deixara incapacitada. Mas mesmo assim, sua mão tremia ao se mover, agarrando com desespero a perna de Aemond. Seus dedos mal tinham força para envolver o tornozelo do irmão, mas ainda assim, ela tentou.

─ Aemond, por favor... ─ Sua voz era um sussurro, rouca de medo e dor, quase inaudível no caos que os cercava. Ela queria gritar, queria impedir que mais sangue fosse derramado, mas sua força estava se esvaindo junto com seu sangue.

Por um instante, ele parou, seus olhos descendo até a irmã. Mas não havia misericórdia neles, apenas um brilho frio e cortante, como o aço de uma lâmina. A fúria não conhecia aliados; nem mesmo Naerys poderia quebrar a onda de ódio que o consumia.

Ele sacudiu a perna, livrando-se dela como se fosse um obstáculo insignificante, e voltou sua atenção para Jacaerys.

O sobrinho estava deitado no chão, tentando recuperar o equilíbrio, o sangue ainda escorrendo pelo rosto. Seus olhos estavam fixos em Aemond, um misto de terror e determinação queimando em suas íris. Quando Aemond se aproximou, Jacaerys fez o único movimento que conseguiu pensar. Ele abaixou a mão, agarrou um punhado de areia e, com um movimento rápido e desesperado, jogou-o nos olhos do tio. O grito de frustração de Aemond foi quase animal, uma mistura de dor e ódio enquanto ele levava as mãos ao rosto, tentando limpar a areia que queimava como fogo em seus olhos. Ele tropeçou para trás, o equilíbrio momentaneamente perdido.

Foi o tempo que Jacaerys e Lucerys precisavam.

Lucerys, que até então estava paralisado, viu sua chance. Seus olhos se moveram freneticamente até encontrarem algo brilhando na areia. A faca.

Ele a pegou com dedos trêmulos, o cabo escorregadio contra a palma suada. O mundo ao seu redor parecia um borrão, sua mente dividida entre o pânico e uma raiva que ele nunca soubera que possuía.

Aemond se endireitou, seus olhos se abrindo por um breve momento.

Movido pelo instinto, Lucerys avançou. A faca parecia pesada em sua mão, mas ele não hesitou. O braço se moveu em um arco rápido, uma explosão de movimento bruto e desesperado. A lâmina encontrou o rosto de Aemond, cortando profundamente da sobrancelha até a bochecha.

O som do corte era horrível, um misto de carne rasgando e sangue espirrando.

O grito de Aemond foi um rugido de agonia, ecoando pelo pátio como o lamento de um dragão ferido. Ele caiu de joelhos, suas mãos cobrindo o rosto enquanto o sangue jorrava pelos dedos. Cada gota parecia cair em câmera lenta, tingindo a areia de vermelho.

Naerys, observando tudo, sentiu a visão embaçar ainda mais. Sua respiração era irregular, os pulmões queimando enquanto a dor em seu quadril tornava impossível qualquer movimento. Ela queria gritar, queria parar aquilo, mas seu corpo a traía. A última visão que teve foi do irmão caído, o sangue manchando sua roupa e a areia ao redor. As palavras de sua mãe ecoaram em sua mente, um sussurro persistente e cruel. Eles são monstros. Ela nunca quis acreditar, mas agora, com os olhos pesados e a consciência se esvaindo, parecia impossível negar.

Bastardos são monstruosos por natureza...

❪ 001𖣔. ❫ Olá, meus amores! Antes de tudo, quero pedir desculpas pela demora no lançamento do prólogo. Sei que alguns estavam ansiosos, e isso significa muito para mim. Infelizmente, precisei adiar um pouquinho por questões de saúde que acabaram me pegando de surpresa nessa sexta-feira e nesse sábado. Mas agora estou de volta e trabalhando com carinho para trazer algo especial.

❪ 002𖣔. ❫ Espero que tenham gostado desse prólogo bem grandinho para vocês! Não se esqueçam de votar, deixar seus comentários e compartilhar a história. Um grande abraço para todos, meus amores. Até o próximo capítulo! ♡

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