𝟎𝟎. prológo

🍜. capítulo zero.
a fala amaldiçoada de um povo silenciado pela dor.

A família Yonkai sabia que a caça havia começado.

O vento cortante da noite uivava por entre as árvores enquanto o homem corria com seus passos rápidos e desordenados, mesclando-se á respiração pesada e ao som unânime de sua fuga voraz. Ele carregava sua esposa nos ombros ─ os ossos da mesma estando frágeis e quebradiços, exigindo que o mais velho tivesse uma força quase sobre-humana para manter o movimento. Gyu ─ seu primogênito e único filho até o momento, mal conseguia manter os olhos abertos, o garotinho de cabelos escuros tinha um ferimento profundo no estômago, rapidamente estancado por um curativo improvisado que o fazia gemer de dor a cada vez que tentava puxar o oxigênio para dentro de seu corpo. Mykado o abraçava com uma ternura desesperada, como se naquele momento, suas próprias moléculas fossem a última linha de defesa contra a fádica morte que cercava sua família.

A dor que consumia suas células beiravam ao êxtase insuportável, era uma sensação aguda que ameaçava arrancar-lhe a consciência em cada movimento proferido contra o chão. Seus músculos estavam exaustos, os ossos pareciam ameaçar partir ao meio sob o cansaço a qualquer momento, contudo, mesmo diante de toda aquela adrenalina, ele não vacilava. A visão do futuro de sua família ─ uma imagem borrada de segurança e paz, ainda fumegava em sua mente. A mulher com a cabeça sob seus ombros e o garotinho que tentava não sucumbir eram o que o mantinha firme como uma rocha, eles eram sua âncora e Mykado daria sua vida ─ sem remorso algum, se isso os livrasse de qualquer mal.

Principalmente de todo o mal que seu clã vivenciou.

O clã Yonkai ─ uma linhagem de força e respeito, era uma fonte de temor para todos que conheciam suas habilidades ninja. A Kekkei Genkai ─ o poder ancestral conhecido como Noroi No Kotoba, os tornavam únicos entres os demais clãs. Qualquer palavra que um Yonkai ─ beneficiado pela Kekkei Genkai, dissesse, se tornava em realidade, como se suas cordas vocais tivessem o poder de moldar o destino. Uma frase dita no calor de uma guerra poderia devastar exércitos, enquanto um simples sussurro poderia salvar milhares de vidas, entretanto, com grandes poderes, vem responsabilidades esmagadoras. O Noroi no Kotoba poderia ser tanto uma benção quanto o portal para uma infame maldição, ela tinha a habilidade surreal de gerar milagres ou destruir sonhos de modo absoluto.

Dependia apenas da intenção mútua do usuário.

Mykado Yonaki sabia disto melhor do que qualquer outra pessoa.

Durante anos, seu clã foi respeitado e temido não apenas por força física, mas também por este dom incontrolável. As gerações passadas haviam aprendido ─ muitas vezes de maneira árdua, que a linha entre a salvação e a ruína era tênue e agora, enquanto corria sob o peso da dor, ele sentia o tamanho de todo o seu legado ─ e sabia que, se errasse uma única palavra, por menos que fosse, tudo o que amava se perderia no vazio.

Mykado viu todos ─ além de sua esposa, se perderem no vazio uma vez.

O clã Yonkai ─ uma vez reverenciado por sua grandeza e poder aterrador, havia sido devastado como a areia da praia após ser levada pela maré do oceano. No decorrer da Segunda Guerra Mundial Ninja, um conflito sangrento abalou as estruturas das grandes famílias, os Yonkai haviam sido traídos por uma mente manipuladora e astuta, atraindo-os para uma emboscada ─ como um rato é facilmente atraído pelo queijo preso minuciosamente na ratoeira, ferindo a confiança daqueles que confiavam cegamente em seus aliados. O clã foi atacado cruelmente por um grupo implacável de caçadores conhecidos por: Kurokage ─ que carrega o termo de sombras negras. Eles eram mercenários que caçavam as linhagens mais poderosas, um grupo com guerreiros sem igual, mestres em várias artes ninjas e ─ acima de tudo, possuíam habilidades que os tornavam imbatíveis, até mesmo para a fala amaldiçoada dos Yonkai.

Mykado estava naquela noite.

