Capítulo 19
A Verdade em Chamas/ O Juízo Final
A brisa suave que passava pelo vale parecia sussurrar palavras de consolo, mas nenhuma fada se movia. Seus corações, pesados pela perda, estavam imersos em um silêncio profundo, interrompido apenas pelo leve tilintar dos cristais luminescentes que brilhavam como estrelas distantes. O ar estava frio e úmido, uma neblina espessa envolvendo a todos, enquanto elas se posicionavam ao redor dos caixões, os olhos fixos na madeira de Nimbório, cujas fibras azuis pareciam pulsar com uma luz tranquila, mas triste.
Cada flor mágica que adornava os caixões refletia a mesma melancolia que pairava sobre elas. As pétalas prateadas das Éferas brilhavam com um toque dourado nas bordas, mas não havia alegria nelas, apenas a resignação de um ciclo que se fechava. Os Botões de Silfira, em seu tom de azul profundo, exalavam uma fragrância suave que, ao invés de acalentar, parecia apenas reforçar a sensação de perda que permeava o ambiente. As fadas olhavam para os caixões com uma serenidade que era mais resignação do que paz, como se o ato de contemplar os mortos fosse um gesto de pura aceitação daquilo que não se podia mudar.
O tempo parecia suspenso naquele lugar, e mesmo a névoa, espessa e densa, parecia respeitar o silêncio que as fadas ofereciam aos que partiram. Elas, com suas asas delicadas e de cores suaves e também vibrantes , moviam-se lentamente, como se temessem quebrar a quietude que envolvia aquele momento de despedida. Seus corações estavam unidos na dor, mas também na compreensão silenciosa de que, em algum lugar além do véu da vida, o ciclo da existência continuaria a se desenrolar, para aqueles que se foram e para aqueles que ainda permaneceriam.
A família real, agora composta apenas por Agave, Amarilis e Antulho estava toda reunida se abraçando e chorando a perda de Fergas, todos vestiam mantos negros.
O silêncio que envolvia o vale foi quebrado pelos murmúrios de algumas fadas, cujos olhos se voltaram rapidamente para a entrada de Aurora Lúgubre. Um jovem se aproximava, suas roupas negras e cinza contrastando com a suavidade etérea do lugar. Seu cabelo, curto e escuro como a noite, se ajustava de forma impecável ao seu rosto, enquanto suas asas, de um negro profundo, se abriam com um poder silencioso, como se fossem uma extensão de sua própria alma. Seus olhos, igualmente escuros e penetrantes, carregavam uma intensidade que fazia as fadas se inquietarem, como se algo de perturbador estivesse prestes a acontecer.
Amarilis, ao ver seu amado, ficou ligeiramente feliz, pois acreditava que ele houvesse morrido na batalha na noite anterior.
- Helianthos!....
Ela sussurrou e começou a bater as asas para voar até ele, mas o braço de sua mãe a impediu, e com apenas um olhar Amarilis captou a mensagem de sua mãe que dizia: fique aí!
Os murmúrios entre as fadas aumentaram, algumas trocando olhares surpresos e de revolta , outras visivelmente desconfortáveis e abaladas com a presença de Helianthos. Ele avançava com passos firmes, ignorando os olhares que o seguiam, e se dirigia diretamente à família real. Quando chegou diante da rainha Agave, sua presença se fez ainda mais imponente. Agave, com suas asas douradas brilhando como o sol, ficou visivelmente tensa. Sua expressão de calma se desfez, substituída por uma fúria mal disfarçada. Seus olhos dourados, que normalmente irradiavam poder sereno, agora estavam estreitados, carregando uma raiva que parecia queimar. O ambiente ao redor pareceu congelar por um momento, e sua autoridade, normalmente inabalável, se impôs no ar.
A rainha não proferiu uma palavra, mas sua presença emanou um comando imponente, que fez até mesmo as fadas mais audaciosas recuarem. "O que ele faz aqui?", a rainha pensou, e suas palavras, embora não ditas, reverberaram por todo o lugar. O jovem, no entanto, não parecia afetado pela fúria de Agave; seu olhar estava fixo nela, desafiador e determinado, como se soubesse que aquele confronto era inevitável.
