𝐈. O CAOS COMEÇA COM UM SORRISO.

𝗢𝗡𝗖𝗘 𝗨𝗣𝗢𝗡 𝗔 𝗧𝗜𝗠𝗘 ✷
EPISÓDIO O1. O CAOS COMEÇA COM UM SORRISO.

MEILIN ESTAVA DEITADA DE cabeça para baixo sobre o colchão fino, mascando chiclete e soprando uma bolha preguiçosa. Seus dedos traçavam, quase sem perceber, a cicatriz no rosto⸻ a pele levemente áspera sob a ponta dos dedos, uma lembrança do treino com seu pai. O coque frouxo segurava seu cabelo longo, mas algumas mechas haviam escapado e roçavam contra o chão frio.

⸻ Tédio. ⸻ Ela resmungou para si mesma, estalando a bolha do chiclete com um estalo sonoro. Seus olhos fixaram-se no teto encardido antes de revirá-los dramaticamente. ⸻ Cadê o putífero do Ash? Ele foi pegar os correios há sete minutos e quarenta e cinco segundos.

Meilin definitivamente não era do tipo paciente.

Ela jogou as pernas para trás, se impulsionando para se sentar, e puxou um canivete do bolso, girando-o entre os dedos num movimento automático. Sua mente já começava a maquinar planos para atormentar Thanatos quando ele voltasse.

Se é que ele voltaria, considerando que ele adorava desaparecer sem aviso.

Ela bufou, impaciente. Se ele estivesse demorando porque tinha encontrado encrenca, pelo menos isso renderia alguma diversão. Mas se ele tivesse simplesmente parado para filosofar com o vento de novo, ela ia esganá-lo.

A porta velha de madeira se abriu com um rangido prolongado, como se protestasse contra o movimento. A estrutura estava gasta pelo tempo e pela maresia implacável da Ilha dos Perdidos⸻ rachaduras serpentavam pelo material escuro, e as dobradiças enferrujadas quase sempre ameaçavam ceder. Uma rajada de vento frio entrou no pequeno cômodo, fazendo as velas tremularem e o cheiro de sal e ferrugem se misturar ao ar já carregado de poeira.

Meilin não precisou olhar para saber quem era.

Thanatos entrou em silêncio, a silhueta alta e encapuzada delineada contra a penumbra lá fora. Seu rosto estava parcialmente oculto pelas sombras, mas a tensão no maxilar e a forma como seus dedos apertavam as laterais das duas cartas que carregava denunciavam seu humor.

Ele atravessou o espaço desordenado do cômodo-um colchão improvisado num canto, uma mesa de madeira cheia de mapas dobrados e objetos aleatórios, algumas facas enfiadas numa tábua que servia de alvo-e, sem uma palavra, jogou as cartas sobre a mesa com um baque surdo.

Meilin arqueou uma sobrancelha, o olhar afiado se fixando nos envelopes de papel grosso, selados com cera dourada. A logo cintilante de Auradon refletiu a luz da vela mais próxima, arrancando um brilho irritante que fez seu estômago revirar instintivamente.

Uma carta estava marcada com letras imponentes:

THANATOS - FILHO DE HADES

A outra, igualmente formal, exibia seu próprio nome em traços elegantes:

MEILIN YU - FILHA DE SHAN YU

Abaixo dos nomes, uma anotação em escrita menor e precisa.

ILHA DOS PERDIDOS.

Meilin sentiu o sangue ferver.

⸻ Isso é algum tipo de piada? ⸻ Sua voz saiu cortante, enquanto ela pegava sua carta, virando-a entre os dedos como se estivesse manuseando algo venenoso.

Thanatos afundou no colchão ao lado dela, soltando um suspiro carregado, apoiando os cotovelos nos joelhos. Ele não parecia irritado ⸻ irritação era um sentimento barulhento. O que ele exalava era algo pior. Resignação.

⸻ Eu queria que fosse. ⸻ A resposta veio baixa, mas densa, carregada de um peso que Meilin reconhecia bem.

Ela franziu a testa. Thanatos odiava Auradon de um jeito silencioso, mas absoluto. Não era raiva explosiva, como a dela. Ele apenas... enxergava. Via cada detalhe da exclusão, das regras não ditas, da falsa benevolência que nunca os incluiu de verdade. E ver o nome dele estampado num convite daqueles só podia significar uma coisa: problemas.

Meilin estalou a língua, irritada.

⸻ Você abriu?

Thanatos balançou a cabeça, encarando as chamas das velas como se pudesse encontrar respostas ali.

⸻ Não. Mas já sei que não vou gostar do que está dentro.

Meilin girou o canivete entre os dedos, os olhos voltando para os envelopes, para os nomes, para aquele brasão brilhante que não pertencia a eles.

⸻ Então a gente abre ou toca fogo nessa merda?

Thanatos soltou um suspiro pesado, passando uma mão pelos cabelos escuros antes de encarar Meilin. Seu olhar era sombrio, como se já soubesse a resposta para a pergunta dela, mas ainda assim ponderasse as consequências.

⸻ A gente lê primeiro ⸻ Murmurou, sem pressa, pegando a carta endereçada a ele. ⸻ Depois decidimos se queimamos.

