Capítulo 18

Flores para os Mortos | Espinhos para os Vivos

Naquela noite ninguém em Nεrάιδα dormiu, curandeiras curavam os feridos, fadas consolavam umas às outras e contavam os mortos

Agave contou trinta e duas baixas contando seu amado Fergas, essas mortes eram de Nεrάιδα, os invasores mortos somavam quinze.

Já amanhecia quando iniciou a cerimônia fúnebre que tradicionalmenteacontecis em Aurora Lúgubre, um vale envolto em névoa e iluminado apenas pela luz pálida de cristais luminescentes espalhados pelo solo. Ao centro, suspensos no ar os caixões mágicos, esculpidos em madeira de Nimbório, uma árvore mística cujas fibras cintilam num azul suave, quase como um céu ao amanhecer. Os caixões foram adornados com flores mágicas, como as pétalas prateadas das Éferas, que brilhavam com um leve toque de laranja nas bordas, e os delicados Botões de Silfira, pequenas flores de um azul profundo que emitiam um suave aroma calmante.

Em volta dos caixões, as fadas se reuniram em um círculo, todas vestidas de negro com mantos feitos de tecido leve, que se moviam como se fossem parte da brisa. Elas carregavam galhos de Luméria, uma planta rara que florescia apenas sob a luz da lua, e cujas folhas liberavam pequenas fagulhas douradas ao toque. Cada detalhe, da névoa ao brilho das flores e dos caixões, parecia suspenso em respeito, uma homenagem mágica e silenciosa ao ciclo eterno de vida e morte.

Agave, coberta por um manto de seda negra em perfeito contraste com suas asas douradas que refletia a luz das flores mágicas ao seu redor, ergueu-se diante do seu reino. Seus olhos, marejados de lágrimas, pareciam conter toda a dor e o peso de um reino devastado pela perda. Ela respirou fundo e começou a falar, sua voz suave, porém firme, ecoando na clareira de Aurora Lúgubre:

- Hoje, nos reunimos aqui em luto, em respeito e em memória daqueles que ofereceram tudo para proteger nosso lar. Perdemos almas preciosas, cada uma delas insubstituível, cada uma um pilar de amor, coragem e sacrifício. E entre essas luzes agora extintas, estava o nosso rei, meu amado, que enfrentou Zaieva sem temor para que o nosso reino pudesse conhecer mais um dia de paz.

Que suas almas, agora unidas na eternidade, continuem a brilhar como estrelas acima de nós. Que suas lembranças permaneçam vivas em nossos corações, guiando-nos com sua força e coragem. Mesmo diante de uma perda tão profunda, prometo a vocês que não deixaremos sua luta ser em vão. Vamos honrar a memória daqueles que se foram reconstruindo nosso lar com união e esperança, mantendo acesas as chamas que eles defenderam até o último suspiro.

Eles não desapareceram, vivem em cada flor que floresce, em cada brisa que toca nosso rosto, em cada faísca de magia que brota da terra. E viverão em cada coração que aqui permanecerá para honrar suas lembranças. Que eles descansem em paz, sabendo que nunca serão esquecidos.

E lembrem-se todos, a luz de Nεrάιδα nunca vai ser apagada, vamos vingar cada homem mulher e criança e todas as criaturas mágicas que foram mais de 76 criaturas, Zaieva vai ver a furia de Nεrάιδα!

Mas isso não será agora, o dia não é hoje, hoje vamos chorar por nossos mortos e quando estivermos fortalecidos, esse dia chegará.

Agave inclinou a cabeça, deixando que o silêncio envolvesse a clareira, enquanto as fadas ao redor fecharam os olhos, absorvendo a promessa e a lembrança daqueles que se foram.

***

Ao pé de uma montanha esquecida pelo tempo, em um dos malditos vales sombrios, envolto em uma escuridão tão densa que parecis engolir a própria luz, o solo era seco, rachado, e coberto de pedras afiadas, como dentes emergindo da terra. Árvores antigas, retorcidas e desfolhadas, estenderam seus galhos nus em direções desordenadas, lembrando mãos esqueléticas tentando agarrar qualquer vestígio de vida.

Era lá onde Zaieva, com suas fadas sombrias, e Helianthus estavam.

