Capítulo 20

Entre o Céu e o Inferno

"Iris despertou com uma sensação estranha, seu corpo deitado de bruços sobre a relva macia da clareira. Por um breve instante, pensou que tudo não passara de um sonho, um fragmento de imaginação. Mas ao se erguer lentamente, algo em sua mão chamou sua atenção: um pedaço de papel, levemente amassado. Ao abri-lo, seus olhos percorreram palavras familiares — era a profecia. No entanto, não era só isso que parecia diferente. Um brilho suave chamou sua atenção, e quando olhou para suas asas, o que viu a deixou sem palavras: elas não eram mais de um azul escuro profundo, mas sim de um branco reluzente, salpicado por manchas roxas, como um reflexo das estrelas."

" Mas o que aconteceu?"

Ela se perguntou e a resposta veio na sua mente com na voz de Shyon:

"Eu vi o seu coração, Íris. Ele é puro. Aquela cor azul-escura de antes não refletia quem você realmente é. Sendo eu a guardiã do mundo espiritual, quando você esteve diante de mim, senti a profundidade da sua alma. Por isso, ao tocar você, deixei que suas asas se transformassem para refletir sua verdadeira essência — agora, elas mostram o brilho genuíno da sua alma."

Íris as abriu e fechou lentamente admirando, sorriu e disse:

- Obrigada!

Então ela viu surgir atrás de si Shyon em sua forma animal, trotando, depois ela subiu aos céus e desapareceu, e eles sabia exatamente o que ela deveria fazer

***

Naquela noite nenhum dos dois dormiu só se amaram e depois se abraçaram e permaneceram o resto da noite daquele jeito, só quando começaram a surgir os primeiros raios de Sol foi que Petunia se levantou.

- Você sabe onde está meu vestido?

Caladiun mostrou seus dentes em um sorriso malicioso.

- Para que outro? Eu adoro esse que você está usando.

- Eu estou falando sério.

- Eu também.

Petúnia revirou os olhos, Caladiun fez cara de quem estava pensando, então disse:

- Deixa eu ver... a última vez que eu vi um vestido rosa, sexy e lindo...

Ele ficou certo tempo em silêncio, e então disse.

- Ah, claro! A última vez que eu vi esse vestido ele estava atrapalhando, então eu tirei de você e joguei ele bem longe ontem à noite.

Petunia se virou e começou a procurar por todo o lugar Caladiun, em vez de ajudar, só ficava observando sua...

" Sua o que?"

Sua fada? Sua Linda? Sua nova garota? Sua flor? Seu mais doce  acaso? Sua estrela passageira? Só mais uma?

Não, Petunia não era  "só mais uma" , era a melhor coisa que tinha lhe acontecido; ela era perfeita, ela era sua amada.

Sim, ele a amava.

Caladiun vestiu suas roupas nem deu alguns passos e pegou o vestido caído de petunia.

- Aqui  minha linda, por mais que usando apenas essas asas você está perfeita.

Petúnia agradeceu e vestiu o vestido que combinava perfeitamente com suas asas vibrantes cor-de-rosa.

- Quer tomar café da manhã comigo? Tem uma lanchonete que eu gosto bastante de ir, tirando o palácio, é claro.

Petúnia sorriu abrindo e fechando as asas devagar, movimento esse que hipnotizava Caladiun.

- Eu adoraria mas...

- Ótimo!

Petúnia segurou firmemente o braço de Caladiun, seus dedos quase se enterrando em sua pele, como se a urgência da situação a impulsionasse. Sem hesitar, ela o puxou para fora do Templo do Sol, suas asas batendo com uma pressa quase desesperada. Ao se afastarem, voando alguns metros para longe das ruínas antigas, Petúnia sentiu uma sensação gelada percorrer seu corpo. Um arrepio estranho correu por sua espinha, como se algo invisível e sinistro estivesse observando. Ela parou abruptamente, o coração acelerado, seus olhos vasculhando o céu e as sombras ao redor. Algo não estava certo.

Mas Petúnia não foi a única a sentir que algo estava errado. Caladiun, ao seu lado, também sentia uma inquietação profunda. Ele sabia exatamente o que  tinha acontecido. Memórias sombrias surgiram em sua mente, como um aviso de que o exército de Zaieva se preparava para atacar. Ele se lembrou de sua última tentativa frustrada de alertar Helianthos sobre o perigo. Helianthos, que já não queria fazer parte dos planos cruéis de Zaieva, era a chave para avisar o palácio e preparar as defesas contra o ataque iminente. Porém, Caladiun falhara. Encontrar Petúnia havia sido maravilhoso, um sopro de vida que ele nunca imaginara possível. Mas agora, a culpa o corroía. Ele sabia que, se não tivesse se deixado levar pelo encanto daquele encontro, talvez pudesse ter salvado inúmeras vidas. A perspectiva de quantas não seriam salvas por causa de sua distração com Petúnia o atormentava.

- Tudo é minha culpa. - Caladiun susurrou.

- O que?

Petunia perguntou, então Caladiun explicou, contou tudo para Petúnia, todo o plano de Zaieva, como ela manipulou Helianthos, contou como Helianthos enfeitiçou e matou Bromélia e as outras fadas, tudo a mando de Zaieva; contou que  o amigo se apaixonou por Amarilis, contou sobre Íris e como Zaieva quase a matou. Ele contou que Helianthos não queria mais fazer parte do plano, contou que Zaieva estava planejando atacar Nεrάιδα na noite anterior e que ele iria avisar Helianthos e os guardas de Nεrάιδa. Mas....

