Capítulo 23

Coroa, Sangue e Honra

Agave estava sozinha na sala do trono voando para lá e para cá,  sua cabeça não estava ali naquele lugar, não, ela estava longe.

Ela estava pensando no seu amado  Fergas, em tudo que eles haviam passado juntos e como ele tinha sido tirado brutalmente dela.

Ela se lembrou de quando o conheceu. Ela era apenas uma princesa na época, não tinha mais do que 8 anos.

Ela se lembrou daquele dia como se fosse ontem.

Amarelo. Agave, quando criança, adorava tudo que fosse amarelo.  E quando suas asas douradas nasceram quando ela tinha 5 anos, isso fez ela adorar amarelo ainda mais.

Os cabelos loiros se agitavam atrás dela enquanto voava sem prestar muita atenção no que estava fazendo. Então ela esbarrou em alguém.

Era sua tia Zaieva, que na epoca chegava aos 19 anos. Zaieva  fez uma careta de escárnio

- Agave, francamente! Você deve prestar mais atenção por onde voa, garota!

Agave, se levantando, ajeitou a tiara, também dourada, na cabeça, e disse:

- Desculpe tia! Eu estava procurando um lugar para brincar...

- Ah! Princesa dourada. Por que não vai para o vale das nevoas sussurrantes... Deixa para lá, é um lugar perigoso demais e você não teria coragem.

Agave, ouvindo isso, não quis se fazer de princesinha medrosa, então bateu as asas fortes para flutuar e ficar na altura dos olhos da tia.

- Eu sou muito corajosa sim! Posso ir a qualquer lugar que eu quiser, sou muito corajosa. E além disso eu sou a princesa, vou mandar em tudo por aqui; até em você, titia! Minha mãe me disse que eu vou ser rainha um dia! E eu, como rainha, tenho que entrar em todos os lugares que eu quiser, inclusive no Vale das névoas  sussurrantes.

Zaieva sorriu, um sorriso diabólico, pois sabia que a jovem princesa dourada iria até o Vale das névoas sussurrantes, e provavelmente iria morrer por lá; e como era isso o que ela queria, instigou a sobrinha. Ela ia abrir a boca para responder, mas Agave já voava para longe.

***

Zaieva estava satisfeita. Seu sorriso era frio e cruel, iluminado apenas pela luz pálida que atravessava as árvores mortas ao seu redor. Ela regressaria a Nεrάιδα, mas desta vez com um objetivo claro: causar destruição. O tempo perdido treinando seu filho, Helianthos, parecia agora uma piada amarga.

"Mas que filho?!" Pensou, com escárnio.

Helianthos era um covarde, e Íris... nem para alimento servia. Ambos haviam sumido, e Zaieva não poderia estar mais contente. Menos distrações. Menos problemas. O tempo precioso que perdera com eles ainda queimava em sua mente, mas agora, ela se dedicaria ao que sabia fazer melhor: espalhar o caos. Ela invadiria Nεrάιδα, e não deixaria fada alguma em pé. O reino já estava ferido, a magia esvaída, e a rainha dourada enfraquecida. Era o momento perfeito.

Enquanto pensava nisso, Zaieva riu, sua voz cortando o silêncio como uma lâmina, ao concluir o ritual. Diante de si, uma marca negra brilhava na terra, desenhada com símbolos arcanos. Ela enfiou a adaga fundo em sua mão e deixou o sangue cair na marca Negra. O Cântico dos Ecos Profanos ressoava de seus lábios como uma melodia proibida, ecoando pelo cemitério abandonado.

-Από τις βαθιές σκιές όπου αναπαύονται οι ξεχασμένοι,
Φωνάζω για τις ψυχές τους, στον άβυσσο παρασυρμένοι.
Ξυπνήστε από τον ύπνο, από τη γη σκίστε το πέπλο,
Γονατίστε μπροστά μου, γιατί εγώ είμαι δική σας στον ουρανό.

Η σάρκα που σαπίζει, το κόκαλο που σπάει και ραγίζει,
Με την εντολή μου, η δύναμή σας εδώ ισοφαρίζεται.
Η συμφωνία είναι σφραγισμένη, το αίμα το έδαφος ποτίζει,
Ας γραφτεί ο αντίλαλος του θανάτου στην λέξη μου.