- Agave, eu...
A raiva de Agave se intensificou, sua presença agora irradiando como uma tempestade prestes a desabar. Ela avançou alguns passos em direção a Helianthos, seus olhos dourados brilhando com uma fúria imensa, e sua voz, geralmente serena, agora soava como o rugido de um trovão.
- O que você faz aqui, Helianthos?! - Ela perguntou, a voz cortante como lâminas afiadas. - Como se atreve a voltar ao meu reino depois de tudo o que aconteceu? Você não tem o direito de pisar aqui!
As asas douradas da rainha se abriram com um estrondo, seu poder quase palpável, como se o próprio vento do seu furor soprasse ao redor. As fadas ao redor recuaram, temerosas, mas não ousavam desviar o olhar do confronto iminente. Agave olhava para Helianthos com uma fúria avassaladora, como uma tempestade prestes a engolir tudo em seu caminho, sem sequer hesitar.
Agave, em seu auge de fúria, avançou em direção a Helianthos com passos firmes e imponentes, suas asas douradas estendendo-se como um véu de fogo prestes a consumir tudo em seu caminho. Sua voz, antes calma e majestosa, agora era uma tempestade de ódio e autoridade, carregada com o peso de todo o seu rancor..
- Você é um traidor! - Ela gritou, a raiva estampada em cada palavra, como se cada sílaba fosse uma lâmina afiada. - Entrou neste reino apenas para nos enganar, para destruir tudo o que construímos! Como ousa aparecer diante de mim?
Sua expressão se retorceu em um misto de desprezo e fúria absoluta, seus olhos dourados brilhando como o sol em um dia escaldante, e sua aura poderosa se espalhou pelo vale como uma onda prestes a afogar tudo à sua volta. As fadas tremiam, mas Helianthos permanecia imóvel, como se fosse inabalável diante da tempestade que a rainha se tornara.
- Você será responsabilizado por suas traições, Helianthos! Não importa o que você pense, não será bem-vindo aqui
- Agave, venho aqui para pedir que me deixe retornar para seu reino!
Ao ouvir isso, a fúria de Agave atingiu seu ápice.
-Você se atreveu a vir até mim, pedir um julgamento, e eu, na minha misericórdia, adiei o inevitável. Mas agora... agora você cruzou a linha. Traidor! Você quebrou a confiança que me era devida, manchou o meu reino com sua própria deslealdade! Aquele julgamento que você tanto implorou, agora, eu o dou com toda a força da minha fúria. Prepare-se, pois a sua condenação será mais dolorosa do que qualquer arrependimento que possa ter.
Amarilis tentou voar até Helianthos mas guardas que estavam por perto a impediram
Agave agora já estava frente a frente com Helianthos e com sua voz imponente disse
- Ἀλήθεια Ἀμετάβλητος!
Helianthos caiu no chão de joelhos
Com o olhar fulminante, Agave perguntou, sua voz carregada de um ódio ancestral, que reverberava como um trovão em cada palavra:
-Você helianthos, vai negar? Você nega ter vindo até Nεrάιδα, rastejando como um verme, seguindo as ordens de Zaieva? Não me venha com suas mentiras! Diga, infeliz, que não veio até aqui com a intenção de destruir o que é sagrado, sob a tutela daquela que só semeia o caos! Responda, se tiver coragem, ou se afogue na lama das suas próprias palavras!
Helianthos viu as palavras saindo de sua boca:
- Não nego que só vim a Nεrάιδα pelas ordens de Zaieva.
O ambiente parecia se estreitar, a atmosfera pulsando com a força de sua ira, como se até o ar ao redor de Helianthos o condenasse.
A voz de Agave se fez presente novamente com outra pergunta acusatória:
-Então, traidor, diga-me agora: Você planejou, de fato, o salvamento da Princesa Amarílis? Você, que ousa se infiltrar em meu reino, pensa que pode brincar com a vida da minha herdeira? Fale, miserável! Foi você quem alimentou essa ilusão de salvação, ou será que se acha digno de desafiar meu poder, manipulando os destinos de minha filha? Diga a verdade, ou que sua alma seja esmagada pelo peso do que esconde!
