𝐏𝐑𝐎́𝐋𝐎𝐆𝐎

📍Paris, França.

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ESTAR em uma festa não me parecia muito confortável. A ideia de estar cercada por pessoas imersas em bebidas e envolvidas por um ruído que chamam de música não me soava cativante. Uma comemoração típica, infestada de barulho e movimento, onde a energia era palpável.

A música alta ecoava por todos os lados, misturando-se com o burburinho das vozes animadas. As luzes coloridas piscavam incessantemente, criando um ambiente vibrante e estimulante.

Cada passo dado era um novo desafio dada a multidão ao meu redor, constantemente em movimento. Haviam pessoas dançando freneticamente, acompanhando o ritmo. Era como uma coreografia coletiva, onde cada indivíduo se tornava parte de um todo, contribuindo para a atmosfera festiva. Mas eu não.

Apesar da agitação, eu sentia uma certa desconexão com o ambiente. A energia da festa tentava me envolver, mas eu resistia. As pessoas sorriam e tentavam interagir comigo, mesmo sequer me conhecendo, mas eu mantinha uma certa distância.

O ar estava impregnado com o aroma de perfume masculino, bebidas e comida, criando uma mistura única e tentadora. Uma armadilha para os tolos. No entanto, não estava ali para me divertir. Ao menos, não da forma como eles se divertiam naquele momento. Ter um objetivo mais sério em mente me aparentava mais racional. Eu precisava agir com cautela, e mesmo que eu não gostasse muito do sabor alcoólico em minha boca, experimentar os diferentes drinks e iguarias que ali ofereciam fazia parte do meu disfarce.

Enquanto saboreava minha bebida, notei quão próximo ele estava. Não era um alvo fácil, tendo se envolvido com gangues perigosas e escapado da polícia várias vezes. Me parecia mais inteligente, ao invés de persegui-lo incessantemente, dar mais um gole naquele gin, apenas esperando.

— Suzie Manhattan! — Ouvi meu nome ser chamado no microfone. O que tirara minha concentração. — É a nossa próxima vítima. — Alegou.

O nome falso, no entanto. Havia imaginado que pediriam o nome e cpf de todos os convidados, e como sou mais uma dentre todos, tiveram de me averiguar também. A verdade é que Suzie foi atropelada nesta tarde por uma Mercedes-Benz em alta velocidade, na Rue Crémieux — uma rua por aqui em territórios franceses. Infelizmente não sobrevivera. A notícia não deve ter chegado ao dono da festa ainda, muito improvável que tenha. Ele teria cancelado a festa assim que soubesse que sua amada morreu. Trágico. Foi uma pena eu ter vindo para essa festa com uma Mercedes do modelo. Bem na hora, eu estava com pressa. Seu grito de espanto durou pouco antes que eu pudesse atropelá-la.

Mas fiquei tranquila quanto à isso, a rua estava deserta, e seria difícil para as câmeras captarem o culpado com o vidro do carro polarizado. E mesmo que conseguissem algo, nada que uma peruca não disfarçasse. O indivíduo encarregado pela portaria sabia que a entrada de Suzie, a então namorada do dono, teria entrada liberada. Como suspeitado, sequer tive que me esforçar para procurar decorar o cpf da garota. Um sorriso inocente bastou para que me deixasse entrar. Fácil, sinceramente.

Dei um último gole em meu gin antes que escutasse meu nome ser chamado outra vez. Deixei o copo no balcão e me encaminhei para o lado de fora da festa, onde um adolescente se encontrava pairando sobre um banco, com o microfone na mão.

Haviam bêbados rindo e tropeçando, garotas entornando seus fios em um único dedo enquanto mordiam seus lábios, e um outro tolo preparando diversas bebidas. Havia várias razões pelas quais poderiam estar me chamando, e talvez eu já suspeitasse da possível opção.

— Suzie? Onde 'tá a queridinha do Rei? — O garoto com o microfone, aparentando ter entre seus dezessete e vinte e um, anunciou novamente, fazendo graça.