Με την αρχαία δύναμη που η ζωή απορρίπτει,
Είμαι η φλόγα που δεν ησυχάζει στην ανάπαυσή της.
Γονατίστε, φαντάσματα, εκτελέστε την εντολή μου,
Υπηρετήστε με τώρα, ενώ το σκοτάδι ξυπνά.

Από το αιώνιο κενό, το φως σβήνει και σιωπά,
Από τα βάθη συρθείτε, η φωνή μου είναι η φύλαξή σας.
Και όταν το όνομά μου είναι το μοναδικό στο τραγούδι σας,
Η Ζαίεβα βασιλεύει, κυρία της ερήμωσης!

Ao fim do cântico, a terra começou a se partir, e as sepulturas ao redor tremiam. Braços ressequidos emergiram do chão, ossos estalando enquanto figuras esqueléticas e cadáveres em decomposição se levantavam, com olhos vazios e chamas mágicas que brilhavam no fundo de suas órbitas. Zaieva sorriu triunfante, erguendo o queixo enquanto seus novos servos formavam fileiras, prontos para atender a qualquer comando.

-Agora, - sussurrou ela, com um brilho perigoso no olhar - que o massacre comece.

***

Agave nunca deveria ter ido ao Vale das Névoas Sussurrantes. Desde pequena, a princesa fada fora advertida sobre os perigos daquele lugar, mas a curiosidade e o desafio  queimava em seu peito como fogo. Com suas asas douradas cintilando sob a luz difusa da manhã, ela atravessou a floresta ancestral, guiada por um sussurro doce que parecia carregar seu nome.

Ao adentrar o vale, foi imediatamente envolvida pela neblina pulsante. A cada passo, as árvores retorcidas pareciam se mover, seus galhos tentando agarrá-la. O chão sob seus pés tornou-se traiçoeiro, escorregadio pelo musgo. As vozes começaram a mudar — de sussurros convidativos a murmúrios ameaçadores.

“Agave... fique conosco...”

" Você vai morrer."

" Nunca mais ninguém vai te encontrar."

As palavras se tornaram mais altas, ecoando em sua mente, fazendo-a vacilar. Ela tentou bater as asas, mas o ar ao redor estava pesado demais para que pudesse voar. Uma raiz grossa emergiu do chão, enrolando-se em torno de seu tornozelo. Agave gritou, puxando a perna com desespero, mas a força da planta parecia impossível de ser vencida.

O medo tomou conta dela. Ela não sabia lutar, não sabia se defender, e agora estava presa, incapaz de escapar. As lágrimas começaram a rolar por seu rosto quando uma nova voz rompeu o caos.

- Solte-a!

Agave abriu os olhos a tempo de ver uma figura surgir da neblina. Era um jovem, talvez um ou dois anos mais velho que ela. Suas asas prateadas tinham um brilho mais discreto, mas seus olhos carregavam uma determinação ardente. Ele ergueu a mão, e uma espada brilhante, feita de pura magia, materializou-se diante dele. Com um golpe rápido, ele cortou a raiz que prendia Agave.

- Você está bem? - Perguntou ele, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar.

Agave assentiu, os olhos ainda arregalados de medo.

- Quem... quem é você?

- Fergas. - Respondeu o rapaz, um sorriso orgulhoso no rosto.
- Eu quero me alistar como guerreiro no palácio, mas ainda sou muito jovem para isso. Então, treino sozinho aqui.

Ela olhou para a espada mágica em sua mão.

-Você a criou?

-Sim. - Disse ele, balançando a lâmina para dissipá-la em um brilho suave. - Mas isso não importa agora. Precisamos sair daqui antes que o vale decida que somos um bom lanche.

Antes que Agave pudesse responder, mais raízes começaram a emergir do chão, e as árvores ao redor pareciam inclinar-se em direção a eles. Fergas puxou-a pela mão e começou a correr. Ele liberou o caminho, usando seus feitiços para abrir caminho pela neblina e proteger os dois das ameaças do vale.

Quando finalmente alcançaram a borda do vale, Agave se jogou no chão, exausta, mas aliviada. Fergas, sem perder o ritmo, olhou para ela e sorriu.

- Talvez você devesse evitar lugares tão perigosos no futuro, princesa.

-Como sabe que sou uma princesa? - Perguntou ela, ainda recuperando o fôlego

-As asas douradas. Mais ninguém no reino tem asas assim. - Respondeu ele com naturalidade.

Agave riu, apesar do susto que ainda fazia seu coração bater forte.

-Obrigada, Fergas. Eu nunca vou esquecer isso.

