𝗼𝗰𝘁𝗼𝗯𝗲𝗿, 𝟐𝟕ᵗʰ

ׅ ׁ 𔓘 ۫ ׅ 𝗒𝗈𝗎 𝗇𝖾𝗏𝖾𝗋 𝗄𝗇𝗈𝗐
𝗐𝗁𝖺𝗍'𝗌 𝗂𝗇 𝗍𝗁𝖾 𝖽𝖺𝗋𝗄 ᮫ ׅ ׁ

𝗠𝗔𝗫𝗪𝗘𝗟𝗟 𝗘𝗠𝗜𝗟𝗜𝗔𝗡
𝗩𝗘𝗥𝗦𝗧𝗔𝗣𝗣𝗘𝗡

Emilian revirou seus belos olhos azuis ao ouvir seu pai proferir seu nome pela décima vez em um único dia, as paredes velhas do sótão deixava a voz do patriarca cada vez mais abafada, o que era suficiente para o loiro ignorá-lo constantemente. O relacionamento de ambos sempre foi marcado por violência e gritaria, pai e filho não suportavam estar juntos no mesmo cômodo por mais de alguns segundos, Maxwell carregava um fardo gigantesco para uma criança vivendo eternamente com seus fantasmas de um trauma sangrento.


Max esfregou suas mãos ainda manchadas sobre a velha calça jeans, deixando a coloração carmesim sobre o tecido surrado, conferindo se a porta do celeiro permanecia bem fechada um sorriso presunçoso tomou conta dos seus lábios pálidos. Sua mente ainda estava fresca lembrando com intensidade os gritos que seu pai deram-lhe ao ser triturado na máquina de feno, sua pele deixando o corpo lentamente como se fossem apenas retalhos de pano, o estalar dos seus ossos ao serem repartidos em milhares de pedaços.

O cheiro de sangue fresco tomando conta das suas narinas ao encarar as entranhas do mais velho caindo sobre o chão de palha, à esse ponto seus gritos implorando por salvação já havia cessado assim como qualquer possibilidade de vida em suas veias. Um homem como aquele não merecia salvação ou melhor, ele nunca conseguiria salvação, não depois de tudo que ele fizera Max e sua irmã passar.


𝗢𝗖𝗧𝗢𝗕𝗘𝗥 - 𝗦𝗨𝗡𝗗𝗔𝗬


Suspirei encarando a infinita variedade de produtos de limpeza sobre a prateleira, precisaria de uma grande quantidade deles se quisesse tirar todas as manchas de sangue seco do meu moletom favorito. O ruído branco do ventilador era o único som presente dentro do mercadinho de bairro, o caixa noturno estava tão distraído em seu próprio mundinho que se eu ao menos pensasse em matá-lo seria algo rápido e indolor, pelo menos para mim.

Joguei alguns dos mais diversos tipos de alvejantes dentro da minha cesta, deixando-a levemente mais pesada, o tintinar de um carrinho de compras tomou conta do corredor em que estava. Com o canto dos olhos enxerguei uma figura baixa parada à alguns metros de distância, em suas mãos carregava um papel provavelmente uma lista de compras enquanto encarava todos os produtos na sua frente.

Seus cabelos loiros estavam amarrados em um rabo de cavalo baixo, como se tivesse saído às preces da sua casa, desesperada para encontrar um futuro trágico. Com as mãos no bolso da jaqueta virei-me brevemente, na intenção de conseguir enxergar seu rosto com mais facilidade, seus olhos verdes liam atentamente o alvejante em suas mãos, sua aparência era me extremamente familiar.

A moça loira deslocou seu olhar do alvejante para frente, como se tivesse notado eu lhe encarar. Virei meu olhar rapidamente para a prateleira na minha frente e esperei alguns segundos antes de reorientar minha visão para a loira novamente e perceber que ela havia voltado a ler o rótulo do alvejante. Só conseguia lhe olhar maravilhado, tentando lembrar o motivo dela ser tão familiar. E como um clarão na minha mente, me lembrei de um nome que havia me esquecido há muito, muito tempo atrás.

Giselle. A adorável Giselle Williams.