A filha de Shan yu revirou os olhos, mas não contestou. Ela gostava da ideia de tocar fogo nos envelopes só para o puro prazer do caos, mas algo sobre aquilo a incomodava. Eles nunca recebiam correspondências. Ninguém recebia. Nada saía ou entrava da Ilha dos Perdidos sem um propósito muito claro. E se Auradon os estava contatando, então havia um motivo.

Thanatos quebrou o lacre de cera dourada com um único movimento dos dedos. O papel grosso desdobrou com facilidade, as bordas ainda lisas, imaculadas ⸻ tão diferentes dos bilhetes sujos e maltratados que estavam acostumados a ver por ali. Meilin fez o mesmo com sua própria carta, os olhos rapidamente escaneando a caligrafia elegante e precisa:

À estimada Meilin Yu, filha de Shan Yu,

Por decreto real, e com a bênção da futura Rainha de Auradon, Vossa Alteza Delancy Amélia Beaumont, é com grande honra que estendemos este convite a você.

Em nome do progresso, da unidade e da reconstrução dos laços entre Auradon e a Ilha dos Perdidos, Sua Alteza concedeu uma oportunidade sem precedentes: a aceitação de um seleto grupo de jovens talentosos da Ilha para ingressarem na prestigiada Auradon Prep.

Você foi escolhida com base em seu potencial, habilidades e linhagem. Como parte deste novo programa de integração, terá direito a um lugar no dormitório e à participação completa na vida acadêmica e social de Auradon.

A limusine real partirá ao amanhecer para buscar os alunos selecionados. Caso aceite esta oferta, esteja pronta no local indicado.

Caso opte por recusar, pedimos que envie uma resposta formal a Auradon o mais breve possível. Sua Alteza ficará imensamente satisfeita com sua presença e aguarda ansiosamente conhecê-la.

Com os mais altos cumprimentos,
Sir Reginald Whitmore
Secretário Real de Sua Alteza Delancy Amélia Beaumont

O silêncio pesou no ambiente.

Meilin terminou de ler primeiro e soltou uma risada seca, um som que beirava o escárnio.

⸻ "Sua Alteza ficará imensamente satisfeita com sua presença" ⸻ Repetiu num tom zombeteiro, atirando a carta na mesa. ⸻ Que gracinha. A rainhazinha quer brincar de caridade.

Thanatos não respondeu de imediato. Ele apenas encarou a carta por um longo momento, os olhos percorrendo as palavras como se tentasse enxergar algo além delas. Seu maxilar estava travado.

Meilin conhecia bem aquele silêncio.

⸻ Você acha que é uma armadilha?

Thanatos fechou os olhos por um instante, como se absorvesse a pergunta.

⸻ Eu acho que não importa.

Ela franziu o cenho.

⸻ Como assim?

Thanatos deixou a carta deslizar para o chão, recostando-se na parede atrás dele. Sua expressão era ilegível, mas Meilin viu quando seus dedos se fecharam levemente em um punho.

⸻ Importa o que a gente faz com isso.

Meilin estreitou os olhos, desconfiada.

⸻ E o que você quer fazer?

Thanatos soltou um suspiro.

⸻ Eu quero saber por quê.

Ela inclinou a cabeça, agora intrigada.

⸻ Por que a princesinha está fazendo isso?

⸻ Por que agora. Por que nós. ⸻ Thanatos desviou o olhar para a janela quebrada do cômodo, onde o céu da Ilha dos Perdidos se estendia escuro e sem estrelas. ⸻ E o que isso realmente significa.

Meilin passou a língua pelos dentes, um sorriso começando a se formar.

⸻ Então a gente vai?

Thanatos não sorriu de volta.

⸻ A gente vai. Mas não pelos motivos que eles querem.

O silêncio entre eles era denso, carregado pelo som das velas crepitando ao redor. A luz trêmula pintava sombras alongadas nas paredes descascadas do pequeno cômodo, onde móveis quebrados e relíquias esquecidas eram empilhadas sem ordem. O cheiro de cera derretida e madeira velha impregnava o ar, misturado com o sal úmido que sempre pairava sobre a Ilha dos Perdidos.

A porta, uma estrutura antiga de madeira rachada, rangia ao menor toque do vento. O trinco já não funcionava direito-assim como tudo na Ilha, era uma lembrança do que já fora inteiro um dia, agora apenas sobrevivendo por teimosia.

Meilin pegou a carta do chão e a dobrou com precisão, deslizando-a no bolso do casaco. Seu olhar voltou para Thanatos, que permanecia encostado na parede, braços cruzados, o rosto oculto parcialmente pelas sombras.

⸻ Você já sabe o que vai fazer lá ⸻ Ela afirmou, sem rodeios.

Thanatos ergueu os olhos para ela, e por um instante, algo brilhou ali. Determinação? Raiva? Meilin não tinha certeza, mas reconhecia o peso daquele olhar.

⸻ A varinha da Fada Madrinha.

O coração dela deu um salto.

⸻ Você quer roubar a varinha? ⸻ Sua voz estava entre surpresa e interesse genuíno.

Thanatos descruzou os braços e caminhou devagar até a mesa, pegando um dos envelopes rasgados e girando entre os dedos.

⸻ Sempre disseram que não somos dignos. Que não merecemos magia. Mas a varinha... ela pode mudar tudo. Pode mudar a gente.

⸻ Thanatos...

Ele continuou, como se não tivesse ouvido.

⸻ Você sabe o que significa ser filho de um deus e estar preso aqui? Ter a herança do submundo correndo no sangue e não ser nada além de uma sombra? Meu pai pode ter aceitado isso, mas eu não.