- Acho que você deveria voltar para o palácio... E se alguém perguntar, diga que foi Fergas quem salvou você. Pode ser útil quando eu for me alistar.

Ele apenas deu de ombros antes de se afastar, desaparecendo entre as árvores. Agave ficou observando até que ele sumisse de vista, já decidida a mencionar o nome dele quando estivesse em segurança. Talvez o jovem guerreiro merecesse mais do que apenas gratidão.

*****

Um ano mais tarde, Fergas já fazia parte dos jovens guerreiros que estavam sendo treinados para a guarda real e a amizade dele com Agave só creceu, e no aniversario de 13 anos de Agave, aconteceu o pior

Naquela mesma noite Zaieva mostrou as garras quando decapitou o rei, seu próprio irmão, Agapanthus, pai de a
Agave, no meio da festa.

Dali reinou o caos, mas essa não foi a única morte que aconteceu.  Zaieva matou a rainha Herbácea com a mesma maldição que usou para matar Fergas tantos anos depois. Zaieva também matou muitos súditos, e o irmão mais novo de Agave, que na época tinha quase 5  anos, faltavam apenas três meses para as    pequenas asas nascerem.

*****

- NÃO! - Gritou Agave correndo para o corpinho sem vida do irmão, um garotinho que jamais iria voar, um garotinho que jamais ia ter as asas porque fora tirada essa oportunidade dele.

Zaieva matava todos que ela encontrasse, não importando se fosse guarda ou não, membro real ou não, mas quando viu aquela princesa dourada ajoelhada no chão, de costas para ela, chorando, viu que era a oportunidade perfeita. Zaieva conjurou uma espada negra e se preparou para atacar Agave, quando:

- Se afaste dela!

Zaieva se virou para encontrar apenas um jovem guarda que não tinha mais do que  14 ou 15 anos. Zaieva riu alto.

- Garoto tolo! Agora morra! - Ela disse jogando a lança feita de trevas.

Fergas rapidamente  conjurou sua espada de luz e conseguiu se defender, atingindo as trevas e fazendo-as desaparecerem. Em seguida voou até Agave.

- Vamos!

Agave continuava de joelhos, chorando sobre o corpo de seu irmão.

- Fergas, vem logo! - Gritou Antúrio, que na época era capitão da guarda.

Ele e a esposa estavam resgatando o máximo de pessoas que conseguiam. Fergas pegou Agave pelos braços e estava levando-a para longe, ao mesmo tempo que Zaieva o perseguia.

- Malditos! Eu vou matar vocês! Vou matar todos vocês!

Agave lançou um jarro de fogo dourado em cima da tia. Isso deu tempo dela e os outros fugirem.

Demorou 12 anos até que ela e os outros estivessem preparados para enfrentar a ditadura de Zaieva, e ela conseguira. Ela e seu amado fergas.

*****

Agave secava as lágrimas no rosto quando ouviu uma confusão. Guardas iam para cá e para lá ao longo do castelo. Ela foi atrás para descobrir o que estava acontecendo.

- Ordem! - Ela disse com sua voz imponente.

Os guardas que estavam naquele corredor pararam e se entreolharam. Estavam torcendo para que nenhum deles fosse o responsável por dar a notícia, mas Agave indicou um guarda.

- Você Migle. Me diga o que está acontecendo!

- Senhora rainha... é a princesa Amarilis... Ela fugiu.

Agave ficou paralisada por um momento, parecia que ela estava vendo novamente o corpo sem vida de seu irmãozinho mais novo. Ela não pôde acreditar nas palavras que ouvia. 

- Amarilis o que?!

- Fugiu senhora, e...

- Como ela fugiu?! Vocês têm  que  encontrar ela o mais rápido possível e...

Um outro guarda chegou voando muito rápido até onde estava Agave 

- Senhora, desculpe interromper... É Zaieva,  ela voltou. O que devemos fazer senhora? Devemos ir atrás da princesa ou...

Agave gritou de fúria. Ela ainda não estava pronta para enfrentar sua tia. Ainda não. Não fazia nem 24 horas que seu amado marido tinha sido assassinado; não agora que parte da magia do reino fora sugada. Não agora que ela estava tão frágil e Amarilis fugira. Mas ela tinha que levar Nεrάιδα em primeiro lugar, pelo menos naquele momento.

- Vamos lutar!

Ela saiu e todos os guardas foram atrás prontos para mais uma batalha.

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