O sangue em minhas veias pareciam circular mais rápido que o normal, bombeando rapidamente até o meu coração qual batia freneticamente contra o peito. Ondas de serotonina percorriam meu interior, a sensação que rodopiava em meu estômago era tão boa quanto empunhar uma machadinha em qualquer uma das minhas vítimas, era algo viciante.

Minha aparência ameaçadora não havia passado despercebido pela loira mas aparentemente não foi o suficiente para intimidá-la, cuja qual empurrava seu carinho animadamente até para ao meu lado. Seus lábios avermelhadas, como o sangue constante em minhas mãos, abriram um grande sorriso enquanto acenava calmamente. Ela também se lembrava de mim.

-Ei! Acho que te conheço, Emilian não é? - Entre tantos nomes ela precisava escolher o qual ele mais usava.

-Max, Max Verstappen. - Murmurei caminhando pelo corredor evitando seu olhar, a mesma continuava empurrando seu carrinho lentamente atrás de mim. Como uma criança desorientada segue à sua mãe pelo parque.

-Oh, Verstappen não é? Sinto muitíssimo pelo seu pai, não imagino o quão difícil tenha sido pra você.

Não, você não sente. Não se soubesse tudo o que aquele velho imundo me fez. Ele mereceu, fez por merecer. Merecia algo até pior, como apodrecer ainda em vida ou queimar eternamente no inferno.

Apenas balancei a cabeça informando que havia ouvido suas condolências, por mais que não significasse nada para mim. Giselle sorriu, seus olhos perambulando curiosamente pelos itens em minha cesta até subirem novamente em meu rosto.

Entendo o que sua mente havia pensando, me prontifiquei a respondê-la antes mesmo de alguma palavra ser proferida.

-Meu moletom. Não faço ideia de como remover as manchas dele. - Minha mão esquerda tremia dentro da jaqueta, meus dedos coçavam com a necessidade de encostar naquele belo rostinho, principalmente quando ela me encarava com esse sorriso. O mesmo sorriso de dezessete anos atrás.

-Ah sim, se forem manchas de vinho elas saem mais fácil se você misturar bicarbonato de sódio junto. - A mesma revirou alguns itens do seu carrinho até achar o pó branco, erguendo-o na altura dos meus olhos. Quem me dera fossem apenas manchas de vinho.

Senti minha mente divagando quando Giselle começou a me explicar como fazia para limpar manchas e coisas do tipo, faziam anos que nunca mais havia visto a loira, chegando ao ponto de cogitar que ela havia se mudado da cidade. Minha última lembrança da Williams foi no nosso baile de formatura, quando não tive a coragem suficiente para convidá-la como meu par e fui obrigado à assisti-la dançar com um grande babaca - e seu namorado na época - durante a noite que tinha tudo para ser perfeita.

Deixei meus olhos analisarem sua figura baixa, como sempre foi, em seus dedos finos não havia sinal algum de uma aliança ou algo que significasse compromisso. Um sorriso vago emergiu em meu rosto, balançando a cabeça a cada fala da mesma, mas apenas pensando nas novas oportunidades que me apareciam neste momento.

-Mas então Max, fazem muitos anos não? Você tem trabalhado com o que? - Pisquei ponderando na mentira mais convincente.

-Na fazenda. - Notei seu olhar surpreso, o que fez com que uma onda quente atravessasse meu corpo. - Continuo vendo soja para os agricultores da região e as vezes ajudando com o gado.

-Ah, isso é bem legal. - A loira tentava sorrir mas o canto dos seus lábios estavam trêmulos, talvez ouve-se interpretado mal a parte de "ajudando com o gado".

-Não é como um abatedouro ou coisa do tipo, só a parte da engorda. - Seu olhar suavizou, Giselle sempre foi uma garota esperta mas também tão fácil de manipular. Uma mentirinha tão boba como essa era o suficiente para acabar com a sua desconfiança. - E você? São dezessete anos desde o baile, não?

-— Oh sim! Não imaginava que você iria se lembrar tão bem daquele dia! - Claro que eu me lembro, aquele mesquinho te roubou de mim. - Estou trabalhando na nova escola municipal, desde a reforma eles tem contratado professores novos!