Em um série de ataques coordenados, os Kurokage invadiram os vilarejos onde o clã se abrigava, usando suas táticas de infiltração para neutralizar os dominantes membros do clã. Muitos não tiveram sequer a chance de reagir, o poder do Noroi No Kotoba ─ embora devastador, não conseguiu deter a precisão mortifera dos caçadores que eram especialistas em anular habilidades consideradas sobrenaturais. As palavras ─ que poderiam transformar a realidade, foram quebradas pelas sombras daqueles que usavam técnicas proibidas para silenciar o poderio alheio.

O clã foi levado ao escombro e aqueles que sobreviveram ─ Mykado e sua mulher, foram forçados a se esconderem na penumbra da noite, abandonando os antigos territórios que uma vez governaram. Mulheres, crianças e anciãos, todos foram brutalmente assassinados, e a família Yonkai que restou teve de perambular pelo mundo juntamente com a dor de um legado destruído. O poder do Noroi No Kotoba ─ que um dia havia sido uma dádiva divina, mostrou ser um lembrete constante do preço da sobrevivência, da maldição que sempre os assolaria. O clã Yonkai era como uma flor murcha no campo de batalha, os sobreviventes lutavam para se manterem vivos, mesmo com o peso das cicatrizes profundas formadas nas raízes dessas flores mortas.

A família de Mykado havia encontrado refúgio em uma vila pequena, longe dos olhares maldosos do mundo. A casa que construíram era simples, ficava as margens de uma floresta densa, onde a brisa parecia sussurrar segredos e as árvores ─ como guardiãs silenciosas, os envolviam em um tenro manto de proteção. Ali, afastados das grandes vilas e das disputas de poder que haviam destruído sua linhagem, Mykado e Hanami tentavam reconstruir o que restava de suas vidas juntamente do pequeno menino que nasceu meses depois do atentado mortal. Eles viviam de colheitas, caças nas divisas das florestas e de um esforço bruto para manter a plenitude que haviam conquistado previamente após os traumas que passaram.

E tudo estava indo bem, até aquela noite.

Algo estranho pairava no ar, o céu ─ normalmente limpo, mantinha-se coberto por nuvens espessas e o vento que soprava tinha uma intensidade cruel, como se a própria natureza estivesse inquieta mediante ao clima. Quando o homem retornou para casa ─ depois de um longo dia de caça, uma sensação de apreensão se instalou dentro de si, ele não sabia o quê, mas algo não estava certo. A casa parecia silenciosa demais e isso o aflingia, Mykado era acostumado a ver a silhueta de sua mulher na cozinha ─ preparando o jantar, enquanto notava a presença de seu filho no batente da porta, o esperando como sempre fazia, mas isso não aconteceu aquela noite. Algo estava estranho, Mykado poderia dizer que sentia-se severamente observado, materializando que aquela não era uma noite igual as demais.

Ao entrar pela porta, viu aquilo que o paralisou completamente.

Hanami estava no centro da sala, seu corpo curvado pelo esforço, o rosto pálido e os olhos cheios de uma dor silenciosa. Ela estava de joelhos no chão, tentando proteger Gyu que estava ali, caído, completamente imóvel, o seu menino ─ sempre tão cheio de vida, estava quieto com a respiração irregular, tendo sua camiseta branca colorida por uma mancha avermelhada próxima ao estômago. Ele não estava morto, mas bastante ferido. O mais velho viu sua esposa o encarar com as orbes cheias de desespero, ela estava muito esgotada, suas mãos tremiam, mas a força de seu amor e proteção maternal ainda a mantinha firme. Ela lutava sem forças, apenas com combate físico ─ por não possuir a habilidade especial de seu clã, mas faria tudo para manter seu filho seguro.

Mykado não olhou muito para saber quem estava ali.

O ar ficou ainda mais tenso ─ como se a própria sala de estar estivesse preenchida por uma sensação que não deveria estar ali. Ele não teve dúvidas, eles estavam ali, eram os Kurokage, eles não haviam mudado nada, ainda usavam suas capas escuras ─ quase invisíveis na escuridão do cômodo, e suas máscaras ─ que ocultavam suas verdadeiras identidades que ─ para o Yonkai, eram inconfundíveis. Ele sentiu a barriga se revirar ao reconhecer aqueles malditos traços, tudo o que ele temia ─ tudo o que havia tentado evitar, estava vindo á tona. O homem mais velho não precisava de explicações para compreender a situação em que estava, eles haviam rastreado o que restava do seu clã e agora ali estavam, mais uma vez diante dele. Não era mais uma questão de sobrevivência, eles haviam ido até ali não apenas para destruir, mas para apagar o que restava da história dos Yonkai ─ como se nunca tivessem existido.