Meilin cruzou os braços, avaliando-o.

⸻ E você acha que roubar a varinha vai fazer ele se orgulhar?

Thanatos soltou uma risada baixa, sem humor.

⸻ Eu acho que é a única coisa que pode.

Ela estudou seu rosto por um momento. Thanatos era frio na superfície, mas Meilin conhecia bem as camadas ocultas sob aquele exterior calculista. Ele queria mais do que poder. Queria provar algo. Queria ser visto.

Ela apoiou a mão no quadril, um sorriso perigoso se formando.

⸻ Bom... se vamos derrubar um reino, pelo menos vamos fazer direito.

Thanatos ergueu a sobrancelha para ela.

⸻ Isso significa que você está dentro?

Meilin inclinou a cabeça, olhos brilhando com uma mistura de adrenalina e diversão.

⸻ O que mais eu faria em Auradon? Ser uma boa cidadã?

Ele sorriu. Não de alegria, mas de entendimento. A limusine real os levaria para o coração do reino perfeito. E, se dependesse deles, Auradon nunca mais seria o mesmo.

────────⊹⊱🐺⊰⊹────────

A noite envolvia a floresta como um manto de sombras vivas, onde apenas a luz pálida da lua filtrava-se entre os galhos retorcidos. O ar era denso com o cheiro de terra úmida e folhas antigas, misturado ao farfalhar distante de pequenos animais se movendo sob a vegetação rasteira. O vento assoviava entre as árvores, trazendo consigo o eco de uivos distantes-um chamado familiar, pulsando na pele de Azura como um instinto primal.

Ela corria entre as sombras, suas patas deslizando pelo chão de terra fofa. Seu pelo escuro, marcado por reflexos prateados das mechas que mantinha no cabelo humano, se misturava à noite. Mesmo em sua forma de loba, sentia a adrenalina pulsando em suas veias, o coração batendo forte com a emoção do treino.

Os outros lobos da matilha corriam ao seu lado, se movendo como uma unidade, coordenados e selvagens. Blackwolf ainda estava aprendendo a dominar sua transformação completamente, mas naquela noite ela sentia que estava quase lá. Seus sentidos estavam mais aguçados do que nunca-ouvia os galhos se quebrando sob as patas dos outros, o pulsar distante da cidade decadente ao longe, o sutil cheiro de ferro e maresia que sempre impregnava a Ilha dos Perdidos.

Mas então, um uivo diferente cortou o ar.

Azura travou as patas no solo, seus instintos alertas antes mesmo de compreender o que significava. Os outros lobos pararam junto a ela, olhos brilhando no escuro, atentos. O chamado não era um simples aviso ou saudação. Era uma convocação.

Seu pai a estava chamando.

Respirando fundo, Azura sentiu sua forma tremular, as energias se rearranjando dentro dela enquanto se forçava a voltar para sua forma humana. A dor veio como sempre-a sensação de ossos se moldando, músculos se ajustando-e quando seus pés descalços tocaram o chão frio da floresta, sua respiração estava pesada, como se tivesse acabado de correr por horas.

Ela se apoiou no tronco de uma árvore próxima, tentando recuperar as forças, enquanto os outros lobos observavam em silêncio, respeitando seu momento de fraqueza. Sentia o suor frio escorrendo pela nuca, misturando-se com a ardência familiar do esgotamento. Ainda precisava melhorar. Ainda precisava aprender a fazer isso sem se sentir prestes a desmaiar depois.

Um dos lobos, um macho esguio de pelo acinzentado, aproximou-se e roçou o focinho contra sua perna, um gesto silencioso de apoio. Azura passou a mão pelo pelo dele em resposta, mas seu olhar já estava fixo no horizonte.

Seu pai a chamava, e aquilo nunca era por algo insignificante.

Puxando a jaqueta de couro que havia deixado dobrada sobre uma pedra próxima, Azura a vestiu, deslizando os anéis de prata de volta nos dedos. O frio da noite era cortante contra sua pele pálida, mas ela não se importava.

A floresta se dissolvia aos poucos conforme Azura caminhava para mais perto do território de sua matilha. As casas improvisadas, feitas de madeira velha e metal enferrujado, se agrupavam ao redor de fogueiras baixas, onde sombras dançavam como feras selvagens. O cheiro de fumaça e terra molhada pairava no ar, e as poucas pessoas que ainda estavam acordadas trocaram olhares rápidos com ela antes de voltarem para seus afazeres.

Wheeler estava esperando na entrada de sua cabana. Braços cruzados, postura rígida, a cicatriz na sobrancelha tornando sua expressão ainda mais severa sob a pouca luz. Seus olhos pousaram nela com aquele olhar de sempre-uma mistura de julgamento e algo que Blackwolf nunca conseguia decifrar por completo. Talvez um resquício de luto. Talvez apenas ressentimento.

⸻ Demorou. ⸻ Sua voz saiu áspera.

Azura revirou os olhos, passando por ele sem se preocupar em esconder o cansaço.

⸻ Ah, foi mal, pai. Da próxima vez, prometo que me teleporto.

Ele não riu. Nunca ria. Apenas puxou do bolso uma carta dobrada, a jogando sobre uma mesa velha no canto da cabana.

⸻ Leia.

Azura franziu o cenho, pegando o papel amassado. O selo de Auradon fez seu estômago revirar antes mesmo de ela abrir.

