Segunda-feira havia chegado e eu não tinha coragem para sair da cama, muito menos encarar pessoas curiosas querendo saber o que houve. Eu passei todo final de semana embaixo das cobertas, pois estou naqueles dias e todas vezes que me sinto muito cansada, então aproveitei essa deixa para ficar quieta no meu canto, meu celular gritava em meus ouvidos e eu não tinha forças para sequer tirar a cabeça para fora das cobertas, passei minha mão sobre a mesinha e o desliguei.
Juntei as poucas forças que me restava e me levantei, peguei minhas peças íntimas e um toalha, fui para o banheiro, aonde liguei a água no morno, pois estou com cólica e só isso faz com que ela diminua um pouco, após alguns minutos debaixo da água, me enxuguei e sai do banheiro enrolada na toalha, abri o guarda roupa e fiquei olhando o que eu vestiria, separei um terninho marsala e uma blusa de alça preta, espalhei creme por todo meu corpo, botei a blusa e saia, coloquei brincos de pérolas, um cordão discreto. Juntei minhas coisas na bolsa, calcei meu sapato e vesti o terninho, passei um perfume e desci, encontrei meus avós na mesa, beijei a bochecha dos dois.

— Como está querida ? — minha avó me entregou a xícara de café —
— Só um pouco cansada — ela e meu avô se olharam — Calma gente, é só por causa da menstruação
— Eu te levo hoje pro trabalho Nique
— Não precisa vô, o caminho que o senhor faz é completamente diferente
— Não tem problema, eu levo mesmo assim — assenti pois não adianta discutir com o senhor Edgar —

Terminei de tomar meu café e decidir tomar um remédio para a cólica , eu tenho que marcar uma consulta na ginecologista, essas cólicas estão cada vez mais forte. Durante o caminho para o trabalho, eu via toda hora meu avô me olhando, e quando eu o pegava me olhando, ele disfarçava.

— Obrigada pela carona vô — beijei sua bochecha — Tenha um bom dia de trabalho
— Obrigado. Tome cuidado — acenei para ele quando arrancou com o carro —

Segui para dentro da empresa, dentro do elevador sentir uma tonteira anormal, e tive que me encostar para não cair, eu sentia tudo girando e minha vista estava turva demais.

— Dominique — essa foi a última coisa que ouvi antes de apagar —

— Aonde eu estou ? — olhei para o lado e vi meus avós e Lorenzo conversando —
— Graças ao bom Deus! — minha avó me abraçou e distribuiu beijos por todo meu rosto —
— Por que estou ligada a esses aparelhos? Foi apenas uma queda de pressão boba — falei tentando levantar da cama mais fui impedida por minha avó —
— Você não está cem por cento, recuperada mi amor — ela passou a mão em meus cabelos —
— Bom dia , os senhores são parentes da paciente Dominique Nascimento? — o médico perguntou e meus avós assentiram —
— Somos os avós dela doutor, o que ela tem ? — meu avô foi direto ao ponto —
— Irei esperar lá fora — Lorenzo pegou seu terno e saiu —
— Dominique na sua família há histórico de doenças ?
— Que eu saiba não
— Sua mãe ou sua avó tiveram problemas para engravidar?
— Bem doutor, depois de mim, ela não conseguiu mais engravidar
— Mi amor, preciso te contar uma coisa — minha avó apertou minha mão e senti meu coração bater mais rápido — Após ter você sua mãe, descobriu que tinha câncer no colo do útero, e após a cirurgia aonde ela removeu o útero, ela não pode mais engravidar
— Como ninguém me contou isso? — pergunto triste por esconderem algo tão importante de mim —
— Você era muito nova — ela passou a mão em minha bochecha secando a lágrima que descia —
— Então, tudo isso que venho sentindo a anos, é a mesma doença ? — questiono ao médico que confirma — Eu não vou poder ter filhos ?
— Se o tratamento ocorrer bem, você terá trinta por cento de chances de engravidar
— Trinta por cento? Só isso ? — esfreguei meus olhos desejando ser alguma pegadinha — Quais são os tratamentos?
— Como está no começo, você poderá fazer quimioterapia ou radioterapia. Se a doença começar a crescer rápido demais, teremos que recorrer a cirurgia
— E tirar meu útero? Não isso não — digo nervosa — Eu sempre quis ter um bebê, por favor doutor — comecei a chorar copiosamente e abracei meu corpo —
— Nos podemos fazer uma cirurgia de dissecção dos linfonodos, no caso iremos dissecar os nódulos doentes, aí sua chance de engravidar será de cinquenta por cento
— Não teria como salvar nenhum óvulo saudável, antes da cirurgia?
— Podemos tentar. Porém Dominique, nenhuma cirurgia é cem por cento, o câncer pode voltar , mais vamos o nosso melhor
— E quanto é essa cirurgia ? — meu avô perguntou —
— Fica em torno de 7.000 a 8.000 euros — se eu não fosse morrer de câncer, irei morrer de infarto —
— Nós não temos esse dinheiro doutor — respondi e esfreguei minhas mãos devido ao nervoso —
— Eu pago sua cirurgia — olhei para a porta e vi Lorenzo parado —
— Não senhor Lorenzo, não posso aceitar
— Dominique, vamos fazer assim, eu pago e depois você vai me devolvendo aos poucos
— Mais eu não posso aceitar
— Poderia nos deixarem a sós? — Lorenzo pergunta e todos se retiram —
— Por que o senhor está fazendo isso por mim ?
— Estou fazendo porque você é uma excelente profissional, ganhou meus irmãos e minhas amigas. Então o mínimo que posso fazer é lhe ajudar — ele pôs a mão em meu ombro e apertou o local — Você ficará bem , deixe-me ajudá-la
— Só se depois eu puder lhe devolver — ele assentiu — Obrigada — sorri sincera para ele—
— Muito obrigada — minha avó abraçou Lorenzo que ficou sem ação —

