𝟬𝟭. O IMPOSTOR ZERO À ESQUERDA


APÓS DEIXAR SEU IRMÃO NO COLÉGIO, Oh Yesol dirigiu junto com Won Jakyu, até um café no centro de Incheon para se encontrar com o suposto Xamã e seu secretário. A garota, definitivamente, sentia que havia algo de estranho com aqueles dois. O site para o xamã, as coisas escritas e o jeito que eles falaram... Sua intuição dizia que o tal do Ha Moonjae e Ha Dojae, eram impostores.

Yesol já deu de cara com muitos impostores e com médiuns reais, então, ela sabia exatamente quem era quem ─ ou pelo menos, era o que ela achava.

─ A senhorita não acha que é uma boa idéia, não é? ─ Jakyu perguntou ao olha-la com uma cara um pouco quieta demais.

─ Não. ─ Respondeu sem delongas. ─ Eles parecem mesmo mentirosos.

Começando pelo fato de que, elas haviam marcado um encontro com o xamã no local onde ele fazia suas sessões, mas de última hora, o rapaz acabou mudando.

─ Não dá para saber até conversar com eles. ─ A mulher deu de ombros, se aconchegando no banco do carro. ─ Se não forem, a gente liga pra polícia.

A Oh riu, com um ar de felicidade.

─ Essa foi a parte mais legal que você falou até agora. ─ Disse com a voz um pouco abafada por causa do pirulito na boca.

Sim, ela era totalmente viciada em doces... Mesmo que fosse para come-lo às oito e meia da manhã.

─ Sério que você prefere que dê errado? ─ Won Jakyu cruzou os braços, fazendo uma careta. ─ Já esqueceu que precisamos de um medium urgentemente? Temos várias casa pra limpar, além de tentar achar seus pais.

E claro, seu sorriso desapareceu no minuto seguinte. Sua secretária tinha razão... Eles estavam um pouco atarefados demais para desejar algo assim. Quase desesperador, eles precisavam de um medium... Yesol não poderia fazer tudo sozinha, ou morreria.

─ Ok, vamos ver se ele é mesmo o que diz ser.

Meia hora depois, Yesol e Jakyu chegaram ao pequeno café. De acordo com o endereço, elas notaram que ficava bem próximo da tal casa em que o xamã fazia suas coisas. A Oh não poderia contestar tanto o lugar escolhido, já que foi ela que contratou os dois e disse que eles poderiam escolher o local.

Aparentemente, era organizado e bem frequentado ─ já que, uma das hipóteses de Yesol, é que poderia ser uma armadilha.

É, ela não era tão positiva quanto deveria ser. Poderia ser chamada de "a rainha das probabilidades da desgraça".

O sininho tocou quando as duas entraram. O café tinha uma cor clara, entre o branco, bege e marrom cor de madeira, que dava um toque especial a decoração. As luzes eram bem claras, mas não tanto que incomodasse os olhos. Um lugar que parecia ser um ambiente calmo e aconchegante, além de muito organizado e bem atencioso ─ já que, assim que elas puseram o pé lá, um rapaz jovem, que parecia ter a mesma idade que Yesol, foi até as duas para cumprimenta-las.

─ Olá, sejam bem-vindas ao nosso café! ─ O rapaz disse com um sorriso no rosto. Ele tinha covinhas e o cabelo era do tamanho ideal para seu tipo, médio, mas dividido ao meio. ─ Meu nome é Yoon Minhyuk, como posso ajudá-las?

─ Estamos procurando alguém chamado Ha Moonjae e Ha Dojae. ─ Yesol desbloqueou o celular e mostrou uma foto do xamã para ele. ─ Eles disseram que já chegaram e reservaram uma mesa.

─ Ah, sim, os senhores que foram lá para cima! ─ Ele respondeu de imediato. ─ Eles estão no primeiro andar. Podem me acompanhar, por favor?

Elas fizeram que sim com a cabeça e seguiram o rapaz pelas escadas.

O primeiro andar também era como o térreo, só era mais reservado. Tinham mais mesas espalhadas pelo salão, puffs e dois sofás aparentemente muito confortáveis. Geralmente muitos casais vão para lá e, além de tomar um café, observam a movimentação da rua e podem ter conversas mais reservadas ─ sem o barulho do caixa ou dos atendentes fazendo os cafés ou assando bolinhos.