Seus olhos percorreram as palavras com rapidez, cada linha pior que a anterior. A mão segurando a carta se apertou, os dedos tremendo de raiva.

"É com grande prazer que informamos que você foi selecionada para estudar em Auradon Prep (...)"

⸻ Mas que...! ⸻ Ela amassou a carta com força. ⸻ Estão de brincadeira comigo?!

A raiva subiu como fogo em suas veias. Ela jogou o papel na mesa com desprezo, virando-se para Wheeler.

⸻ Eu não vou pra essa escolinha infestada de princesinhas cor de rosa! Nem ferrando que eu vou virar cachorrinha de Auradon!

Seu pai ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços novamente.

⸻ Cuidado com o que fala.

⸻ Ah, por favor! Como se eles realmente quisessem a gente lá! Isso é só mais uma jogada ridícula da realeza pra mostrar o quanto são bonzinhos. Querem enfiar regras, sorrisos forçados e vestidos brilhantes na gente e fingir que somos iguais!

Azura bufou, chutando uma cadeira próxima.

⸻ E aquela princesa ridícula! Aposto que foi ideia dela! Deve estar adorando se sentir a salvadora dos filhos de vilões.

Esperava que Wheeler concordasse, mas ele continuou olhando para ela, impassível.

⸻ Você vai.

O sangue de Azura gelou por um momento antes de esquentar outra vez, ainda mais fervente.

⸻ Eu já disse que NÃO VOU!

⸻ Vai, sim. ⸻ A voz dele saiu firme. ⸻ E vai porque essa é sua única chance.

Ela riu, irônica.

⸻ Minha única chance de quê? Ser envenenada por cordialidade e regras absurdas?

Wheeler se inclinou levemente para frente, seus olhos cravando nos dela como lâminas afiadas.

⸻ De roubar a varinha da Fada Madrinha.

Azura piscou.

O silêncio entre os dois era denso, quase sufocante. O coração dela martelava contra as costelas, e pela primeira vez, sua raiva diminuiu apenas o suficiente para que ela compreendesse a gravidade do que ele estava dizendo.

Wheeler continuou:

⸻ Você tem algo que eles não têm. Algo que nunca vão ter. ⸻ Ele apontou para ela, a voz baixa, mas firme. ⸻ Você é uma Blackwolf. Você sabe se esconder, sabe farejar uma mentira, sabe como se mover sem ser vista. Você pode ganhar a confiança deles, fazer eles acharem que você é uma deles. E então...

Ele fez uma pausa, um sorriso frio puxando o canto dos lábios.

⸻ Você pega a varinha.

Azura sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

Ela olhou para a carta de Auradon, agora amassada e jogada sobre a mesa.

Talvez, só talvez, aquela "escolinha infestada de princesinhas" pudesse ser mais útil do que ela imaginava.

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Cassian estava sozinho no laboratório improvisado no subsolo do castelo em ruínas que chamava de lar. A sala era úmida, com paredes de pedra cobertas por teias de aranha e frascos empoeirados dispostos de maneira caótica sobre as prateleiras. O cheiro de enxofre e ervas amargas impregnava o ar, misturando-se com o leve aroma metálico de ingredientes alquímicos envelhecidos.

Ele remexia entre os potes e frascos velhos, misturando líquidos de tons esverdeados e roxos, observando as reações com um brilho curioso no olhar. A chama bruxuleante da vela que iluminava o cômodo projetava sombras alongadas, dando um ar ainda mais sombrio à cena. O líquido no pequeno caldeirão borbulhava em tons de azul opalescente, mudando de cor conforme Cassian adicionava pequenos fragmentos de raízes secas e pós misteriosos.

Ele não tinha permissão para mexer naquelas poções. Sabia disso. Mas ignorava deliberadamente as ordens de sua mãe. Ela nunca lhe deu liberdade, nunca o tratou com o mínimo de carinho, e se ele não podia ter controle sobre sua própria vida, pelo menos teria controle sobre aquilo. Cada experimento era uma pequena rebelião silenciosa contra o destino que Yzma tentava impor a ele.

Cassian mexia em alguns frascos velhos, despejando gotas de uma solução púrpura em um caldeirão enferrujado. O líquido borbulhava e soltava uma névoa densa que se espalhava pelo chão, envolvendo seus pés com um brilho espectral. Vestia um jaleco branco um pouco gasto, marcado por manchas de experimentos anteriores. As luvas de couro preto cobriam suas mãos e os óculos steampunk roxos refletiam o brilho da poção enquanto ele analisava os efeitos da mistura.

⸻ Só mais algumas gotas... ⸻ Murmurou para si mesmo, girando um pequeno frasco de vidro entre os dedos.

Antes que pudesse adicionar mais um ingrediente, um grito ensurdecedor ecoou pelo laboratório.

⸻ CAAAAAAAAAAASSSSSSSIAAAAAAAAAAAAAN!

Ambrose Von Hallow suspirou pesadamente, apertando o frasco até os nós dos dedos ficarem brancos. Ele nem precisou se virar para saber que Yzma estava parada na entrada, suas vestes roxas farfalhando de impaciência e seus olhos afiados cravados nele como punhais.

⸻ Se for sobre eu ter usado seus ingredientes sem pedir novamente, tecnicamente, o laboratório está cheio de recursos abandonados... ⸻ Cassian começou, sem tirar os olhos do experimento.