- Então foi minha culpa que você não avisou Helianthos! - Disse Petúnia e Caladiun a abraçou.

- Não linda, não diz isso, não é...

- Vamos Caladiun, se Zaieva atacou Nεrάιδα, temos de ver os estragos.

Quando Petúnia e Caladiun chegaram a Νεrάιδα, o silêncio sombrio que pairava no ar era mais devastador do que qualquer grito. As torres do reino estavam marcadas pelo fogo, e o solo, antes vibrante, agora estava coberto por destroços. Nenhum som além do crepitar das brasas e o suave farfalhar das suas asas quebrava o silêncio.

Petúnia apertou o braço de Caladiun ao ver o estrago, os olhos marejados. Ela suspirou profundamente, como se buscasse forças nas cinzas.

- Eles realmente… conseguiram.

Sua voz era apenas um sussurro.

Caladiun a envolveu em um abraço, tentando oferecer alguma consolação. Ele sabia que aquelas ruínas eram mais que um cenário de guerra; eram um pedaço da história de Petúnia, da vida de tantas fadas que, agora, tinham sido tragadas por Zaieva.

-Eu prometo que isso não vai ficar assim, minha linda. -
Murmurou Caladiun, decidido.

Petúnia então ergueu o rosto, secando uma lágrima antes de assentir.

-Vamos. - Caladiun disse desfazendo o abraço

***

Amarilis lutava com toda a força que ainda restava em seu corpo. Seu coração batia forte no peito, o desespero a consumia de tal forma que ela mal conseguia raciocinar. Os guardas a seguravam com firmeza, mas nada disso parecia importar. A raiva, o medo e o impulso de escapar inundavam sua mente, fazendo-a perder qualquer senso de racionalidade.

- Calma, Lis

Antúlio tentou, a voz tensa de preocupação, mas suas palavras se perdiam na tempestade que ela sentia.

-Calma o escambal, Antúlio! Me solta! – A voz de Amarilis tremia com a raiva, mas o desespero tornava suas palavras ainda mais afiadas.

Sem pensar duas vezes, Amarilis ergueu o joelho com toda a sua força e o cravou nos testículos de um dos guardas. O impacto foi brutal e imediato. O homem soltou um grito abafado, dobrando-se de dor e caindo de joelhos, deixando seu braço solto. Sem hesitar, Amarilis aproveitou a oportunidade, puxando-se com uma força selvagem que fez Antúlio quase perder o controle de seu aperto. A sensação de liberdade foi efêmera, mas eletrificante. Ela se lançou para o céu, com os olhos fixos no ponto onde Helianthos havia desaparecido, determinada a não deixar que ele escapasse.

Ela voava para longe, seu corpo leve, suas asas pulsando com a energia da fuga. O vento a empurrava para a liberdade, mas, de repente, uma voz cortou o ar com a frieza de uma lâmina.

- Parada, Amarilis!

Era Agave. Sua mãe.

O som de seu comando parecia como um trovão, e antes que Amarilis pudesse reagir, sentiu uma força avassaladora a puxar para baixo. Agave a agarrou com uma mão firme, seu aperto implacável, como se a mãe soubesse que, por mais que Amarilis lutasse, ela não conseguiria escapar. Amarilis tentou resistir, mas não havia como competir com a força que a segurava. Ela foi arrastada para o chão, a sensação de queda sendo acompanhada pela angústia em seu peito.

O impacto foi tão brutal que a dor a fez se curvar, sua visão turvando por um momento. Ela se ajoelhou involuntariamente, seus joelhos pressionados contra o solo duro, as mãos tentando encontrar apoio, mas tudo o que sentia era o peso esmagador da realidade em cima dela. O desespero a paralisava, e as lágrimas ameaçavam surgir. Mas não. Não ali, não na frente de Agave. Não quando tudo o que ela queria era se libertar, mesmo sabendo que a mãe, com toda sua força, não poderia entender a profundidade daquele desejo.

- Por favor...

A voz de Amarilis saiu como um sussurro entrecortado, sua respiração pesada, quase dolorosa,

- Me deixa ir, mãe... eu preciso ir...

Agave a olhou com olhos firmes, mas havia algo ali. Algo que não era ódio, mas  dor e preocupação. Amarilis sabia que sua mãe não queria ser a inimiga, mas sentia, em cada movimento da mãe, que ela não poderia entender a angústia que a fazia querer escapar. Não era só uma fuga física. Era algo mais profundo, um grito silencioso por algo que ela não sabia explicar.

A jovem fada levantou a cabeça, encarando Agave com uma mistura de raiva e desespero, seus olhos cheios de lágrimas que ela não permitia deixar cair. Não ali. Não na frente dela. Ela lutava contra si mesma, contra a dor e o peso do mundo que parecia se concentrar no instante em que seus olhos encontraram os de sua mãe.

- E para onde você pensa que vai? - Perguntou Agave ainda muito séria.

Amarilis não respondeu, ela olhava para os olhos frios e dourados de Agave.

- Helianthos é um criminoso, você ouviu cada palavra que saiu da boca dele durante o julgamento, nosso reino só foi atacado por conta do plano dele. Seu pai estaria vivo se não fosse ele!

Amarilis queria chorar queria gritar mas não ali. Quando estivesse sozinha em seu quarto, sim. Ela não abriu a boca para responder sua mãe, pois sabia que se respondesse iria acabar chorando. Ela sentiu seu corpo sendo levantado pelos guardas e conduzido até o palácio.  Ela não resistiu não tentou lutar pois quem estava segurando ela era Agave. Mas na primeira oportunidade iria escapar.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top