─ Muitos vem aqui como casal. ─ Ele explicou enquanto sobem as escadas. ─ Vocês vão para um encontro duplo?

Ele deduziu que sim, já que Yesol havia mostrado a foto de um deles pelo celular, como se nunca tivesse visto antes.

─ Só se eles forem espíritos. ─ A Oh respondeu como se fosse algo comum de se falar.

─ Como é? ─ Ele perguntou, vendo se havia escutado direito.

Jakyu tirou um cartão de apresentação da bolsa e deu para o rapaz. Tinha algo como no site, mas resumido. Contendo o nome da imobiliária, a frase "limpezas e venda de casas e prédios mal-assombrados", um telefone e o endereço.

─ Vocês fazem mesmo isso? ─ Ele perguntou, arregalando os olhos. As duas concordaram. ─ Posso confessar algo? ─ Enquanto andavam, Yesol e Jakyu se olharam, e depois olharam para o atendente. ─ Eu sinto presença assim.

Oh Yesol parou no mesmo segundo de andar. Eles estavam no topo da escada. A garota se virou para ele e arqueou a sobrancelha... Esperando ele continuar.

─ Quando eu era mais novo, eu lembro de conseguir me lembrar das memórias de alguém... Mas não eram minhas. ─ Ele relatou, sentindo um frio na barriga só de lembrar. Não era medo, apenas uma lembrança. ─ Depois eu senti como se estivesse passando pelo que ele passou, entende?

Yesol sorriu para Minhyuk, que não entendeu o motivo de sua felicidade. A exorcista aproximou-se, encarando o garoto. Ao chegar tão perto, Yesol tirou um potinho de vidro com sal de dentro da bolsa e colocou na frente dele.

Em uma coloração média de azul, o sal mudou de cor.

─ Você está interessado em trabalhar comigo? ─ A Oh perguntou, guardando o potinho dentro da bolsa. ─ Estou precisando de alguém como você.

─ Alguém como... eu? ─ Yoon arqueou a sobrancelha, a olhando de volta. ─ Que...

─ Você é um medium. ─ Ela respondeu, já que ele não sabia. ─ Você consegue ser possuído.

Processando a informação, Minhyuk não sabia o que falar. O garoto simplesmente paralisou e ficou olhando para o cartão da imobiliária. Ele não parecia assustado, apenas, surpreso ─ o que também surpreendeu as duas, já que a maioria das pessoas acharia uma loucura ao escutar que conseguia ser possuído por espíritos.

Não é a coisa mais normal de escutar no dia-a-dia.

─ Senhorita, acho que é muita informação para ele. ─ Jakyu disse ficando entre eles.

Yesol não era tão... Delicada assim com humanos. Não no sentido de sempre ser grossa, era mais como ser muito franca e sem filtro.

─ Prometo que você vai ganhar um terço do trabalho, já que arriscaria sua vida. ─ A Oh falou sobre o salário e a comissão que eles poderiam receber. ─ Se você se interessar, é só ligar para esse número. ─ Ela apontou para o cartãozinho preto.

Enquanto o garoto parecia analisar a possibilidade, a exorcista olhou para os lados, procurando os dois rapazes. Felizmente o café no primeiro andar estava quase vazio, então não foi muito difícil de acha-los sentados, em uma das mesas encostadas na grande janela de vidro.

─ Nós precisamos ir agora, mas por favor, se você se interessar, me ligue. ─ A Oh agradeceu, fazendo uma pequena reverência por educação.

─ Espere senhorita, preciso leva-las até sua me...

─ Ah, não se preocupe, acabei de achar. ─ A jovem apontou para a mesa número vinte e seis. ─ Obrigado.

A senhorita Who Jakyu se despediu do rapaz também e seguiu Yesol.

Ha Moonjae e Ha Dojae relaxavam e tomavam um café enquanto esperavam as moças. Eles estavam do lado da mesa que dava para ver se as duas chegassem, então, quando Moonjae levantou seu olhar, ele encarou os grandes olhos de Oh Yesol.

A garota estava muito bonita e em um estilo blackout ─ toda de preto. Os cabelos soltos e as finas mechas de franja nas laterais, um vestido curto e social com manga, botas de cano longo, brincos dourados que eram suaves e discretos, alguns anéis delicados nos dedos das mãos, um relógio digital, além de uma bolsa de tamanho médio que carregava consigo.