⸻ ESSE NÃO É O PROBLEMA! ⸻ Yzma bufou, aproximando-se com passos duros e impacientes. Com um movimento brusco, ela jogou um envelope na bancada, bem ao lado do caldeirão fumegante.

Cassian arqueou uma sobrancelha antes de pegar a carta selada com um brasão dourado. O símbolo de Auradon brilhava sob a luz fraca.

⸻ O que diabos é isso? ⸻ Ele perguntou, desconfiado, rasgando o envelope sem cerimônia. Seus olhos percorreram as palavras e, conforme ele entendia o conteúdo, sua expressão fechou ainda mais.

⸻ Você foi aceito para estudar em Auradon ⸻ Yzma declarou, cruzando os braços e observando sua reação com expectativa.

Cassian soltou uma risada cínica.

⸻ Ah, claro. Porque faz todo sentido eles me aceitarem agora. Depois de anos nos deixando apodrecer nesse buraco, de repente sou digno? Passo. ⸻ Ele jogou a carta de volta no balcão, girando nos calcanhares para continuar sua poção.

⸻ Você vai. ⸻ A voz de Yzma cortou o ar como uma lâmina fria.

⸻ Não, não vou. Você não tem nada a ver com as minhas escolhas. ⸻ Ele se virou para encará-la, seu olhar desafiador refletindo o cansaço de anos vivendo sob as expectativas dela.

⸻ Eu sou sua mãe! ⸻ Yzma gritou, os olhos faiscando de fúria. ⸻ E essa é a única chance que temos de pôr as mãos na varinha da Fada Madrinha e quebrar a maldita barreira!

Cassian passou a língua pelos dentes, irritado, e apertou os punhos.

⸻ Então é por isso? Você quer que eu vá para ser seu fantoche? Para roubar a varinha e libertar todos os vilões? Você realmente acha que eu me importo com isso?

⸻ Você deveria se importar! ⸻ Yzma apontou um dedo ossudo para ele. ⸻ Você tem o poder de mudar tudo! De restaurar nossa glória!

⸻ Nossa glória?! ⸻ Ambrose Von Hallow soltou uma risada seca, balançando a cabeça. ⸻ Você quer dizer sua glória. Eu nunca fiz parte disso. Eu sou só mais uma peça no seu tabuleiro.

Yzma cerrou os dentes.

⸻ Você vai, Cassian. E ponto final.

Ele encarou a mãe por alguns segundos, seus olhos azul-acinzentados refletindo a mesma teimosia da mulher à sua frente. Então, num movimento calculado, ele pegou a carta da bancada e a amassou em uma bola, jogando-a no chão.

⸻ Eu nunca segui suas ordens antes. Não vou começar agora.

Yzma estreitou os olhos, mas um sorriso venenoso surgiu em seus lábios.

⸻ Ah, meu querido... você pode ser teimoso, mas eu sou persistente. Você vai para Auradon. Nem que eu tenha que te despachar dentro de um baú.

Cassian manteve o olhar fixo nela, sentindo uma raiva fervilhar sob a superfície. Ele sabia que sua mãe sempre conseguia o que queria. E ele odiava isso.

────────⊹⊱❄️⊰⊹────────

O cheiro era insuportável.

Lucas bufou, segurando firme o cabo da pá enquanto revirava a pilha de sujeira. O estábulo improvisado, com tábuas podres e feno sujo espalhado pelo chão, era um reflexo da própria Ilha dos Perdidos: decadente, fedorento e condenado ao esquecimento. O garoto olhou ao redor com uma expressão de puro tédio e desgosto, seus olhos azuis cintilando de irritação

⸻ Claro, porque essa é exatamente a vida que eu imaginei para mim ⸻ Murmurou, atirando mais um monte de estrume para o lado. ⸻ Limpando merda que nem é minha. Isso porque meu pai é um gênio e tentou matar uma princesa. E adivinha quem paga por isso? Eu.

Ele revirou os olhos, sentindo o suor escorrer pela têmpora. Hans sequer estava ali. Como sempre, o príncipe exilado havia dado um jeito de escapar de qualquer responsabilidade, deixando Westergaard para cumprir sua sentença.

⸻ Parabéns, Hans, mais uma vez provando ser o pior pai do mundo ⸻ Resmungou, jogando a pá de lado e esfregando as mãos sujas na calça.

A luz da lua mal conseguia atravessar a névoa espessa que cobria a Ilha. As construções velhas e malcuidadas, com paredes descascadas e janelas quebradas, cercavam as ruas estreitas cheias de lixo e esgoto a céu aberto. O cheiro de peixe podre misturado com fumaça densa pairava no ar, enquanto ao longe, alguns moradores discutiam sobre comida roubada. Era assim todos os dias. E Lucas odiava cada segundo disso.

De repente, uma voz familiar e irritante cortou sua linha de pensamento.

⸻ Lucas! Onde diabos você está?

Westergaard ergueu os olhos e bufou ao ver a silhueta do pai se destacando na entrada da casa ⸻ ou melhor, do casebre de madeira carcomida que os abrigava. Hans estava impecável como sempre, com os cabelos perfeitamente alinhados e um olhar impaciente.

⸻ Ah, olha só quem apareceu! E eu pensando que estava cumprindo pena sozinho! ⸻ Retrucou Lucas, cruzando os braços. ⸻ Quer que eu limpe o chão pra você passar? Porque, né, deus me livre sujar sua botinha.