Ele olhou para sua esposa, que com esforço, ainda tentava proteger o filho. Olhou para seu herdeiro, que lutava para manter seus olhos abertos. Por fim, olhou para os Kurokage que, como sombras, aguardavam seu primeiro movimento. O passado se estendia diante de Mykado e ele sabia que qualquer passo em falso poderia ser o último, mas não havia mais como recuar, ele sentia cada vez mais o peso do Noroi No Kotoba em sua garganta ─ a responsabilidade de suas palavras mesmo que seu chakra estivesse em escassez. Em certo momento, Hanami não conseguiu batalhar contra seu próprio cansaço, caindo no chão após um golpe adversário ser desferido em sua face.

E nesta sequência, tudo aconteceu tão rapidamente que Mykado mal teve tempo de processar, a dor, a raiva, a impotência ─ tudo se condensou em um único pavio de clareza. Usando o poder que lhe fora transmitido por gerações do clã Yonkai, ele proferiu as palavras que nocauteariam a ameaça diante dele, o Noroi No Kotoba sempre foi uma força incomensurável, entretanto, agora ─ mais do que nunca, ele sentiu a intensidade deste poder correndo por suas veias como um rio caudaloso ─ pronto para destruir tudo em seu caminho. A visão de Hanami e Gyu caídos no chão ─ imersos na fragilidade da vida, foi o que o desencadeou. A lembrança de sua família, reduzida àqueles corpos inertes, o consumiu por dentro, alimentando assim sua fúria ancestral.

Diante da ameaça iminente e da dor insuportável de presenciar sua família em perigo, o poder finalmente acordou com uma força avassaladora. As palavras que ele disse ─ simples mas carregadas de toda a sua dor, transformaram-se em uma onda invisível, varrendo os inimigos como se fossem sombras diante da luz. O que aconteceu a seguir não foi uma explosão de violência, mas sim um silenciamento profundo ─ como se o tempo tivesse sido interrompido. Os Kurokage que estavam presentes não puderam fazer nada, foram todos consumidos pela força daquelas palavras, desaparecendo como se nunca houvessem existido.

Cada passo que dava naquele instante se tornava uma promessa silenciosa de que faria tudo ao seu alcance para garantir que a vida de seu filho não fosse interrompida tão precocemente, e nem mesmo que a existência de sua mulher fosse extinguida daquele modo banal. Mykado sabia que não seria mais seguro continuar naquele ambiente, o perigo estava à espreita e ele sentia que logo outros Kurokage voltariam. Eles sempre voltariam, o Yonkai não podia mais continuar fugindo, o tempo de se esconder nas sombras havia acabado, Mykado sabia que se continuasse a viver assim ─ sempre com medo de ser caçado, logo sua família sucumbiria, da mesma forma como seu clã havia sucumbido.

Mas o que ele poderia fazer? Para onde mais poderia ir?

Ele precisava de um lugar que fosse mais do que um simples refúgio, um local onde a proteção fosse garantida não apenas por suas habilidades. Ele necessitava de uma aliança, algo mais forte do que ele mesmo, um poder que pudesse garantir a segurança de sua esposa e filho. Ele precisava se unir a uma nação ─ um povoado com força o suficiente para enfrentar qualquer adversidade. Todavia, essa não era uma decisão que não vinha sem sacrifícios, Mykado teria de se mostrar novamente ao mundo ─ não mais como um general aposentado que fugia dos fantasmas de seu passado, ele precisava se mostrar como alguém disposto a lutar por sua família, pela coisa mais importante de toda a sua vida.