Todas as probabilidades apontam que foi amor à primeira vista.

O Moon não quis dá de cara, então olhou por um momento, e notou que deveria parecer um idiota, desviou o olhar para seu irmão. Foi como pensar "foco, você está aqui para descobrir o que ela faz e mandar parar de roubar seu dinheiro".

─ Ha Moonjae-shi? ─ Yesol perguntou, encarando o garoto que parecia mais novo.

Os irmãos Ha se levantaram e cumprimentaram as duas.

─ Sim... E a senhorita é a Oh Yesol-shi, certo? CEO da imobiliária Daebak? ─ Moonjae estendeu sua mão para cumprimenta-la.

A Oh estendeu sua mão de volta e o cumprimentou, apenas por educação.

Os quatro de sentaram, com os irmãos de um lado, e Yesol e Jakyu do outro, de frente para eles. As garotas se mantiveram em silêncio por um momento, analisando os dois ─ que sorriram, tentando passar confiança e educação.

O mais velho, Dojae, vestia um short jeans, uma camisa florida e sapatos, parecendo bem despojado. Já Moonjae, o mais novo, estava muito mais bem vestido. Com uma calça jeans, camisa preta lisa, uma jaqueta jeans marrom que parecia ser bem cara, tênis de marca, um colar por dentro da camiseta e o cabelo dividido ao meio.

─ Então, me achou bonito, foi? ─ Moonjae perguntou sorrindo a Yesol, que o encarava sem dizer nada.

─ Quero saber se você é mesmo um xamã e um medium como diz ser. ─ Ela foi direto ao ponto, ignorando a pergunta do rapaz. ─ Sinceramente você não me parece muito confiável, mas estou disposta a tentar.

─ Uau, você é bem direta. ─ Ha Moonjae soltou uma risada. ─ Mas... porque a senhorita acha que só você tem suas desconfianças?

Yesol arqueou a sobrancelha, desentendida.

─ Senhorita, a sua imobiliária faz exorcismo em casas mal-assombradas e depois vende elas... E você abre só no horário da noite. ─ Moonjae disse cruzando os braços. Ele fitava os olhos de Yesol, sem desviar. ─ Eu soube que ninguém nunca viu um exorcismo seu ou da sua mãe... nem mesmo os clientes...

─ Ninguém poder participar porque é perigoso. ─ A garota respondeu, cruzando os braços também. ─ Deveria saber disso, já que trabalha com isso.

─ Fiz uma investigação básica sobre você.

─ Sim, eu vi que você vasculhou minhas cartas e meu lixo.

Hoje mesmo, antes de se encontrar com eles, Yesol viu dois rapazes mexendo nas cartas e no lixo da imobiliária. Ela havia acabado de acordar e, quando olhou pela janela do quarto, deu de cara com a cena. A garota não surtou, apenas esperou um pouco para saber o que eles iriam fazer e decidir agir. No entando, para sua surpresa, ela identificou um deles como Ha Moonjae.

Os irmãos se entre olharam, dando muito na cara que foram eles mesmos que fizeram aquilo.

─ O que? Porquê fizeram isso? ─ Jakyu falou, indignada.

─ Só queríamos saber se vocês não eram perigosas. ─ Ha Dojae retrucou, se defendendo.

─ Escute senhorita Oh, eu estou sentindo uma energia muito forte vindo de você... ─ Moonjae disse mudando de assunto. ─ Sei que pode ser absurdo, mas há um espírito vingativo aqui e ele está ressentido com a senhorita...

Yesol olhou para Jakyu e depois para o rapaz novamente. Por algum motivo, ela estava prestando atenção naquilo ─ a Oh também tinha tido um sentindo estranho ultimamente, mas não sabia o que era.

─ Que espírito seria esse? ─ Ela perguntou , o instigando.

─ Sua mãe... ─ Os olhos de Yesol arregalaram. ─ Soube que ela estava sumida, então... quando a senhorita chegou, percebi isso. ─ Os olhos antes arregalados de Yesol, se tornaram olhos furiosos. ─ Se não resolver isso, o espírito de sua mãe irá atrás de você... Faz pouco tempo que ele já segue, eu posso te ajudar...

Em um movimento repentino, Yesol se levantou de sua cadeira e puxou Moonjae pelo colarinho. Seu rosto estava totalmente mudado e agora, raivoso ─ ela odiava vigaristas. Óbvio que Yesol não acreditaria naquilo, porque era completamente uma mentira. Yesol conseguia sentir todos os espíritos à sua volta e se, sua mãe realmente não estivesse mais aqui, ela saberia.