Zaieva, com os olhos incendiados de raiva e um sorriso cruel nos lábios, ergueu-se diante das suas fadas sombrias. Seu manto negro esvoaçava como uma sombra ameaçadora enquanto ela observava as figuras encapuzadas diante dela, todas prontas para seguir suas ordens. A escuridão ao redor parecia ceder à sua presença, como se a própria terra tremesse ante sua ira.

-Fadas malditas... traídas e assassinadas por essas criaturas imundas, essas fadas patéticas que acreditam em algo tão frágil como a luz e a bondade. A rainha Agave, a que se acredita superior, a que nos derrotou por um instante, com sua tola esperança de que nossas sombras poderiam ser apagadas... ela falhou. Ela falhou... não por muito tempo. Nossos planos foram frustrados, mas isso é apenas o início de nossa verdadeira vingança. Nεrάιδα será nossa!

Eu prometo a vocês, minhas fadas sombrias, que voltaremos, mais fortes, mais implacáveis do que antes. Elas vão pagar por cada vida tirada, por cada pedaço de nossa honra que nos foi roubada. O reino de Νεrάιδα será nosso! E quando pisarmos nele, as árvores tremerão e as pedras se partirão sob o peso de nossa fúria.

E Agave, a rainha tola, será reduzida a nada. Sua cabeça será empalada na entrada de nosso reino, um troféu de nossa vitória. E suas asas douradas... ah, aquelas asas brilhantes que ela tanto se orgulha... serão minhas, adornando minha própria vestimenta, como um sinal de que ninguém jamais ousará desafiar a verdadeira força. Cada fio de ouro será um lembrete de que não há quem possa deter a fúria das trevas que habita em nós.

Nós seremos a tempestade que arrastará esse reino à ruína! E quem ousar se opor a nós será consumido pelas sombras que não podem ser apagadas. Agora, vamos nos levantar e recomeçar. A guerra ainda não terminou. Nós voltaremos, e quando isso acontecer, Νεrάιδα será apenas o eco do que um dia foi.

A voz de Zaieva ressoava com um ódio tão profundo que parecia fazer o próprio ar tremer. Ela observava as fadas sombrias ao seu redor, todas preparadas para seguir suas ordens, sabendo que a verdadeira batalha estava apenas começando.

Então zaieva olhou para o lado e viu seu filho. Não, ele não era mais seu filho deixara de ser quando se negara a matar Agave.

Helianthus, ao ver sua mãe se aproximar com a fúria de uma tempestade, sentiu a adrenalina percorrer seu corpo. A primeira reação foi de medo, um calafrio percorreu sua espinha enquanto seu coração batia acelerado. Ele se encolheu ligeiramente, tentando controlar o pânico que ameaçava dominá-lo. Mas quando Zaieva o agarrou pela gola e o puxou violentamente, ele sentiu o peso da humilhação e o medo se transformarem em algo mais profundo: uma sensação de revolta que cresceu em seu peito, como um fogo prestes a ser aceso.

- Você me desobedeceu! Você me envergonhou!

A voz de Zaieva gritou, e ele sentiu cada palavra como um golpe. Mas algo em seu interior começou a se transformar. Ele respirou fundo, olhando nos olhos de sua mãe com um fogo que nunca tinha mostrado antes. Sua mão, que antes tremia, agora se fechou em um punho.

- Eu não me importo Zaieva!

Zaieva o empurrou contra a árvore, e ele caiu com força no chão, a dor percorrendo seu corpo. No entanto, não havia mais medo. Ele se levantou com uma rapidez surpreendente, os olhos fixos nela. Sua postura agora era ereta com as asas abrindo e fechando em plena fúria , desafiadora, como se finalmente estivesse se libertando de uma prisão invisível. Ele respirou fundo e, com a voz firme, disse:

-Chega, . Não vou mais seguir seus planos. Não quero mais nada disso!

Zaieva o observou em choque, a fúria em seus olhos intensificando-se. Ela não esperava aquilo. Helianthus, seu filho, que sempre fora moldado para obedecer, agora se recusava. Ela deu um passo à frente, as garras aflorando, pronta para puni-lo, mas ele não recuou. Seus olhos permaneceram fixos nela, sem temor.