Eles não tinham tempo para morrer, não havia mais tempo para fugir sob as sombras da noite. Agora não se tratava mais de sobreviver, se tratava de garantir que sua família tivesse um futuro, não havia mais espaço para dúvidas, nem para hesitação. E naquele momento ─ enquanto corria com sua família nos braços, Mykado sentia a carga do mundo em seu corpo. O peso de Hanami e Gyu ─ que se entregavam ao delírio da dor, era quase insuportável, seus músculos gritavam em protesto, mas o desejo de protegê-los ainda o impulsionava a avançar. O horizonte à sua frente começava a se iluminar com a suavidade de uma aurora nascendo, porém, para o homem, este brilho parecia distante e irreal, uma ilusão que não alcançava o peso de sua realidade. As pernas ─ já exaustas, finalmente cederam, ele caiu no chão com uma força incontrolável, incapaz de continuar, mas mesmo assim, antes de se entregar ao cansaço, deixou sua esposa e seu filho com cautela no chão antes de sucumbir ao êxtase.

Os portões da vila da folha estavam tão perto, mas ainda pareciam longínquos, no momento em que desabou no chão, ele sentiu os braços de Hanami o envolvendo, seu toque delicado ─ tentando com o pouco que restava de sua força, confortar o pequeno Gyu. O garotinho ─ com a respiração irregular e os olhos febris, murmurava palavras desconexas, tentando entender o que estava acontecendo, seus dedos ─ ainda sensíveis, se enredavam nos cabelos de seu pai enquanto sentia a dor abranger seus ossos. Mykado olhou para eles, os dois tão vulneráveis, fazendo uma onda de amor tomar conta de seu corpo. Não demorou para a visão falhar completamente, tudo ao seu redor se dissolveu em uma névoa escura, mas mesmo assim, o sorriso se manteve em seus lábios, frágil e dolorido. Ele havia conseguido, sua família estava segura ao seu lado e isso era o mais próximo de paz que poderia alcançar. Em meio à escuridão, seu último pensamento foi em Hanami, seu rosto marcado pelos ferimentos e pelo cansaço, ainda transparecia a força que ele sempre admirou nela, uma força que nunca se abalava, mesmo que diante das adversidades mais terríveis.

E então, desmaiou.

Os ninjas de Konoha chegaram rapidamente, alertados pelos sentinelas, o jounin especial não perdeu tempo ─ mesmo sem compreender a situação, a prioridade era clara: salvar vidas. Mykado, Hanai e Gyu foram cuidadosamente colocados em uma carruagem improvisada e transportados às pressas para o hospital da vila ─ onde os ninjas médicos se prepararam para a luta contra o tempo. O que restava era uma chance de reverter o destino cruel que os havia atingido.

O futuro do clã Yonkai agora estava nas mãos de Konoha.

Se sobrevivessem, talvez aquela terra ─ onde a proteção e a amizade eram mais do que simples palavras, pudesse oferecer um novo começo, uma nova chance para que a linhagem dos Yonkai encontrasse um propósito bem longe da perseguição e da dor que haviam marcado sua história. O pequeno Gyu ─ o último da linhagem até aquele momento, poderia ser a chave para essa transformação, ele ainda era só uma criança, mas isso não o deixava isento de carregar o legado de sua família nas costas.

O clã Yonkai ainda tinha uma chance de encontrar um novo destino, um futuro que fosse mais do que a sombra de um passado marcado pela dor. A vida deles pendia por um fio, contudo, em Konohagakure, um novo capítulo poderia se iniciar e com ele, a promessa de uma proteção que finalmente poderia romper as correntes de uma linhagem que anseiava por uma única causa: A Paz.

Essa era a única dádiva que um ser humano poderia almejar em ter.

Olá meus queridos, como estão? Começamos como? Com adrenalina porque a vida não é um mar de rosetas. Espero que eu tenha descrito um pouco do clã que criei, mais para frente iremos nos aprofundar na história de origem e mais alguns detalhes que não estão neste capítulo. Aliás, não sei se deixei claro, mas nttd ( sigla para no time to die ) tem dois casais principais, no arco um, vocês conhecerão kakashi hatake & gyu yonkai, os dois principais deste arco. No últimos dois arcos, teremos naruto uzumaki & megumi yonkai, com alguns flashs do casal do arco um, não sei se entenderam, mas no final fará sentido ( assim espero )

Não sei se preciso dizer isso, mas a história conta com um relacionamento homoafetivo, e se você não gosta de histórias com este tipo de tema, peço que se retire sem fazer comentários maldosos. Aliás, não esperem um romance depravado, será bem leve e lindo, do jeito que eu acredito que o Kakashi mereça depois de tudo que passou, e também, nem preciso dizer que não haverá Hot com o Naruto, não é?

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um chero no cangote de todos vocês
assinado: tia bea.

2820 palavras escritas.

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