Morta ou como um espírito vingativo, Yesol saberia.

─ Você é um golpista, não? ─ Falou, o prendendo ainda mais em suas mãos. ─ Nossa, eu sabia que você era um desses.

─ Você deve malhar bastante em... Você é bem forte. ─ Moonjae sorriu, um pouco assustado. ─ Eu até que sou ágil, mas você é demais.

Jakyu e Dojae se levantaram logo mais e tentaram arrancar as mãos de Yesol do colarinho de Moonjae, mas ela era mesmo muito mais forte ─ até mais do que os três juntos. Jakyu resmungava algumas palavras, os chamando de vigaristas e dizendo que elas nunca deveriam ter ido lá. Enquanto Dojae, se fazendo se inocente, retrucava dizendo "vocês também são, não podem falar de ninguém".

─ Podemos conversar? ─ Ele suplicou, tentando se soltar. ─ Eu consigo me soltar sozinho, mas não quero te machucar.

Claro que ele não conseguia... Quanto mais ele achava que conseguiria se soltar dela, usando métodos que aprendeu na internet de "como se livrar de um golpe em uma briga", mais Yesol prendia ele. E, quando a garota fingiu que iria desferir um soco em seu rosto, ele morreu de medo.

Ela queria que ele falasse a verdade.

─ Está bem, eu sou um golpista! ─ Moonjae gritou, assumindo. ─ Mas você também é... Eu sei de tudo! ─ Basicamente à ameaçando, ele a olhou nos olhos. ─ Eu estava trabalhando há dois meses em um prédio para conseguir enganá-los e você se intrometeu! ─ Ele sorriu, sarcástico. ─ Então acho melhor você parar, ok? Há um código de ética até entre os golpista!

O aperto no pescoço de Moonjae afrouxou e ele foi jogado para trás ─ o que acabou ocasionando um choque entre ele e as cadeiras de trás.

Dois casais que estavam em mesas separadas assustaram-se com o barulho e olharam para o lado. Como todos os coreanos, que não se metiam em confusão nenhuma de outras pessoas, eles apenas observaram e conchicharam entre si. Dojae ajudou seu irmão, o puxando de volta e conferindo se ele estava bem.

─ Você é louca? ─ Dojae indagou, surpreso. ─ Ele poderia ter se machucado!

─ Você acha normal o que ele disse? ─ Jakyu a defendeu. ─ Vocês estavam tentando usar a mãe dela, seus vigaristas!

Por mais que não defende-se Yesol arrancar a cabeça do rapaz, estava brava por usarem da mãe de alguém ou dos espíritos para ganhar dinheiro.

─ Tudo bem, me desculpe por isso... Por usar sua mãe. ─ Moonjae falou, arrumando a jaqueta. Seu braço doeu um pouco ao bater nas cadeiras. ─ Mas isso não tira o fato que você também é uma golpista.

─ Código de ética, você falou?─ Yesol riu, debochando. Ele era mesmo muito babaca. ─ Se não quiser morrer jovem, encontre outra ocupação pra você. ─ Por mais que não parecesse, isso era muito mais uma dica, do que uma ameaça. ─ Se continuar usando os espíritos, pode morrer subitamente.

Yesol pegou sua bolsa que estava pendurada na cadeira e saiu andando com Jakyu ao lado. Deixando os dois golpistas falando sozinhos.

─ Nossa, ela é louca?! ─ Dojae falou, soltando uma risada desacreditada. ─ Ela pegou perto do seu pescoço... achei que ia te matar de verdade.

─ Como ela pode fazer isso comigo se eu tentei ajudar ela! ─ O mais jovem gritou, estérico. Ele até deu alguns pulinhos no lugar.

Sim, como uma criança birrenta.

─ Hyung, vamos até o prédio.

Moonjae pegou seu celular encima da mesa e saiu andando. Pronto para por mais um de seus planos em prática.

─ Agora? Porque? ─ O mais velho perguntou, o seguindo.

Sim, Moonjae era pior influência do que seu irmão mais velho.

─ Vamos fazer a melhor encenação possível. ─ O Moon falou, furioso.  ─ Ela vai ver quem vai vencer dessa vez!

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