Capítulo 25

As Almas Perdidas de Νεrάιδα

Sob a luz tímida da lua encoberta por nuvens densas, a batalha desenrolava-se em um campo úmido, cercado por árvores esqueléticas que pareciam testemunhas silenciosas do confronto. A chuva misturava-se à névoa espessa, dificultando a visão das fadas de Νεrάιδα, cujas asas brilhavam suavemente, faróis frágeis em meio ao caos.

No centro da linha de defesa, Antúrio, o primeiro tenente, erguia-se como um bastião de determinação. Seu uniforme encharcado colava-se ao corpo, e sua espada cintilava com um leve brilho azul, infundida com a magia do reino. Seus olhos percorriam o campo com precisão calculada, avaliando cada movimento da batalha.

- Guardas, para as posições! – Bradou ele, sua voz firme cortando o rugido da tempestade. - Não deixem que alcancem o círculo mágico!

À sua ordem, os guardas de Νεrάιδα se moveram rapidamente, posicionando-se ao redor das fontes de magia que alimentavam o castelo. O som metálico das armaduras misturava-se ao zumbido dos feitiços, enquanto eles erguiam barreiras mágicas e afiavam suas lâminas encantadas.

Zaieva, pairando no alto como uma rainha das sombras, observava a movimentação com um sorriso cruel. Sua presença emanava um poder sufocante, como se a própria noite a obedecesse. Com as mãos erguidas, ela murmurava palavras em uma língua antiga e profana. A cada gesto, mais fadas mortas-vivas emergiam das sombras, seus corpos sem vida movidos por uma fome insaciável de magia.

As fadas de Νεrάιδα lutavam com bravura, suas lâminas faiscando na escuridão como estrelas cadentes. Mas a magia negra de Zaieva era implacável. Quando uma fada perfurava o peito de uma morta-viva com sua lança cristalina, a criatura recomponha-se, como se a morte não fosse um limite.

Íris e Petúnia  voavam para cá e para lá recolhendo os feridos e encantando os moribundos para que continuassem de certa forma vivos, pois aqueles que morriam se levantavam e começavam a fazer parte do exército de mortos-vivos de Zaieva

Caladium lutava bravamente contra várias fadas sombrias que tentavam atacar Íris e Petúnia, para as impedirem de ajudar os feridos, mas as fadas sombrias, frustradas por atacar  Íris e a Petúnia, que ajudavam os feridos, começaram a tentar destruir todas as fontes de magia de Nεrάιδα.

Antúrio, percebendo o desespero crescente, ergueu sua espada acima da cabeça.

- Protejam os portões com suas vidas! Se cedermos agora, Zaieva consumirá tudo o que amamos!

Os guardas responderam com um grito de guerra em uníssono, avançando com renovado vigor. No entanto, Zaieva não se intimidava. Ao contrário, seu sorriso alargou-se. Estendeu as mãos mais uma vez, e um feitiço reverberante fez o chão estremecer. A névoa se adensou, e várias fadas começaram a cair, exaustas, enquanto suas energias eram sugadas para alimentar as mortas-vivas.

Entre a névoa, uma fada de asas translúcidas que brilhavam como vidro sob a chuva, conseguiu abrir caminho até Zaieva. Empunhando uma espada de luz condensada, ela tentou golpear a vilã. Zaieva desviou do ataque com um movimento quase preguiçoso e lançou a guerreira ao chão com um raio de energia negra. Ela gritou enquanto seu corpo se tornava seco e sem vida.

- Vocês são tão frágeis... tão patéticas! - Murmurou Zaieva, seus olhos brilhando como carvões em brasa.

Ela estalou os dedos e aquela fada voltou a seu estado natural ainda viva respirando com dificuldade suas asas agora completamente transparentes tremulando de leve, seu cabelo negro caindo no rosto. Zaieva  estalou os dedos novamente e a fada começou a gritar um grito agonizante que fez todos estremecerem. Depois ela explodiu lançando pedaços de carne, asas e cabelo por todo  lado. Zaieva ficou coberta por sangue. Ela lambeu os lábios e também suas mãos.