Hans estreitou os olhos.

⸻ Você recebeu uma carta de Auradon.

O silêncio preencheu o espaço entre os dois.

Lucas franziu o cenho, sentindo seu coração acelerar por um instante. Uma carta de Auradon? Ele deixou a pá cair no chão e caminhou até o pai, mantendo a expressão indiferente, mesmo que sua mente já estivesse fervilhando com possibilidades.

⸻ Ah, que ótimo. Provavelmente um convite pra ser usado de exemplo de como um "filho de vilão" não deve agir ⸻ Ironizou, pegando o envelope que Hans segurava. A insígnia dourada de Auradon brilhava sob a pouca luz, contrastando de forma absurda com a sujeira ao redor. Ele virou a carta nos dedos antes de abrir.

Seus olhos percorreram as palavras com rapidez. Uma vaga em Auradon Prep. Uma chance de sair da Ilha.

Lucas sentiu um gosto amargo na boca.

Auradon. A terra da perfeição, dos príncipes impecáveis e das princesas altruístas. A cidade onde justiça e redenção eram prometidas, mas apenas para aqueles que já nasciam com a sorte de seu lado. Ele sabia que Auradon enxergava os filhos dos vilões como um problema a ser controlado, não como pessoas com direito a um futuro.

Hans cruzou os braços e o observou com um olhar afiado.

O loiro encarava a carta em suas mãos como se fosse uma piada de mau gosto. A promessa de Auradon estava ali, impressa em tinta dourada, quase zombando dele. A oportunidade que muitos da Ilha matariam para ter agora repousava entre seus dedos, e tudo o que ele sentia era uma irritação crescente. Ele soltou um riso seco.

⸻ Bom, se for uma armadilha, pelo menos a comida é melhor do que essa porcaria de peixe estragado daqui, né? ⸻ Murmurou, jogando um olhar de desprezo para o barraco caindo aos pedaços onde cresceu. A Ilha dos Perdidos sempre parecia sufocante, com suas vielas apertadas, a névoa fétida de água salgada e lixo acumulado, e a constante sensação de que ninguém ali realmente vivia, apenas sobrevivia.

Foi então que a risada cortante de Hans quebrou seus devaneios.

⸻ Ah, meu filho, tão ingênuo... Você realmente achou que Auradon te daria algo de graça? ⸻ A voz de Hans carregava aquele tom ácido e teatral que Lucas odiava. O homem estava encostado na porta, com seu sorriso meticulosamente ensaiado, parecendo se divertir com o dilema do filho. ⸻ Eles nunca fazem nada sem um motivo. Mas, claro, você já sabia disso. A questão é... vai aceitar?

Westergaard cerrou os dentes. A ideia de sair dali era tentadora. Na verdade, era a única coisa que o mantinha acordado à noite, planejando como escapar da sombra patética de seu pai. Mas se Hans estava envolvido, havia algo podre nessa história.

⸻ Você não estaria tão tranquilo se isso fosse só uma escolha minha ⸻ Respondeu Lucas, cruzando os braços. ⸻ Então, qual é o preço? Porque, honestamente, isso tá bom demais para ser verdade.

Hans sorriu, satisfeito. Ele adorava ver Lucas deduzindo as armadilhas, mesmo que isso significasse mais resistência.

⸻ Ah, meu garoto, você me diverte. Claro que há um preço. Você só sai desse chiqueiro de merda se for em troca de algo ⸻ Hans inclinou-se para frente, os olhos azul-acinzentados brilhando com expectativa. ⸻ Eu quero a varinha da Fada Madrinha. Chega de viver nesse buraco. Já passou da hora dos imponentes Westergaard serem libertados dessa ilha de bosta.

Lucas riu, um riso cínico, cheio de ironia e resignação.

⸻ É claro. Tava fácil demais pra ser verdade. Por um segundo, quase achei que Auradon tivesse desenvolvido um coração.

Hans deu de ombros, fingindo uma expressão solidária.

⸻ Não se engane, meu filho. Você pode querer se afastar de mim, mas no fundo, somos iguais. Estratégia. Manipulação. Sobrevivência. Você pode jogar o jogo como quiser, mas no fim, a única regra que importa é a seguinte: ou você é o predador, ou é a presa. E Auradon? Ah, eles acham que você é uma presa. Então, qual vai ser?

Lucas apertou a carta com mais força. As palavras de Hans o irritavam porque, no fundo, tinham um resquício de verdade. Se ele fosse para Auradon, os olhares desconfiados estariam sobre ele a cada passo. Se recusasse, ficaria preso na Ilha para sempre, condenado a seguir os passos de um homem que desprezava.

⸻ Bom ⸻ Disse ele, com um meio sorriso ⸻ Se é pra jogar, então vamos jogar direito.

────────⊹⊱📖⊰⊹────────

A noite mais tarde já caía sobre a Ilha dos Perdidos, lançando um manto sombrio sobre suas ruas decadentes. O centro da cidade podre fervilhava de curiosos, um mar de murmúrios e olhares de desdém se espalhando pelo ar pesado de ressentimento. Os filhos dos vilões escolhidos estavam reunidos, ainda sem saber que compartilhavam o mesmo destino.

