Descrença.

Capítulo 26:
Descrença.

- Espera aí. - Lizzie coloca-se de pé, e cruzando os braços sobre os seios solta uma risada de descrença. - Você está querendo me dizer, que depois de mais de quinze anos você decidiu procurar a minha irmã que você jogou em um orfanato ainda recém nascida? É isso?

O olhar de Daisy é duro ao encontrar os olhos de sua filha. Ela suspira, controlando-se ao máximo para não começar outra briga e une as mãos sobre seus joelhos.

- Ao que tudo indica, ela foi adotada por uma família podre de rica, e ainda por cima famosa. Encontrá-la agora pode vir a calhar.

- Você não pode estar falando sério. - Lizzie nega com a cabeça e dá alguns passos para trás, sem afastar os olhos da face de sua mãe. - Você é inacreditável!

- Qual é o seu problema, Lizzie? Aquela garota é a maior lembrança da pior noite das nossas vidas e você age como se ela fosse alguém importante, quando você nem a conheceu, em primeiro lugar. - a mulher esbraveja, colocando-se de pé e alcançando a filha.

- Eu sei que o que te aconteceu foi horrível, e eu sinto muito. Mas Lili não teve culpa. Ela não é o pai dela, mãe. Você não pode culpá-la por tudo o que ele te causou. - Lizzie encolhe os ombros e suspira. - Eu sei o quanto foi difícil para você, mas já que você a repudia tanto, deixe-a em paz.

- Lizzie, eu não gastei minhas últimas economias para tirar um drogadinho da cadeia e conseguir pistas atoa. Eu só vou ter paz quando eu conseguir o que eu quero. - ela rosna.

- E o que diabos você quer? Fazer sofrer uma garota que você nem sabe se é realmente a filha que você deu para a adoção? Você é louca ou é só ruim demais mesmo?

Num ato enfurecido, Daisy empurra Lizzie, fazendo-a cair sentada em cima da mesa de centro, estraçalhando completamente o vidro da mesma.

- Sai daqui! - Lizzie grita, gemendo de dor, graças aos pequenos cortes espalhados pelo seu corpo, devido ao tombo. - Vai embora da minha casa, Daisy, agora.

- Me perdoa, Liz. - Daisy murmurou, tentando aproximar-se, mas a filha tornou a gritar.

- Vai embora, por favor. - pediu em prantos. - E fique sabendo, que caso essa tal garota seja sua filha, eu não vou permitir que você se aproxime dela, ou que faça com ela o que fez comigo a vida toda. Vai embora!

Lizzie colocou-se de pé com dificuldade, observando a mãe sair de sua casa em prantos.

Aquela não era a primeira vez que Daisy a agredia fisicamente, e Lizzie sabia muito bem que não seria a última.

A jovem precisa sentar-se no sofá por alguns segundos para tomar coragem de ir limpar seus ferimentos. Seu corpo doía por causa do tombo e dos pequenos cortes, e sua cabeça latejava por causa do choro.

A sala estava uma tremenda bagunça. A clara evidência de que Daisy Reinhart havia passado por ali.

Quando finalmente consegue retomar suas forças, Lizzie coloca-se de pé e caminha apressada em direção ao banheiro, onde começa a lavar os braços na pia para remover o sangue e checar se não havia ficado nenhum caco de vidro por ali.

Em meio a alguns gemidos de dor, pela ardência que sentia em sua pele, Lizzie ouviu Alex, seu namorado, ao longe, provavelmente da sala.

- Liz, o que aconteceu aqui?

Lizzie sente um arrepio subir por sua espinha. Ela odiava ter que falar para as pessoas sobre a relação e o passado horrível que tinha com sua mãe, mesmo que fosse para o seu noivo. Na maioria das vezes, ela não falava, mas, como Alex já havia presenciado inúmeras das crises e agressões de Daisy, ele logo saberia o que tinha acontecido.

- Amor, você está em casa? - a voz de Alex estava mais próxima.

Lizzie respirou fundo e começou a limpar os ferimentos com soro fisiológico.

- Sim, Alex, estou no banheiro. - a voz dela saiu baixa, rouca e cansada graças ao choro preso em sua garganta.

Não demorou muito para que Alex a encontrasse, e corresse em sua direção visivelmente preocupado com o que estava diante de seus olhos.

- Meu Deus, Lizzie! O que foi isso? - Alex questionou um tanto quanto alarmado e envolveu o braço da noiva, delicadamente em sua mão.

- Minha mãe, Alex. Minha mãe!

E então, Lizzie desabou, deixando-se chorar todas as lágrimas que havia tanto lutado para não derramar. Alex, como conhecia muito bem toda a situação e sabia que sua noiva odiava falar sobre aquilo, apenas a abraçou, afagando seus cabelos, tentando confortá-la.

Foram longos minutos de choro, enquanto Alex ajudava Lizzie a tomar um banho morno e cuidar de seus ferimentos.

Quando ela estava finalmente calma, Alex deixou-a sozinha no quarto e foi para sala limpar a enorme bagunça que Daisy havia deixado para trás. Ao voltar, Lizzie estava chorando novamente, e ele não tardou em abraçá-la mais uma vez.

- O que está acontecendo? - sussurrou.