- Eu não destruirei apenas vocês. Transformarei suas almas no combustível para meu exército eterno.

Antúrio, vendo a linha de defesa começar a ceder, firmou-se no chão lamacento. Ele ergueu sua espada, desenhando no ar um símbolo que brilhou intensamente.

– Guardas, formem o círculo! Canalizem sua magia para mim! – Ordenou.

Os soldados se reagruparam, unindo suas forças em uma barreira luminosa ao redor de Antúrio. Ele concentrou toda a energia em sua espada, que começou a irradiar uma luz cegante. Zaieva parou por um instante, intrigada pela ousadia do sobrinho.

- Garoto tolo. Vamos ver se sua luz pode apagar minha escuridão. -  Disse ela, avançando lentamente, suas asas abrindo e fechando, ansiosa, quase excitada.

Ela queria provar o sabor do sangue do sobrinho, queria ver qual era o sabor da carne e principalmente daquelas asas.

A batalha estava longe de terminar, mas Antúrio mostrava que o reino ainda não havia perdido toda a esperança. Sob sua liderança, os guardas de Νεrάιδα mantinham-se firmes, lutando com cada fragmento de coragem que possuíam.

Quando a espada já estava com a magia bem canalisada  e emitindo uma luz tão forte e cegante, Anturio intentou atacar Zaieva, mas, por uma fração de segundos, seus olhos se desviaram de sua tia e focaram em um lugar específico.

Sua mãe caía de joelhos em uma poça de lama,  as asas imponentes estavam caídas e opacas e à frente estava seu pai. Mas Antúrio sabia que aquele não era seu pai, não mais; aquilo era uma aberração, uma abominação  sem tamanho. Todos aqueles mortos vivos... O que morria tinha que ficar morto.

Mesmo assim, ele não podia deixar de pensar que aquilo já fora  seu pai. Ele fechou os olhos, levantou a espada reunindo toda a sua força, tonalizando mais toda magia restante do reino, e avançou para a figura que ele já chamara de pai tantas vezes.

A espada atravessou Fergas, que pareceu não sentir.  Antúrio largou a espada e se afastou um pouco, olhando sem saber o que fazer. Fergas, ou aquilo que já tinha sido Fergas, agarrou o cabo da espada e a arrancou, como se não fosse nada, e. Jogou no chão.

Zaieva, vendo porquê não foi atacada, começou a gargalhar, vendo o resultado na família real de sua maldição. Ela murmurou mais algumas palavras naquela língua desconhecida e na mão de Fergas apareceu uma espada feita de trevas e sombras.

Fergas  atacou Antúrio que foi rápido em se abaixar e pegar sua própria espada e começar a duelar com seu pai, ou aquilo que já tinha sido seu pai, mas que agora não passava de um espectro, uma fada sombria, um morto vivo, um mero cadáver ambulante que não deveria existir. Deveria continuar morto, mas lá estava ele longe de seu descanso  final.

Os dois travavam batalha intensa e Zaieva continuava a dar instruções o tempo todo naquela língua morta:

-Φέργας, δοῦλέ μου, προχῶρει ἀδίστακτος. Ἐάτω τὸ σκότος τῆς μάχαιράς σου καταφάγῃ τὸ φῶς ὃ φέρει.

Πᾶν πληγὴν καταφέρω, ἄφελε τὴν ἐλπίδα αὐτοῦ καὶ βύθισον τὴν καρδίαν του εἰς ἀπελπισίαν.

Πληγῶν βαθύτατα, ἀλλὰ μὴ τελείωνε. Ἄφες αὐτὸν νὰ πάσχῃ κάτωθεν τοῦ βάρους τῆς ἀσθενείας του.

Ἄκουε τὴν φωνὴν μου, καὶ ἡ φωνὴ μου ἔστω ἡ μόνη σου βούλησις. Κινήσεις σου οὐκ εἰσὶν σοὶ, ἀλλὰ ἐμοὶ.

Ἔστω ἡ μάχαιρά σου ἡ ἔκτασις τῆς ὀργῆς μου, καὶ τὸ σῶμά σου σκιὰ ἡ ἀφανίζουσα τὸ φῶς.