Meilin mantinha-se firme, de pé ao lado de Thanatos. Seus olhos afiados varriam a multidão, atentos a qualquer ameaça disfarçada de insulto. Ela usava uma túnica preta ajustada, com detalhes vermelhos e dourados, presa por faixas na cintura que sustentavam pequenas armas ocultas. O couro de suas botas fazia um som sutil a cada passo que dava, e seus longos cabelos escuros estavam presos em uma trança meticulosamente elaborada. Seu semblante era impassível, mas por trás da postura controlada, havia um turbilhão de pensamentos e estratégias se formando.

Thanatos estava ao seu lado, silencioso e envolto em uma aura enigmática. Seu sobretudo escuro se movia levemente ao sabor da brisa fria da noite. A cicatriz em seu lábio parecia mais pronunciada sob a luz pálida dos postes quebrados, dando-lhe um ar ainda mais intimidador. Ele observava tudo com atenção, absorvendo cada palavra murmurada, cada olhar torto lançado em sua direção. Seu cabelo caía de forma desleixada sobre a testa, contrastando com a rigidez de sua expressão. Ele não se preocupava com os insultos sussurrados ⸻ estava acostumado a ser o lobo solitário entre os rejeitados.

Azura, um pouco afastada, cruzava os braços sobre o peito, claramente irritada. Seu olhar ferino deslizava pela multidão, pronta para revidar qualquer provocação. Ela vestia uma jaqueta de couro preta adornada com detalhes metálicos, calças rasgadas e coturnos pesados. As mechas descoloridas em seu cabelo ondulado destacavam-se sob a iluminação precária. O brilho prateado dos anéis e das argolas que usava refletia sua rebeldia, assim como a tatuagem das fases da lua em suas costas, um lembrete constante da dualidade entre sua natureza selvagem e sua humanidade. Blackwolf não se importava com as palavras dos curiosos ⸻ ela sabia quem era e o que representava.

Lucas mantinha-se mais afastado, exalando um ar de inquietação. Diferente dos outros, que pareciam estar prontos para enfrentar a multidão, ele se mexia desconfortavelmente, ajeitando a gola da camisa escura. Sua expressão era indecifrável, mas ao menos, para seu alívio, não carregava mais o cheiro de bosta que o acompanhara mais cedo.

Cassian, por sua vez, travava uma luta silenciosa para se livrar das mãos de sua mãe, que apertava suas bochechas com força exagerada, ignorando completamente o constrangimento do filho. 

⸻ Meu lindo Cassian! Está tão crescido! ⸻Ela dizia, sem dar atenção ao olhar de puro desespero dele. 

Seu estilo soturno e introspectivo parecia destoar ainda mais naquela situação ridícula. Ele vestia uma jaqueta de couro preta, calças escuras e correntes de prata que refletiam a pouca luz ao redor. Seus dedos cobertos de anéis apertavam os pulsos da mãe em uma tentativa vã de afastá-la.

A agitação entre os vilões e seus descendentes crescia a cada segundo. As palavras de desprezo se intensificavam na multidão:

Traidores!

Baba ovos da realeza!

Vendidos aos principes de meia-tijela!

A multidão se comprimia ao redor, zombando e observando como se esperassem um espetáculo. Era claro que ninguém ali via com bons olhos a escolha daqueles jovens. Eles eram filhos de vilões, forjados na dureza da Ilha dos Perdidos, e agora estavam prestes a pisar em Auradon ⸻ um território inimigo.

Meilin não se moveu, nem piscou. Ela apenas observou, seu coração batendo firme, o ar frio da noite enchendo seus pulmões. Eles podiam insultá-los, mas no final das contas, ninguém ali poderia mudar o que estava por vir.

Eles estavam indo para Auradon. Gostassem ou não.

E foi ali, naquele cenário miserável, que algo completamente fora do lugar surgiu atravessando a barreira entre a ilha e auradon. 

Uma limusine colossal, preta e reluzente, entrou na Ilha como um animal selvagem invadindo território inimigo. O veículo cintilava como se fosse polido diariamente por fadas madrinhas, o que só fez os filhos dos vilões encararem a cena com olhos arregalados. Era grande demais, limpa demais, luxuosa demais para estar ali.

⸻ Eles querem nos cegar antes mesmo de pisarmos lá? ⸻ Murmurou Azura, estreitando os olhos.

⸻ Ou talvez acham que estamos acostumados com carruagens puxadas por ratos ⸻ Respondeu Cassian, seu tom carregado de sarcasmo.

⸻ Eu meio que esperava uma carroça ⸻ Meilin disse, com um brilho discreto no olhar.

Thanatos soltou uma risadinha baixa, um som raro e rouco, que fez o coração de Meilin dar um salto involuntário. Ela amava quando ele ria das coisas que ela falava, mesmo que fosse algo completamente aleatório. Tentando disfarçar, desviou o olhar, mordendo de leve o canto do lábio.

Um a um, os adolescentes começaram a guardar suas malas no bagageiro. Meilin Yu foi a primeira, depositando sua única mala de couro preto com firmeza. Thanatos seguiu logo depois, sua mala desgastada pelo tempo e pelo mau uso. Cassian jogou a dele sem muita cerimônia, enquanto Azura segurava sua mochila como se desconfiasse de que fosse roubada a qualquer momento, Lucas jogou sua mala branca em detalhes em dourados gastos sem se importar muito.