Meu avô e Lorenzo saíram para resolver as papeladas e minha avó ficou quarto comigo, após algum tempo o médico retornou a sala e tive alta, ele disse que eu iria começar a fazer a quimioterapia, até a cirurgia, assim iria diminuir um pouco as chances do câncer se espalhar mais ainda.

Ao chegar em casa faltou pouco minha avó me dar banho, após um banho e a sopa que minha avó fez, me sentei na sala, os dois não queriam ir trabalhar de jeito nenhum, mais tive que dizer que ficaria chateada se eles não fossem, fiquei deitada assistindo Game of Thrones, até a campanhia começar a tocar freneticamente.

— Eu pensei que perderia você — Angel me abraçou e quase esmagou meus ossos —
— Você vai me quebrar no meio — digo sufocada e ela se afasta —
— Desculpa. É que — ela secou as lágrimas — Eu só tenho você e a Tonia
— Não diga isso Angel, eu não morri — a puxei para dentro e a abracei —
— Era para eu te por pra cima, mais sou eu que estou mal — me afasto dela e seco suas lágrimas —
— Vem , vamos ver um filme ou algo do tipo — a puxo para sentar comigo no sofá — O que quer ver?
— Sei lá, qualquer coisa — ela dá de ombros —
— Faz assim, escolhe aí. Enquanto isso faço uma pipoca pra gente
— Não
— Angelina, eu não estou inválida — revirei os olhos e ela me deu um sorriso sem graça — Escolha o filme

Fui para cozinha, aonde coloquei o óleo para esquentar e o milho, enquanto ele estourava, separei dois baldes de pipoca, assim que a pipoca ficou pronta, as despejei nos baldes e enchi nossos copos com suco de uva. Levei primeiro os baldes e depois peguei os copos, me sentei ao lado de Angel que havia escolhido o filme Coincidências do Amor, conta a história de uma mulher que decide engravidar.

— Que cara é essa? Não gostou do filme? — Angele perguntou e eu saí do transe —
— Gostei sim — respondi terminando de beber o suco —
— Por que a cara de está armando um plano maléfico ? — Angel se virou para mim e sentou como um indiozinho —
— Acho que vou ter um bebê
— Calma calma. Como assim você vai ter um bebê? Primeiro o tratamento, depois um cara e aí vocês decidem se terão um bebê — Angel fazia a contagem com os dedos enquanto explicava —
— O médico vai tentar salvar os óvulos, se ele conseguir e a cirurgia der certo — me levantei num pulo derrubando o balde vazio no chão — Eu terei um bebê — puxei Angel comigo e comecei a pular —
— Nique, não faz esforço — ela me segurou — Vamos esperar a cirurgia, dando tudo certo, serei a melhor tia e madrinha do mundo
— Quem disse que será você?
— Você só tem eu de amiga
— Tenho a Tonia, Belle — ela me deu um empurrãozinho fazendo eu rir — Estou brincando
— Olá mi amor — minha avó entrou na sala e quando viu Angel me olhou —
— Angelina essa é minha avó Olga, vovó essa é Angelina minha amiga e foi ela que me arrumou um emprego na empresa do senhor Lorenzo — apresento as duas que se cumprimentam com um beijo —
— Senhor Lorenzo, é tão bondoso. Eu vi como ele te olha mi amor — revirei os olhos e Angel deu uma risada —
— Doda Olga sua neta ganhou o coração de todos — Angel disse e minha avó sorriu com o comentário —
— Minha neta sempre foi muito cativante. Quer ficar para o jantar Angelina ?
— Fica pra uma próxima vez dona Olga — ela deu um beijo na bochecha da minha avó — Se cuida, está bem? Sem sustos — me abraçou forte e afagou meu cabelo —
— Está bem, obrigada pela companhia. Nos vemos amanhã na empresa — disse encostada na porta —
— De jeito nenhum senhorita, você irá descansar e se recuperar para começar sua quimioterapia
— Mais Angel eu não posso ficar sem trabalho
— Shiiu — ela pôs o dedo em minha boca — Lorenzo que mandou, se você aparecer lá, é capaz dele te demitir isso sim — falou eu assenti a contragosto — Te ligo amanhã — beijou minha bochecha e saiu —