— Ninguém conhece ela ainda, cara. — O segundo, que preparava as bebidas, avisou. — Ele ia nos apresentar ela hoje, esqueceu?

Rei. Escutara aquele apelido antes. Era como chamavam o dono de Suzie. Dono, não apenas namorado. Na cabeça do maldito, Suzie não passava de uma posse, um prêmio a mais na prateleira. Não era a toa que ele saboreava, não apenas de uma, mas de três. Mesmo que suportasse o relacionamento tóxico calada, Suzie começou a se sentir infeliz com sua vida. E foi por isso que ela tirou a própria vida jogando-se de um prédio; ao menos será isto que farei todos pensar ao descobrirem Suzie caída ensanguentada no asfalto. E se alguém desconfiar de que esse não fora o real motivo, encontrarão uma carta de suicídio escrita por Suzie com uma caligrafia impecável.

A verdade é que a antiga Suzie realmente pensava tirar sua vida. O pensamento suicida inflou como balão após descobrir que o Rei a traía. Tadinha, a observei chorar durante dias antes que decidisse perdoar seu amado. E fiquei surpresa com isso. Mas eu não podia deixar que ela arruinasse meu plano.

Foi apenas questão de que eu pudesse terminar de escrever a carta de suicídio que a antiga Suzie chegou ao ponto de começar, mas amassou e jogou fora logo no segundo parágrafo. Como sua mãe retirava o lixo toda semana, a garota não desconfiou o sumiço da carta no dia seguinte. Outra vez, ela quase estragara meu plano, enviando uma mensagem perdoando seu namorado e dizendo que gostaria de voltar. Poderia ser considerado sorte, ou coincidência, mas o Rei estava ocupado demais transando com outra que não notara a mensagem chegar. Foi tempo suficiente para que eu a deletasse antes de vir à festa.

E tudo estava de volta nos trilhos.

— Suzie! — Chamaram outra vez. — Rei! Onde ele 'tá? Ele podia apresentar ela agora.

Coloquei meu melhor sorriso no rosto, o mais inocente, pelo menos.

Ao atravessar a porta de vidro azulado, senti os olhares curiosos sobre mim. O indivíduo que havia me chamado agora cochichava com seu amigo. Ao me aproximar, ele chamou a atenção do amigo para mim.

— Estou aqui! — Eu disse com a voz mais aveludada que um carpete de luxo, e os olhos de todos caíram sobre mim.

— Ah, ótimo! — Proferiu. — A brincadeira é o seguinte, vocês duas vão subir nesse banquinho e quem beber mais sem cair, ganha! — Ele explicou, apontando para os dois bancos pequenos de madeira à nossa frente. — O desafio só fica complicado quando souberem que só poderão ficar em um pé só. E que comece a luta de bebidas! — A multidão foi à loucura, aplaudindo e gritando coisas sem sentido.

Luta. Confesso que a palavra captou minha atenção, mas bebidas não eram exatamente a minha especialidade.

A festa continuava em pleno vapor, sem pausas ou momentos de monotonia. Eu podia ser vista como uma pessoa destemida diante dos desafios, era essa a imagem que eu precisava manter para os adolescentes ao meu redor.

Suzie, a namorada do Rei.

Uma das, quero dizer.

E seguindo esse raciocínio, me questionei o que a verdadeira Suzie faria no meu lugar.

A ideia de embebedar-me não me agradava, mas, se pesquisei bem a vida da garota, ela seria tímida demais para negar o desafio.

Suspirei.

Novo obstáculo: Voltar aos meus dezessete anos.

— E qual é o prêmio? — Perguntou uma garota.

— Dinheiro, gata. — Ele sorriu e piscou para ela, esta que mordeu o lábio inferior. Quase revirei os olhos diante da cena. Vi-a subir no banquinho e apoiar-se na perna esquerda. Repeti seus movimentos.

— Sejam bem-vindos à melhor festa da cidade, podem me chamar de Mike, e que o desafio comece! — Todos gritaram "vira" em uníssono repetidamente, mas agora com uma animação diferente da anterior.

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𝔓𝔞𝔩𝔞𝔳𝔯𝔞𝔰: 1235

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