Por fim, eles se viraram para os pais, figuras que os observavam com expressões inescrutáveis. O olhar de Shan Yu perfurava Meilin como se pudesse enxergar seus pensamentos. Yzma mantinha um sorriso afiado no rosto, uma diversão sombria dançando em seus olhos. O silêncio tenso era tão cortante quanto qualquer lâmina.

⸻ Boa viagem ⸻ Hades disse finalmente, os braços cruzados sobre o peito.

⸻ Não envergonhem o nome da família ⸻ Shan Yu acrescentou, a voz firme.

O frio na espinha foi inevitável. Todos deram um último olhar para os pais antes de entrarem na limousine.

O interior era um choque absoluto. O espaço era ridiculamente luxuoso, com assentos de couro creme macios e amplos. Uma pequena geladeira estava embutida em um dos lados, recheada de doces brilhantes e coloridos. Potes de balas, pirulitos e chocolates estavam estrategicamente posicionados em mesas de vidro. No canto, um pequeno freezer com sorvetes em embalagens douradas.

Cassian arregalou os olhos.

⸻ Se alguém quiser me matar por envenenamento, é agora.

Azura abriu um dos potes e tirou uma bala avermelhada.

⸻ Se for para morrer, pelo menos será doce.

Além disso, havia uma tela gigante embutida na lateral do veículo, acompanhada de um PlayStation de última geração e óculos de realidade virtual repousando ao lado de controles modernos. Meilin cruzou as pernas, pegou um dos óculos e o examinou com desconfiança.

⸻ Isso parece um truque ⸻ Murmurou.

⸻ Provavelmente é ⸻ Thanatos respondeu, recostando-se no assento com um olhar divertido.

Eles trocaram um olhar rápido antes de Meilin desviar os olhos, um leve rubor colorindo suas bochechas.

⸻ Quem se importa? ⸻ Lucas deu de ombros, ligando o console. ⸻ Se for uma armadilha, pelo menos vamos aproveitar a vista antes de morrer afogados no mar nojento entre essa ilha de bosta e Auradon.

Bosta é só o que você recolhe... ⸻ Cassian murmurou, olhos fixos na janela, onde o céu cinza a noite ameaçava um tormenta iminente. O silêncio que se seguiu era pesado até Westergaard se virar com os olhos arregalados e a boca formando um "O" de surpresa.

⸻ O que você disse, cientistazinho de merda?! ⸻ Westergaard riu, uma risada seca, como se a última coisa que ele precisasse fosse outro motivo para provocá-lo.

⸻ Que você recolhe bosta, tecnicamente não estou mentindo. ⸻ Von Hallow olhou de lado, sem demonstrar uma emoção real, como se aquilo fosse o comentário mais normal do mundo.

⸻ Sério que vai jogar isso na minha cara agora, Cassian? ⸻ Ele avançou um passo, seu tom mais ácido do que nunca. ⸻ Eu estava tentando fazer algo que prestasse, ao contrário de você, que fica fazendo merda o tempo todo e ainda tenta bancar o sábio. Vai dizer que aquele "periscópio subaquático" que você inventou não explodiu por causa de uma falha na sua lógica? Fiquei sabendo que você quase afundou o laboratório precário da sua mãe inteiro! Como chama mesmo? Ah, "acidente de cálculos complexos"?! Me poupe!

O sarcasmo de ambos atingiu novos níveis, com um crescendo de provocações. Cassian, no entanto, parecia imperturbável, mais do que disposto a continuar a troca.

⸻ Não se preocupe, Lucas. Eu sei que você se importa muito com suas falhas genéticas. Seu pai deve ter adorado saber que você não conseguiu fazer nada além de... recolher bosta. ⸻ Ele cruzou os braços, desafiando Lucas com o olhar.

E assim, a viagem seguiu, marcada por um clima pesado e tenso entre Lucas e Cassian enquanto os olhos só estavam olhando (menos Meilin, que estava colocando lenha na fogueira e Thanatos batendo de leve em sua nuca para ela parar de "graça" como ele disse). A troca de farpas parecia uma constante, com ambos se desafiando e se provocando, cada palavra mais afiada que a anterior, cada olhar mais penetrante.

O motor estava rugindo suavemente, e a limousine começou a se mover. Enquanto a Ilha dos Perdidos desaparecia através das janelas escuras, um silêncio pairou no ar. Eles estavam indo para Auradon. E, gostassem ou não, suas vidas estavam prestes a mudar para sempre.

( 𝐎𝐎𝟏 ) olá pessoinhas!, como vocês estão? acho que me animei um pouco no cap 1 e escrevi quase 7 mil palavras KKKKKK espero que vocês não se importem com caps longos assim, porque eu só escrevo dessa maneira.

( 𝐎𝐎𝟐 ) eu gostei MUITO desse cap, normalmente eu demoro muito para escrever o capitulo 1 mas esse foi o PRIMEIRO que consegui escrever rápido, com uma escrita que me deixou satisfeita, detalhe, estou em bloqueio criativo.

( 𝐎𝐎𝟑 ) espero que tenha conseguido captar a personalidade e relação de cada personagem, é minha primeira apply então mil perdoes se não consegui atingir as espectativas de voces, prometo que a cada cap irei tentar melhorar.

( 𝐎𝐎𝟒 Por favor, não esqueçam de votar caso estejam gostado, e se quiser, comente também <3

( 𝐎𝐎𝟓 ) Obrigada por ter lido até aqui.

beijinhos da brenda!

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