-Você se atreve... a me desafiar? - Ela rosnou, sua voz carregada de desprezo e incredulidade. - Você, que foi treinado para seguir os meus passos? Que deve sua existência à minha vontade? E agora você se vira contra mim? Explique-se, Helianthus. O que aconteceu com você?

Helianthus, sem hesitar, olhou diretamente nos olhos de sua mãe, os lábios se curvando em uma expressão decidida. Ele sabia que as consequências seriam severas, mas a verdade agora era mais forte do que o medo que sentiu por toda a sua vida. Ele se aproximou, com o peito inflado de coragem, e disse, sua voz inabalável:

-Eu... eu não quero mais ser o que você me fez ser. Eu amo Amarílis. Ela é... ela é tudo o que eu preciso, tudo o que eu quero. Não mais esse caminho de trevas, de morte. Eu não consigo mais enxergar o que você me ensinou como a verdade!

Zaieva ficou em silêncio, seus olhos penetrando em Helianthus, tentando compreender o que ele acabara de dizer. O choque inicial se transformou em uma raiva cega, uma fúria difícil de conter. Como ele ousava! Amarílis a filha daquela maldita Agave, a antítese de tudo o que ela representava... Mas ao ver a determinação nos olhos do filho, ela começou a entender que a situação era mais grave do que parecia. O que ele sentia por Amarílis era real, uma chama que ela não podia apagar com suas palavras ou violência.

- Então você escolhe ela a mim? Sobre sua própria linhagem? Sobre o poder que eu lhe ofereci, sobre tudo o que você poderia conquistar comigo? Isso é amor? Você escolheu a fraqueza. o amor é uma fraqueza!

Zaieva se aproximou dele, suas palavras afiadas como lâminas.

-Você acha que esse "amor" pode protegê-lo? Você acha que, com ela, encontrará algo que outra fada não possa oferecer? Prepare-se para o sofrimento, Helianthus. A dor de trair a própria mãe, a dor de abandonar o que sempre foi seu destino.

Helianthus, mesmo diante da ameaça, manteve a cabeça erguida. Ele sabia que a tortura de sua mãe seria cruel, mas estava disposto a enfrentar qualquer coisa, porque o que ele sentia por Amarílis valia mais do que o medo que ela punha nele.

-Eu aceito a dor. - Ele respondeu com uma força renovada. -Eu aceito qualquer coisa, desde que não tenha mais nada a ver com os seus planos, mãe. Eu a amo, e é isso que eu escolho."

Zaieva o encarou, furiosa, sem saber como reagir à resistência do filho. O choque de suas palavras, a dor da traição e a fúria de uma mãe desafiada a deixaram sem fala por um momento. Mas o ódio logo a consumiu novamente, e ela avançou, a mão se erguendo, pronta para castigar Helianthus pela sua ousadia.

Mas Helianthus, pela primeira vez em sua vida, não recuou. Ele se preparou para resistir à fúria de Zaieva, sabendo que a batalha que estava prestes a travar não seria apenas física, mas também emocional, e que as consequências seriam irreversíveis.

Uma névoa espessa pairava rente ao chão, abafando sons e criando um silêncio opressivo, quase como se o próprio ar estivesse morto. O ambiente era gélido, o frio cortante que penetrava até os ossos. Em alguns pontos, pequenas poças de água parada refletiam vagamente o pouco que restava do céu, mostrando apenas um cinza sombrio e sem vida. Não havia cheiro de flores, nem o canto de pássaros, apenas um odor de terra úmida e decadente, que tornava o lugar ainda mais sufocante.

Zaieva atacou, mas Helianthus, pela primeira vez, atacou de volta acertando uma grande onda de força em sua mãe.

Zaieva, que não estava preparada para receber um ataque do próprio filho, acabou sendo atingida em cheio e caiu no exército de fadas sombrias que atacou Helianthus, mas ele, sendo rápido como ninguém, já se evadira.

- PAREM!  - Gritou zaieva para suas fadas sombrias. - Poupem suas forças, deixem-no ir, duvido que será aceito de volta em Νεrάιδα. E se for...

Ela começou a gargalhar

- Farei com ele o mesmo que farei com Agave.

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