O ar pareceu pesar mais a cada palavra de Agave, como se toda a força de sua ira estivesse prestes a consumir Helianthos.
- Eu recebi ordens de Zaieva para deixar a princesa em um risco de morte para simular um resgate genuíno. Enfeiticei algumas fadas e depois as matei as obrigando a entrar no vortex, causando uma explosão para poder resgatar Amarilis.
Helianthos não tinha controle, o feitiço do julgamento o obrigava a revelar toda a verdade.
Agave, em um acesso de fúria indescritível, andou de um lado para o outro na frente de Helianthos com passos firmes, e suas palavras sairam como uma lâmina afiada, cortando o silêncio com o peso da ira acumulada:
-Por tudo o que é sagrado, eu te pergunto, tudo isso para quê?! O que você realmente queria, traidor? Qual era o seu verdadeiro objetivo?! Não me venha com suas desculpas esfarrapadas! Seus motivos são claros como a traição que exala de sua alma. Agora, desfaça as mentiras, se é que ainda tem coragem para isso, e me diga de uma vez, quais são os reais motivos por trás de seus atos sujos?!
O ambiente ao redor da rainha pareceu se distorcer sob a intensidade de sua raiva, como se o próprio espaço não aguentasse o peso da pergunta que reverberava como um grito de justiça, clamando por uma resposta.
Helianthos, já sabendo que a resposta para a pergunta iria sair automaticamente de sua boca sem ele ter controle, apenas abaixou a cabeça enquanto dizia:
- As ordens eram para eu ganhar a confiança de vocês, depois, o plano seria matar toda a família real e tomar o poder.
Agave, com a expressão endurecida pela ira, observava Helianthos em silêncio por um momento. O ar ao seu redor pareceu pesado, como se até a própria terra sentisse o peso de suas palavras. Ela deu um passo à frente e, finalmente, soltou as palavras que estavam prestes a quebrar o silêncio tenso.
- Chega! Já ouvi demais! Suas mentiras, suas desculpas... Não há mais espaço para isso!
- Agave, eu imploro seu perdão!
Agave se virou abruptamente, direcionando seu olhar frio e implacável para as fadas presentes.
-Todos... Vocês ouviram o julgamento.
Ela fez uma pausa, deixando o peso da sentença pairar no ar.
- Ἀλήθεια Ἀμετάβλητος... A Verdade Imutável. Ele confessou seus crimes. Agora é hora do julgamento.
Um silêncio pesado caiu sobre o local sagrado, onde o tempo parecia suspenso. O eco da verdade flutuava no ar, como se todos os elementos aguardassem a sentença final.
Agave, com um gesto majestoso, ergueu a mão e, com a voz severa, pronunciou a sentença:
-Exílio!
Imediatamente, as fadas ao redor se moveram, como um exército determinado, avançando em direção ao traidor. Seus olhos brilhavam com o poder da justiça a ser executada, suas asas se agitando com a força do castigo. Elas começaram a atacar, mas, ao ver o caos, a princesa Amarílis, com um olhar desesperado, correu em direção a seu amado, tentando alcançar Helianthos.
Mas os guardas a interceptaram com precisão, bloqueando seu caminho e a forçando a recuar, enquanto ela lutava contra os braços que a seguravam, seus olhos inundados de dor e incredulidade. Helianthos, sem forças para lutar contra o exílio imposto, foi arrastado e para fora do reino, expulso, com a sentença irreversível.
As fadas continuavam seu ataque, enquanto a princesa observa impotente, sendo mantida longe do que poderia ter sido seu último ato de compaixão. O reino, agora marcado por essa traição, seguia em seu caminho de justiça.
A rainha, com um movimento ágil e preciso, invocou um conjuro. Um arco de luz se formou em suas mãos, e, com uma destreza mortal, ela disparou uma flecha luminosa em direção a Helianthos. A flecha cortou o ar com uma velocidade impossível de ser evitada, atingindo uma das asas do traidor. Ao acertá-lo, uma cicatriz dourada se formou, brilhando intensamente, como um aviso eterno: ele nunca mais seria bem-vindo ali
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