Ὅταν διστάσῃ, κτύπα ἀμείλικτος. Δεῖξε αὐτῷ ὅτι οὐδὲ τὸ αἷμα δύναται νὰ προστατεύσῃ αὐτὸν ἀπὸ τὴν μοῖραν ἣν ἐγὼ ὑφάνθην.

Φέργας, κατέστρεψον αὐτόν. Οὐχ ὡς πατήρ, ἀλλὰ ὡς προσωποποίησις τῆς καταστροφῆς.

Ἐκ σκότους ἀναγεννᾶσαι, ἄνευ ψυχῆς, ἄνευ φωτός,
Ἡ κυριότης ἐμὴ, ἡ βούλησίς σου σταυρός.
Διὰ τῆς σκιᾶς ἡ ὁδηγοῦσα τὴν ψυχρὰν μάχαιραν,
Τὸ αἷμά σου, τὸ σῶμά σου, νῦν γίνεται ἡ ἐνέργειά μου.

Προχῶρει, δοῦλε, διὰ τῆς ἱστορίας τῆς πλάνης,
Ἡ μάχαιρά σου θάνατος, ἡ καρδία σου δεσμωτήριον.
Διὰ τοῦ δεσμοῦ τοῦ αἰωνίου, ὑποτάχθητι τῇ δυνάμει μου,
Ἕως οὗ τὰ πάντα σβένηται καὶ μηδὲν ἀπολείπεται κωλῦσαι.

Sob a luz trêmula das estrelas ocultas pela névoa e a chuva poderosa que caia, as lâminas de luz e trevas chocavam-se em uma dança mortal. O som do metal ecoava como trovões abafados na noite, enquanto Antúrio enfrentava seu pai, Fergas, em um duelo tão físico quanto emocional. Cada golpe que Antúrio desferia vinha carregado de raiva e tristeza, seus olhos fixos no rosto de seu pai, um semblante vazio e cruel, agora distorcido pela magia sombria de Zaieva.

- Pai, lute contra isso! Não é você! - Gritou Antúrio, com a voz entrecortada por lágrimas e esforço.

Mas Fergas não respondeu. Seu corpo movia-se com precisão mecânica, cada estocada de sua espada negra parecia buscar não apenas ferir, mas destruir Antúrio por completo.

Os passos dos dois desenhavam um círculo na lama do campo, onde cada avanço de Antúrio era respondido com uma esquiva hábil de Fergas. Antúrio atacou com um arco cortante, sua espada brilhante como o amanhecer, mas Fergas aparou o golpe, torcendo o pulso de Antúrio com força suficiente para fazê-lo quase soltar a lâmina. O jovem gritou e  recuou, sentindo o calor da batalha misturado ao frio do desespero.

- Não vou perder você outra vez! - Gritou, seu coração pulsando como uma batida de tambor.

Ele se lançou novamente contra Fergas, suas lâminas brilhando com a força de sua determinação.

Fergas, guiado pelos sussurros de Zaieva, golpeava com precisão mortal, mas por um instante, hesitou. Algo na voz de Antúrio pareceu penetrar a escuridão em sua mente. O brilho de seus olhos apagados tremeu, e a espada sombria hesitou antes de se erguer novamente.

Zaieva, percebendo a fraqueza, gritou um comando mais feroz, sua voz gélida ecoando pelo campo:

- Φέργας, τελείωσον αὐτόν νῦν! Αὐτός ἐστιν ἡ ἀσθένειά σου!

Antúrio usou o momento para desferir um golpe que arremessou a espada negra para longe, mas não conseguiu atingir seu pai. Em vez disso, os dois pararam, respirando pesadamente, com as espadas baixas, os olhares cruzados em um silêncio pesado.

- Pai... - Murmurou Antúrio, sua voz tremendo.

Por um momento ele achou que a batalha terminaria, ele pensou que seu pai fosse voltar a seu descanso eterno, mas não, com mais uma ordem de Zaieva, Fergas ergueu a espada feita de trevas e recomeçou a batalha.






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