Tentei esboçar um sorriso genuíno, a loira sempre teve uma facilidade quando o assunto era ensinar algo para alguém, sempre com o seu senso de justiça e de super heroína, chegava a ser cômico na época. Não era surpresa alguma saber que sua profissão tinha envolvimentos com isso, chegava até à ser reconfortante saber que ela não desistiu do seu sonho. Não desistiu de nós, como se ela estivesse me esperando por todos esses anos.

— Combina com você. - Comprimi meus lábios em uma linha tênue, era tão estranho demonstrar afeto. Procurei o caixa com meus olhos, precisava voltar o quanto antes para a fazenda e repensar em tudo que tinha planejado até agora, mas não podia simplesmente deixá-la para trás.

— Sério? - Questionou a loira, concordei apenas com um aceno de cabeça. Seus lábios se contraíram em um sorriso genuíno, mesmo sorriso que fora me dado naquele laboratório. - Ah, aliás você já tem fantasia para o halloween?

Cocei a nuca desviando meus olhos dos seus, por algum motivo ela parecia saber ler minha alma com apenas um olhar. Meus planos para o halloween seriam completamente diferentes dos dela, completamente.
Ela procurava por uma noite cheia de diversão e chuvas de doce, já eu, sempre gostei mais da parte da noite de travessuras.

-Não, não pensei muito sobre isso. Halloween não é muito minha praia. - Suas sobrancelhas caíram como se estivesse triste com a resposta. — Mas você vai? Tipo, pra alguma festa ou essas bobeiras que acontecem nessa noite?

Como se fosse um simples estalar de dedos o sorriso voltou aos seus lábios, sua empolgação me lembrava uma criança pronta para se divertir em uma festa de aniversário.

— Não pensei em uma fantasia ainda! Mas estou tão animada, você ficou sabendo da festa de halloween dos Vázquez? — Balancei a cabeça concordando por mais que não soubesse, agora o convite me parecia tentador. — Então, fui convidada para participar do concurso de fantasia!

Parecem adolescentes estúpidos. Não Giselle, ela sempre teve uma alma alegre.

Com o canto dos olhos notei outra pessoa entrando no corredor, a mesma carregava um distintivo da polícia em seu peito o que já me incomodava. Molhei meus lábios conferindo o horário no meu relógio de pulso, meia noite e meia, um pouco tarde para um assassino estar perambulando por lugares movimentos.

— Ah bem, se você mudar de ideia e quiser passar por lá! Será sempre muito bem vindo! — A Williams começou a empurrar seu carrinho até o caixa de pagamento, acenando com um grande sorriso. — Preciso ir indo, estão me esperando. Foi bom te ver de novo Emlian!

Indubitavelmente foi incrível reencontra-lá, ainda mais sabendo da onde poderia encontrá-la mais uma vez, talvez isso facilitasse para saber seu novo endereço. Quem quer estivesse à esperando, seja um homem ou uma mulher, ainda vai aprender que Giselle ama à uma única pessoa. À mim.

Passei pela porta sentindo o mormaço quente das ruas de Waterloo batendo contra meu rosto, o número de carros que passavam ao meu lado era escasso assim como a iluminação pelas calçadas. A noite foi feita para os amantes dos delitos, roubos, perseguição e assassinatos. Nada que estivesse escondido entre os grandes vãos dos edifícios robustos era algo bom, muitas vezes poderiam ser considerados "o bicho papão" que não corriam apenas atrás de criancinhas e sim, de qualquer um que estivesse em seu caminho.

Meus pensamentos tornaram-se turvos quando um cara esbarrou contra meu ombro, fazendo com que a sacola de alvejantes caíssem sobre a calçada. Com o colarinho bem ajustado e o típico cabelinho lambido, já conseguia associar fielmente à qual bairro de Waterloo esse cara pertencia.

O mesmo me encarou de cima á baixo sem um simples pedido de desculpas, o dinheiro consegue cobrir até mesmo a edição medíocre de algumas pessoas. Com um sorriso malicioso retirei as chaves do carro, era algo pequeno mas que poderia proporcionar um estrago se utilizada da maneira certa.

Está noite estava sendo repleta de acontecimentos bons, desde encontrar a paixão da minha vida até matar um riquinho mimado. O halloween sempre foi tão divertido assim?



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