Peguei as coisas da pipoca e levei para cozinha, para lavar, minha avó preparava a janta, me juntei a ela, mesmo ela dizendo que não precisava de ajuda. Assim que terminamos a janta, meu avô chegou e jantamos, minha avó havia feito macarrão com carne moída, meu predileto desde pequena.
Subi e fui ao banheiro, escovei meus dentes e depois fui para o quarto, me enfiei debaixo das cobertas e logo o sono chegou.

Estou fazendo quimioterapia há exatamente duas semanas, e minha cirurgia seria hoje, a noite anterior não dormir quase nada.
Durante essas semanas eu estudei o máximo que pude sobre o meu caso, como eu faria para engravidar, minha recuperação e tal, pedi a Angel que me enviasse os emails de Lorenzo para que eu trabalhasse de casa, isso fez com que eu ocupasse minha mente e não ficasse pensando em coisas ruins, até porque eu estava começando a me sentir péssima, a quimioterapia é muito forte e logo meu cabelo começou a cair, fazendo com que uma tristeza profunda me atingisse. Angel e Tonia viam quase todos os dias me ver, os dias que elas não viam, Ruan aparecia e numa dessas visitas Lorenzo o acompanhou, ele ficou pouco, justificando que tinha vindo apenas para uma visita de médico. Diego veio apenas uma vez, ele iria viajar para fazer um show, ele voltaria hoje no dia da cirurgia, então quando eu acordasse, ele estaria aqui como ele mesmo disse.

— Dominique, daqui a alguns minutos você começará a ficar sonolenta, por causa da anestesia. Primeiro nós iremos procurar pelos óvulos saudáveis e retirá-los, após isso começaremos a dissecção — o médico explicou e eu balancei a cabeça levemente sentindo já o sono me atingir.

Ao acordar notei o teto branco, minha boca estava seca e eu necessitava por água urgentemente, todo meu corpo doía, parecia que um caminhão havia passado por cima de mim, tentei me mexer, mais sentir meus braços presos ao fios, pelo menos estou viva.

— O que você quer mi amor ? — ouvi a voz da minha vó e olhei para o lado —
— Estou com muita sede — minha fala saiu embolada devido a anestesia —
— Aqui — minha avó se aproximou e pôs o canudo na minha boca —
— Obrigada abuela
— Bom dia Dominique, fico feliz que tenha acordado — o doutor entrou na sala com sua prancheta —
— Me desculpe, mais não lembro o nome do senhor
— Pode me chamar de Eric — ele sorriu e então notei que não era o mesmo médico que havia me atendido a primeira vez — Sou oncologista e estou cuidando do seu caso
— Então doutor, deu tudo certo ? — notei minha avó esfregando as mãos nervosa, do mesmo jeito que eu faço —
— Tenho boas notícias e notícias não tão boas. Qual desejam primeiro ?
— As ruins — respondi e ele assentiu —
— Bom Dominique, infelizmente não conseguimos fazer a dissecção completa dos nódulos doentes, conseguimos remover noventa e cinco por cento deles. Por isso você terá que vim ao hospital de três em três meses para fazer exames para vermos se o câncer está se espalhando. Agora as boas são, por termos conseguido remover grande parte, você terá que tomar apenas alguns remédios, e não precisará mais fazer a quimioterapia, a questão é você não poderá mais durante o tempo em que tomar esses remédios, utilizar o anticoncepcional, porém suas chances de engravidar são poucas, então não há tanta preocupação. Na sua próxima visita, se vermos que está tudo bem, suspenderemos os remédios e veremos como seu corpo vai reagir.
— E os óvulos?
— Já ia chegar neles — ele riu e ajeitou seu óculos — Conseguimos salvar cinco óvulos saudáveis — apertei a mão da minha avó e sorri para o médico —
— Então eu posso engravidar?
— Eu conversei com a médica do hospital, ginecologista e ela disse que o mais indicado seria uma fertilização in vitro. Você apenas precisa procurar um doador e após a parada com os remédios, poderá começar as tentativas.

Procurar um doador, essa será a parte mais fácil, eu acho.

Olá meus barcelonenses! Tudo bem?!
Muitas emoções neste capítulo hein.
Aguenta coração.

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