Capítulo 6
SEGREDOS NAS SOMBRAS
Íris estava sozinha naquela noite, encarando as trevas do céu, quando uma voz a assustou.
– Boa noite, Íris.
Ela estava de costas para seu visitante noturno. Ao se virar assustada, levou uma das mãos ao peito.
– Que susto me deu!
Seu visitante se aproximou.
– Perdoe-me – disse ele, encarando-a, agora a centímetros de distância de seu corpo.
– O que faz aqui?
– Precisava te ver.
– Você sabe que é perigoso vir aqui.
– Sei, mas não consigo evitar. Não consigo ficar longe de você por muito tempo – falou o rapaz, afagando os negros cabelos da moça. Seus lábios estavam quase se encontrando, quando uma voz gritou:
– Íris! Onde está?
Era Zaieva, à procura de Íris.
– É minha mãe! Rápido, se esconda!
Seu visitante noturno, assustado, voou e se escondeu atrás de uma grossa árvore.
– Estou aqui, mamãe – respondeu Íris.
Zaieva foi até Iris , que se afastou mais da árvore.
– Seu irmão te procurou?
– Não, aquele dia em que ele partiu foi a última vez que o vi.
Zaieva a observou em silêncio. Ela sabiam que não podiam procurar Heliantos, e se ela descobrisse que naquela noite Íris havia saído de casa para procurá-lo... A garota nem queria imaginar o que poderia acontecer com ela.
Zaieva olhou por um instante para a árvore, pensando ter visto algo, mas mudou de ideia e voltou os olhos para a filha.
– Por que está aqui?
Íris, tentando pensar em uma desculpa, respondeu sem refletir:
– Precisava de ar e...
O que ela estava dizendo foi interrompido por um forte tapa que a jogou no chão.
– Calada! Vamos entrar. Preciso me alimentar e, já que a última empregada morreu, você sabe que preciso do seu sangue para continuar viva. Isso, até você morrer e eu precisar de outra fada – Zaieva falou, chutando-a na barriga. – Não se demore. Seu irmão não está mais aqui para te defender, então, se você não vier logo, você sabe que...
Zaieva não terminou a frase e vagarosamente voou para longe, deixando Íris sozinha. A jovem esperou até que sua mãe estivesse distante o suficiente. Com dificuldade, ela se levantou, quase caindo novamente, mas foi amparada por seu visitante noturno.
– Me perdoe por não poder fazer nada. Eu iria te ajudar, mas, naquela outra noite, você mesma disse que não era seguro sua mãe me ver. Mas, se eu for forçado a ver outra cena como essa, saiba que pegarei minha espada e cortarei a garganta dela...
– Você sabe que isso é inútil. Isso levantaria uma guerra contra Neraida, e eu não quero isso, muito menos você. Mas, pensando bem...
Íris não terminou a frase. Seu visitante insistiu, mas ela rapidamente disse:
– Não importa. Você sabe que deve ir. É perigoso demais para você estar aqui. É mais perigoso você ser pego aqui do que eu ser pega em Neraida visitando você. Vá embora. Vou tentar te visitar o mais rápido possível.
O visitante noturno deu-lhe um grande beijo nos lábios e a abraçou forte. Quando se separaram, ele olhou nos olhos dela e disse:
– Estou indo, mas você está enganada se acha que não farei nada contra sua mãe. Eu te amo muito.
Ele abriu suas asas e voou para a escuridão, deixando Íris sozinha novamente. As últimas palavras dele ecoaram na cabeça dela pelo resto da noite, dando-lhe esperança.
___
Amarílis voava veloz pela noite, se afastando cada vez mais do palácio.
– Amarílis! Pare!
Ela sorriu e obedeceu.
– O que foi?
– Para onde estamos indo?
Ela não respondeu, apenas bateu suas asas com mais força, subindo. Helianthus, sem opções, a seguiu. Não demorou para alcançá-la e, rindo, bateu suas asas ainda mais forte, ultrapassando-a. Ela se empenhou e o alcançou, abraçando-o no ar enquanto ambos riam.
– Capturei você – disse Amarílis.
Helianthus sorriu.
– A resposta é sim.
Amarílis respondeu, e Helianthus a olhou confuso.
- Sim o quê?
– Me lembro de você.
Helianthus a observou com ternura.
– Desde aquele dia, não parei de pensar em você um dia sequer. Você me fascina, Amarílis. Pensar em você me dá esperança. Nos dias mais sombrios da minha vida, foi isso que me manteve vivo.
Lembrar de Helianthus e ouvir tais palavras despertou em Amarílis um sentimento que ela nunca havia sentido antes. Talvez ela nem soubesse o que era, mas aquilo fez seu coração arder. Por impulso, ela apertou o abraço e o beijou intensamente.
Naquele momento, para ambos, parecia que estavam sozinhos no universo, abraçados, voando no meio das estrelas. Helianthus envolveu a cintura de Amarílis com seus braços, fazendo-a suspirar e sorrir.
___
Agave sentou-se à mesa junto a Fergas e notou a ausência de Amarílis. Rapidamente, pegou uma taça, que se encheu sozinha de uma bebida dourada, e estalou os dedos. Um guarda apareceu de imediato.
– E então? – perguntou ela.
– Pois não, senhora? – respondeu o guarda.
Agave revirou os olhos.
– Onde está o maldito criminoso?
O guarda abaixou a cabeça.
– Perdão, senhora. Hoje à tarde, ele estava nos telhados do palácio. Uma hora mais tarde, ele ainda continuava lá, mas, na hora seguinte, desapareceu. Já mandei meus homens procurá-lo.
– Procure também minha filha. Ela não está em lugar nenhum e, com esse criminoso à solta, temo o que possa acontecer com ela.
O guarda, ainda com a cabeça abaixada, ergueu-a levemente.
– Sim, senhora.
Naquele mesmo instante, Antúrio chegava e, vendo o guarda saindo, perguntou:
– Mãe, o que houve?
– Mandei aquele guarda procurar aquele criminoso e sua irmã. Tenho medo que aquele maldito possa machucá-la.
– Vou procurá-la também. Depois, jantaremos com a senhora e papai.
Agave observou seu filho se afastar e, em seguida, sentiu um toque no ombro. Era seu marido.
– Calma, ela está bem – disse ele, afagando seus cabelos. Ela permaneceu em silêncio, esperando seus filhos voltarem.
A rainha, envolta em seus próprios pensamentos, não conseguia tirar da cabeça a ideia de que sua tia estava armando algum plano para tomar o reino, e Helianthus estava no centro de tudo. Ele era o responsável. Agave acreditava que o plano de sua tia era que Helianthus estava em Neraida para seduzir Amarílis, fazer com que ela matasse toda a família real, e depois ele a mataria para tomar o poder junto com sua mãe.
Esse plano macabro e sinistro estava tão claro na mente de Agave que ela queria que sua filha ficasse sob sua vigilância constante, para que não fosse influenciada pelo criminoso. Ela estava determinada a expulsá-lo de seu reino, não importando se ele seria morto assim que chegasse em sua terra natal ou se simplesmente fosse embora para terras desconhecidas. Agave simplesmente não se importava, só queria aquele pulha longe de Neraida.
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