- Daisy cismou que encontrou minha irmã, e dessa vez, eu acho que ela está certa. - Lizzie fungou e levantou o rosto para olhá-lo. - Ela me mostrou as fotos que um garoto que ela contratou a entregou, e a menina, Lili, é igual a minha mãe, até mais parecida que eu, muito mais.

- Mas isso é ruim? - Alex questionou secando a face de Lizzie, com um olhar confuso.

Ele não sabia da história inteira. Lizzie não conseguia ficar tocando naquele assunto, a fazia mal. Alex sabia apenas que ela tinha uma irmã, que havia sido adotada, mas não sabia o porque, assim como não sabia o porque d'eu e minha mãe vivermos brigando.

- Pode ser ruim para a menina. Segundo a minha mãe, a garota foi adotada por uma família podre de rica, e alguma coisa me diz que ela não tem boas intenções. Bom... Você não vai entender, mas eu acho que não vai ser bom para ela ter minha mãe por perto.

- Posso perguntar pelo menos o motivo de você achar isso?

Lizzie respira funda e ajusta-se, olhando Alex nos olhos.

- No meio das fotos que Daisy me mostrou, haviam algumas da minha suposta irmã em situações "comprometedoras" com o filho da mãe adotiva dela. - ela suspira e umedece os lábios. - São fotos tiradas de ângulos muito próximos, tudo muito nítido, se elas caem nas mãos de autoridades, a mulher que adotou Lili pode ser presa e a garota volta para o orfanato ou para a rua, se já tiver dezoito anos.

- E você acha, realmente, que sua mãe prejudicaria tanto assim a sua irmã e a nova família dela? - Alex franziu o cenho e abraça a noiva de lado.

- Minha mãe guarda muita mágoa da minha irmã por causa de tudo o que o pai dela causou a ela. Eu não duvido muito que minha mãe ache que machucar a garota vai fazê-la sentir-se vingada ou algo assim.

- Quando você vai me contar a história toda para eu poder te ajudar?

Lizzie levantou a cabeça e observou o rosto de Alex por alguns segundos, acariciando-o a bochecha suavemente.

- Não hoje, Alex. Eu sei que preciso falar isso para alguém, sei que preciso falar para você. Mas não tenho condições de fazer isso hoje.

- Tudo bem.

Alex beijou-lhe a testa e deixou-a sozinha no quarto, para que pudesse descansar enquanto ele resolvia as coisas de seu trabalho, mas a mente de Lizzie não desligava para que ela pudesse dormir.

Com os cabelos loiros molhados espalhados pela cama e as mãos repousadas em sua barriga, Lizzie encarava o teto tentando controlar sua respiração.

Todas as vezes que essas brigas e discussões com sua mãe aconteciam, Lizzie sentia-se cada vez pior. Ela entendia e levava em consideração o tamanho do sofrimento e as coisas horríveis que Daisy enfrentou no passado, mas achava errado a forma como ela agia, não só consigo mesma, mas com essa ideia maluca de querer atingir sua possível filha adotiva para amenizar suas mágoas e seu sofrimento.

A única esperança de Lizzie, era que, cedo ou tarde, Daisy se desse conta de que a garotinha que ela deu para adoção anos atrás não tinha culpa de nada do que acontecera com a sua família.

Por mais que soubesse que talvez aquilo não teria sido nada bom, Lizzie não conseguia deixar de imaginar como teria sido sua vida se sua irmã caçula tivesse crescido ao seu lado. Talvez, ela não tivesse precisado sair de casa aos dezesseis anos, talvez as duas tivessem, juntas, conseguido ajudar Daisy a sair daquele limbo de amargura.

Toda a situação era triste demais.

Lizzie era bem pequena, tinha apenas quatro anos, mas lembra-se de tudo como se fosse ontem. Sua mãe tirando aquele bebê tão pequeno de seu colo e dizendo que iria levá-la para passear. Ela pediu para ir junto, queria passear com sua nova "bonequinha", mas sua mãe não permitiu, fazendo-a chorar por horas, como se estivesse adivinhando o que aconteceria. Quando Daisy finalmente voltou para casa, estava de braços vazios, e quando Lizzie questionou onde estava sua "bonequinha", sua mãe disse que ela havia virado um anjinho.

Lizzie chorou antes de dormir por várias noites, questionando a Deus, querendo saber porque ele havia sido tão "ruim" de tirar dela sua irmãzinha, um bebezinho que não teria como ter feito nada de mal a ninguém.

Ela só descobriu que sua irmã caçula havia sido levada para um orfanato quando tinha mais ou menos onze anos, no meio de uma briga, quando sua mãe disse que se não se comportasse, tomaria o mesmo rumo que sua irmã, e logo depois disso, para assustá-la, ou para fazer-la sentir-se mal, contou-lhe toda a história. História essa que Lizzie nunca teve coragem de repetir ou ouvir outra vez, e que a assombrava até os dias de hoje.

_____

VOLTEI A POSTAR LIFE RIDE!!! VÃO LÁ LER, POR FAVOR!!! <3

vocês se interessariam por uma one shot de natal??

As personagens que interpretam a Lizzie e a Daisy estão no fim do primeiro capítulo.

Esse é o Alex.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top